Pai, Por Que Me Abandonaste?
Podem os Leitores ter estranhado que Sua Santidade o Papa Bento XVI tenha, ao visitar Auschwitz, pronunciado a frase «Senhor, por que permaneceste Silencioso?», a qual parece ir ao arrepio de toda a bimilemar pedagogia da Santa Madre Igreja, que ensina não se dever imputar a Deus o que apenas decorre de censuráveis acções do Homem, em outras tantas capitulações perante o assédio do Mal. Como parece também, momentaneamente, esquecer que o Reino de Deus não é deste Mundo e quem é o príncipe das zonas baixas que habitamos. Seria porém uma visão demasiado inflexível e irreal da possibilidade da constância humana em suportar a Não-Ingerência Divina. O próprio Jesus, num momento extremo, soltou o grito que titula este post. Como se quereria que o Seu Vigário na Terra se arrogasse de maior perfeição? Está escrito na pele da Humanidade que nos instantes de mais agudo desespero sempre prevalecerá o brado que transfere para uma inconsciente "obrigatoriedade de Protecção pré-estabelecida" a responsabilidade pela derrota do Pecado, antes da que o Juízo Final proporcionará.
É que o desespero e a benevolência da visão de si são pouco compatíveis com a fria manutenção em mente da Verdade fundamental do Livre Arbítrio.
O resto é a voracidade das primeiras páginas jornalísticas, que, mesmo sem se darem conta, exploram com avidez o que lhes parece ser uma concessão do Sumo Pontífice à dúvida, como vazam até à última gota a vendabilidade da desculpa pedida pelo Santo Padre, em função das suas origens nacionais. Eu não creio em culpas colectivas que transcendam as da participação em actos reprováveis. Mas ainda sei que é função eclesial pedir perdão pelos pecados - os seus e os alheios. Faz-me alguma impressão ver sondagens em que grande percentagem da população germânica acha que o Sucessor de Pedro deve desculpar-se, em razão do país em que nasceu, já que passou como alemão incomparavelmente menos tempo do que como Homem da Igreja, o que, para o que aqui importa, encontraria a relevância não em Adolf Eichmann, mas num Santo do Século XX, o Padre Kolbe.
E, contudo, julgo não ignorar que nesse pequeno excesso de auto-infligida humilhação reside Esperança maior, por completo banida do exagero inverso, o do orgulho que por tudo se auto-justifica. Em todo o caso, não gostaria de ver, baseado na Visita precursora de João Paulo II agora continuada, criado um roteiro turístico do horror, com futura passagem forçosa e forçada pelos pontos macabros, de câmaras a reboque. Ninguém, a começar pelas Vítimas, mereceria isso. Qualquer decisão de se dirigir aos locais referidos deve ser formada livremente, sem concessão ao espectáculo.
9 Comments:
At 12:30 PM, Jansenista said…
A mensagem mais importante é para dentro da própria Igreja, na qual abundam neo-relativistas e neo-Pilatos. Este Papa é um homeem extraordinário, evitou o espectáculo mas não se furtou ao gesto, mesmo sabendo que suscitaria reservas mentais em muito cristão decadente que entende que não há que pedir perdão por coisa nenhuma (talvez porque, pagando tributo a atavismos sectários, entendem que as fronteiras da humanidade coincidem com as da partilha da fé).
At 7:20 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Jansenista:
não encontrará em mim o sectário que recuse a existência de muito cristão indigno. Mas atenção, o Papa pediu perdão não pela Instituição, que aqui esteve do lado dos perseguidos,mas pelo Povo em que nasceu. Carregar a Cruz dos pecados alheios é provavelmente a maior homenagem à Encarnação; e algo de que, com toda a franqueza, me julgo incapaz, nas mais das vezes.
Por isso concluo Consigo: é um Grande Homem.
Meu Caro Espadachim:
Dada a conclusão anterior, não posso senão chegar à inversa para os defensores de posições como essa, incapazes de reconhecer a grandeza, fora do que interesse estritamente aos seus.
Abraços a Ambos.
At 8:13 PM, Anonymous said…
Caro Paulo;
Penso que o Papa faz bem em pedir desculpas. É uma assunção de amor colectivo e geracional; que as pessoas(e nações) não costumam compreender.
Só um acrescento de suma importância: Jesus Cristo assume o Sofrimento Humano; mas vai mais longe - daí as três ou até mais leituras dos Textos Sagrados; ou seja - cumpre também a profecia ao proferir esta frase, que é uma citação do Salmo 22:1, creio que do Rei David; acreditamos que datada de mais de um Milénio antes.
Um Abraço
At 8:24 PM, Anonymous said…
Caro Paulo:
A frase de Jesus Cristo é sim do Salmo 22:1 do Rei David.
Um Abraço
At 8:51 PM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigado, Caro Pedro Rodrigues.
São provações terríveis as que povoam os caminhos da redenção e tão pouco acessível para nós o Mistério do Amor...
Daí que entristeça a atitude de incompreensão para tal gesto.
Abraço amigo.
At 12:24 AM, Anonymous said…
Lá foi mais um papa prestar vassalagem ao mito do extermínio e, por extensão, dobrar a espinha ao poder da judiaria. E tem razão o Espadachim: quanto mais se lhes estende a mão, mais eles agarram o braço. E com força. E por que cargas de água tem que pedir desculpa «pelo povo em que nasceu»? E porque será que os judeus são os únicos que nunca pedem desculpa a ninguém pelos seus desmandos, e andam sempre a exigir «desculpas» aos outros? Lamentável.
At 4:17 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Victor Abreu:
Do que diz, concordo com a desnecessidade do pedido de perdão em nome do Povo em que nasceu, mas encontro a resposta no que já disse, na função da Igreja de pedir que sejam perdoados também os pecados dos outros.
De resto, não confundo humildade com vassalagem; e se é certo que as reacções mais críticas vieram do radicalismo intelectual judaico, não confundo todo esse Povo com meia dúzia de extremistas.
Abraço.
At 10:21 PM, Anonymous said…
Não são meia-dúzia, caro e tolerante amigo: são demais.
At 2:06 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Victor Abreu:
Fosse apenas um e já estaria a mais. Mas penso-os minoritários, na verdade.
Abraço.
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