O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, November 30, 2005

A Nova Aliança

Ao Rafael Castela Santos

Não me refiro À Nova Aliança. Escrevo, tendo presente a obra notável
que António Sardinha nos legou, «A ALIANÇA PENINSULAR», em que
propunha, como alternativa à Aliança Inglesa, que não o satisfazia, um
compromisso político e estratégico de acção comum dos dois países
ibéricos, que dessem continuidade aos elementos civilizadores comuns
que, na História, haviam guiado o seu desempenho.
Sardinha escrevia em época na qual ainda havia potências europeias
que contavam. Ao teorizar o enlace Ibérico, doutrinava contra os
iberismos, quer o integrador, ainda fresco no pensamento de Afonso
XIII, deixado claro na entrevista de Miramar, quer os federalistas,
propugnados pelos republicanos oitocentistas de Cádis, como pelos
socialistas do Século XX e, ininterruptamente, por figuras gradas das
maçonarias de ambas as Nações.
Começa por desmontar o atávico espantalho do «perigo espanhol»,
recordando-nos que, a partir de de D. Fernando e até que o projecto
de união concebido por D. João II e os Reis Católicos teve o trágico
fim que se sabe, Espanha viveu também um "perigo português" de
intervenção e intentada hegemonia. Contrapõe depois a oportunidade
falhada, com Filipe II (primeiro de Portugal), em que os dois reinos
mantinham a sua especificidade sob Cabeça Coroada e imperativo
estratégico comuns, à perversão do sistema com que Olivares, no puro
intuito de melhor servir o seu Rei, Filipe IV, procurou passar Portugal
de Reino a província. Prossegue, pondo a nu a lenda negra, espalhada
por servidores de religiões anti-católicas, como Guilherme o Taciturno,
ou rivais amorosos de Filipe II, quais Antonio Perez. E mostra como
também, por tabela, nos tocou um tanto dessa propagandeada
difamação.
No Século XX, já falecido o Mestre Integralista, dois génios políticos,
Franco e Salazar, sempre estribados na Arte do Possível, conseguiram
uma versão reduzida à mínima expressão do entendimento hispânico,
consubstanciada na Amizade Peninsular, o qual, limitado como era, deu
no entanto para preservar as suas Pátrias, acossadas por compromissos
internacionais antagónicos, de se martirizarem num conflito em prol dos
interesses de outros.
E hoje? Para quem, como eu ama a Espanha, tendo lá passado férias anos
a fio, seria sedutor actualizar o grande ensinamento que venho evocando.
Quando Sardinha redigia o seu tratado, Portugal tinha um Império imenso.
Agora, é o que se sabe. A pujança da economia espanhola, bem como a
diversa dimensão de ambos os Países, poderá inspirar temores. Mas é
preciso não esquecer que Espanha também sofreu. Além da perda das
possessões marroquinas, que eram essenciais na doutrinação do escritor
português, vive um momento em que o antiquíssimo problema das
"nacionalidades" não encontra em Madrid um poder disposto a
resistir ao desmoronamento com que ameaça. Portugal poderia,
através de um programa de acção comum com o seu Grande Vizinho,
desviar as energias das lutas intestinas para objectivos mais amplos
de afirmação.
Que objectivos seriam esses? Decerto o da defesa de interesses
económicos comuns ameaçados, no seio da Europa pretensamente
unida, por Europeus de outros quadrantes, insensíveis que são ao
que é essencial à sobrevivência digna do modo de vida dos membros
do Sul do Continente. Mas mais, muito mais, poderia a unidade da nossa
acção constituir-se, neste planeta unipolar, como um derradeiro nicho
de resistência aos hedonismos que investem contra os restos da
Civilização Católica que nos formou e onde creio estar a Verdade: o
de origem norte-americana, expresso no consumismo desenfreado e
o que alastra a partir da Europa reformada e pretende utilizar as
instituições europeias para padronizar todos à sua medida - o do
abortismo e da insensibilidade perante a manipulação genética,
prestes a redundar na hedionda pré-programação.
Claro que a afirmação enunciada estaria sempre dependente de termos
em Madrid e em Lisboa políticos com estatura, precisamente o que
nos vai faltando. Mas será bom que as ideias vão precedendo os Homens.
Aqui lanço o meu repto a que outros, com mais dons, intervenham,
no sentido de fortalecer o credo orientador com que, por enquanto,
apenas podemos sonhar.
Esperemos que, desta, como escreveu o Poeta, o sonho comande a vida.

8 Comments:

  • At 3:28 PM, Anonymous Anonymous said…

    !Menudo guante me has tirado con este post, querido amigo!
    Creo que me voy a tomar la molestia de responderlo desde Nova Frente o A Casa de Sarto. Tu post merece mucho mas que una cajetilla de comentarios.
    Un fuerte y cordial abrazo,
    Rafael Castela Santos

     
  • At 3:38 PM, Anonymous Anonymous said…

    Caro Paulo Cunha Porto
    Não venho em nome 'dos que têm mais dons', sou apenas uma visita que gosta de ler o que escreve. Este tema é daqueles, em que vale a pena pensar. A experiência Filipina deixou traumas. Amanhã celebramos uma independência que hoje, só formalmente existe. O Fundador terá vivido problemática semelhante à de Sardinha, e terá concluído, 'avant la lêtre', que as questôes do Atlântico lhe interessavam mais que as do Mediterrâneo. E assim se fez.
    Quando penso nesse assunto imagino logo que o triângulo Lisboa-Rio-Luanda saíria prejudicado em favor de Madrid-Buenos Aires-etc. Mas claro que há que olhar para a frente e o equilibrio mundial é hoje diferente.
    Em suma, um excelente texto, muito bem defendido. Parabéns.
    Interregno(JSM)

     
  • At 4:46 PM, Anonymous Anonymous said…

    Paulo,
    como sabes, para mim o respeto das ideias é ponto de honra e matéria indiscutível.
    Deste post, há, porém, uma passagem de que discordo: "(...)dois génios políticos,
    Franco e Salazar(...)".
    Franco venceu pela forma das armas e limitou-se a explorar a sua vitória e a manter e exercer o Poder que assim conquistou até à hora da sua morte.
    Salazar, esse, colheu o Poder de maduro e conservou-o com mão de ferro envolta em luva de pelica até que a incapacidade física o traiu.
    Quanto a mim, foram - aprenderam a ser - políticos que souberam conservar o Poder que conquistou, um, e que lhe caiu no colo, outro. Acho um exagero qualificá-los de "génios políticos".
    Para mim, no século XX, esse epíteto fica reservado para quem exerceu o Poder pela forma certa, no momento asado, e que, por sinal, quando terminou, com êxito, a sua grande tarefa, até perdeu o Poder: Winston Churchill!

     
  • At 8:21 PM, Anonymous Anonymous said…

    El post del señor Cunha Port es propio de un gran conocedor de la Historia y de una buena persona. El profesor Cavaco, me consta, es gran amigo de España.Desgraciadamente, Zapatero ni ama ni entiende a Portugal. Esperemos que un próximo cambio en la presidencia del gobierno español mejore las relaciones. Saludos.

     
  • At 9:06 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caríssimo Rafael:
    Cá fico ansioso, à espera da resposta. Obrigado pelas palavras amigas, como, igualmente, agradeço as do Amigo JSM. Creio que o pensamento de Sardinha foi justamente estruturado no sentido de fazer a Unidade Civilizacional eiminar a rvalidade dos eixos que refere.
    Caro Rui:
    Acredito que um político deve ver a sua dimensão avaliada pelo que faz no poder, não pela forma como acede a ele, salvo no caso-limite de alguma baixeza. Mas como forma de legitimação, mão me parece que o jogo eleitoral em listas partidárias seja a melhor. No entanto, ao contrário de Alguns Amigos desta casa, admiro Churchill, que, do ponto de vista do seu Povo, penso ter sido um Estadista fundamental. Claro que à custa de outros, mas essa discussão poderás encontrá-la nos arquivos deste blogue.
    Caro Çamorano:
    Muito obrigado pelos elogios com que me distinguiu. Se estudarmos bem a História dos nossos dois Países, veremos que, para além das contingências naturais entre os dois lados de uma fronteira, se pode extrair uma cultura comum que seja frutífera.
    Até Guterres e Aznar, com um alcance mais atrofiado, já se sabe, esboçaram um agir concertado. Não querendo meter foice em seara alheia, Zapatero gostará de alguém? Quanto ao actual P-M portuguêss, é bem provável que só há poucos dias tenha descoberto a existência da Espanha...

     
  • At 12:00 PM, Anonymous Anonymous said…

    Un primer paso: "bautizar" calles en España con el nombre del gran Antonio Sardinha; "bautizar" ruas en Portugal con el nombre de "Lepanto".......

     
  • At 1:48 PM, Anonymous Anonymous said…

    Mario Soares....¿Masón?......Carod Rovira.....¿Masón?

     
  • At 5:58 PM, Anonymous Anonymous said…

    mariano fernandez bermejo ni ama ni entiende a galicia; mariano fernandez bermejo + "ni ama ni entiende" + a galicia

     

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