Um, Dois, Esquerda, Direita!
A reacção que o discurso do Presidente Cavaco nas exéquias do 25 de Abril, no Parlamento, suscitou a Manuel Villaverde Cabral, um dos mais categorizados representantes da Esquerda intelectual portuguesa, é bem significativa da preocupação que hoje absorve esse lado do espectro político. Leia-se, como vem, hoje, transcrita no «DN»:
«Eu não apreciei que o presidente piscasse o olho à esquerda, ao mesmo tempo que se recusava a pôr o cravo da praxe».
É que esta Esquerda precisa das dissenções no País, como um vampiro necessita do sangue das suas vítimas. Se o Chefe de Estado lhes faz um discurso que não podem recusar, transferem a crítica para o folclore floral das lapelas. O que lhes dói não é a existência de pobreza, é a inexistência de luta e revolta. Um cravo vermelho, sabem bem que repugna a grande parte da população: não só a muitos daqueles que se sentem incomodados com as jogatanas partidárias e nelas não participam, como a outros que, inseridos no sistema, o associam, preferencialmente, aos desmandos do PREC.
Longe vai o tempo em que as questões económico-sociais marcavam a agenda deles. Com a falência técnica da vulgata marxista e das aspirações respectivas à cientificidade, voltaram-se - salvo o PCP, cuja razão de existir ainda depende de delas salvar qualquer coisa - para os temas político-morais, onde farejam mais possibilidades de confronto. Foi esse o segredo do êxito relativo do Bloco de Esquerda; e certificação suficiente pode ser encontrada no incómodo do penúltimo Presidente da República gauchiste, quando o principal partido que rivalizava com o seu lhe manifestou apoio à reeleição.
As Esquerdas nunca tiveram escrúpulos de maior. Apropriaram-se brutalmente da Ecologia e do Direito à Diferença, depois de décadas e décadas de oposição a essas teses reaccionárias, em nome do "Desenvolvimento" e da "Igualdade". Nunca reconheceram o direito à existência a um Direita anti-concorrencialista e socialmente empenhada, que, no entanto, era bem real. Dependem da agressão, para sobreviver, como, a um nível mais rarefeito, reconheceu Lyotard.
M.V.C. conclui: «se o Presidente da República se transformasse numa espécie de adjuvante do Primeiro Ministro desaparecia politicamente». Esperemos que isso venha a acontecer. Não ao Ocupante, mas ao cargo.
6 Comments:
At 12:57 PM, L. Rodrigues said…
A dificuldade da esquerda, ou de alguma dela, com o conceito de uma direita anti-concorrencialista e socialmente empenhada, no meu entender, prende-se com o facto de esses valores à direita apenas surgirem por via da moral católica, da caridade. Coisas com que a esquerda também não convive bem.
De resto, essa direita a existir e ter força foi ofuscada na transformação do CDS de Freitas do Amaral no PP de Monteiro e, mesmo depois, Portas. Penso eu de que, que não analista político....
At 5:16 PM, Je maintiendrai said…
Bem visto. E esse tonto do Vilaverde ainda mexe?
At 6:39 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro L.Rodrigues:
Não o se encartará nesse título, mas fá-lo mutíssimo melhor que grande parte deles. Tem inteira razão na descrição da adstringência que a caridade faz nas gargantas canhotas, como nas origens católicas dela. Mas o combate à pobreza como um direito e não como ima esmola não é exclusivo da Esquerda. Esteve também presente na Direita Revolucionária, em que me não filio, como sabe. Próximo da caridade, mas sem o opróbrio que se gerou à volta do termo, contruiu-se a "solidariedade", presente nos diversos matizes de Democracia-Cristã e Social-Democracia dos últimos tempos. Mas o combate à pobreza generalizou-se, como boa política. Nos autoritarismos, como decorrente do paternalismo. Nos sistemas elaeitorómanos, como reformismo. Só ficaram de fora os liberalões puros e duros. Como o PP, justamente.
Olhe, Caro SA, a propósito da hiberestrutural q
At 6:42 PM, Paulo Cunha Porto said…
uestão cravística, falou-se em terapia igual na «Quadratura do Círculo de hoje»...
Meu Caro JM:
fiquei espantado! O «DN» ressuscitou-o!
Abraços ao Três e mil perdões por a resposta ir fatiada, mas este "enter" faz das dele...
At 11:42 PM, O Corcunda said…
Mais um texto revelador...
Abraço
At 8:45 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Corcunda:
Muito obrigado pelas Suas palavras. Não tenho, evidentemente, o cabedal de acuidade filosófica e de conhecimentos de politologia do Meu Querido Amigo, mas tento defender a mesma Verdade e alertar para as mesmíssimas verificações a um nível mais terra a terra.
Abraço.
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