Concorrem no espírito de quem escreve, prescindindo do reconhecimento imediato, incitações por vezes contraditórias que funcionam como a espora da
Arte. Nem se dá, amiúde, pela fonte derradeira das palavras que perseguem um interesse, seja o da mais desprezível recompensa, seja de outra, mais desculpável, a simples aspiração a cativar o Leitor. É o grande combate do indistinto contra a Essência, sendo certo que o fulgor das labaredas desta pode facilmente ser extinto pela corrosão insistente
que o tenta substituir pela quietude que não perturba, encaminhando para a vulgaridade o rumo que se queria orientado para o Norte do
climax que é a descoberta e o contacto com o Único. Moldado pela forma invisível mas impiedosa do engano acabará o Autor por ser assaltado pelas mil e uma tentações
que lhe gastarão o labor em erróneos atalhos com sinalizações falsas da rota do Sublime, o qual parece ser o destino inalcançável de cada vez que se cede à penumbra desgastante dos enganos, em prejuízo do universo colorido e escaldante da identidade miraculosa entre o desejado e o prosseguido. Nesses desvios se escoam os dias, divididos entre o Ideal mais puro e a soez mediocridade que, em comparação está ao alcance da e na obra.
De António Ferreira (o contemporâneo):
THE MOVING FINGER WRITES
O trilho dos ganhos vigia a escrita,
sustem o feroz alumbramento do que
pode ser a verdade, a nave desarvorada da razão.
por tão pouco cedemos à vertigem do idêntico,
à neve carbónica do banal.
A razão é um bem futuro, nas águas do passado
acercam-se lances entrevistos, a treva dos enganos.
Como uma dádiva acesa ao pregão da morte,
até ao fim de nós há-de vibrar este apelo
à consumação dos dias no fervor do sórdido,
à passagem dos deuses na senda do prodígio.
Desviado com a ajuda de «O Escritor Fascinado», de Joel E.
Taylor III, «O Sonho da Razão», de Dino Valls e «Equívoco»,
de David Avery.