O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Monday, May 29, 2006

O Homem

A 29 de Maio nasceu uma das influências maiores desta casa. G. K. Chesterton interveio em todas as polémicas do tempo, sem amargor, como filocatólico, primeiro e convertido, depois. Da sua obra, quase tão dilatada como as suas proporções físicas, para as quais só um Orson Welles teria arcaboiço, ainda se contam clássicos citados em qualquer tese, versando as obras de Dickens e de Shaw, com quem muito polemicou, mas nunca deixou de jantar, pelo que dele dizia ser o seu «inimigo íntimo». Escreveu talvez a autobiografia de que mais gosto.
O humor tinha para ele muito maior relevo do que o de uma mera qualidade do espírito, na medida em que encontrava na alegria religiosamente enquadrada a essencialidade vital que sempre defendeu. Por isso atacou, coerente, o calvinismo, que via como arrasador dela em nome do puritanismo a que se opunha. Também residia no sentido humorístico o que o unia a São Tomás, ainda antes da magnitude da construção sistemática, de que não era, assumidamente, o intérprete ideal. Combateu todas as tentativas de diminuir a naturalidade risonha do Homem, fosse o imperialismo na modalidade jingoísta, como a imposição das Leis Secas. Em certo ponto fala, a um tempo, da cerveja e de Deus como de «Duas Coisas Excelentes». Nos paradoxos da aparência buscou a afirmação da Realidade que ultrapassasse a atrofia dos pobres cultores dela, que a mutilavam, chamando-se «realistas», como defendi num ensaio de juventude sobre as histórias do Padre Brown. E na sua obra mais conhecida, ao conceber uma polícia especializada em poesia, ao serviço da Própria Divindade, pintada no meio caminho entre uma Personagem e um elemento onírico, faz depender dela a ultrapassagem das tendências dissolventes do Homem, pelo apelo ao melhor dele, a palavra dada, primeira pedra na ponte que conduz à descoberta do Amor. Falo de «O HOMEM QUE ERA QUINTA-FEIRA».
É a este pintor fracassado e Escritor Superlativo que devo muito do que sou.

12 Comments:

  • At 12:03 AM, Blogger Mendo Ramires said…

    E cá tenho eu na estante o Teu belíssimo ensaio — com dedicatória autografada — sobre este Grande Mestre.

     
  • At 8:20 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro Mendo:
    Era escrita incipiente, embora as ideias continuem, inalteradas. Chesterton é um mundo que nos permite ver aquele em que navegamos com outros olhos que os das ideias feitas.
    Abração.

     
  • At 9:04 AM, Blogger Jansenista said…

    GKC para GBShaw: homem, tão magro, olhando para si os estrangeiros vão pensar que há fome na GB!
    GBShaw para GKC: e olhando para si os estrangeiros julgarão ter descoberto a causa!

     
  • At 10:04 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro Jansenista:
    Notável! Essa não conhecia. Eram dois vultos com enorme piada, é bem verdade.
    Abraço muito grato.

     
  • At 10:41 AM, Blogger João Villalobos said…

    Caríssimo,
    Também celebrei a data, de uma forma muito mais pobre, no Corta Fitas.
    E guardo igualmente o teu opúsculo na minha biblioteca.

    Abraço

     
  • At 10:44 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro João:
    Vou já lá, sem, por um instante, acreditar na pobreza, por relativa que seja.
    Abraço.

     
  • At 2:49 PM, Anonymous Anonymous said…

    Paulo con la humildad y sobriedad propia de los conquistadores extremeños y castellanos: "Largos en facellas, cortos en contallas"....¿Qué obras se pueden adquirir en las librerías lusas salidas de su mano maestra?

     
  • At 2:54 PM, Anonymous Anonymous said…

    En el diario "El Adelanto" del dia de la fecha, reseña sobre los cincuenta años de carrera literaria del Dr. Antonio Salvado, a cargo del profesor y también escritor señor Pérez Alencart.

     
  • At 6:11 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caro Amigo de Espanha:
    Infelizmente está tudo espalhado por jornais, revistas e edições estrangeiras sem distribuição em Portugal. Tenho de pensar numa colectânea, hihihihi. O ensaio em questão foi o primeiro que escrevi, dele se tendo feito separatas. Pensava já as ter dado todas, até que, há poucos dias, descobri quatro. Se me enviar os dados por "e-mail", terei todo o gosto em oferecer-Lhe uma. Mas olhe que é má prosa, apesar de as ideias não envergonharem.
    Quanto à sugestão, está disponível "on line"?
    Abraço.

     
  • At 7:21 PM, Anonymous Anonymous said…

    Amigo Paulo: te comunicó que te he enviado un e- mail. Un abrazo.

     
  • At 7:30 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Obrigado, Caro Amigo. Está (mal) servido.
    Ab.

     
  • At 8:09 PM, Anonymous Anonymous said…

    ¡Realmente interesante el ensayo recibido.....!

     

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