O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Tuesday, November 29, 2005

Leitura Matinal -194

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Pouco interessa, passado que está o período de predomínio do sentimentalismo da escola romântica, ou o empenhamento vital na velocidade dos Futuristas, por exemplo, que o que o poeta viveu corresponda ao que fez chegar ao leitor. Que importa ter um poema sido produto da mais cerebral das construções, urdida com alguma dose de burla? O que conta é que o que ficou tenha a capacidade de despertar a indizível adesão que é o traço constitutivo da Poesia. Que confira uma aura de nebulosa atracção à vulgaridade que tantas vistas dão como a exclusiva característica dos actos e coisas que nos rodeiam.
Escrever poesia é, de alguma forma, pegar no capital da banalidade e investi-lo. este investimento é, por muito pouco heróico ou exemplar que pareça, sempre o risco de se aplicar e de revelar-se. Daí nasce ao juro ou outra qualquer forma de ganho, talvez o lucro, que torna irreconhecível o montante originalmente investido. Sabendo-se que é por demais evidente ser esta explicação a mais anti-poética que se pode encontrar para descrever o processo gerador do fenómeno da Poesia. Que só estará presente quando uma dimensão extra dum tema permitir a quem lê levitar-se interiormente, pelo eterno enigma que uns poucos podem descobrir em cada esquina e transmitir à posteridade.
De Júlio Pomar:

O poeta administra
o que não lhe foi ministrado

Houve das coisas mister
onde mistério não
jaz. Fá-lo
prato do dia. Cosido à sombra
do fogo, fria parte.



A obra é uma rara incursão: em papel recortado, «O Poeta»,
por Marcia Ergan.

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