Curricula Recheados
O Sr. Siad Siam, Ministro do Interior Palestino fez um anúncio a muitos títulos esclarecedor, revela-nos o «DN» de hoje. Criará, de imediato, um novo Serviço de Segurança, constituído por activistas de todas as facções. Parece-me duvidoso uma força com tal fim que assente na coligação das filiações dos membros e não na disciplina e obediência aos superiores, mas enfim, é lá com eles. Já alimmento mais reservas acerca de que levar a cabo atentados e fomentar rebeliões seja a preparação ideal de uma polícia.
É que tenho por muito duvidoso o entusiasmo com que o político citado referiu o regime de voluntariado que imperará no novo organismo. Não recebendo ordenados, cheira-me que os encarregados de manter a ordem os substituirão por subornos ou extorsões, quiçá pilhagens, em períodos mais agitados.
Mas todo background de facciosismo revela as suas virtualidades e razoabilidade quando se lê que a função da entidade ora criada será «apoiar as forças de segurança dependentes do Presidente», o qual é de outra cor política, já que o Governo Hamas estava descontente por ele controlar todo o sector. Deve-se pois entender «apoiar» como sinónimo de "concorrer", o que justifica a iniciativa. E não se admire que Israel, informal e veladamente, apoie - agora no sentido mais habitual - esta iniciativa, dado que é garantia de dissenções entre o inimigo. A questão estará em saber se a situação é «perigosamente preocupante», como se diz no texto, ou se será "preocupantemente perigosa". Para a população dos territórios, em primeira linha.
3 Comments:
At 4:50 PM, Anonymous said…
Paulo;
Permita-me um comentário fora do contexto, se me dá licença.
Permita-me partilhar esta experiência que tive.
Como sabem, no ano de 1506; mais precisamente nos dias de 19, 20 e 21 de Abril de 1506 - segundo os relatos famosos de Damião de Gois, Garcia de Resende (Gil Vicente também aborda na sua obra); perto de 2000 pessoas, comandadas por dois dominicanos, andaram pelas ruas de Lisboa a assaltar casas; a violar mulheres(antes de as matar); a atirar crianças contra as paredes e despedaçando-as(os seus respectivos filhos); a matar os respectivos maridos - os documentos e relatos são bem precisos nesta descrição, infelizmente, e nem refugiando-se nas Igrejas as pessoas eram poupadas - eram arrastadas para fora.
Durante três dias de massacre, cerca de quatro mil lisboetas de maioria cristã-nova(cristãos-velhos mais ligados a esta comunidade também foram atingidos) foram violados e assassinados - acabando os mortos (e alguns ainda vivos, segundo os relatos) atirados para as fogueiras - entretanto acesas durante os fatídicos três dias, pela multidão insana e assassina.
Uma imensa parte; A MAIS BRILHANTE parte da população da cidade e do país, no plano ciêntifico e económico, foi assassinada.
Sabemos que este acontecimento trágico, em que a parte mais brilhante de Lisboa e do Reino(a sua elíte) foi o inicio de um processo longo que levou a que as mentes mais brilhantes acabassem por seguir outros caminhos.
Algumas delas e seus descendentes chegariam aos mais altos planos da hierarquia e do pensamento; em países como a Holanda; Reino Unido ou E.U.A., para dar um exemplo. Oh! e como estas nações agradeceram à "Sefarad" hispânica a expulsão dos seus mais brilhantes filhos.(Homens como Espinosa na Holanda; elite económica portuguesa na mesma Holanda - e que consequências para a sua antiga pátria; Abraão Zacuto e outros grandes cosmógrafos que deixaram de alimentar a ciência e a cosmografia portuguesa, para ir alimentar outras rivais; temos ainda para acrescentar, a elíte judia-portuguesa que viria a construir a Nova Amesterdão e depois denominada Nova Iorque, durante os séculos XVII e XVIII - hoje capital económica do mundo; outros ainda, já descendentes, como o vivo e brilhante Di Israeli, viriam a governar como primeiros ministros o maior império da terra - O Império Britânico, sob a coroa vitoriana.)
Claro, que neste dia 19 de Abril(desde esta ultima quarta feira até hoje - o massacre durou três dias e lembram-se os 500 anos); a cidade e o país, com as suas figuras oficias - sobretudo as da cidade; estavam muito bem na inauguração do Casino da treta, em vez de estar no Rossio nesta quarta feira.
Apenas algumas pessoas; entre as quais eu me contava(de todas as confissões ou sem elas; Católicos etc.); o padre Peter Stewall, representando o Patriarcado, algumas pessoas da comunidade judaica etc., foram marcar presença e acender umas velas à volta da Oliveira; frente à Igreja de São Domingos, no Rossio, onde começou o massacre e onde foram acendidas as fogueiras.
Enfim, uma parte da cidade(Entre 2000 e 4000 pessoas) - a sua parte mais brilhante; foi destruída à 500 anos(oxalá todos os seus brilhantes descendentes possam voltar para reconstruí-la)
D. Manuel estava em Évora, com as autoridades( muitas delas, com a peste que grassava, estavam fora e deixaram os cidadãos da cidade desamparados)
Voltaram com D. Manuel três dias depois,. Os dois dominicanos fanáticos foram enforcados por Justiça do Rei. Muitos dos assassinos de dentro e de fora escaparam às autoridades; enfim... uma tragédia.
Voltando à vigília do Rossio, que passou quase despercebida; foi claro, um gesto símbólico que devia ter sido o principal acontecimento neste ano e neste país (O Acontecimento de à 500 anos foi comentado nalguns jornais estrangeiros) e acenderam-se velas em Tel Aviv; no Brasil, em Nova Iorque etc.
É o país que temos
Um Abraço
Pedro Rodrigues
At 11:06 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Pedro Rodrigues:
Já no tempo de D. Afonso V tinha havido uma espécie de motim popular com assalto à judiaria, embora menos conhecido. Há um estudo sobre ele, que tenho na minha biblioteca. Já o li há muito tempo, nem recordo o Autor, mas vou investigar. A minha tendência era atribuí-lo a Baquero Moreno.
Aliás essas mortíferas perturbações da ordem foram peça essencial na argumentação do Poder para pedir insistentemente o estabelecimento da inquisição e evitar a morte de inocentes, SEGUNDO O CRITÉRIO DA ÉPOCA. Com efeito, em Portugal, por muito que se possa dizer contra ela, teve a virtude de impedir os morticínios populares, sempre recorrentes e muito mais massificados.
Mas claro que há remédios com contra-indicações...
Abraço.
At 12:49 PM, Anonymous said…
Caro Paulo;
Obrigado pela sua resposta(Eu estive fora e só agora ali).
É verdade. Também no Porto, já no tempo de D. João II hove um quase tumulto e creio que queixas nas cortes. Felizmente que nada ocorreu; aliás bem na tradição burguesa de brandos costumes da invicta.
Existe de facto esse argumento das coroas ibéricas da época para a institucionalização da Inquisição.
Recomendo-lhe também os trabalhos de investigação de M. Ferro Tavares sobre a Inquisição.
Um Abraço
Pedro Rodrigues
Post a Comment
<< Home