Os Encantos do Interesse
Leio as «RÉFLEXIONS SUR LA CURIOSITÉ», desse Cardeal de Bernis que foi agente importante na eleição papal de Ganganelli, tão favorável à política de Choiseul, com a suspensão dos Jesuítas em vários países. Foi homem de ordens tomadas tardiamente e que consta nunca se ter privado dos prazeres da carne, antes e, dizem as más línguas, depois de se ter comprometido a ser homem de Deus. Surpreendido pela Revolução como embaixador em Roma, honra lhe seja feita, recusou a simpatia oferecida pelo novo regime e a adesão a outro que não fosse o do seu Rei, sem imposições de insurrectos.
Sobre a curiosidade diz-nos coisas... curiosas. Claro que estabelece a distinção entre a curiosidade do bisbilhoteiro e a do investigador, essa não poderia faltar. Mas escapa já à norma quando nos dá conta de um exemplar casal da antiguidade cuja relação perdurou na extrema felicidade de se descobrirem sem cessar e de o verem como melhor ainda do que a brevidade em que apenas se tinham amado. E quando distingue «o Povo» dos «Homens de Espírito» não pela intensidade com que um e os outros são curiosos, mas pela extensão em que se aplicam nesse labor.
Não menos atraente é a sua desconfiada advertência contra a busca do aprofundamento do conhecimento, em matéria de afectos: «é terrível encontrar a falsidade e a baixeza onde críamos ver, onde adoraríamos ver a verdade e a grandeza de alma».
Ou da insaciabilidade ligada ao curioso, que o faz de uma aquisição saltar para outra: «A curiosidade é uma espécie de aguilhão que jamais cessa de picar. Uma descoberta feliz, uma ideia útil e nova, longe de embotar a sua ponta, parece aguçá-la mais ainda. O curioso assemelha-se ao avaro: a sua cupidez aumenta com as suas riquezas. Mas o avaro aferrolha os seus tesouros e priva-se a si próprio da recompensa que merecessem os seus cuidados e as suas fadigas voluntárias: o curioso não amealha senão para difundir e para gozar; as suas descobertas passam de província em província, de estado em estado, e suscitam na posteridade mais afastada os partidários nas ciências e os admiradores nas belas-artes.».
E não posso deixar de pensar em quanto este entendimento descreve o bloguista. Cada consulta ao profile de um comentador para nós novo, cada activação de um link para página desconhecida numa que já antes descobrimos, ou a simples expectativa com que, cada dia, abrimos o computador, ávidos de saber o que x e y terão escrito desta feita, transportam-nos bem ao "desinteressado interesse" que é a faceta mais recomendável da descoberta. No fim de contas, ser curioso, nesta modalidade, é ser humano, querendo ser menos limitado. Daí que Vos ofereça «Os Princípios da Curiosidade», de Lee-Anne Raymond.
Sobre a curiosidade diz-nos coisas... curiosas. Claro que estabelece a distinção entre a curiosidade do bisbilhoteiro e a do investigador, essa não poderia faltar. Mas escapa já à norma quando nos dá conta de um exemplar casal da antiguidade cuja relação perdurou na extrema felicidade de se descobrirem sem cessar e de o verem como melhor ainda do que a brevidade em que apenas se tinham amado. E quando distingue «o Povo» dos «Homens de Espírito» não pela intensidade com que um e os outros são curiosos, mas pela extensão em que se aplicam nesse labor.
Não menos atraente é a sua desconfiada advertência contra a busca do aprofundamento do conhecimento, em matéria de afectos: «é terrível encontrar a falsidade e a baixeza onde críamos ver, onde adoraríamos ver a verdade e a grandeza de alma».
Ou da insaciabilidade ligada ao curioso, que o faz de uma aquisição saltar para outra: «A curiosidade é uma espécie de aguilhão que jamais cessa de picar. Uma descoberta feliz, uma ideia útil e nova, longe de embotar a sua ponta, parece aguçá-la mais ainda. O curioso assemelha-se ao avaro: a sua cupidez aumenta com as suas riquezas. Mas o avaro aferrolha os seus tesouros e priva-se a si próprio da recompensa que merecessem os seus cuidados e as suas fadigas voluntárias: o curioso não amealha senão para difundir e para gozar; as suas descobertas passam de província em província, de estado em estado, e suscitam na posteridade mais afastada os partidários nas ciências e os admiradores nas belas-artes.».
E não posso deixar de pensar em quanto este entendimento descreve o bloguista. Cada consulta ao profile de um comentador para nós novo, cada activação de um link para página desconhecida numa que já antes descobrimos, ou a simples expectativa com que, cada dia, abrimos o computador, ávidos de saber o que x e y terão escrito desta feita, transportam-nos bem ao "desinteressado interesse" que é a faceta mais recomendável da descoberta. No fim de contas, ser curioso, nesta modalidade, é ser humano, querendo ser menos limitado. Daí que Vos ofereça «Os Princípios da Curiosidade», de Lee-Anne Raymond.
5 Comments:
At 9:58 AM, Anonymous said…
Curiosa exposição, feita por quem conta com 2531 consultas
ao "profile": o preço de "Os Encantos do Interesse".
At 10:13 AM, Paulo Cunha Porto said…
Quem garante que não foi o autor a admirar-se 2531 vezes?
At 10:38 AM, Anonymous said…
Eu garanto. Porque sei quantas vezes fui "matar" a curiosidade.
At 2:25 PM, Viajante said…
Permitir-me-ia distinguir a curiosidade do interesse e juntar-lhe o espanto. (risos).
Diferem na amplitude e extensão, mas julgo que também na visão do mundo que lhes subjaz. Curiosidade leve, superflua, instigadora. Interesse, mesmo que passageiro, mais centrado na essência ou em inter-esse, na coisa em si.
Espanto, a surpresa pelas coisas, ponto de partida para a interrogação.
O curioso quer saber ou perceber, com uma certa dimensão «leiga» (lembrei-me da expressão «é um curioso, neste ou naquele assunto».)
O interessado quer aprofundar, permanece mais no tempo, é mais perseverante (da curiosidade e do interesse, nasce a ciência?)
O que se espanta, indaga (sim, ponto originário da filosofia).
Os bloguers... podem pertencer a todas as categorias.
Beijos, de uma adepta do interesse e do espanto.(risos)
At 4:28 PM, Paulo Cunha Porto said…
Senhora:
É bem verdade que um "blogger" pode encarnar qualquer das três variantes. Mas simplesmente adorável essa Vossa distinção que remete o curioso para o que petisca, o interessado para aquele que se alimenta e o capaz do espanto para o que enfarda. E, por uma vez, este não fica em pior posição.
Mas admirei a forma impiedosa como fosteis eliminando a hipótese de o pobre curioso aceder a níveis mais altos, sabendo-se como um humílimo misantropo começou a percorrer E&L por curiosidade, sentiu depressa espicaçado o interesse, não tardando a incorrer no espanto despertado pela magnificência da Vossa prosa.
A curiosidade pode ser um momento iniciador e iniciático. Não a proscrevamos.
Beijos de um adepto dos mesmos, quer dizer, de Vós.
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