Tão Longe, Tão Perto
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Por que será que uma das mais famosas fotografias de sempre, «A Casa de Mr. Henry», de David B. Woodbury, evoca, para mim, a misantropia? A nudez das árvores próximas até indicia afecto, mas claro, não sendo pessoas,escapam ao conceito. A diminuta superfície do abrigo, com uma estrutura vazia ao lado, seria susceptível de indicar um projecto para mais gente do que ele, mas de planos estão muitas aversões cheias. Talvez o elemento decisivo seja a distância da povoação, que acentua o isolamento. Mas, para avaliá-lo, seria preciso certificarmo-nos de que para lá se não dirige o olhar. Ou, ainda mais difícil, na hipótese de se dirigir, que tipo de sentimento trairia. Este é o aparato de que necessita a fotografia, porque, na acção, é perfeitamente possível ser misantropo no meio dos Homens.
2 Comments:
At 1:18 AM, Margarida said…
Quer a misantropia, quer"A Casa de Mrs. Henry" têm certamente nuances de interpretação variadas. A mim, a foto faz-me pensar que os misantropos ora se abrigam dos outros nas ruínas de si próprios, ora buscam abrigo nos outros, um abrigo sempre insuficiente. Uma coisa é certa: os misantropos estão condenados ao relento. Alguns, pelo menos, porque "é perfeitamente possível ser misantropo no meio dos Homens".
At 9:13 AM, Paulo Cunha Porto said…
Querida Margarida:
A imagem do abrigo é magnífica. Uma visão ainda mais carregada diria que os misantropos "desistem de encontrar abrigo nos outros", a partir do momento em que têm por certa essa insuficiência. Até que constatam que o relento não tem, afinal, carácter salvífico.
Beijinho.
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