O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Sunday, November 27, 2005

Leitura Matinal -192

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Dos muitos interesses que nos esforçamos por encontrar na vida, o menor não é a discussão. Sobretudo aquela em que não temos grandes conhecimentos para pôr na mesa, porque quando o saber é profundo difícil é encontrar parceiros à altura; e quando se atinge a sabedoria salta aos olhos que não há grande interesse no que espiritualmente é estéril, como a esmagadora maioria das discussões. Mas deve-se então deixar de discutir? Nem por sombras. Debitar opiniões sobre temas tão vastos que ninguém possa, inteiramente, abarcar, ou trocar trivialidades sobre assuntos com algum grau de especificidade, mas de que nós e os companheiros de cavaqueira só possamos aperceber o aspecto superficial, é prazer indeclinável. Não é uma substituição da vida, é a vida mesma, numa fase em que outras vivências já não são tão facilmente digeríveis, ou deixaram de ser susceptíveis de despertar o mesmo interesse obsessivo de outrora. Daí as horas infindáveis a debater bola ou novela, de que dificilmente virá grande bem ao Mundo, se descontarmos o nosso anseio de certificação de que "andar por cá vai valendo a pena". Percepcionar a movimentação da vida e a variabilidade das suas voltas tranquiliza-nos, porque nos isenta de termos de vogar pela monotonia absoluta. A profundidade dela, a menos que megulhemos na reflexão sistemática que afasta os outros, assusta, ao ponto de pôr ponto final na discussão do dia-a-dia, remetendo para a Religião, ou para a anti-religião, as preocupações concernentes.
Do que se conclui que, sem se dar por isso, com todas as suas imperfeições, discutir é viver. Embora não seja toda a Vida.
De Boris Vian, traduzido por Margarida Vale de Gato:

PRECISÕES SOBRE A VIDA

................................................................Aos meuz filhos

A vida, deriva de várias coisas
Em certo sentido, não é coisa que se discuta
Mas podemos sempre mudar de sentido
Porque não há nada mais intressante do que uma discussão.
A vida, é bela e grandiosa.
Compreende fases alternadas
Com uma regularidade prodigiosa
Visto que uma fase se sucede sempre a outra
A vida, tem imenso interesse
Vai, volta... como as zebras.

Pode ser que se morra
- Aliás, pode muito bem assim ser.
Todavia, isso não altera nada:
A vida deriva de várias coisas
E por certos lados, por outro lado,
Associa-se a outros fenómenos
Ainda mal estudados, pouco conhecidos,
Sobre os quais não nos vamos debruçar.

A imagem é uma representação medieval das fases da vida,
pela roda que pretende explicar a alternância das emoções.

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