O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, November 30, 2005

Leitura Matinal -195

.


.
Se precisamos de sonhar e de acreditar, de quando em vez, que a matéria do sonho é importável para a vida, tal não significa que entendamos essa necessidade à letra. Há desconformidades constatáveis, quer quando dormimos, quer quando nos sentimos acordados. A falsidade da vida exterior é, pelo menos, tão grande como a maleabilidade das imagens oníricas, sendo que, como resulta da frase anterior, estas desfrutam de muito maior aceitação no nosso íntimo, por conferirem a dimensão da realidade a manifestações deformadas dela. Enquanto que, despertos, cortamo-nos no gume frio do real, que, através da desilusão, sabe bem fazer o seu trabalho de desbastar fantasias.
Mas quem se enforme numa cedência ao humor, que não aos humores pode definir-se como um sonhador não praticante e tentar agir em conformidade. Não é já alienação, mas, atribuindo elasticidade a uma versão íntima das impiedosas conformações da Vida, diluir os conformismos que ela nos impõe e aceitar com um certo desportivismo o handicap que regula as nossas relações. Pelo, que sem dar por isso, com menos literalidade do que a nossa vontade apregoa, o que está para aquém ou para além do Real cumpre a sua função e não se diferencia tanto dele como, necessariamente, se reafirma.
De Pedro Bandeira Freire:

SONHO POÉTICO

saboreio diálogo sobre sofismas
e lugares
de dar ao povo o que a césar pertence
introduzo sonho de permeio
para através dele
auscultar a verdade
saber o que faz explodir verniz de medo
dos dramas funcionais

que reduzido a nada por aparências mundanas
no seio do escândalo que é a morte
transpira toda uma trágica verdade
sem pontos finais
sem respirar
sem o mínimo sentido de humor


recorrendo muitas vezes ao relato dos sonhos
busco as mesmas imagens dos contos
das contas a ajustar com as estátuas
para encontrar a meu lado
morte..............fria
a chegar como aluno preguiçoso
que adivinha sua ignorância evidente

a corrente que me prende
depois de reduzida à sua dimensão
é como um velho sábio
regressado de um saco sem fundo

o real o irreal e o surreal
residem nesta perfeição equívoca

tudo é real
com grande rigor
para lá dos termos de estilo
das modas
do desprezo

é bom de ver
mas não praticável
tal como quem professa a poesia
ilustrada por uma escritura aparência
tão sábia
que assemelha o instinto da pintura



As imagens são «Irreal» e «Surreal», de autores que desconheço, bem como «A Realidade Exposta», de M. Kounias.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home

 
">
BuyCheap
      Viagra Online From An Online pharmacy
Viagra