O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Saturday, April 22, 2006

Nocturno -1

É um tanto divertido constatar a visão que, por hábito, se faz do
Poeta,como estimável descobridor de imagens, disfarçadas de forma a resistirem à visão reduzida do vulgo. Pois se este entendimento é, também ele, congénere dessa habilidade, embora centrado na pessoa do vate! Este é tão homem como os restantes, com as cadeias que o prendem e as suas propriedades cortantes, pelo que cada
salto que o seu olhar permite a quem o lê ou ouve, com sublimação, diriam uns, ou aproveitamento da integralidade do sabor, contestariam outros, espera a reciprocidade, na forma criativa como é encarado esse condutor. Assim se compreende que esta mútua expectativa possa ser tida como a mais entranhada forma de
realismo, na precisa medida em que dá nota da necessidade quer do escapismo, quer da ilusão, para permitir perceber completamente. Lembram-se da prevenção de Eliot sobre a espécie humana? Resposta não tão irónica como parece é a formulação de um desejo por cumprir, que afinal corresponde ao que já se tem - a ambição de se ser poeta expressa através de um poema...
De Albertino Calamote:

JEITO DE POETA

Quisera ter olhos de poeta
Para ver flores onde só há cardos;
Para ver canteiros sobre a valeta,
Para ver gente onde só há escravos.

Quisera ter ouvidos de poeta,
E, com chilreios e outros sons puros,
Compor uma sinfonia completa
P´ra unir as almas adentro dos muros.

Quisera ter um jeito de poeta,
Para nunca me tomarem a sério
E para iludir, ledo, a realidade...

Quisera ter a dimensão correcta,
Quisera ter o exacto critério
P´ra analisar a minha sociedade.

Composto com ««Flores», de Andriu Kovelinas,
«Cardos», de John Singer Sargent e «Escravos»,
de Renzo Castaneda.

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