Leitura Matinal -190
É mais do que evidente a nossa incapacidade de pensar o Nada. Mesmo para aqueles que o têm em grande conta, como em filosofias e religiões orientais, na medida em que o entendem como a libertação da prisão do corpo e da Terra. Mas ter uma visão do vazio? Mesmo que encarado como o supremo alívio, sente-se a necessidade do uso de imagens retiradas dos momentos menos difíceis de suportar no Mundo conhecido. Exacta atitude de simetria, face à que também não consegue ir concebendo O Tormento do Inferno, entendido como o afastamento de Deus, necessitando de recorrer às representações plásticas das mais apavorantes torturas que para o físico humano foram imaginadas. Nesse sentido, pode dizer-se que, por um lado, se compreende a promoção do Nada ao estatuto do Supremo, por reconhecimento da sua imensidão e transcendência, ensinando-se à mente humana que, cá por baixo, o melhor que pode fazer é encaminhar-se no seu sentido. Como, do outro lado se contrapõe à aragem e frescura do Esvaziado(!) o calor da superfície terrestre, e o fogo paroxístico detectado no interior dela. Que, no fim de contas, mais não é que o braseiro em que a inquietação do nosso espírito nos consome.
Um Clássico Chinês, Wang Wei:
SOFRENDO DE CALOR
Um sol em brasa, no céu, na terra,
.........nuvens de fogo envolvendo as montanhas.
Calcinadas as ervas, murchas as árvores,
.........secos os rios, enxutos os pântanos.
Como pesa, no corpo, a mais leve de todas as sedas!
.........As árvores frondosas quase não dão sombra,
ninguém pode descansar em esteiras de vime,
..........a roupa de linho lavada três vezes ao dia.
Bom seria partir para um mundo longínquo
...........e livre, habitar num imenso vazio,
deixando-me acariciar por ventos e brisas,
...........rios e mares expurgando angústias, impurezas.
O nosso corpo, sempre uma fonte de cuidados,
...........por isso, melhor deixar o coração adormecer.
Depois, franquear o Portão do Orvalho Suave
...........e alcançar serenamente a alegria, a frescura.
A pintura que acompanha é «Meditação Sobre o Vazio», de Brigid Mardin.
Um Clássico Chinês, Wang Wei:
SOFRENDO DE CALOR
Um sol em brasa, no céu, na terra,
.........nuvens de fogo envolvendo as montanhas.
Calcinadas as ervas, murchas as árvores,
.........secos os rios, enxutos os pântanos.
Como pesa, no corpo, a mais leve de todas as sedas!
.........As árvores frondosas quase não dão sombra,
ninguém pode descansar em esteiras de vime,
..........a roupa de linho lavada três vezes ao dia.
Bom seria partir para um mundo longínquo
...........e livre, habitar num imenso vazio,
deixando-me acariciar por ventos e brisas,
...........rios e mares expurgando angústias, impurezas.
O nosso corpo, sempre uma fonte de cuidados,
...........por isso, melhor deixar o coração adormecer.
Depois, franquear o Portão do Orvalho Suave
...........e alcançar serenamente a alegria, a frescura.
A pintura que acompanha é «Meditação Sobre o Vazio», de Brigid Mardin.
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