O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Friday, February 02, 2007

A Minha Heterodoxia

«Palavra terrível é o non», disse, aproximadamente, Vieira, com o eco que uma citação cinematográfica despoleta. E sê-lo-á hoje? Certamente que sim, na vertente que nega a um ser sem culpa a possibilidade de continuar a viver. Mas não na pergunta capaz de levar portugueses às urnas. Porque perdi recentemente uma Vida Querida tinha-me proposto, mais do que imposto, silêncio de um mês, até dia 12. A urgência de tentar contribuir para salvar outras obriga-me a manifestar-me.
O Professor Marcelo Rebelo de Sousa, querendo estar bem com Deus e com o Diabo, ensaiou a esmiuçada rábula de ser contra o aborto, mas opondo-se igualmente à penalização das autorias dessa prática repugnantíssima. Chamou a isto a «sua heterodoxia do Não». Como mau jurista que me confesso, nem invocarei a lição recebida de Mestre Cavaleiro de Ferreira, definidora de um crime como a conduta correspondente a um tipo legal que, praticada com culpa, vê corresponder-lhe a previsão de uma pena. Não sei que acrobacia permite escapar a esta definição, a qual faz o jogo do Dr. Louçã e se presta às sátiras mais fedorentas. Porém, o que o entendimento não pode reivindicar-se é de heterodoxo, na medida em que tenho visto na esmagadora maioria dos defensores do NÃO a cedência à conversa de não quererem as pobrezinhas das abortadeiras presas. É aqui que tenho de marcar a minha heterodoxia: eu quero vê-las todas atrás das grades, bem como a todos os homens que, em muitos casos, as levam a tal. Serão os meus companheiros de luta melhores Cristãos do que eu. Mas, se é sublime a Mensagem de perdoar ao nosso inimigo, nada na Religiosidade ou nas atribuições de cargos civis obriga ou aconselha a perdoar os inimigos d´Outrem, mormente dos que são mandados a caminho da pia sem que pronunciar se possam sobre se perdoariam ou não.
Acresce que são asquerosos os argumentos dos que querem pactuar com a cobarde e torcinária eliminação:
1- Dizem que «é muito pior trazer crianças a um mundo que lhes não dê amor»; e fazem-me sempre lembrar aqueles agressivos mendigos que tentam coagir à esmola, ameaçando com a afirmação de ser melhor pedir do que roubar. Não demonstram conhecer a alternativa do trabalho, como os filoabortistas não equacionam sequer amar os desgraçados de que projectam desembaraçar-se.
2- Vêm depois dizer que até às dez semanas os nascituros não pensam nem sentem a morte que lhes inflijam. Recordam-me o célebre caso de crueldade contra animais julgado na Alemanha, há anos, de um fedelho que se divertia a assentar lagostins vivos em bicos de fogão acesos, tendo criativos advogados vindo defender que os referidos crustáceos não possuem o sistema nervoso que lhes permita sentir a dor. Seria cómico, se não fosse trágico, ver argumentos da mesma índole justificar o assassínio de vidas humanas. Por esse andar seria possível defender a eliminação dos pró-abortistas - indivíduos que recusam infundamentadamente o estatuto de vida a algo que respira, se alimenta e cresce demonstram ser incapazes de pensar. E os que não se apiedam dos pobres inocentes indefesos revelam-se incapazes de sentir. Logo... mas dou a mão à palmatória, não devemos ser iguais.
3- E, como a desonestidade argumentativa não paga imposto, dizem que querem combater o número de abortos com a legalização dos mesmos, à revelia da constatação de que as legislações mais permissivas fizeram o número de seres sem mácula legalmente retalhados ultrapassar o dos nascimentos, como na Rússia, ou atingir um em cada três concebidos, como nos EUA. Mas claro que o não-alinhamento com os Grandes, «os Senhores do Mundo», aqui se dissolve, inexplicavelmente.
4- Já que a batota é aceitável para quem defende horrores maiores, fazem-se de vestais da economia e acusam os defensores dos que não têm voz de querer favorecer o negócio das IVG´s clandestinas. Prefiro mil vezes que esse sector continue estigmatizado e subreptício, podendo ser sancionado, se para isso houver vontade e competência, à negociata dos estabelecimentos legalizadamente implementados para o efeito, como vem sendo noticiado e perspectivado no tocante às clínicas da morte estrangeiras, empoleiradas na fronteira à espera da luz verde referendária. E não me venham com a conversa dos cuidados de saúde à mulher indigna de tal nome: é bom que o terror imposto ao que no ventre jaz à mercê de quem o gerou sem o ouvir comporte riscos para as proto-criminosas que o querem pôr em marcha. O medo, recaindo sobre pessoas honestas, é coisa de proscrever. Incidindo sobre quem é tentado a prevaricar, é de enaltecer. Se uma só vida fosse salva pelo receio, mereceria todo o agradecimento das mentes e consciências sãs.
5- Por fim, à míngua de argumentação, tentaram desqualificar Alguns Opositores da infâmia que querem instituir, chamando-lhes «nazis». É o argumento-bumerangue, já que os hitlerianos campeões dos abortos eugénico e étnico alinham precisamente pela admissibilidade e conveniência do sanguinário massacre.
A tentativa a que temos direito de imitação da influência da Aspásia ateniense veio lançar o repto de que seja passado um cheque em branco, dizendo que «se deve confiar nas Mulheres Portuguesas», quanto a abortar ou não. O artigo definido prefigura uma outra infracção, a da usurpação de identidade. Confio muitíssimo em imensas Mulheres do meu País. Não aplico um miligrama da minha confiança nas que pensam como a Sr.ª D. Fernanda Câncio. O simples facto de reivindicarem um direito que é a exaltação do egoísmo define-as.
É a queda da máscara daqueles que, por um lado, têm sempre a liberdade na boca, como, pelo outro, dos que nos lábios têm o disco riscado da defesa dos desprotegidos. Quanto aos primeiros, é na sua e na dos que se lhes assemelham que pensam, exclusivamente. Os outros não prezam aquele que não pode; simplesmente procuram acaudilhar quem aparente possibilidades de revoltar-se e protestar. No momento em que a desprotecção atinge os condenados ao silêncio, passam, com armas e bagagens, para o lado dos opressores, porque, estes sim, podem fazer barulho e travar combates políticos que subvertam.
Ao contrário da esmagadora maioria dos meus Correligionários nesta luta, para mim, nem toda a vida humana é sagrada, o que constitui o segundo ponto da minha heterodoxia. O que define, no que me diz respeito, a sua intangibilidade é a ausência de culpa. Para os responsáveis pelos actos mais desumanos aceitaria bem a morte como pena. Nunca, porém, a inflicção dela a quem não fez mal a uma mosca. Julgo que ninguém, salvo os Grandes Santos dos resgates dolorosíssimos correspondenntes aos mais paroxísticos dos arrependimentos, merece segunda oportunidade. TODOS, NO ENTANTO, MERECEM UMA.
Por isso concluo que, na resposta à questão ridiculamente posta a votos não é terrível a negativa, bem pelo contrário, dado que neutraliza uma outra que o é. Dessa que serve o Bem, em lusitana língua, conhecemos o avesso e o direito.
Que coisa sublime poderá ser um NÃO!


Orgulho-me de que este post haja sido também pubicado no blogue Pela Vida, soezmente atacado que foi, nestes meus dias de recolhimento.

32 Comments:

  • At 2:02 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    This comment has been removed by the author.

     
  • At 2:12 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    «E não me venham com a conversa dos cuidados de saúde à mulher indigna de tal nome: é bom que o terror imposto ao que no ventre jaz à mercê de quem o gerou sem o ouvir comporte riscos para as proto-criminosas que o querem pôr em marcha.»

    Um ponto de vista inteiramente coerente e uma nova guerra contra o Terror bem original, mas não se deveria aplicar também às práticas contraceptivas, para já nem falar no pai acidental presumivelmente indigno de tal nome que nem sequer procura investigar as consequências dos seus actos? Não em matéria de cuidados de saúde, obviamente, mas de responsabilização criminal por manter relações sexuais sem intuito de procriar. Não me diga por favor que o terror imposto aos espermatozóides que jazem nos testículos à mercê de quem os produz e lhes recusa uma hipótese sequer de futuro cristão, é muito diferente do terror imposto, por exemplo, a um zigoto ou embrião desprovido de sistema nervoso, porque pelo menos em matéria de terror tudo indica o contrário. Será necessário lembrar S. Paulo e a sua guerra contra o prazer a um cristão habitualmente tão bem informado como o prezado Misantropo?

     
  • At 2:46 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Oh Pedro Botelho:
    Se está à espera que um esparmatozóide exerça "a solo" as funções vitais, é melhor esperar sentado, digo, reclinado. E essa do sexo associado unicamente à procriação será um ponto de vista muito digno, mas comigo não cola, que nunca defendi nada que se parecesse, tal como não defendia São Tomás fde Aquino no seu tempo, nem, em bom rigor, embora com com contornos diferentes, a própria Igreja Católica, desde que reconheceu a admissibilidade do coito interrompido como método anti-conceptivo.
    De qualquer forma, no que me toca - e só respondo pelas minhas opiniões -, nunca me ouviu uma palavra contra a conformidade moral desses expedientes, naturais, químicos ou mecânicos que fossem.
    A minha posição alicerça-se umicamente na morte e na culpa, ou melhor, na ausência desta.
    Abraço.

     
  • At 4:16 PM, Blogger Ricardo António Alves said…

    Ora aqui está um regresso em excelente forma, com o gosto, para mim, de estar, no essencial quanto ao aborto (que não quanto à pena de morte), de acordo contigo, o que bastas vezes não sucede.
    Um abraço, meu velho.

     
  • At 5:25 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    «Oh Pedro Botelho:»

    Cá estou.

    «Se está à espera que um esparmatozóide exerça "a solo" as funções vitais, é melhor esperar sentado, digo, reclinado.»

    E não será justamente por esse futuro mais rico e prenhe de consequências que poderá aumentar ainda mais o nível de terror de que a pobre criatura poderá estar possuída perante a hipótese de acabar mal?

    Ou terror, terror, como o que você invoca na sua argumentação, é só a partir do zigoto e só desculpável quando as aterrorizadas são as pobres pecadoras «indignas do nome de mulheres»?

    Não era disso que estávamos a falar? Não viu aquele filme dos páraquedistas do Wooody Allen? A angústia... a incerteza... o terror existencial... esses terríveis estados de espírito não contam?

    Pense nisto: quando se dá cabo dum pequeno e aventuroso espermatozóide (já com núcleozinho, como o zigoto que tem direito a tudo e até a acusar a mãe, como naquelas deliciosas poesias intra-uterinas do NÃO), ou se permite que um óvulo (idem) morra solteirão, não se está a estragar a hipótese de futuro a potenciais populações inteiras? Ou será que afinal sempre são apenas os indivíduos que têm direitos e o Rafael Lemkin estava enganado quando inventou a tal história do «genocídio»?

    Porque é que toda uma potencial população futura não tem direito a absolutamente nada e um potencial cidadão futuro tem direito a absolutamente tudo?

    «E essa do sexo associado unicamente à procriação será um ponto de vista muito digno, mas comigo não cola, que nunca defendi nada que se parecesse, tal como não defendia São Tomás de Aquino no seu tempo, nem, em bom rigor, embora com com contornos diferentes, a própria Igreja Católica, desde que reconheceu a admissibilidade do coito interrompido como método anti-conceptivo.»

    Vá lá. Já não é nada mau (segundo a Santa Madre). Mas, mesmo assim, não acha que uma lei que se deseja tão impiedosa para com as «mulheres indignas desse nome» não deveria castigar também os «homens indignos desse nome» que não retiram o membro a tempo?

    E, para mais, que tem a ver a igreja dos tempos da perdição com a pureza integral das origens? Ou já vamos a caminho do «bom papa João» e do Vaticano II, aí pelas paragens misantrópicas habitualmente tão integristas?...

    «De qualquer forma, no que me toca - e só respondo pelas minhas opiniões -, nunca me ouviu uma palavra contra a conformidade moral desses expedientes, naturais, químicos ou mecânicos que fossem.»

    Pois. É justamente isso que me choca. Como é possível defender a privação de cuidados de saúde em relação às desgraçadas pecadoras e ao mesmo tempo manifestar tanta caridade cristã em relação aos pénis incontinentes?

    «A minha posição alicerça-se umicamente na morte e na culpa, ou melhor, na ausência desta.»

    Portanto o espermatozóide não morre, nem a sua fábrica é passível de culpa, e nem sequer sente terror perante o seu cruel destino, como é o caso do embrião ainda sem cérebro ou da pecadora produtora de óvulos que deve ser obrigada a preservar os frutos do seu ventre sob pena de enorme culpa, a ponto de não merecer sequer assistência médica. Surpresa, surpresa...

    Está a ver? Bem diziam os nazis, esses grandes malandrecos, que nem tudo o que era humano era igual. Se calhar por essa via ainda vamos chegar à conclusão de que um embrião sem cérebro funcional não é bem o mesmo que um cidadão com direito a votar NÃO ao aborto (por exemplo). Ou será exactamente o mesmo, sem tirar nem pôr?

    «Abraço.»

    Idem.

     
  • At 6:00 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Obrigado, Compadre RAA, é para mim importantíssimo esta sintonia, apesar de tudo menos rara do que parece.

    Caro Pedro Botelho:
    Não encontra diferença no elemento vital de um ser dinamicamente em crescendo, face a uma gotícula de esperma?
    Não leu com atenção o meu "post". Defendo com igual dureza a penalização dos elementos masculinos que induzam as Mulheres com que interagiram sexualmente a abortar. O pecao vejo-o no atentado contra os que não foram tidos nem achados e estão impossibilitados de se defender, não nas habilidades horizontais (tendencialmente) que não configurem adultérios.
    Noutra altura ainda me há-de dizer o que julga serem os meus pontos de vista religiosos. Dá-me ideia que tem uma visão fantasiada deles. Sugiro, no que toca a este tema, mas não só, que comece por ler a forma como titulei. E só aceito a responsabilidade de afirmações que fiz. Parece-me que está a tentar grudar-me a visões que os rios de escrita deste blogue tornam não-aderentes.
    Os nazis, não comento. Ambos sabemos onde eles se encontravam e não quero dar azo a que por isso O estigmatizem.
    Abraços a Ambos

     
  • At 7:34 PM, Blogger Oliveira da Figueira said…

    Se fosse quantificável
    O valor da Solidariedade,
    Paulo, oferecemo-Vos
    Toda a nossa Amizade!

    Cumprimentos.

     
  • At 7:34 PM, Blogger Mário Casa Nova Martins said…

    Um Abraço do Tamanho do Mundo!

     
  • At 7:41 PM, Anonymous Anonymous said…

    Depois de felicitar o agradável regresso do Dono desta casa, gostava de entrar nesta discussão, como cidadão preocupado por verificar que o 1º Ministro, face a um défice de nascimentos para manter o actual nível demográfico, em vez incentivar, com medidas apropriadas, os nascimentos, parece ignorar o problema e, sem o menor rebuço, aconselha os cidadãos a votarem na liberalização do aborto. E mais: com cidadãos em intermináveis listas de espera propõe-se juntar-lhes, com prioridade, um batalhão de abortistas, condenando parte destes à mesma morte, esta certa e sem apelo, dos transportados no ventre das legionárias.
    Um abraço e bem vindo a esta autêntica luta contra a barbárie.

     
  • At 7:51 PM, Blogger Maríita said…

    Meu querido Paulo,

    Em primeiro lugar, é bom ler-te. É bom ver que existem causas que te obrigam a intervir na sociedade civil. Mas, há sempre um "mas" não há? Sou totalmente favorável à despenalização do aborto. Poderia dar-te mil e um argumentos, na minha história pessoal bastou-me a morte de uma amiga com 14 anos e a esterilidade de outra com 20. Teriam tido outras possibilidades, é verdade, mas a decisão que tomaram foi a de abortar. Ambas sofreram muito, uma tanto que se esvaiu em sangue. A outra sofre diariamente pela sua consciência. Não sou ninguém para julgar o sofrimento delas.

    Beijinhos e votos de continuação da tua recuperação,
    Maria

     
  • At 8:05 PM, Blogger �ltimo reduto said…

    Meu caro Paulo,
    É grande a satisfação de te ver de volta. Grande Abraço!

     
  • At 8:31 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    «Caro Pedro Botelho:
    Não encontra diferença no elemento vital de um ser dinamicamente em crescendo, face a uma gotícula de esperma?»


    Claro que sim, mas eu estava apenas a glosar a sua interessante ideia de que para evitar terrores aos fetos o melhor seria aterrorizar as potenciais mães. Pelo mesmo critério, sugeria-lhe eu que talvez não fosse de todo descabido aterrorizar também os potenciais pais para evitar terrores aos espermatozóides. Ou acha que, por alguma razão misteriosa, um zigoto está mais habilitado a ser aterrorizado que um pobre espermatozóide?

    «Não leu com atenção o meu "post". Defendo com igual dureza a penalização dos elementos masculinos que induzam as Mulheres com que interagiram sexualmente a abortar.»

    Sim claro, outra coisa não seria de esperar atendendo ao resto. Mas eu referia-me mais concretamente à responsabilidade paterna no tal aborto que tanta reprovação lhe merece, *independentemente* de qualquer incitamento directo. Repare: é por demais evidente que o aborto nunca é desejado activamente por ninguém, mas muitas vezes é um resultado do abandono ou indiferença a que uma parte é votada pela outra. Dentro da sua lógica de culpabilização pelo que lhe parece a tremenda magnitude do crime que a mulher comete, não deveria, digamos, um cidadão valdevinos que emprenhou uma mulher que em seguida abortou, ser igualmente responsabilizado pela sua displicência?

    É que assim seria mais democrático e poupar-nos-ia essa coisa desagradável que é a facilidade da condenação perante aquilo que nunca parece atingir senão uma das partes pactuantes. De resto, chamo a sua atenção para o facto de nem sequer o embrião escapar ao castigo, já que a ausência de assistência médica às tais «mulheres que não são dignas desse nome», deve presumivelmente retardar e dificultar muitos abortos, garantindo assim que os ditos embriões sejam promovidos a fetos e adquiram ninharias como sistemas nervosos funcionais etc.

    «O pecado vejo-o no atentado contra os que não foram tidos nem achados e estão impossibilitados de se defender, não nas habilidades horizontais (tendencialmente) que não configurem adultérios.»

    Mas perante tamanho crime como supõe ser o aborto, não deveríamos então -- como para qualquer outro crime de idêntica gravidade -- considerar os antecedentes de que procede? Não é das «habilidades horizontais» que resulta em última análise o advento de crianças indesejadas?

    «Noutra altura ainda me há-de dizer o que julga serem os meus pontos de vista religiosos. Dá-me ideia que tem uma visão fantasiada deles.»

    É muito possível, mas não me parece muito relevante para a discussão, porque muitas vezes, mesmo não se seguindo à risca uma dada dogmática religiosa, adoptamos certos padrões morais que têm muito a ver com ela. Enfim, confesso que não sei e que os itinerários não me parecem tão importantes assim. As conclusões é que o são.

    «Sugiro, no que toca a este tema, mas não só, que comece por ler a forma como titulei.»

    «A Minha Heterodoxia». Bom, pareceu-me que através do título queria significar a sua predisposição a ser coerente, coisa rara que aliás lhe reconheci logo nas primeiras palavras do meu primeiro comentário. E até nova ordem -- por exemplo, até me dizer que uma mulher violada deve poder matar o seu embriãozito de pouca idade -- penso que não me enganei.

    «E só aceito a responsabilidade de afirmações que fiz. Parece-me que está a tentar grudar-me a visões que os rios de escrita deste blogue tornam não-aderentes.»

    Cá estamos todos para corrigir atempadamente quaisquer erros ou abusos involuntários de que, pela minha parte, desde já me penitencio.

    «Os nazis, não comento. Ambos sabemos onde eles se encontravam e não quero dar azo a que por isso O estigmatizem.«

    Essa agora é que juro que não percebi. Onde se encontravam? Refere-se às posições ideológicas?

    A propósito disso, deixe-me dizer-lhe o seguinte: sabe o que mais me diverte nestas discussões do aborto na blogosfera das direitas mais ou menos hiper-tradicionalistas e/ou extremas?

    Vou-lhe dizer: é o enfâse absolutamente categórico em relação aos direitos do embrião no ventre da mãe, por muita gente para quem as declarações de direitos de cidadania extra-uterina são um imenso manancial de galhofa...

    Enfim, não se pode ter tudo, não é verdade?...

    «Abraços [...]»

    Idem. Nada como uma boa causa para arrebitar a disposição. Bom, okay: nada como uma causa etc....

    ;)

     
  • At 11:25 PM, Blogger Teresa said…

    querido paulo,
    como na pena de morte, o aborto é mais um assunto em que não estamos em sintonia total. assim sendo, não vou abordar os motivos aqui, pois o pedro botelho já ocupou quase todo o espaço!:)
    gosto de te ver de regresso.
    um beijinho amigo, meu querido.

     
  • At 11:55 PM, Blogger Unknown said…

    Mas que belo regresso meu caro amigo! Mas que belo regresso! Começo pela pena de morte. Sou inteiramente de acordo consigo! Ninguém, ninguém deve tirar a vida a outra pessoa. Se o fez, deve pagar com a própria vida, pois apenas assim, na hora da morte irá saber aquilo que de mal fez! Mas isto é a minha opinião!...

    Em relação à sua excelente argumentação em relação ao porquê de irmos votar não, peço-lhe que me perdoe a ousadia de colocar uma questão a qual não deveria ser respondida por si, mas por um tal de Sócrates ou Correia de Campos...

    O facto de encerrarem maternidades e escolas a torto e a direito tem a ver com o facto de necessitarem de verbas para pagarem os abortos e de também preverem que a taxa de natalidade baixe ainda mais em Portugal?

    Fica a pergunta, a resposta leva-a o vento...

    E por fim, homem sabe bem vê-lo de volta!!! Força e sabe que pode contar comigo para o que der e vier!

    Grande Abraço!

     
  • At 12:10 AM, Anonymous Anonymous said…

    Olá Querido Paulo
    Estou tão contente por o poder ler!
    Pensei sempre que viria defender esta "Sua" causa, agora que as posições se estremam, e apraz-me ver que vem no seu melhor.
    Como sabe não estou de acordo consigo, mas isso não me tira a alegria de poder estar aqui a comentar.
    Um beijo grande.

     
  • At 12:24 AM, Blogger Unknown said…

    Porque voto NÃO: 11 razões para dia 11.

    http://odivademaquiavel.blogspot.com/2007/02/425-porque-voto-no.html

     
  • At 12:58 AM, Blogger Pedro Botelho said…

    Teresa disse: «não vou abordar os motivos aqui, pois o pedro botelho já ocupou quase todo o espaço! :)

    :^)

    As minhas desculpas pelo espaço mas acho que não há limites urgentes de momento e como os comentários se podem apagar facilmente depois das discussões -- tendo sempre a ver os blogues abertos a comentários como veículos de discussão -- também não virá daí nenhum mal ao mundo. Por outro lado hesitei inicialmente em comentar, mas dada a oportunidade do tópico, a escassez de visitantes com pontos de vista, digamos, «do contra» nos blogues mais conservadores, e sobretudo o tom do amigo Misantropo, que me pareceu revelar uma recuperação capaz de aguentar os embates discordantes, lá me decidi ao assalto.

     
  • At 1:29 AM, Blogger O Corcunda said…

    Que grande alegria! Um regresso muito esperado e em grande...
    Escreve-se quando se deve!

     
  • At 3:34 AM, Blogger SRA said…

    Que bom vê-lo de volta.
    Quando o combate se trava até ao último homem, ninguém consegue ficar de espada na bainha!

    um forte abraço

     
  • At 10:21 AM, Blogger Je maintiendrai said…

    Fico muito contente de o rever nas lides, é o que interessa. Um abraço.

     
  • At 12:55 PM, Blogger João Villalobos said…

    Alvíssaras! E que seja o primeiro de muitos mais.

     
  • At 3:52 PM, Anonymous Anonymous said…

    excelente e poderoso comeback
    JNAS
    (www.ilhas.blogspot.com)

     
  • At 4:02 PM, Blogger JSC said…

    É bom tê-lo de volta!
    Um abraço.
    J.

     
  • At 7:48 PM, Anonymous Anonymous said…

    Paulo,

    Obrigado pela sua palavra poderosa. Tentarei ir dizer não por essa forma de "botar", em que o não é uma afirmação, um sim por um partido. Mas fazia melhor em não participar nisso. Sinto que o "não" perderá por causa de atitudes como esta, mas tanbém talvez pudesse ganhar.

    André

     
  • At 9:14 PM, Blogger T said…

    Caro Paulo
    Eu vou votar sim. O que não me retira minimamente o prazer de o ler, au contraire.
    Boas polémicas e um abraço amigo

     
  • At 9:20 PM, Blogger Capitão-Mor said…

    Fico contente por voltar a ter o previlégio de o ler.
    Um abraço ultramarino!

     
  • At 1:16 AM, Blogger Pedro Botelho said…

    Escrevi eu, entre outros disparates: «é o enfâse absolutamente categórico»

    Já agora e para ajudar a retomar a antiga normalidade das épicas discussões, cá vai uma errata de dois erros numa só palavra: «a ênfase» e não «o enfâse». Lamentável distracção no acento, pura ignorância no género.

     
  • At 10:04 AM, Anonymous Anonymous said…

    Seja bem vindo. Estou consigo excepto na pena de morte. Voto Não obviamente.
    Saudações sentidas
    DS

     
  • At 2:12 PM, Anonymous Anonymous said…

    Todos nascemos da mesma e única maneira que há para nascer. Extraordinário colocarmos agora em causa a possibilidade de outros nascerem!
    Um abraço amigo, feliz pelo seu regresso.
    JSM (Interregno)

     
  • At 6:29 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    JSM (Interregno): «Todos nascemos da mesma e única maneira que há para nascer.»

    Não é verdade: uns nascem na esperança e na graça, outros no lamento e desgraça.

     
  • At 12:02 PM, Anonymous Anonymous said…

    Arre, Tomé!
    Porque te chamo Santo?

    Não é verdade:
    Uns são cegos porque
    Não vêem!?...
    Outros, porque
    Não querem ver!
    … etc. … etc.

    Arre …!
    Mesmo que não quisesse
    Ver?!
    Temos o Paulo e o Pedro!
    Bem hajas … Tomé !

    Um abraço pelo Seu regresso.

     
  • At 12:31 PM, Blogger o engenheiro said…

    Oh Paulo
    Porque é que te dás ao trabalho de retorquir à melga do P. Botelho? Fala sobre tudo com o ar sapiencial da arrogância característica dos ignorantes. O seu anti-clericalismo serôdio faz-me rir. Se em vez de ler tanta merda filo-nazi gastasse algum tempo a ler as encíclicas talvez estivesse mais abalizado a pronunciar-se. Pergunta-lhe se já percebeu porque é que os Maias do Apocalypto não falam nahuatl?
    Sem duvidar da tua amiga Miita, as estatísiticas indicam que em 2004 ninguém morreu em consequência de um aborto clandestino e em 2005 morreu uma mulher. Seguramente a amiga a que refere terá falecido há muito. Fico ainda abismado com a solidariedade emocional com quem aborta e o total desprendimento face à vida que se extermina.
    E já topaste que são sobretudo as meninas de enquadramento burguês. Oh, a vergonha de estar grávida, o futuro da carreira, etc.. Claro que já é aceitável ter um companheiro em vez de marido e sonhar com a exibição corporal em qualquer lixo televisivo... Aí, mercê dos valores dominantes, já não há vergonha.
    Vê lá se apareces! Um abraço que sabes amigo e sincero.

     

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