Que nasceu a 28 de Abril.

Tudo pareceria, em características pessoais, afastar-me Dele. Onde detesto os Humanos nas suas manifestações grupais, mas tendo disponibilidade para gostar de alguns deles, individualmente, Ele tinha a afeição ao Seu Povo que ditou o sacrifício de uma vida, mas nutria pelos homens, mesmo por aqueles que Consigo colaboraram, o desdém ancorado na superioridade que sabia existir de Si sobre os outros. Recrutou os governantes no melhor que a Universidade Portuguesa de então produziu. Mesmo assim, creio que só dois dos Seus ministros ganharam a sua admiração, que é coisa diferente da cordialidade: José Alberto dos Reis, que conheceu como professor, e Duarte Pacheco.
Querem os que gostam de apoucar que fosse o tirano empenhado em reprimir. Não era tal. Sempre deixou o combate aos subversivos a funcionários de segunda, que para isso haverá sempre gente competente. O que nunca fez foi trair a confiança, entregando de mão beijada o poder, ou indo para onde o pudessem caçar e apear. Veja-se a diferença entre a sua reacção ao golpe Botelho Moniz e a do seu sucessor, enfiando-se no Carmo.
Quatro tarefas de tomo Lhe ocuparam a vida:
Pacificar a sociedade portuguesa, depois do mais iníquo regime que este País conheceu, em que os brandos costumes tinham sofrido um parêntese de década e meia, com assassínio quase diário de inocentes, espancamentos por grupos de malfeitores a soldo dos partidos, perseguição religiosa e pronunciamentos militares mais frequentes que os dos generais Alcazar e Tapioca .
A recuperação financeira, que não admira em professor da especialidade, mas não estaria ao alcance de qualquer um.
O jogo arriscado, apoiando o Campo Nacional, na Guerra Civil de Espanha, que os vermelhos de Madrid multiplicavam as declarações de federalismo socialista ibérico. E garantindo a neutralidade peninsular, colaborante com a Velha Aliança na estrita medida do necessário, estendendo-a a contragosto, mas em nome do interesse nacional, ao lado de lá do Atlântico.
E, por fim, em idade em que já seria difícil pensar tal energia, mobilizando o País contra a insurreição em África, alimentada pelas duas superpotências da época e defendendo o Portugal multi-continental que tinha herdado, frente às pressões internacionais de uma comunidade hostil, encabeçada pela mais anti-portuguesa administração norte-americana, a de J. F. Kennedy. A Esquerda Republicana portuguesa, que se fizera na
defesa das Colónias da boca para fora, com as notáveis excepções simbolizadas por Hernani Cidade e Armando Cortesão, depois de ter morto um Rei e um Príncipe, em nome do Portugal Africano, havia muito que se tinha transferido para a clientela dos inimigos deste.
Nos dois últimos pontos se revelou Diplomata sem par. Ao nível de Metternich, Talleyrand e Bismarck, mas sem a desonestidade dos primeiros, ou a brutalidade do
Junker. E Portugal era um pequeno País, sem a incontornabilidade de uma potência com que fosse necessário contar, apesar de vencida, desprovida de Arquiduquesas para casar, ou canhões e exércitos que apoiassem os esforços da Diplomacia.
Foi demasiado Grande para aquilo em que o Nosso País se tornou. Mas nem sempre fomos assim...