O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, November 30, 2005

Contágios

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Talvez por equiparem de encarnado e branco, sempre um indício de rectidão, o Canadá e a Suíça são daqueles países de onde não se espera que venham notícias de corrupção ou, sequer de
insultos políticos, ressalvando, no primeiro desses países, o caso especial das campanhas separatistas do Quebeque. Eis senão quando um inquérito vem dar como enterrado até às orelhas em financeiras irregularidades o anterior premier, Chrétien, embora inocentando um seu destacado colaborador, por acaso o actual Primeiro-Ministro Martin, de forma que fede a favores ao poder.
Não se conformando, as oposições, fizeram triunfar moção de censura no parlamento, medida bastante para fazer o governo cair e serem convocadas eleições.
O que não se esperava é que o actual chefe de governo enveredasse por infantis invectivas, dizendo que o seu rival conservador na corrida, Stephen Harper não sabia conjugar a frase I love Canada e que os canadianos tinham de lhe agradecer o lamentável «presente natalício» que é a crise política, ao mesmo tempo que os seus propagandistas faziam passar na televisão spots em que o leader da oposição conservadora vinha pintado nas negras cores do dickensiano Scoorge. O que vem comprovar que nem os países frios estão imunes à peixeirada das lutas partidárias, nem o Período Natalício é já aquele em que se encolhe as garras; acima de tudo que, em política, os maus hábitos são piores do que as mais intimidantes epidemias. E que se pegam a uma velocidade assustadora. Mas talvez o feitiço se volte contra o feiticeiro e este "Scrooge", obtendo a sua redenção, se revele uma figura mais popular do que o seu acusador.

Répteis e Caras-Metades

Serve o presente para sossegar Quem me lê: o facto de me não haver,
em tempo, pronunciado sobre as Mulheres vítimas da violência
doméstica, cuja oposição conheceu, há um par de dias, a sua jornada
emblemática, não significa que, de alguma forma, pactue com os
comportamentos dos agressores. Esperava, unicamente, dispor
de bases cientificas que me permitissem estigmatizá-los, sem
poder ser processado por difamação. Estou agora em condições de
afirmar com segurança que é uma condita reptilínea. Esse espelho
da sociedade que é o «METRO», citando a «NATURE», inteira-nos
de que «o excesso de machos em pequenas populações de lagartos
leva a agressões sexuais contra as fémeas». O que, avaliando a
Humanidade pelo microcosmo composto pelos adeptos dos dois
maiores clubes de Lisboa, relega o odioso para os verde-brancos e
justifica por inteiro o dito:
«Quem não é do Benfica não é bom chefe de família!»

O Seu Peso em Ouro

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A beleza de Júlia Roberts parece pacífica para todo o público norte-americano, mas não o é entre os meus Amigos. Três há, pelo menos, que a acham demasiado magra e Um junta-lhe ainda uma reprovação suplementar: a de ter a boca demasiado grande. Eu, pelo contrário, vejo-a como muito mais do que passável e até nem a tenho por má actriz, embora num solitário registo de simpatia ou de vulnerabilidade, sem os frenesis marcantes de outras. Deu agora a conhecer o «Hollywood Reporter» que é a Artista mais bem paga do momento, acima de Kidman, pese embora o facto de se ter imposto um período sabático nos dois últimos anos, para dar à luz e acompanhar um par de gémeos. Ainda há, naquele meio, quem ponha a maternidade à frente da conta bancária! O Mundo não está completamente perdido.

Janela Aberta

O Dr. Monteiro Pereira, ao revelar, no «DN» de hoje,
que o recurso ao consumo de Ecstasy diminui o desejo
sexual e retira capacidade às performances no
ramo, mostra-se convicto de que a divulgação deste
facto entre a juventude será o melhor meio de restringir
a voga que esse produto vai tendo. É bem possível, pois
a repugnância perante a desqualificação sexual e o pânico
que infunde serão, possivelmente bem maiores em idades
baixas, do que mais tarde, onde muitas vezes, a aflição
equilibra os pratos com a naturalidade. Mas para isso é
necessária a verificação de uma condição sine qua non:
que as aspirações dos nossos rapazes não andem tão por
baixo que encarem o Ecstasy não como um estímulo noutros
campos, mas como uma droga de substituição, neste que
se acabou de abordar.

A Nova Aliança

Ao Rafael Castela Santos

Não me refiro À Nova Aliança. Escrevo, tendo presente a obra notável
que António Sardinha nos legou, «A ALIANÇA PENINSULAR», em que
propunha, como alternativa à Aliança Inglesa, que não o satisfazia, um
compromisso político e estratégico de acção comum dos dois países
ibéricos, que dessem continuidade aos elementos civilizadores comuns
que, na História, haviam guiado o seu desempenho.
Sardinha escrevia em época na qual ainda havia potências europeias
que contavam. Ao teorizar o enlace Ibérico, doutrinava contra os
iberismos, quer o integrador, ainda fresco no pensamento de Afonso
XIII, deixado claro na entrevista de Miramar, quer os federalistas,
propugnados pelos republicanos oitocentistas de Cádis, como pelos
socialistas do Século XX e, ininterruptamente, por figuras gradas das
maçonarias de ambas as Nações.
Começa por desmontar o atávico espantalho do «perigo espanhol»,
recordando-nos que, a partir de de D. Fernando e até que o projecto
de união concebido por D. João II e os Reis Católicos teve o trágico
fim que se sabe, Espanha viveu também um "perigo português" de
intervenção e intentada hegemonia. Contrapõe depois a oportunidade
falhada, com Filipe II (primeiro de Portugal), em que os dois reinos
mantinham a sua especificidade sob Cabeça Coroada e imperativo
estratégico comuns, à perversão do sistema com que Olivares, no puro
intuito de melhor servir o seu Rei, Filipe IV, procurou passar Portugal
de Reino a província. Prossegue, pondo a nu a lenda negra, espalhada
por servidores de religiões anti-católicas, como Guilherme o Taciturno,
ou rivais amorosos de Filipe II, quais Antonio Perez. E mostra como
também, por tabela, nos tocou um tanto dessa propagandeada
difamação.
No Século XX, já falecido o Mestre Integralista, dois génios políticos,
Franco e Salazar, sempre estribados na Arte do Possível, conseguiram
uma versão reduzida à mínima expressão do entendimento hispânico,
consubstanciada na Amizade Peninsular, o qual, limitado como era, deu
no entanto para preservar as suas Pátrias, acossadas por compromissos
internacionais antagónicos, de se martirizarem num conflito em prol dos
interesses de outros.
E hoje? Para quem, como eu ama a Espanha, tendo lá passado férias anos
a fio, seria sedutor actualizar o grande ensinamento que venho evocando.
Quando Sardinha redigia o seu tratado, Portugal tinha um Império imenso.
Agora, é o que se sabe. A pujança da economia espanhola, bem como a
diversa dimensão de ambos os Países, poderá inspirar temores. Mas é
preciso não esquecer que Espanha também sofreu. Além da perda das
possessões marroquinas, que eram essenciais na doutrinação do escritor
português, vive um momento em que o antiquíssimo problema das
"nacionalidades" não encontra em Madrid um poder disposto a
resistir ao desmoronamento com que ameaça. Portugal poderia,
através de um programa de acção comum com o seu Grande Vizinho,
desviar as energias das lutas intestinas para objectivos mais amplos
de afirmação.
Que objectivos seriam esses? Decerto o da defesa de interesses
económicos comuns ameaçados, no seio da Europa pretensamente
unida, por Europeus de outros quadrantes, insensíveis que são ao
que é essencial à sobrevivência digna do modo de vida dos membros
do Sul do Continente. Mas mais, muito mais, poderia a unidade da nossa
acção constituir-se, neste planeta unipolar, como um derradeiro nicho
de resistência aos hedonismos que investem contra os restos da
Civilização Católica que nos formou e onde creio estar a Verdade: o
de origem norte-americana, expresso no consumismo desenfreado e
o que alastra a partir da Europa reformada e pretende utilizar as
instituições europeias para padronizar todos à sua medida - o do
abortismo e da insensibilidade perante a manipulação genética,
prestes a redundar na hedionda pré-programação.
Claro que a afirmação enunciada estaria sempre dependente de termos
em Madrid e em Lisboa políticos com estatura, precisamente o que
nos vai faltando. Mas será bom que as ideias vão precedendo os Homens.
Aqui lanço o meu repto a que outros, com mais dons, intervenham,
no sentido de fortalecer o credo orientador com que, por enquanto,
apenas podemos sonhar.
Esperemos que, desta, como escreveu o Poeta, o sonho comande a vida.

Condimento Para a Vida

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«Alegoria: O Sonho do Cavaleiro», de Rafael.

Leitura Matinal -195

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Se precisamos de sonhar e de acreditar, de quando em vez, que a matéria do sonho é importável para a vida, tal não significa que entendamos essa necessidade à letra. Há desconformidades constatáveis, quer quando dormimos, quer quando nos sentimos acordados. A falsidade da vida exterior é, pelo menos, tão grande como a maleabilidade das imagens oníricas, sendo que, como resulta da frase anterior, estas desfrutam de muito maior aceitação no nosso íntimo, por conferirem a dimensão da realidade a manifestações deformadas dela. Enquanto que, despertos, cortamo-nos no gume frio do real, que, através da desilusão, sabe bem fazer o seu trabalho de desbastar fantasias.
Mas quem se enforme numa cedência ao humor, que não aos humores pode definir-se como um sonhador não praticante e tentar agir em conformidade. Não é já alienação, mas, atribuindo elasticidade a uma versão íntima das impiedosas conformações da Vida, diluir os conformismos que ela nos impõe e aceitar com um certo desportivismo o handicap que regula as nossas relações. Pelo, que sem dar por isso, com menos literalidade do que a nossa vontade apregoa, o que está para aquém ou para além do Real cumpre a sua função e não se diferencia tanto dele como, necessariamente, se reafirma.
De Pedro Bandeira Freire:

SONHO POÉTICO

saboreio diálogo sobre sofismas
e lugares
de dar ao povo o que a césar pertence
introduzo sonho de permeio
para através dele
auscultar a verdade
saber o que faz explodir verniz de medo
dos dramas funcionais

que reduzido a nada por aparências mundanas
no seio do escândalo que é a morte
transpira toda uma trágica verdade
sem pontos finais
sem respirar
sem o mínimo sentido de humor


recorrendo muitas vezes ao relato dos sonhos
busco as mesmas imagens dos contos
das contas a ajustar com as estátuas
para encontrar a meu lado
morte..............fria
a chegar como aluno preguiçoso
que adivinha sua ignorância evidente

a corrente que me prende
depois de reduzida à sua dimensão
é como um velho sábio
regressado de um saco sem fundo

o real o irreal e o surreal
residem nesta perfeição equívoca

tudo é real
com grande rigor
para lá dos termos de estilo
das modas
do desprezo

é bom de ver
mas não praticável
tal como quem professa a poesia
ilustrada por uma escritura aparência
tão sábia
que assemelha o instinto da pintura



As imagens são «Irreal» e «Surreal», de autores que desconheço, bem como «A Realidade Exposta», de M. Kounias.

Importação Onírica

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«O Sonho do Arquitecto», de Thomas Cole. Sem as conotações que os ofícios ligados à construção costumam fazer suspeitar.

Tuesday, November 29, 2005

Um Luxo Excessivo

A sobrevivência de Israel nestas seis décadas assentou sempre
em três polos: o auxílio norte-americado, uma apuradíssima
articulação entre as informações e os militares, mais a unidade
nacional. Não que não houvesse partidos, ou facções religiosas
com diversas leituras da Lei. Mas não se traduzia a diferença
de origens dos componentes da população do Estado Hebraico
em linhas de acção distintas, no plano externo. É o que se não
sabe se acontecerá daqui por diante. Com a junção de Sharon
e Peres num centrão e a entrega do trabalhismo a um leader
proveniente do Norte de África, comunidade algo desprezada
pelos grandes financiadores do Povo Eleito, nos EUA, estará
talvez criada, enfim, uma tendência de base geográfica não virada
em exclusivo para reivindicações sociais, como era o caso dos
oriundos da ex-URSS; e com problemas de integração, que, ao
contrário dos que circundaram a absorção dos falashas, são capazes
de ter uma palavra na luta pelo poder. A divisão é um luxo a que
Israel não se pode dar. Se lhe sucumbir, morre

Peanuts?

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Tanto sururu levantou na net o beijo de Gaia, quando há outros de consequências muito mais nefastas. Hoje mesmo, uma jovem canadiana de 15 anos, Christina Desforges, alérgica ao amendoim, após beijar o namorado, caiu para o lado e não mais se levantou. A razão, pensa-se, foi ele, imediatamente antes do gesto de amor, ter comido pasta de amendoim. Respeitando, evidentemente, a desgraça que atingiu a rapariga e respectiva família, podemos partir para a observação de outras conexões com este tema. Assim, parece-me que se deveria ter ensinado o fedelho a lavar os dentes depois da ingestão do nocivo alimento. Mas é coisa que alguns, mais velhos, não fazem. Recordo Vivien Leigh que se queixou à produção de «E Tudo o Vento Levou» de que «era paga para beijar o Sr. Gable, não para saber o que ele tinha comido ao almoço».
O Amendoim é originário do Peru; tão longinquamente como 800 anos antes de Cristo davam-no como transmissor da coragem para a guerra. Algum cínico poderia dizer que terá sido um pouco dessa valentia que levou a Moça a afrontar o perigo.
Já conhecíamos o Beijo de Judas. O que será este, então?

A imagem é «O Beijo da Morte», de Kiki Kikenstein.

Asneiras Sem Par(idade)

O Dr. Louçã veio afirmar que a criação de círculos uninominais
é incompatível com a sua aspiração de paridade entre homens
e Mulheres nos eleitos para o parlamento. É verdade, no sentido
de que esse objectivo paritário só pode ser determinado por
quotas e estas são muito mais facilmente impostas a partir
da elaboração de listas eleitorais por uma qualquer clic
partidária.
Parou aí a razão do dirigente do BE. Querer que seja o sistema
maioritário, a duas voltas, francês o causador da regressão do
número de eleitas corresponde a tapar os olhos para não querer
ver que as causas são outras, nomeadamente a falta de apetência
que candidatas credíveis têm pela vida política, muito mais
viradas que estão para a carreira profissional no sector privado.
No Reino Unido, por exemplo, com circunscrições que elegem por
maioria simples, o número de MP´s femininos vem aumentando.
E para cúmulo da infelicidade, a angústia feminista do candidato
presidencial referido surge quando é, paralelamente, publicada
a notícia de estar a magistratura judicial a passar por um período
de aumento aceleradísimo de presenças femininas. O que vem
confirmar que não é um problema de resistências culturais. Se
tem tanta aceitação uma Mulher juíza, por maioria de razão Ela
seria admitida sem problemas numa profissão muito menos exigente
e prestigiada como a de político.
O que se passa é que muitas Delas não estão minimamente interessadas
em intervir na coisa pública por obra e graça dos partidos. Perante
figuras de proa como o Dr. Louçã, é mais do que compreensível.

Voltar o Bico ao Prego

O Sr Berlusconi, depois de ter surpreendido tudo e todos ao dizer
que tentara demover o Presidente dos Estados Unidos das intervenções
militares ainda em curso, veio agora com uma nova clivagem relativa
aos interesses de Washington, ao dizer-se convicto de que, um dia, a
Rússia integrará a UE. Nada interessa menos aos Norte-Americanos.
Toda a insistência na absorção da Turquia tem, não só a finalidade
de delegar o controle de um possível foco de instabilidade nos Europeus,
libertando a única superpotência actual para acudir a necessidades mais
urgentes, mas, igualmente, obter posição mais favorável na concorrência
comercial e criar dificuldades de digestão à Europa integrada, capazes de
impedir a entrada da Federação Russa.
É que com os Russos, tanto demograficamente, como em abundância de
matérias primas, as duas grandes fragilidades europeias, a UE passaria
a ter potencial para se arvorar em rival credível dos EUA. O que estes
não querem. Desejam aos europeus todo o bem possível e imaginário,
enquanto a aliança com eles prefigurar a transmissão de ordens a
subalternos. Mas não querem ter alguém a um nível equiparável. Por
isso têm vetado a entrada da Rússsia na NATO, esforçando-se no
sentido de contra ela voltar os antigos satélites soviéticos, que se
não têm feito rogados. Ganham assim uma duradoura desconfiança,
quando não hostilidade, que, esperam, comprometerá definitivamente
a extensão da unidade europeia ao limite natural dos Urais.
Claro, a reviravolta do dono do Milan tem uma razão: eleições à porta.
E já lá vão os tempos em que a amizade com os EUA era popular, por
mais de metade das famílias transalpinas ter parentes em Itália. Os
laços estão hoje muito lassos.

Para Além do "Sem" e do Banal

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De Lucien Lévy-Dhurmer, «Mulher Com Medalhão (Mistério)».

Leitura Matinal -194

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Pouco interessa, passado que está o período de predomínio do sentimentalismo da escola romântica, ou o empenhamento vital na velocidade dos Futuristas, por exemplo, que o que o poeta viveu corresponda ao que fez chegar ao leitor. Que importa ter um poema sido produto da mais cerebral das construções, urdida com alguma dose de burla? O que conta é que o que ficou tenha a capacidade de despertar a indizível adesão que é o traço constitutivo da Poesia. Que confira uma aura de nebulosa atracção à vulgaridade que tantas vistas dão como a exclusiva característica dos actos e coisas que nos rodeiam.
Escrever poesia é, de alguma forma, pegar no capital da banalidade e investi-lo. este investimento é, por muito pouco heróico ou exemplar que pareça, sempre o risco de se aplicar e de revelar-se. Daí nasce ao juro ou outra qualquer forma de ganho, talvez o lucro, que torna irreconhecível o montante originalmente investido. Sabendo-se que é por demais evidente ser esta explicação a mais anti-poética que se pode encontrar para descrever o processo gerador do fenómeno da Poesia. Que só estará presente quando uma dimensão extra dum tema permitir a quem lê levitar-se interiormente, pelo eterno enigma que uns poucos podem descobrir em cada esquina e transmitir à posteridade.
De Júlio Pomar:

O poeta administra
o que não lhe foi ministrado

Houve das coisas mister
onde mistério não
jaz. Fá-lo
prato do dia. Cosido à sombra
do fogo, fria parte.



A obra é uma rara incursão: em papel recortado, «O Poeta»,
por Marcia Ergan.

Digno de Culto

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«Homenagem a um Poeta», de Giorgione.

Monday, November 28, 2005

A Nossa Cruz

O título desta pequena chamada de atenção não se refere
À da Verdade, mas somente à perseguição da representação Dela
que, patente na iconografia oficial, foi desvendada genialmente,
pelo incomparável Dragão, como o símbolo do regime que deverá
causar pele de galinha aos nossos iconoclastas das residuais
manifestações cristãs. Vão lá e exultem.

Peixe Miúdo

Não está em causa a bondade ou maldade das alegadas prisões
secretas da CIA. O que deve ser referido é que a ameaça, no tom
em que foi feita, do Comissário Frattini, aos Países da U.E. que
as hajam permitido no seu território, de os punir com a obliteração
do direito de voto, por muito prevista que esteja no Tratado de Nice,
corresponde a uma machadada final nos destroços que ficaram da
estatal soberania, substituída de uma penada por esta pessoal
sobranceria.
E é fácil penalizar cúmplices passivos e sem grande poder. Queria
era ver uma reacção tão enérgica contra os donos e operadores
dos contestados santuários destinados às malfeitorias. Mas também
me vou fartar de rir se se descobrir que, afinal, os Estados-Hospedeiros
das sujeiras da Agência tiverem sido, por azares do destino, a França e
a Alemanha.

O Oito e o Oitenta

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Com o low profile que é seu apanágio, Diane Keaton, aqui celebrativamente apanhada, declarou que sempre tinha preferido as paixões nos filmes às da vida real, por ali se saber como iriam acabar. E posta perante a quantidade de Astros do Cinena com quem manteve relacionamentos, disse, modestamente, que isso se teria ficado a dever «a ser uma boa ouvinte, mas que eles, ao fim de algum tempo, acabavam por se cansar». Arre, apetece dizer que a única explicação é que eles se fartassem de ouvir as próprias vozes, por saberem como o discurso que haviam encetado iria acabar!

Nos entrementes, a espampanante Melanie Griffith declarou que adora ver o Marido, António Banderas, com a roupa que usou para encarnar em filme o papel de Zorro, tanto que lhe pede frequentemente para a pôr e que ele o faz sempre que Ela o quer. Não sei porquê, mas suspeito que a Filha de Tippi Hedren leu este blogue no dia em que o João Villalobos desafiou toda a gente a declarar a sua principal fantasia e resolveu, igualmente, votar. Ignora-se é se esta farpela leopardesca corresponderá a alguma felina fantasia do Actor Espanhol.

Cada Macaco em Seu Galho

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As declarações de Jerónimo de Sousa, segundo as quais não precisaríamos de um candidato, presumivelmente o Prof. Cavaco, que se comportasse «como o macaco sábio qie não vê, não ouve e não fala» parecem-me manifestamente excessivas. Não pela comparação do ex-Primeiro a um primata tido por irracional, que esse tipo de linguagem, na partidocracia que vamos tendo, é coisa mais que costumeira. Parece-me é que vai endereçando acusações que ainda ninguém se tinha lembrado de fazer ao Homem. Até agora só lhe tinham censurado a ausência de fala; e parece não haver material para mais.
Senão, vejamos: o político de Boliqueime comprovou o perfeito estado da sua audição, quando reagiu aos piropos que o seu ex-ministro Cadilhe lhe dirigiu. Por aí estamos descansados. E ao não comentar as fatuidades de um outro candidato que bem o tenta espicaçar, demonstra, sem margem dúvidas, que vê bem demais, ao ponto de avaliar correctamente o que mais lhe convém.

Como explicar, então, esta invocação simiesca como ilustração da realidade pré-eleitoral? Um analista qualquer poderia dizer que estaríamos perante uma macaqueação da qualidade gorilesca por dois saguins. Em sentido figurado, entenda-se. Um, semelhante ao de Watteau, que esculpe uma realidade, quem sabe se a tão mal-afamada República, como bem lhe dá na veneta. O outro, de Landseer, que já tendo corrido o mundo inteiro, quer transportar para a sua Comunidade as manhas e os vícios que terá aprendido lá por fora.
Esta degradação da já de si bem verminada política portuguesa é que é, verdadeiramente, o fim da macacada!


As obras reproduzidas são «O Macaco Escultor» e «O Macaco que Viu o Mundo».

Valientes Chicas

Pelo centro de Madrid, duzentas mulheres da vida mostraram
saber o que é a vida, ao manifestarem-se contra o que
consideram ser uma perseguição desmotivadora aos seus
clientes. Cai por terra, desta forma, a imbecil tentativa
de culpabilizar o utente pela degradação e desumanização
do serviço, como, a partir do Norte se quer fazer passar
para cá. É reprovável? Seja. Mas é rematada tolice pregar
as culpas, num "sociologicamente correcto" em construção,
a um dos lados, que nada impôs.

As Ligações Perigosas

Na cimeira entre europeus e mediterrânicos do Sul que
pretende dar sequência ao Espírito de Barcelona
coisas boas e coisas más. Não me refiro às ausências
de responsáveis governamentais do segundo grupo de países,
embora os que me superam em pessimismo possam achar
que são faltas que configuram uma certa hesitação em
condenar, aberta e formalmente, o terrorismo. Falo, sim
da tentação - que já sobressai - de ligar o desenvolvimento
económico à erradicação dos fanatismos religiosos que
estão na base da acção dos terroristas islâmicos. É
cair na visão norte-americana do Mundo, segundo a qual
os dollars pacificam; e não reconhecer a autonomia de
uma motivação religiosa e cultural. O Irão, único País
onde subsiste im governo fundamentalista revolucionário
era das raras nações muçulmanas que se podiam gabar de
possuir uma classe média expressiva com conforto e educação
comparáveis às do Ocidente. Deu no que deu. Acho muito bem
que se contribua para desenvolver os países da margem
Sul deste grande lago, mas no seu específico âmbito, de
intensificar as relações económicas, mormente as comerciais,
com eles. Não, como parece extrair-se dos comunicados oficiais,
para lhes comprar a a paz. Até porque poderia resultar o
perverso raciocínio: «vamos pôr-lhes umas bombitas nas
capitais, que eles mandam uma chuva de euros a seguir».
Passando da compra e venda para a troca, espero que não
suceda outra coisa que temo: que, ao abordar de uma vez o
problema da imigração e o do terrorismo, se não caia na
esparrela de, mesmo veladamente, se permutar a "boa vontade"
dos governos árabes em matéria securitária pela concessão de
facilidades em sede de imigração.
Quero, com certeza, continuar o diálogo com os Países Árabes
mais próximos de nós. Acredito no que me dizem, quanto às
visões teológicas mahgrebinas, marroquinas, principalmente,
de um Islão aberto e pacífico. Desejo a feliz convivência
com os membros frequentáveis dessa Grande Religião. Mas
não se deve esquecer que a Argélia está aqui ao pé e viveu
não há muito uma ofensiva islamista radical.
Manter os olhos abertos é a melhor maneira de conseguir que,
não já de uma perspectiva imperial, o Mediterrâneo volte
a ser um Mare Nostrum. De todos.

Projecto Para uma Parábola

Um homem, que muito quer uma coisa, vê que o seu rival
está mais perto de a conseguir, não falando dos que também
a perseguem. Começa a dizer mal dele por guardar silêncio a
respeito. Vendo que o outro cada vez se aproxima mais, muda
de expediente e envereda, finalmente, pelo que tenta fazer
passar por um silêncio digno. Mas já falou demais. As palavras
de censura voltam-se contra si. E as apreciações do calar de
cada um dão, no primeiro uma convicção, no segundo uma
táctica rasteira. A qual deles será fatal?

Porque Se Difere

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Simbologia do que pode ser objectivo, ou consciente renúncia - «Oasis», de Frederick Arthur Bridgman. Posted by Picasa

Leitura Matinal -193

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Duas buscas que, fundando-se em ritmos diferentes e desejando alcançar, uma a Resposta que serena, a outra o brilho efémero da satisfação pessoal e momentânea, poderiam constituir opções de vida condenadas ao desencontro. Poderiam? Sim, não só por cada uma delas ser complementar da outra e, por isso mesmo, polo do seu interesse, como, por outra leitura possível para esse Tu que todo o Eu dá como estranho e guiado por Nortes diversos: ser ser ele a outra face de cada pessoa, onde a integralidade se alimentaria do conflito e da osmose entre as indagações e aspirações que transcendem, pelo Objecto que buscam, ou pelas intensidades interiores. Quem consiga pôr em destaque a parte certa do seu ser na correspondente vez em que as suas necessidades espirituais se manifestem não andará longe de alcançar a harmonia. Mas é um segredo muito bem guardado, que a facilidade de tipificar noutros o que, de momento, não se está sendo ameaça prolongar até ao fim.
De António Ramos Rosa:

Tu procuras saber
eu não procuro porque sei que nunca saberei
Tu queres abrir as portas do conhecimento para fundares a tua integridade
Eu entrego-me ao vago e indefinível vagar
da luz sobre a página que nunca é um oásis
e não conduz ao plácido porto que nela pressentimos
Tu desejas ir além das sequências quotidianas
eu procuro também um além
mas no interior da sombra do meu corpo ao ritmo da respiração
para fortalecer a minha incerta identidade
Tu não desistes de conhecer a lucidez do centro
para que a vida encontre o seu equilíbrio e o seu horizonte
Eu não conheço outro horizonte além da vaga claridade
que às vezes brilha no silêncio de um abandono
ou no fluir das palavras que procuram a nudez
Tu procuras algo que transcenda o mundo
eu procuro o mundo no mundo ou para aquém dele
Eu sei que a fragilidade pode cintilar
como uma constelação ou como um delta
quando o corpo se entrega sobre as dunas do silêncio
Tu queres ser a coluna ou a balança viva
do puro equilíbrio que sustenta o mundo

A imagem é «Quest», de William Sergent Kendall.

Como Difere

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«Ritmo de Outono», de Jackson Pollock.

Sunday, November 27, 2005

Marco Aurélio

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Mas o Árbitro foi quem parou dois penalties.
Em todo o caso, parabéns aos Amigos Belenenses.

De Pés e Mãos Atados

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Sem hipóteses. Pobre Buffy e pobres de nós. Nem quero pensar no que se seguirá!

Desarmamento

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Incentivou-me uma Voz Amiga a comentar a tristeza que é a retirada dos crucifixos das escolas em que ainda permaneciam, ou, como veio o governo precisar, daquelas em que haja alunos que se não sintam bem com a sua presença. Que dizer? A sério? Estes governantes não são perigosos, senão pela fraqueza. Nenhuma Fé vai ficar abalada por tão pouco e algumas poderão ser estimuladas pelo que é visto como uma afronta gratuita. Perante esta gelatinosa tentativa de aproximação ao Costa da 1ª República, apetece cantar os versos que Rodrigo Emílio escreveu, a propósito do «Evangelho...» de Saramago:
«A sorte é o Cristo-Rei
ter um tão grande fair-play.».
Mas se querem brincadeira, direi que, pelo que aprendo da televisão americana, quer considerando os vampiros que, do poder, sugam os nossos valores, quer aqueles que rondam as escolas secundárias, as nossas crianças ficam desmunidas duma Arma essencial contra qualquer mal, a começar pela vampiragem. O que equivale a dizer que, finalmente, as forças malignas conseguiram neutralizar a Buffy, Caçadora de Vampiros». Como se vê acima.

A Secreção dos Segredos

No «DN» de hoje: Miguel Gaspar aborda uma temática muito
digna de reflexão. Congratula-se por presenciar o que
qualifica de «fim do segredo», consubstanciada na acção
dos spotters, os apaixonados pela aviação que, tendo
fotografado avióes suspeitos, colocando, seguidamente,
as imagens na Internet, desencadearam a vontade de
saber de particulares e governos acerca dos eventuais
voos da CIA, transportando, confidencialmente, prisioneiros
a interrogar. Como esta questão ainda se não encontra
dilucidada não falarei, por ora, mais sobre ela.
O que comentarei é o cerne do artigo: a possibilidade dada
a amadores de revelarem factos ou matérias escondidos a
que os jornalistas encartados não possam ou não queiram
chegar. E a minha avaliação considera haver prós e contras.
Em primeiro lugar, há matérias que reputo deverem ser
mantidas em reserva. Sou pela total transparência em
domínios como o das finanças públicas, porém penso que
áreas como a da segurança ou da defesa, sob pena de caírem
na própria extinção, devem conservar algum nível de oculto,
face aos olhos perscrutadores dos curiosos.
A segunda dimensão a analisar reside na própria natureza
dos improvisados reporters. Reduz-se ao confronto entre
entusiasmo e irresponsabilidade. Se houver equilíbrio no
enfrentamento de ambos, muito bem. Mas há riscos. Onde
a iniciativa louvável, que preencha a lacuna causada pelas
preocupações de agenda, carreira e contemporização dos
profissionais, possa operar, muito bem. Mas há que ter em
vista que as facilidades do anonimato e do acesso imediato
a uma audiência potencial de milhões, sem deontologia
profissional que vincule, ou moderação das redacções que
filtre, pode transformar um instrumento da liberdade no
que dissemina a pior das escravaturas: o rumor.

Perversões da Língua

Dói muito ver lugares da blogosfera que respeito enfileirarem por
concessões conceptuais que mais não fazem, para alimentar uma
atmosfera de igualização do que desigual é, do que brincar com o
significado das palavras e com o peso das acções. É o que acontece
aqui e aqui. Num sítio diz-se que não há homossexuais, nem
heterossexuais, apenas havendo actos de uma e outra dessas
índoles. No outro afirma-se que «praticar um acto homossexual
não significa que se seja homossexual». A razão seria ter muita
gente recorrido a esses actos, noutros tempos, pelas curiosidades
da adolescência, ou pelas necessidades da prisão, por exemplo. Isto
não tem pés nem cabeça. Significaria, desde logo, que um sádico
que, anos atrás, haja morto a Mulher, por querer satisfazer a
curiosidade sobre a forma como ela agonizaria e sobre o prazer que
daí retiraria, não pudesse ser classificado como um homicida, antes
fosse apenas "alguém que realizara um acto de homicídio". E o rato
que roubara uma carteira recheada com o sustento de um mês
duma família inteira jamais seria um ladrão, antes "alguém que
cometera um acto de latrocínio". Isto é brincar com as palavras.
E as palavras, quando têm implicações na vida pública, devem ser
encaradas como coisa séria. Cada um tem o pleníssimo direito de
escolher a sexualidade que queira, desde que não venha impor aos
outros as lateralidades dela que incomodem. Mas tem outros direitos:
o de a manter confidencial, se assim o preferir, como também o de
não ser caluniado. Começar a dizer que uma pessoa com determinada
preferência é coisa diferente da que realmente é constitui a única
legitimação imaginável para a insistência dos activistas das
sexualidades minoritárias em virem reiterar a afirmação delas. O que é
precisamente aquilo que se pretende evitar. Negar a alternatividade
das escolhas não satisfará, julgo, os entusiastas da "cultura gay", que
assim ficam munidos de um pretexto para virem cansar-nos os ouvidos
com os argumentos e as exteriorizações do que chamam a sua diferença.
Penso que os Autores dos dois posts citados se enquadrarão no até
agora pacífico conceito de heterossexuais. Sentir-se-iam bem se
aparecesse um qualquer opinador, garantindo, com unhas e dentes,
que não o são, terão simplesmente praticado actos de
heterossexualidade?
Para bem de todos há que chamar os bois pelos nomes. E não mitigar,
artificialmente, o valor do Passado. Quem já praticou actos homo e
hoje só se vira para o outro género é um bissexual, embora possa
precisar que não opta pelas duas vias em simultâneo. Apagar o sucedido
nunca foi boa solução, como o não é fingir não ver o que à nossa volta
acontece.

Interesse (In)discutível

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«Uma Fundição da Vida», de Edouard Dantan.

Leitura Matinal -192

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Dos muitos interesses que nos esforçamos por encontrar na vida, o menor não é a discussão. Sobretudo aquela em que não temos grandes conhecimentos para pôr na mesa, porque quando o saber é profundo difícil é encontrar parceiros à altura; e quando se atinge a sabedoria salta aos olhos que não há grande interesse no que espiritualmente é estéril, como a esmagadora maioria das discussões. Mas deve-se então deixar de discutir? Nem por sombras. Debitar opiniões sobre temas tão vastos que ninguém possa, inteiramente, abarcar, ou trocar trivialidades sobre assuntos com algum grau de especificidade, mas de que nós e os companheiros de cavaqueira só possamos aperceber o aspecto superficial, é prazer indeclinável. Não é uma substituição da vida, é a vida mesma, numa fase em que outras vivências já não são tão facilmente digeríveis, ou deixaram de ser susceptíveis de despertar o mesmo interesse obsessivo de outrora. Daí as horas infindáveis a debater bola ou novela, de que dificilmente virá grande bem ao Mundo, se descontarmos o nosso anseio de certificação de que "andar por cá vai valendo a pena". Percepcionar a movimentação da vida e a variabilidade das suas voltas tranquiliza-nos, porque nos isenta de termos de vogar pela monotonia absoluta. A profundidade dela, a menos que megulhemos na reflexão sistemática que afasta os outros, assusta, ao ponto de pôr ponto final na discussão do dia-a-dia, remetendo para a Religião, ou para a anti-religião, as preocupações concernentes.
Do que se conclui que, sem se dar por isso, com todas as suas imperfeições, discutir é viver. Embora não seja toda a Vida.
De Boris Vian, traduzido por Margarida Vale de Gato:

PRECISÕES SOBRE A VIDA

................................................................Aos meuz filhos

A vida, deriva de várias coisas
Em certo sentido, não é coisa que se discuta
Mas podemos sempre mudar de sentido
Porque não há nada mais intressante do que uma discussão.
A vida, é bela e grandiosa.
Compreende fases alternadas
Com uma regularidade prodigiosa
Visto que uma fase se sucede sempre a outra
A vida, tem imenso interesse
Vai, volta... como as zebras.

Pode ser que se morra
- Aliás, pode muito bem assim ser.
Todavia, isso não altera nada:
A vida deriva de várias coisas
E por certos lados, por outro lado,
Associa-se a outros fenómenos
Ainda mal estudados, pouco conhecidos,
Sobre os quais não nos vamos debruçar.

A imagem é uma representação medieval das fases da vida,
pela roda que pretende explicar a alternância das emoções.

Ser Ou Não Ser

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objecto de «Discussão», aqui vista por Louis Moeller.

Saturday, November 26, 2005

Espiritualidade Tibetana

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Num momento em que a Águia Benfiquista demanda a sua Essência, simbolizada pelo Centro, através da Procura prefigurada pela Circunferência, dedico esta mandala em tons de azul e vermelho, por razões diferentes, à India e ao Corcunda. Esperemos que seja a chave para libertar o Glorioso da miséria terrena em que tem vivido e, voto correspondente, que uns certos azuis encontrem o Nada.

A Autora da obra é Nathalie Parenteau.

Enigma Escancarado

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As reiteradas acusações feitas à CIA, de sobrevoar ilegalmente vários países europeus com prisioneiros subtraídos ao escrutínio público e de manter prisões de ilegalidade ainda mais clamorosa, nalgumas Nações da Europa de Leste, ameaça, segundo os Media, esvair-se na imaterialidade. Quanto às prisões, a Polónia negou veementemente e todos acreditaram, ou tal fingiram. A Bulgária caiu no esquecimento; e quando todos os olhos se voltavam para a Roménia, eis que ela apresenta uma «negação satisfatória da existência no seu território» desses antros de tortura. Quanto aos voos, o Canadá e as autoridades escocesas já vieram dizer que não encontraram quaisquer provas; e de Espanha disse-se mais: que a Força Aérea dos EUA tinha cumprido todas as regras, aguardando-se somente o inquérito aos aparelhos civis.
Perante isto, o «misantropo...», que teve acesso a "fontes geralmente dignas de crédito", está em condições de noticiar (ou imaginar - que o mesmo é) a solução do mistério: os indivíduos capturados para serem sujeitos a interrogatório foram acondicionados, à maneira de salsichas, nos porões das bombas de bombardeiros B-2 Stealth, cujo sobrevoo não foi detectado em lugar algum, por serem invisíveis ao radar. Mais, é a bordo que têm sido interrogados, com variadas técnicas de coacção psicológica, reforçadas pelo efeito das mudanças de altitude nos seus ouvidos, que se revelaram das mais eficazes dentre elas. São reabastecidos em pleno ar, o que explica o movimento desusado de aviões-tanque. É mesmo assim, perguntais? Ora adeus, se non è vero è bene trovato!

Desaparecimento

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Fui ontem surpreendido pela notícia do óbito de Alguém que pensava não estar já entre nós. A grande Actriz do palco Constance Cummings, de Quem recordo performances na tela, sobretudo do período inglês, como Intérprete de Losey e contracenando com Peter Sellers numa «Guerra dos Sexos» que vi em ciclo exibido no British Council.
Curvo-me perante a Sua Memória.

Da Construção da Imagem

Lido o livro de memórias «O Tempo e a Hora», do diplomata
Carlos Lemonde de Macedo. O capítulo final, sobre Marcello
Caetano, reproduz, ipsis verbis, a imagem que esse político
pretendeu que ficasse de Si. A do "conservador que admirava
o sistema político e partidário inglês, mas que desconfiava
da falta de maturidade dos portugueses, o que impedia a sua
implementação cá. Do federalista ultramarino, em quem os
ultras não acreditavam, por quererem mais; e os governos
estrangeiros idem, por quererem menos, no que à soberania
portuguesa sobre esses territórios implicava. Do amador das
liberdades universitárias, classificado como tendo uma visão
«quase medieval» da força que deveria ser a delas». Nem uma
palavra sobre a continuada ambição e pressa de suceder a
Salazar. Tão-pouco qualquer referência ao facto de estar
mortinho por se ver livre do combate em África, só o tendo
prosseguido por lhe ter sido expressamente dito que no dia
em que dele desistisse estaria demitido. Também não se
refere que a sua devoção pela Faculdade teve o intuito de,
tal como o havia feito na «Mocidade Portuguesa», arregimentar
fidelidades em que se pudesse apoiar.
O golpe de Botelho Moniz-Craveiro Lopes é referido rapidamente
como infelicidade que o salpicara e não como acintosa jogada
política. A demarcação do ideário do Integralismo Lusitano,
de cuja Juventude fora um dos chefes, aparece como acto de
coragem devidamente explicado, resultante de evolução mental,
não como expediente de trânsfuga em busca de facilidades de
ascensão.
Lemonde de Macedo foi amigo de Caetano. Merece o nosso respeito
por louvar o Amigo. Mas nós, para conhecermos algo da História,
teremos de ler muito mais livros.

A Grande Coligação

Quem esteja, entretanto, ávido de saber quais as modalidades
mais mortíferas de que a ameaça terrorista se pode revestir,
siga este conselho meu: vá já para a imagem publicada aqui.

Bombas Para Todos os Gostos

Não pretendia ligar demasiada importância à conversação que,
alegadamente, teria tido lugar entre o Primeiro-Ministro Britânico
Blair e o Presidente Bush, sobre a intenção que este ultimo revelara
de bombardear instalações da cadeia televisiva árabe Al-Jazeera, até
porque não houve facto algum que daí tivesse resultado. Todavia,
o banzé que a referida estação de TV levantou, exigindo a Blair
públicas explicações, fazendo deslocar um director a Londres e
abrindo um blogue intitulado «Não nos bombardeiem», exige que
aqui lavre algumas apreciações:
Ao contrário do que já vi sugerido por alguns jornalistas ocidentais,
a controvérsia não respeita às instalações da sede do referido meio
de comunicação, no Qatar. Nem tal faria sentido, uma vez que sendo
o governo qatari aliado formalmente fiel dos anglo-americanos, tendo
inclusivamente hospedado o Estado-Maior aliado, não teria sido preciso
mais do que uma pressão para encerramento ao governo daquele País.
Os alvos do bombardeamento seriam, unicamente, as emissoras da
empresa em Kabul e Bagdad. Antes que se diga que redundaria numa
total ilegalidade, por violar o estatuto dos jornalistas, convém notar que
a Al-Jazeera não é a auto-proclamada janela de liberdade de expressão.
Faz um jornalismo militante contra os interesses ocidentais. Justifica
este facto um bombardeamento? Nem por sombras, pois, a ser esse o
critério, o Sr. Bush ver-se-ia obrigado a bombardear, antes, muitos
jornais do seu próprio país.
A coisa fia mais fino quando se analisa a função da Al-Jazeera no
terreno de combate. Os acordos internacionais permitem, no limite,
bombardear os centros de onde é difundida a propaganda do inimigo,
sobretudo quando tal conduza a abreviar a duração da guerra. Mas o
facto de a bandeira oficial desta concretização dos Media não ser a afegã
ou a iraquiana, levanta dificuldades de tomo a esta legitimação. Ela só
ocorreria no caso de se poder comprovar alguma acusação como a que
lhe foi feita aquando dos grandes atentados da Al-Qaeda, de ter tido
intervenção na operacionalidade do Inimigo, nomeadamente
comunicando instruções, ou dados essenciais aos ataques.
Mas tudo isto é pura especulação. A única bomba que rebentou foi a
notícia, que ameaça fazer explodir as audiências da Al-Jazeera. E
implodir a popularidade de W. Até ver.

Alastrando

Por falar em silêncios, já não é só o Prof. Cavaco. Também
Manuel Alegre deixou de comentar a irrelevância.

Absolutismo

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«O Poder do Silêncio», de Hal Empie.

Leitura Matinal -191

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As possibilidades que o silêncio oferece são pelo menos de tão grande alcance nas relações humanas como as hipóteses de comunicar que ele estagna.
Se há uma mudez com valor retórico, digamos assim, a que é possível atribuir um sentido e contrapor algum argumento, a sua acção sobre o nosso espírito e, não sejamos egotistas, sobre o do nosso interlocutor em vias de frustração, pode agigantar-se,deixando de ser uma convencional contestação das convenções que induzem à conversação. Para, com amplitude da maré enchendo, transfigurar o nosso espírito, ao estimular a irredutibilidade pessoal que tínhamos adormecida, a qual, no momento em que a ausência dos sons do interesse for substituída, em contínuo, pela devastação que proscreve a palavra, deixará de ser um elemento inabitual de cumplicidade, para, com a crueldadade e a nudez que suspeitamos na verdade, reduzir ao zero inamovível a expressão.
Há também histeria no silêncio.
Há submissão absoluta a sofrimentos maiores, que vamos afogando nas habitualidades, até que a grande investida, sem bem darmos por isso, exija, num ápice o rompimento, sem volta.
Há libertações mais opressoras do que a opressão que nos foi saturando. A queda na abdicação das memórias, a renúncia às esperanças, as defuntas pequenas hipocrisias que tão indignas achamos, mas nos iam permitindo tocar o barco, sem cair no extremo do corte que já paira para além de si.
Emana de Octavio Paz o

SILÊNCIO

Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.

As imagens representam uma figura de terracota do deus grego do silêncio, Harpocrates, seguida da visão de «Hish, o Senhor do Silêncio», de Sidney H. Sime.

Faça-se!

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«Silêncio», segundo Fra Angelico.

Friday, November 25, 2005

H

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Sempre tive boa opinião da Caridade Cristã do Eng.º Guterres, ao ponto de o achar o homem indicado para o Alto-Comissariado da ONU para os refugiados, cargo que, como se sabe, de facto acabou por vir a ocupar, só lamentando que o seu provimento na Função não tenha ocorrido uns dez anos mais cedo. Mas mais vale tarde do que nunca.
Sentia, porém, certa pena de que a Figura Pública em questão só pudesse obter a recompensa pela sua generosidade no Céu, a qual, sendo a Melhor, é, forçosamente, mais tardia. Foram ouvidas as minhas preces e o altruísta labor vai ver-se premiado em vida: Angelina Jolie, por muito que o Eurico a tenha na conta de castigo, disponibilizou-se a colaborar com Ele, deslocando-se ao Paquistão, numa tentativa de chamar as atenções para as faltas que atingem os carenciados locais.
Ó p´ra Ela, a formar, com o corpo, o "h" de humanitarismo...

Ingenuidade

A Sr.ª Merkel pensa ter realizado um feito, posicionando-se de
bem com Deus e com o Diabo, ao dizer que se o Eixo Franco-
Alemão é uma força da UE, não quer dizer que seja contra o
Reino Unido, ou que o concurso deste não seja importante.
Pobre Senhora! Não tardará em descobrir que os governantes
franceses, quaisquer que sejam, se não contentam com menos
do que a preferência absoluta pela acção conjunta com o seu
País e a consequente diabolização de Londres.
Verduras!

A Probabilidade

O investigador sul-coreano na área da clonagem que veio agora
pedir desculpa por ter utilizado os óvulos de duas subordinadas,
que «se teriam oferecido para o efeito», em testes, não compreende
que a razão desse interdito é precisamente a mesma que faz
reprimir o assédio sexual. Vetar a uma pessoa dar parte do seu corpo
para subir na vida. E não há assim uma ausência tão grande de
factos criminalmente puníveis como ele pretende fazer crer. Ao
admitir que também recorreu a óvulos comprados a outras
Mulheres, prática penalizada expressamente, suscita muitas
dúvidas sobre se será ou não homem para dizer a uma assistente:
«Menina, ponha cá o ovo, se quer continuar a trabalhar aqui». É
o que os acusadores judiciais norte-americanos classificam como
"padrão de conduta". Com a agravante de que quem aqui ocupa
a posição de chefia, com a faca e o queijo na mão, se dedicar
ao repelente mundo da experimentação de materiais humanos
com vista à obtenção de "clones".

Os Noticiários Erraram

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Surge, para gáudio de qualquer pessoa bem formada, a notícia de que Laetitia Casta vai protagonizar uma peça teatral intitulada «Eu Comer-te-ei!». E ainda há quem tenha a suprema lata de dar conta do facto, dizendo que se trata de um drama! Mesmo tendo presente a riqueza semântica do vocábulo, bem como as especificidades da sua utilização no correspondente, em francês, há que escolher melhor as palavras!

A Memória Curta

O Dr. Balsemão surge não muitas vezes a fazer recomendações
para o País, mas aquelas em que aparece já são demasiadas. Agora
foi a recorrente proposta de criação deuma segunda câmara e da
presidencialização do regime. Isto, do homem que defendia contra
Eanes a limitação dos poderes presidenciais e se queixava do abuso
destes que o General fazia!
Não há, mantendo-se o triste republicanismo em vigor, que mudar
as atribuições e as competências institucionais. Já aqui disse que deve-
se é tentar governar melhorzinho, sem procurar desculpas. O facto
de se ter criado a atmosfera que permita sentenças como esta resulta,
unicamente, da incompetência governativa. Primeiro, dava-se a má
desculpa de não haver maiorias monopartidárias. Agora há, portanto
toca a descarregar sobre a desadequação dos poderes institucionais.
Uma segunda câmara? Pois se, até agora, a cura miraculosa estava
em reduzir o número de deputados da que temos, por se considerar
impossível o recrutamento de tantos parlamentares com qualidade!...
Irão abrir aos marcianos esse fantasista Senado, ou lá o que lhe queiram
chamar?
Mais poderes para o Presidente? Isso é que ia ser lindo! Se, sendo o
Homem um verbo de encher, já andam sempre a queixar-se do enorme
intervencionismo dele! Havia de ser bonito, com cores diferentes em
Belém e São Bento! A maior consequência prática seria caírem a pique
as popularidades dos Chefes do Estado, não já vistos pelo eleitorado
como um poder arbitral e instância de representação do Todo Nacional,
vestes que, embora enganadoramente, os eleitos para o cargo ainda vão,
abusivamente, envergando.
Talvez por aí acabasse por não ser mau de todo.

No Reino dos "Ses"

«Se o meu filho não fosse candidato, eu votaria por ele
para líder do PS».
«Se o PS o tivesse apoiado, eu estaria com ele»
«Se ele passasse à 2ª volta, claro que votaria nele, contra
Cavaco Silva».
Alguém me sabe dizer qual é a melhor, uma «atitude patética»,
ou esta, uma atitude pateta?

Infantilidades

Sempre me repugnou a mistura do mundo das crianças com
a política. Já não falo dos diminutivos, ou no espírito
de jogo, como fingimento - que não à maneira do lúdico
adulto - patente em todos os aspectos das campanhas
eleitorais norte-americanas. Basta-me permanecer por cá;
fico com pele de galinha quando vejo os candidatos a
cargos públicos procurarem popularidade com os beijos a
criancinhas sempre com o olho no voto da mãe ou do pai
delas, para não falar do do telespectador. Creio ser uma
insensatez e uma inconsciência levar crianças para as
manifestações, o que mantenho ao considerar aquelas que
lutam por causas que defendo. Irrita-me, sobremaneira,
que façam palhaçadas como levar a miudagem para o
parlamento, estimuland-as a, brincando aos deputados,
oferecerem um espectáculo quase tão degradante como o
diariamente protagonizado pelos titulares das cadeiras.
Revolta-me que instilem nos pequenos, a maior parte dos
quais ainda não possui defesas que os imunizem, o vírus
da exaltação, sem qualquer aparato crítico, de inventadas
virtudes do 25 de Abril, ou do 5 de Outubro.
Mas o cúmulo é atingido quando se vê un candidato à
Presidência da República, untuoso e repugnante, a louvar
a esperteza de um miúdo cuja turma escolar foi visitar,
em campanha, convenientemente acompanhado pela televisão.
O artificialismo da conversae o grau de simulação da
simpatia esclareceram-me bem de que há "crianças" muito mais
completas na arte de fingir. E têm mais de 80 anos.

A Ligação Externa

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Vamos dar cabo de tudo: ou como as virtualidades que o refrescar traz podem bem ser deste mundo...

Leitura Matinal -190

É mais do que evidente a nossa incapacidade de pensar o Nada. Mesmo para aqueles que o têm em grande conta, como em filosofias e religiões orientais, na medida em que o entendem como a libertação da prisão do corpo e da Terra. Mas ter uma visão do vazio? Mesmo que encarado como o supremo alívio, sente-se a necessidade do uso de imagens retiradas dos momentos menos difíceis de suportar no Mundo conhecido. Exacta atitude de simetria, face à que também não consegue ir concebendo O Tormento do Inferno, entendido como o afastamento de Deus, necessitando de recorrer às representações plásticas das mais apavorantes torturas que para o físico humano foram imaginadas. Nesse sentido, pode dizer-se que, por um lado, se compreende a promoção do Nada ao estatuto do Supremo, por reconhecimento da sua imensidão e transcendência, ensinando-se à mente humana que, cá por baixo, o melhor que pode fazer é encaminhar-se no seu sentido. Como, do outro lado se contrapõe à aragem e frescura do Esvaziado(!) o calor da superfície terrestre, e o fogo paroxístico detectado no interior dela. Que, no fim de contas, mais não é que o braseiro em que a inquietação do nosso espírito nos consome.
Um Clássico Chinês, Wang Wei:

SOFRENDO DE CALOR

Um sol em brasa, no céu, na terra,
.........nuvens de fogo envolvendo as montanhas.
Calcinadas as ervas, murchas as árvores,
.........secos os rios, enxutos os pântanos.
Como pesa, no corpo, a mais leve de todas as sedas!
.........As árvores frondosas quase não dão sombra,
ninguém pode descansar em esteiras de vime,
..........a roupa de linho lavada três vezes ao dia.
Bom seria partir para um mundo longínquo
...........e livre, habitar num imenso vazio,
deixando-me acariciar por ventos e brisas,
...........rios e mares expurgando angústias, impurezas.
O nosso corpo, sempre uma fonte de cuidados,
...........por isso, melhor deixar o coração adormecer.
Depois, franquear o Portão do Orvalho Suave
...........e alcançar serenamente a alegria, a frescura.

A pintura que acompanha é «Meditação Sobre o Vazio», de Brigid Mardin.

Interiors

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Visão do "Centro da Terra", inserta por Kircher no «Mundus Subterraneus».

Thursday, November 24, 2005

Gato Escondido com o Rabo de Fora

Tenho a certeza absoluta de que os mais impenitentes
críticos das técnicas de interrogatório da CIA em
estabelecimentos secretos não aceitarão a desculpa
de o avião Gulfstream IV, que pousou em Tires,
despertando desconfianças várias, transportava somente
uma equipa de baseball, os Boston Red Sox. Afinal,
a Agência tem mais caras do que o Diabo e tantos
homens de compleição atlética, alguns deles agarrados
a instrumentos contundentes de dimensões razoáveis,
tornam-se mais do que suspeitos. A menos que uma
aquietação sobrevenha, motivada pela lembrança de
que aquele estranho desporto tem um adepto fanático
em Fidel Castro...

D´Outra Dimensão

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No Dia Nacional da Cultura Científica não resisto a publicar esta decorativa imagem, representando o espaço Calabi-Yao, elemento essencial da Teoria das Cordas que, visando harmonizar a Mecânica Quântica com a Teoria da Relatividade, concebeu partículas ultra-microscópicas ainda mais infimas do que os quarks, de vibração variável, que possiblitariam a redução da matéria a um elemento primordial, resultando as diversas concretizações dela das diferentes cargas e comportamentos dessas microscópicas manifestações de energia, as quais, nas versões das Teorias das Supercordas, acarretariam mais sete dimensões além das que conhecemos.

Os Grandes Desígnios Nacionais

Dia grande para o salto tecnológico.
A Teoria: o Primeiro-Ministro apresentou, com pompa e circunstância
o plano correspondente, constante das promessas eleitorais.
A Prática: Três prostitutas portuguesas e o respectivo... protector
foram apanhados com walkie-talkies sofisticadíssimos, que
interferiam nas transmissões militares, carecidos de especial licença
para os operarem.Trata-se da extensão à sociedade civil de uma
sofisticação até agora exclusiva do meio castrense. E como os
aparelhómetros foram eficazmente usados para enganar as polícias,
controlando-lhes as movimentações, para muito boa gente estará aí
o famoso choque tão prometido.
A cereja em cima do bolo: como estes relevantes factos ocorreram
em Vila Nova da Cerveira, eis que começam a ser cumpridos outros
grandes objectivos da nossa classe política: se ainda não é a
descentralização, ao menos reduzem-se as assimetrias regionais.
Estamos no bom caminho.

Caça & Pesca

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A já aqui referenciada Jessica Simpson está de novo solteira, pelo que urge chamar a atenção de todos os interessados. Garanto que não se trata de piada machista, mas toda a conversa do casamento por concurso público do post anterior me faz interrogar-me sobre se esta promessa de fazer a lida da casa não será um golpe baixo para caçar marido. Peço imensa desculpa, mas quem tira uma fotografia destas está mesmo a pedi-las. A menos que a escova seja um acessório erótico...

À Marta e ao Luís

Na sequência da dúvida que surgiu, há dias, não tem passado
um em que eu não haja procurado o livro de que vos falei.
Encontrar um volume nesta casa começa a ser tarefa tão
hercúlea que a imagem da agulha e do palheiro só muito
palidamente transmite uma ideia da realidade. De tal forma
que costumo dizer, por brincadeira, que, se um dia viesse a
casar, seria bom que o enlace ocorresse com uma bibliotecária,
única profissão detentora do know how apto a pôr ordem nesta
confusão. Mas aí vai a teanscrição que interessa, extraída
de «JOGOS OLÍMPICOS E OLIMPISMO», de João Marreiros, 2ª
ed., do A., S/L, 1992, com o subtítulo «Barcelona/92», pg.164:

«ESTERÓIDES ANABOLIZANTES

Devem o seu nome a duas personalidades históricas: Ester e
Ana Bolena.
Foram utilizados pela primeira vez nos tempos bíblicos. Tudo
começou quando o Rei Assuerus, nome bíblico de um monarca persa,
que decidiu abrir um concurso para substituir a rainha Vasti,
repudiada depois de o ter desautorizado publicamente.
Milhares de jovens, as mais belas do Império Asiático, foram
apresentadas ao Rei Assuerus, após um ano de dedicação à
aprendizagem das regras de boas maneiras e de cosmética.
A escolhida por Assuerus para sua esposa foi Ester, uma jovem
judia e orfã.
Foi então que Aman, sábio do reino, versado em química, acusou
Ester de se ter submetido a um tratamento de hormonas (esteróides)
para se tornat mais atraente. O Rei não gostou e ordenou a
decapitação do sábio.
Desde então as hormonas que permitiram a Ester tornar-se na
primeira dama do reino passaram a designar-se por ESTERÓIDES.
Por sua vez a designação ANABOLIZANTES é aplicada há cerca de
quatro Séculos.
A sua história começou no reinado de Henrique VIII de Inglaterra.
Quando o Monarca se separou da sua primeira mulher, Catarina de
Aragão, para se casar com a bela Ana Bolema, Dama de honor da
Rainha.
Só que Henrique VIII reconhecia que a sua nova mulher tinha
aprendido em França a utilizar drogas que lhe permitiram
melhorar o seu aspecto físico.
A descoberta foi feita por Jane Seymour, frequentadora da
corte, que detectou produtos estranhos no líquido orgânico
de Ana Bolema.
O Monarca ordenou a sua execução e casou com Jane Seymour»

Como se vê, nada foi inventado no nosso tempo: o controle
anti-doping, protestos das delegações rivais, sábios e
Esposas que perdem a cabeça, penetração de agentes israelitas
na Pérsia, desconfiança franco-britânica, concursos de misses,
tudo existia já, bem antes de nós.

Estrela Polar

O Secretário-Geral do Partido Comunista Português,
Jerónimo de Sousa, vem defender o fim da NATO,
uma vez que o Pacto de Varsóvia já foi extinto. Ou
seja, logo no momento em que o Pacto do Atlântico
Norte congrega um número record de membros. Mas não
se pense que é inocente este desejo. Os comunistas
sabem bem que duma coesão político-militar expressa
em tratado, no Atlântico Norte, incluindo grande parte
dos ex-satélites soviéticos, pode advir a maior força
no sentido de isolar ainda mais Cuba. Os comunistas
não perderam o Norte. E a estrela que os guia continua
a ser a de cinco pontas.

Homens à Água

Têm os bombeiros do enclave espanhol de Melilla, no Norte
de África, toda minha solidariedade, por estarem privados
de mais do que um autotanque que lhes permita exercer
capazmente a sua generosa actividade. O protesto que
agora empreenderam veio fazer luz no meu espírito sobre
a razão pela qual os imigrantes ilegais africanos que, há um
mês, forçaram as vedações fronteiriças não foram corridos à
mangueirada.
Mas a forma da reivindicação - exibirem-se quase nus, em fins de
Novembro, deixa-me perplexo. Pois se é de falta de água doce
que se queixam, não deviam aparecer com o trajo ideal para
entrar numa piscina!

Pesar

.

Pelo falecimento de uma Actriz que, numa fase mais tardia da carreira, comparativamente à da fotografia que se publica, vi em várias peças de teatro e cujo trabalho me habituei a respeitar.
ISABEL DE CASTRO

A Ignorância Atrevida

Com os vastos conhecimentos económicos que lhe são
reconhecidos, acrescidos de uma célebre capacidade de
estudar exaustivamente os dossiers, veio a Criatura
do Eng.º Socratesenstein dizer que as qualidades técnicas
do Prof. Cavaco são, fundamentalmente, um mito. Deixemos
de parte o mistério do advérbio. O que importa é que o faz,
após verificar que as críticas que dirigira a uma pretensa
menoridade política e diminuta cultura do Rival haviam
impressionado tanto a população e os comentadores como
o piar de um melro, sem ofensa para o simpático pássaro,
que merecia melhor destino do que o de ver-se comparado
a tal passarão.
O homem pode perder a eleição. Mas já teve uma grande
vitória, pois arranjou uma tribuna para vomitar toda
a bílis que lhe envenena o que resta do raciocínio, contra
quem mais inveja. O que, já se sabe, não é decorrência
da idade, mas simples receio de ver em jogo o que julga ser o
seu lugar como símbolo da 3ª República.
Por mim, esse poiso não está nada ameaçado. O sistema e
o indivíduo referidos parecem mesmo ter sido feitos por
medida um para o outro.

Em Voz Alta

Tendo em conta o concurso do Cocanha para a melhor voz
masculina do cinema, fiquei cá a pensar, domínio em que
serei incapaz, mas não inexperiente: «E qual a pior voz
masculina da tela? John Gilbert, o galã do mudo (que fez
par com Garbo em vários filmes) a quem ela, tida por
efeminada, ou, pelo menos por aguda, deu cabo da carreira,
com o advento do som?
Ou Jimmy Stewart, a quem a vocalidade deficiente nunca
estorvou, salvo no momento das homenagens, em que o
grande Actor se queixava, com humour de que era aquela
altura em que apareciam pessoas a dizer bem de todas as
suas faceteas, mas que ainda não tinha surgido quem o
fizesse da voz...
Ou, como defende o Alce, a de James Cagney, que acentuaria
a sua parecença com um rato?

A Qualidade dos Apoios

.

Como um Livro pode ser um bordão.
De Evelyn de Morgan, «Dois Estudos de um Peregrino».

Leitura Matinal -189

.

Ter algo em que apoiar-se para não se estatelar no pedregoso caminho da Vida, é anseio equilibrado pela apaziguadora recompensa de prescindir de um guia. A autosuficiência conferida por um cajado é porém prejudicada pelo eterno retorno do percurso já percorrido, cujas variações não bastam para obviar ao comportamento do Espaço como se Tempo fosse, viciado pela personalidade andante que não consegue
transformar a realidade com o entusiasmo que aplica em cada novo dia. Mas ai dele se assim não procede! É o elo que o prende e em que se prende, deixando, ironia pobre, mas verdadeira, a calma imensa para o desenraizado pau que não dispensa.
A sua dependência do inanimado companheiro é o seu drama e a sua grandeza.
Eacreveu um Poeta:


O bordão do peregrino busca as suas raízes por toda a terra
enquanto o peregrino erra de lugar em lugar. O bordão
conduz o peregrino pela mão e às vezes ilusório floresce
porque na intangível Ítaca amanhece. Então o peregrino remanhecido
segue as raízes do bordão assumido logo como ceptro real
que ao tocar o fúlgido areal é só bordão de mendigo.
O peregrino ignora o perigo da razão quando a ilha sai do horizonte.
Como a água que volta à fonte suspende-se e é piloto de Argos à tona
de nada. É um gesto que se desmorona antes de concluir-se.

E no entanto o peregrino ao cumprir-se é a concretização da luz
na especificidade que produz as circunstâncias do lugar
e é também o caminho circular na peregrinação que faz
dentro de si. Ave pertinaz sobre a planície de Gizé
sabe o intricado lugar que é a própria viagem,
sente o não-lugar e a voragem da palavra que esventra o real,
sulca o imenso areal e derreado de evidências
une as sucessivas confluências da temeridade e do medo.
O peregrino acorda cedo e desenha os pilares do dia
com a linfa azul da alegria. Um corpo triunfante
eterniza-o em cada instante ficando para o seu bordão
a recolhida quietação dos pássaros nas sombras do meio-dia.

O peregrino coloca uma taça vazia sob o indício
de cada sensação e de cada início de si porque ele é o incompleto
diante do secreto zénite do ser. Ele é o que ama
e no cerne da chama em trânsito arrisca o seu limite.


Este poema, de um Anónimo do Séc. XX, como tal publicado,
dedico-o à Viajante, cuja Figura escolhida para nom de
plume tem a incomparavelmente maior honestidade de ir
proclamando que não tem um destino único identificado.
O "peregrino", designação que adoptaria, se não assinasse
com o meu nome, é um batoteiro. Afixa um fim para a sua
caminhada, sabendo bem que nunca o cumprimento do seu percurso
será desinteressado, diluído que está nas voltas em si.
Erra tanto como Viajante, no sentido de vogar. E muito
mais, no de enganar-se. Mas há momentos bons, quando
caminhos se cruzam com todos Aqueles com que, por bem, depara
nas estradas da vida, a mais Venturosa Concretização das
encruzilhadas do seu querer.

A imagem é «Peregrino», de Carl Gustav Carlus.

Arrumar as Botas

.

Como Edward Burne-Jones viu a iminente traição de um voto e de uma vocação, pela desistência de continuar um percurso, enfim, o tormento, pela "Tentação de Desistir" : «O Peregrino Às Portas da Ociosidade».

Distracção Fatal

.

Estava o Dragão mergulhado no conto de fadas que parecia ser a vitória e a perspectiva de qualificação, quando abstraiu de tudo o mais e deixou o pássaro fugir. Agora a coisa ainda está mais cinzenta do que para o meu Benfica, pois depende do resultado do outro jogo do grupo, não lhe bastando vencer o seu próximo. Mas enquanto há vida há esperança. Que, como diz a Viajante, é o que temos quando nada mais nos resta.

Wednesday, November 23, 2005

Gelo do Norte na Minha Bebida

Os nossos Parceiros Suecos da União Europeia são absolutamente
livres de se sentirem satisfeitos com o modelo de sociedade sem
micróbios que adoptaram, mas deviam demonstrar um respeito
maiorzinho pelas culturas dos Países latinos da Europa. Já me
irritou um pouquito a conversa dos nossos governantes, quanto
a poderem adoptar o modelo da Pátria de Erikson de penalizar
o cliente e deixar em paz a prostituta, nessa eminente relação
comercial. Mas acabei por desligar, querendo crer que a referida
conversa era suficientemente fiada para não merecer o desgaste
dos meus preciosos neurónios.
Agora é que caiu a gota de água. São as próprias autoridades da
Suécia que querem promover campanhas, na Internet e sabe Deus
mais onde, contra o consumo de bebidas alcoólicas na União. E
atreveram-se a pressionar o Presidente da C. E., José Barroso,
para que tome medidas. Fiquei cheio de suores frios, porque tenho
muito receio de que o «Senhor Banalidades» vá na onda. Se vier
a ser adoptada a política nórdica de controlar as vendas e fazer
disparar os preços do álcool bebível, qualquer dia temos um panorama
idêntico ao que por lá se encontra, onde só se queixam de problemas
de alcoolismo os milionários, como o Patrão da cadeia Ikea, Ingvar
Kamprad. E esses bebem exponencialmente, já que é uma marca de
status. Ora, eu gosto de beber os meus copos e tenho uma bolsa
pequena. Socorro! A «Lei Seca» sempre era mais justa!

A Persistência do Ódio

.


Parece que actos remanescentes, quais reminiscências, de ódio sino-japonês que se julgava em vias de extinção, salvo nas diferenças governativas, vieram à tona com a força toda, ao ponto de muitos internautas do "Império do Meio" reagirem contra a participação de Zhang Ziyi e Gong Li num filme de Rob Marshall - de «Chicago, lembram-se? -, «Memórias de uma Geisha», sobre uma história japonesa. Nestas coisas é sempre a união sexual entre membros de comunidades antagónicas que causa maior confusão aos ferventes, mais do que fervorosos, patriotas. As indignadas reacções não são, preferencialmente, dirigidas para serem chinesas a interpretar uma aventura nipónica, para enganar ocidental, mas por Ziyi ter filmado uma cena erótica com um actor japonês, a qual até nem está na versão final do filme. Advogam, imagine-se, a perda da nacionalidade pela Pequena, o que, de uma cena erótica pode bem fazer uma cena heróica!

Partir o Partido

A notícia de que Ariel Sharon abandonou de vez o Likud
para formar o seu partido, o Kadima, parece ter uma
vantagem para todos, na medida em que a sonoridade do
novo movimento em português se assemelha à do nome de
uma Mulher. Resta saber o porquê desta atitude. Só
encontro duas explicações para a insatisfação do Primeiro-
Ministro israelita com os que, até agora eram os seus: ou
não considerava forte a sua liderança, o que ninguém que
conheça Sharon parece poder admitir, ou temia que, por
dentro, alguém lhe estivesse a minar as fundações. É o
mais provável, dadas as movimentações de bastidores do
Bibi lá da terra, o Sr. Netanyahu.
Doutra forma, não se compreende. Tendências adversas?
Pois se os mais duros já haviam abandonado o partido,
capitaneados pelo Filho de Begin! Além de que o Likud
foi, na origem, uma coligação de três partidos e vários
grupos de intelectuais, que, após uma vida de oposição,
deram, finalmente, uma chance à direita israelita.
As sondagens dão o novo partido como favorito. Não sei,
não. Os militares prestigiosos que formam forças partidárias
próprias, como Dayan, não têm tido sorte. Mas também
nunca os trabalhistas estiveram tão fracos; e não se
sabe o que Peretz irá fazer deles...

Top Secret

Leitura, ainda incompleta, de um interessante livro de William
Casey, um Homem que chegou, com Reagan, a director da CIA,
tendo ficado ferido no atentado que o tomou por alvo. Trata-se
de uma tradução francesa de «THE SECRET WAR AGAINST
HITLER», onde o Autor, um veterano da OSS, conta alguns
pormenores curiosos de quadros gerais bem conhecidos. Como o
da teimosia de Roosevelt, que queria impor também à Itália,
apesar do governo não fascista de Badoglio, a rendição incondicional,
tendo dado um trabalhão a Eisenhower, ao seu adjunto Badell Smith
e aos serviços de inteligência, de modo a fintarem as absurdas
directivas que iam ameaçando comprometer o desembarque em
território transalpino.
Informações igualmente interessantes sobre os contactos com os
conspiradores contra Hitler e o modo como o nº 2 de Canaris na
Abwehr, o departamento de informações militar, era, na prática,
um agente aliado infiltrado.
Outro ponto alto respeita à desorganização da resistência francesa
à ocupação, que o memorialista sugere ter estado mais ocupada em
guerrear-se, facção contra facção, do que em enfrentar o ocupante,
assim como revela ter sido tardio o aparecimento da maior parte
das suas muitas tendências.
Um momento saboroso, muito capaz de contradizer a versão oficial
dos Historiadores Comunistas, que dizem ter a abulia do PCF, no
quadro do Pacto Germano-Soviético, até à invasão da URSS, sido
«um sacrifício, contra as vontades dos militantes e da direcção, para
preservar a paz». Casey recorda que ainda um mês antes do início
da «Operação Barbarossa» o L´Humanité havia tentado pactuar
com Vichy, apelando à «constituição de um Front national (ironia
da História- parêntesis meu) de todos os partidos políticos e à
afirmação de uma posição de neutralidade a respeito da Alemanha
e da Inglaterra».
Digam lá, não é leitura merecedora?

Perturbação em Crescendo

.

Como Helena viu a «Insónia», a qual nos termos descritos anteriormente teria um mais acertado nome em "Insânia".

Leitura Matinal -188


Todo o mérito que há na preocupação pelo que a Outrem possa suceder de mal transforma-se em perversão quando, com raízes mais fundas na nossa instabilidade, do que na periculosidade real, desata o mecanismo soft da histeria, que é ser devorado pela inquietude. No mundo contemporâneo o fenómeno é frequente. Pelo que, a obsessão com a perda redunda tanta vez naquela que não era esperada: a do timorato atento. E não poucas vezes o socorro vem do que era visto como mais necessitado dele, embora não na forma que teria podido obviar à fatalidade - a tranquilização quanto ao receio de que foi beneficiário; por uma razão simples, ter sido inconsciente dele.
A consciência, se mantida, sem cessar, em vigília, como a insónia aqui representada, pode acabar por fazer do seu "dono" o escravo que, uma vez sacrificado - porque abandonado -, sucumbirá totalmente. Que é um pouco a história de certa infelicidade, nos dias que correm.
De Yannis Ritsos, com tradução de Eugénio de Andrade,

O SONÂMBULO E O OUTRO

Durante a noite não pregou olho. Seguia
os passos do sonâmbulo sobre o tecto. Cada passo,
pesado e ôco, ressoava infindamente num canto
vazio de si próprio. Ficava à janela, esperando
apará-lo nos braços, se viesse a cair. Mas se o outro
o arrastasse na queda? Era a sombra de um pássaro
na parede? Uma estrela? Era o outro? As suas mãos?

Ouviu-se um baque surdo no pavimento. Amanhecia.
Abriram-se janelas. Os vizinhos acorreram. O sonâmbulo
descia rapidamente as escadas de serviço
para acudir àquele que tombara da janela.

O Perigo Nem Sempre Está Onde Se Espera

.

«Sonâmbula», de Charles Dickinson.

Quem É Amigo, Quem É?

.

Como acordei muito bem dispostinho, resolvi atender o pedido expresso no 6º comentário ao meu post «À Revelia da Lógica». É uma vez sem exemplo. Quero sossegar as Queridas Leitoras, assegurando-lhes que a lógica que informa o work in progress que é este blog não se transumou para uma versão amaciada da revista «Penthouse». Fique então com a Kim, ao natural, o anónimo Admirador dela.
 
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