O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Saturday, September 30, 2006

Encruzilhadas

.

Na passagem de mais um aniversário do grande Michael Powell, breve apontamento, não para falar dele, nem de Deborah Kerr, sua grande Actriz e quase tão grande paixão, que aniversariava igualmente neste dia. Falarei apenas de um belíssimo filme, menos conhecido: A CANTERBURY TALE/TRÊS MODERNOS PEREGRINOS, em que um militar e uma Mulher se embrenham na Inglaterra profunda, cada um com Passado para alijar ou Amor para descobrir, dando com uma Povoação de Província onde um misterioso atacante derramava melaço ou cola sobre o cabelo das raparigas que namoriscavam os soldados lá aparecidos por imperativos da II Guerra que então se desenrolava. Vêm a descobrir que o misterioso agressor não era outro que o magistrado local, com que haviam feito amizade, o qual queria preservar a tranquilidade característica da região, antes da chegada dos estranhos. Filme de propaganda para convencer a população a acolher bem os aliados americanos, acaba por ser muito mais: um hino à defesa da Tradição e à assunção das responsabilidades, atoladas numa atmosfera enredada de afectos em que as personagens, muito powellianamente, estão longe de tudo controlar.

Directiva de Harmonização

.
À atenção do Dr. Correia de Campos, uma perspectiva que, mais do que harmonizar, implica uniformizar os Sistemas de Saúde da União Europeia, agora que a entrada da Roménia está para breve. Atente-se nesta recomendação oficial de um responsável local e transponha-se para o ordenamento jurídico nacional. Pode-se até subir as taxas moderadoras, que a avaliar pelas receitas de certas casas de diversão lisboetas, o público continuará a servir-se. Tudo a bem do Estado e dos Cidadãos!

Deixar a Pele

.


Esta Senhora faz hoje anos, contudo a prenda é Ela que dá a Quem A vê, com um Visconde Que eu cá sei à cabeça. E pode-se dizer do animal cujo pelo Lhe serve de leito que é tudo menos urso, salvo no sentido de ter querido estudar a questão de perto. Para apaziguar Jansenistas direi que é artificial...

É a Minha Natureza

A descoberta deste escorpião fossilizado vem ensinar-nos muito sobre as características que este bloguista compartilha: que não lhe é fácil tornar-se num fóssil, mas que pode envelhecer bem, resistindo à passagem do tempo. Boas notícias!

O Ideal Potenciado

.

Leitura do ensaio «A ARISTOCRACIA», de Emerson. Interessante pelo que demonstra de apego à ideia de Excelência da primeira parte do termo, porém insuficiente quanto à identificação da origem e justificação do Poder que também integra o conceito. Aliás, na sua parte final, ao quase reduzir este, muito americanamente, à detenção de riqueza, à influência da materialidade pecuniária, quase esteriliza a acepção mais apelativa do termo. Começa por partir de um optimismo sem correspondência fáctica, quando sonha que «o mais endurecido dos utilitaristas, se se preza, não porá em dúvida o valor da aristocracia. Pois todo o homem reconhece que o bem maior que o universo lhe oferece é a sociedade mais alta.». Não é assim, porque os utilitaristas raras vezes estimam o que os seres superiores lhes poderiam trazer mais do que o rank que julgariam seu por direito e de nenhum que com eles concorresse. É que para esterilizar um pouco a parcela de inveja e cobiça que triunfa entre o vulgo maioritário, tem de se sair da concepção aristocrática emersoniana que encontra a origem da ascensão nos seus membros e a razão do respectivo exercício no proveito, embora não grosseiro, deles. Só se conseguirá isto num sistema em que a outorga da condição superior provenha de um Soberano não-substituível de ordinário; e em que a permanência nesse estrato encontre justificação no serviço Dele, quer dizer da Nação, independentemente das ambições de políticos removíveis.
Caso contrário, ficaremos limitados ao ideal perfeccionista, que também é o deste grande escritor, mas sem relevância na Coisa Pública - a maneira de burilar o comportamento. Como acrescenta: «A vida é uma prova contínua entre o homem e as circunstâncias. O homem ordinário é vítima dos acontecimentos. Qualquer coisa que aconteça, ela é demasiado forte para si, ele é arrastado por aqui e por ali, toda a sua vida nada mais é do que um turbilhão. O homem superior está em sua casa no seu próprio espírito. Nós amamos as pessoas senhoras de si próprias, que não esperam nem temem nunca demasiado, mas parecem ter várias cordas no seu arco, e que, se os fundos públicos descem ou baixam, se as determinações são frustradas, sabem sobreviver ao golpe.». É o fundamental? É, na enformação pessoal. Mas de grande incompletude que só pode ser iludida pela dádiva dos talentos, enquadrada num referencial de Fidelidade que neutralize as ambições puramente individuais. O que o Nosso Autor não viu.

Alla Turca

A Turquia vem confessando repetidamente a sua atracção pela Europa, ao ponto de nela querer penetrar. Mas, conhecendo-se a fama de brutalidade da concepção turca do amor, será lícito que é esta que à pobre mítica figura feminina apetece, só porque outrora se rendeu aos encantos do touro que a raptou?
.


Uma série de opinadores com púlpitos relevantes, de Pacheco Pereira a Daniel Oliveira quer convencer-nos da bondade de admitir os turcos na União Europeia, para isso convocando o Passado e o Futuro. Quer dizer, repetindo que a Turquia faz, há séculos, parte da Europa e emitindo temores de que a interdição da entrada a empurre para o Mundo Muçulmano radical. Duas ficções: a presença europeia do Império Otomano foi sempre vista por todos como a prioridade a erradicar, o que se foi gradualmente conseguindo, salvo o caso espectacular mas isolado de Constantinopla. Os súbditos do Sultão viraram tão sinónimo de barbárie como o termo "turco" de infiel. E a necessidade de os expulsar do Continente em cujas zonas dominadas tinham imposto disciplina severíssima deu até origem ao termo tête de turc, como o alvo em que era natural bater. A grande ideia de que a Turquia foi membro leal da OTAN também não colhe. Foi-o pela ameaça soviética ao lado, que hoje inexiste. O que se constata actualmente é o governo de um partido islâmico, que contém muitos dirigentes radicais por detrás da pele de cordeiro do moderado Primeiro-Ministro, ao ponto de já ter invadido o alto funcionalismo, com destacadas figuras de um mnistério a reclamarem a prisão do Papa, aquando da sua próxima visita oficial, na ressaca da (ai, ironia!) bisantinice académica. Só sobrevivem fiéis à memória de Kamal Ataturk os militares e, um pouco, a magistratura, sendo que, mesmo nestes casos o religiosismo extremo começa a colocar peões.
Por isso as dúvidas do Cardeal Cormac Murphy O´Connor, Arcebispo de Westminster, revelam a verdadeira sagacidade. Não só por - como aduz - haver o perigo de não se suportar a integração de uma cultura estranha, mas por nada ser tão de recear como ter intra-muros uma cultura hostil. A que não se poderá travar, se for aplicada aos seus impregnados a livre circulação de pessoas. Por estas mesmíssimas razões seria contra a entrada na UE da Bósnia, por exemplo. Mas quando a dimensão é a do País de que Ankara é a capital pior, muito pior. Quem quererá ter um Estado-Membro islâmico que no prazo de uma geralção terá pesos demográfico e institucional superiores ao da própria Alemanha? Com a diferença de que não é uma locomotiva integracionista disposta a sacrifícios. Nem tem dinheiro para se resgatar, à Alemã, nem desistiu de eleger um executivo de cariz religioso maometano, que seria o mínimo a esperar de quem quer agradar ao dono de uma casa cuja entrada visa. E uma coisa há em que islamistas e militares laicos concordam plenamente: em criminalizar as afirmações do genocídio arménio. Amor à turca...

Friday, September 29, 2006

Companhia de Bandeira

.


Olhem só o que comprei hoje! Já poderia ir ver «SERPENTES A BORDO», isto se o avião fosse da TAP, claro.
Bom Fim de Semana.

 Posted by Picasa

Economia Processual

.


Outro que fazia anos hoje era Tintoretto. Grande Pintor que homenageio com este «São Jorge e o Dragão», de moralidade hiperbólica. E escuso de gastar outro post, como a correspondente paciência do Leitor, para uma antevisão da jornada futebolística. Basta dizer que a Cidade dos Arcebispos deverá ser a capital de distrito portuguesa mais próxima dos Santos. E que as camisolas do Sporting local fazem com que as penas especializadas chamem aos que as envergam arsenalistas...


Banimento da Grinalda

.


Sou absolutamente contra a concorrência que Samantha de Grenet ameaça fazer às portas natalícias. Não se deve privar da aleg(o)ria dependurada tantas famílias, eliminando, em simultâneo, a dos Leitores!

Contra os Puritanos

.

Mais uma razão: em 1622 este artista, William Gouge, tentava lutar contra os hábitos de ternura no casamento herdados da Catolicidade, dizendo às Esposas que não tratassem os seus Homens por diminutivos carinhosos, nem por «Querido», ou «Amor» e que mesmo os nomes próprios e os apelidos eram intimidades conducentes a Satanás. O único tratamento digno, segundo este grande ponto, seria «Marido».
Sem mais comentários meus.

À Lei da Bal(d)a

Triste, mais do que triste, tristíssimo, ver oficiais das Forças Armadas Portuguesas venderem a sua palavra para aumentarem a conta bancária. Quando passei pelo Exército Português já tinha testemunhado momentos infelizes, mas em patentes menos altas e com alvos miserandos, quase sempre relacionados com os fornecimentos alimentares. Que dois oficiais superiores da Armada tenham recomendado aquisição de munições a empresas que os remuneravam é bem pior, na medida em que a adopção de outro critério do que o da adequação pode prejudicar a própria capacidade operacional dos nossos vasos de guerra. Mas a culpa cabe também ao Estado, na medida em que se demitiu do fabrico de munições e optou pela compra a terceiros. São opções que se pagam, se não apenas em custos pecuniários, também pela alienação do escasso prestígio que resta ao meio castrense. Depois de se terem recusado a continuar a lutar numa guerra que os justificava, vêem agora a imagem assimilada à dos políticos e de outros funcionários: na visão popular passam a ser ladrões como os outros.
Uma andorinha não faz a primavera. Mas dois andorinhões noticiados continuadamente pelos Media podem trazer à Instituição Militar grande invernia. É difícil descer mais.

A Traça e a Chama


Michel Servet nasceu neste dia do mês. Era figura trágica e confusa. Opunha ao conceito da Trindade um de Potência Una que cria ser o real sentido da Bíblia. Mandou cartas a Calvino, que este deu à Inquisição. Fugido, virou-se para um panteísmo extremado que via Deus em Tudo, Demónios incluídos. Castrado que era, tomou-se de brios proféticos, virando-se para o Apocalipse e assumindo a difusão da sua mensagem, filtrada pelos seus olhos, reivindicando-se, pelo nome e pelo dia do nascimento, o Arcanjo Miguel.

Com tanto sítio para onde ir foi parar a Genebra, tentando desajeitadamente passar despercebido, onde o fanático fundador do calvinismo reinava como Presidente do Consistório e havia muito vinha reivindicando a necessidade de o assar. Acabou por ser este o destino de tão estranho homem, o qual, contudo, tivera momentos de iluminação, ao intuir a circulação do sangue que Harvey comprovaria, mais tarde. Em que medida a amputação que sofrera terá contribuído para uma doutrinação tão pouco racional e obcecada com a identificação do Todo, é coisa que nem um psicólogo poderá determinar. No panorama das lutas religiosas não era indivíduo dominado apenas pelo exclusivismo da sua Fé. Era o algo tresloucado ambicioso que queria deter Deus sozinho e contê-Lo, mas que tinha o simpático traço de denunciar a incompatibilidade da crueldade calvinista com o Serviço Divino. O que contrariava, evidentemente, a sua concepção da Presença Divina atrás exposta.

Os Três Mosqueteiros

do Céu comemoram hoje o seu dia, na Religião Católica. É uma importante tradição demarcadora, já que para o Catolicismo a nomenclatura reconhecida dos Arcanjos se resume a Miguel, Gabriel e Rafael, com um paralelo do D´Artagnan de Dumas em Uriel, enquanto que protestantismos vários apenas reconhecem Miguel e o Mundo Ortodoxo estende o número a Sete, com a variação de alguns nomes.
.


A imagem reproduz a pintura de Francesco Botticini «Tobias e os Arcanjos». Que eles nos protejam dos Demónios e dos humanos seus serventuários que nos cercam.
Aos meus Leitores que tenham os nomes Miguel, Gabriel e Rafael um abraço de parabéns.

Thursday, September 28, 2006

Comer o Bispo

No Xadrez o Bispo é o Louco. Pois o excomungado Arcebispo de Lusaka, Milingo, tudo tem feito para justificar a tradução. Não é mera desobediência à regra do celibato eclesiástico, nem ao afrontar da hierarquia com a ordenação de Padres casados, à revelia da disciplina eclesiástica, embora estas ortodoxias desafiadoramente reafirmadas bastassem. É muito mais, a tomada de posições teológicas excêntricas da Igreja de que se queria Prelado. O seu casamento foi efectuado no âmbito da religiosidade da seita do Sul-Coreano Moon. E o uso heterodoxo que fez dos exorcismos aproximam-no muito de práticas evangélicas que em África encontram terreno fértil.
Porém, mais próximo de nós, não é de estranhar que não seja ao menos afastado da sua posição de liderança, ou censurado sequer, qualquer vulto arquiepiscopal que retira da defesa de posições essenciais, defendidas e reafirmadas pela Santa Sé, defendendo-se com a não-religiosidade do problema?
Pergunto, pergunto apenas, que a minha ignorância é gigantesca.

Difamado!

.

A Senhora Nathalie Sabah teve a ousadia de intitular esta pintura «Misantropo». Não haverá por aí um causídico que se prontifique, sem cobrar os honorários que eu não posso pagar, a processar por difamação esta artista plástica por tão vergonhosa acção?

Liberdades Corporativas

O termo tem hoje má reputação, mas não para mim. O que execro profundamente é a insistência com que os políticos querem controlar todas as fontes de autoridade. Por isso simpatizo vivamente com as posições de frontal rejeição dessas intromissões, como as que expressou o Conselheiro Noronha do Nascimento. Não faz qualquer sentido reservar uma quota no Supremo Tribunal de Justiça a elementos não-provenientes das Magistraturas. Seria como obrigar dada equipa de cirurgia a integrar dois nutricionistas. O que querem os partidos do Poder é instalar, se não como controleiros, ao menos como representantes, gente da sua confiança, quer dizer, sem imparcialidade.
E a análise e decisão por um júri dito independente das progressões na carreira é de bradar aos céus. Quem nomeará esse júri? Em que poderá ele independentizar-se mais do que aqueles que têm por função uma postura desse teor? Acautelem-se os Magistrados que produzam decisões incómodas para os poderosos. Em breve estes terão os meios para não lhes pemitirem passar da cepa torta.

Coagular o Tempo

.

Cessem da Kristel e da Paltrow
A fama dos encómios que tiveram.
Que eu canto o peito bardotiano...
BB faz hoje anos, como a mais célebre intérprete de «EMANUELLE» e a ex Mrs. Pitt. Mas quem me dera que o tempo não tivesse continuado a fluir e que ainda hoje a tivéssemos assim. Apesar de ver com bons olhos os combates dela, preferia-a pronta a outras lutas!

Onde Estava Você...

...No 28 de Setembro de 1974?
Lembro-me como se fosse hoje, embora fosse muito novito.
Apesar de as movimentações decisivas terem ocorrido durante a noite, as notícias da otelização do País só começaram a ser do domínio público bem após o Sol raiar, pelo que a Minha Pobre Mãe, que me deixara ir para o colégio, foi a correr buscar-me, temendo os azares da Revolução.
Podemos interrogar-nos sobre em que mereceria a atenção prioritária do COPCON, ou dos (des)mobilizados manifestantes, o externato «O Nicho», da Alapraia. Mas cuidados maternos não merecem troça.

O Pacto

No dia em que nos chega a novidade da duvidosa honra para o Eng. Sócrates de ser o único Leader europeu a figurar ao lado de Hugo Chávez, na propaganda pelos homens de mão deste afixada, gostaria de saber se o Presidente Venezuelano manteria estes cartazes, se tivesse presente a boa vontade do Governo Português para com os célebres voos por ordem do «Diabo». A minha actualização demonológica acha-se um tanto turva, porém isto deverá fazer do P-M de cá uma qualquer espécie de diabrete menor. Terá o Coronel vendido a alma? E, cá para mim o "atlantismo" do Ministro Amado vai ter de operar alguns milagres para salvar esta imagem da governação do Rectângulo, como muito jornalista gosta de dizer.

Ele e Ela

.


Quer a agora Senhora Leong Siok Hui, transsexual de Singapura, que ser Mulher seja mais do que ter seios, implicar toda uma atitude. Até aí concordo plenamente. O problema é que olhando para a fotografia que acompanha a linkada transcrição dessas decisivas palavras, o misantropo, esse pessimista, não vê senão um homem. E o mesmo devo dizer que acontece, muito por culpa da queixada, com os trânsfugas sexuais mais badalados da nossa praça. Mas antes que os Leitores se cansem do conceito que faço da minha sagacidade na matéria, tenho de partilhar Convosco um caso que de todo me enganaria: o da primeira transferência de género creditada, o ex-Marine Chris Jorgensen, transformado em Gaby. Este/a enganava-me completamente. Pergunto-me o que dizeis Todos, em especial os Amigos com quem almoço às Terças.

Posted by Picasa

O Véu Pintado

Com as Maravilhas do laser ter-se-á descoberto que a «Mona Lisa» estava grávida, o que explicaria o sorrriso enigmático e as mãos sobre o ventre, para além da pose. Tudo porque usaria um véu próprio das italianas que à época estavam de esperanças, ou das recém parturientes. A diáfana gaze terá desaparecido sob camadas de verniz adicionadas, o que até pode servir de actualíssimo símbolo dos ataques que o correr dos tempos tem testemunhado contra a Maternidade. Mas a investigação mostrou mais: que Leonardo mudou o penteado com que originariamente pintara a Dama, fazendo-lhe tombar o cabelo pelos ombros, à maneira exclusiva das mulheres de má nota da Renascença Italiana. O que pode suscitar dúvidas sobre o carácter acintoso do labor do Génio. Saberia ele algo não-oficial sobre a paternidade da criança esperada? Teríamos então uma mais aliciante explicação para o sorriso estranho do Modelo. Ou, pelo contrário, teria a Esposa do Banqueiro repudiado alguma investida do Pintor e o sorriso seria o do triunfo da fidelidade conjugal que o rebento testemunharia, funcionando a alteração da cabeleira como uma vingança?
A Moral da história é úma só: cada um pode ver num quadro o que queira, não havendo texto autêntico do Autor sobre as intenções. E nem é preciso elaborar ficções que vendam...

Wednesday, September 27, 2006

Mentir É Feio?

.

A notícia de que o Governo Russo pagou a actores para fazerem de mendigos e contarem aos passantes como a paixão do jogo «os tinha arruinado» coloca problemas graves. Podem as autoridades alegar que o fizeram para bem das pessoas, mas não poderão os governos dizê-lo, a propósito de quase tudo? Claro que também é possível defender que a Grande Política só mediatamente tem repercussões na vida dos indivíduos e que esta clivagem face à verdade visa modificar comportamentos dos próprios. Mas pode contrapor-se que as ficções noutros campos também visam uma alteração de atitudes, mais que não seja transformar em aprovação o que poderia predominantemente ser a reacção oposta. E com este precedente, podem, sem por isso merecer censura, os destinatários acreditar que também campanhas como a anti-tabagista, de segurança rodoviária e anti-poluição são patranhas. Para além de que, numa lógica de reciprocidade, deixa de poder criticar-se a volubilidade e adulação das massas. O que me fez lembrar «Lie! Lie! Demo», de Ablade Glover, obra ambígua por excelência mas com cabimento neste âmbito, qualquer que seja a opção interpretativa.



Em tempo - acrescento em 28/09/2006 às 8.37.00H: Por falar em verdade e mentira dos políticos, o Primeiro-Ministro Húngaro, acossado como anda, veio lamentar qualquer coisa. Esta notícia contradiz essa outra. Numa lastimaria as declarações prestadas sobre as mentiras, na segunda seria o próprio acto de mentir que o penalizaria. Seja qual for a interpretação correcta, tocando de perto a problemática do post, quem poderá garantir que este lamento não configura uma mentira?

Ofício de Carrasco

Não se consumam os entusiastas ou os opositores dos meios de pressão psicológica usados pela CIA, que têm pontos de vista opostos sobre a alegada compreensão portuguesa para com os voos que os serviram. Esta nova Comissão, nomeada pelo Governo para avaliar a questão tem marcado o mesmo destino que a que o fazia à da Função Pública: se o Eng. Sócrates não gostar das conclusões, ainda que parcelares, demite-a. Outrora ficaram comissários políticos conhecidos como carrascos dos Povos. Hoje temos políticos evidenciando-se como verdugos de comissários. É justo.

A Bíblia Tinha Razão!

Não, não fiz nenhum achado arqueológico, que me legitimasse a proferir, pelas mesmas razões, a frase-título de Keller. Penso é naquele ponto em que se afirma que os demónios são Legião... Já suspeitava de que os políticos contemporâneos confirmariam o facto, nunca imaginei é que de forma tão expressa e expressiva. Depois de Chávez chamar «Diabo» a Bush, vem agora o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso dizer outro tanto de Lula. No fim de contas, qualquer político em sistemas eleiçoeiros é partícipe da condição infernal, já que tenta os incautos a perderem-se, assinando o pacto com ele que é o voto... Mas se os Diabos são todos iguais, há uns mais iguais do que os outros.
Este é um diabrete, não tem dúvida. Quer agora dar à língua, porque se vê apertado, quando lhe chegaram fogo, perdão água benta ao rabo. Devo dizer que, não tendo ilusões quanto ao poder esclarecedor dos debates, admito perfeitamente que um candidato decida lá ir, ou não. Mas por razões de princípio, ou de incompatibilidade total com um convívio hipócrita relativo a algum dos oponentes. Eu, por exemplo, na improbabilíssima eventualidade de a questão se pôr, nunca aceitaria governar, por isso me obrigar a falar com muita gente que me repugna. O que é inadmissível é a assunção do puro tacticismo - não debater por estar bem nas sondagens, fazê-lo quando os números pioram.

Mentes Torturada(s)!

.


Amanda Markum quererá convencer-nos de que este auto-infligido tormento tem por motivo a insuficiência morfológica e a falta de alguém disposto a ajudá-la? A foto de baixo desmente a primeira asserção. Quanto à segundo, grito eu, bem alto: Amanda! Marca um!
.

A Queda

A do Homem fora antes, aqui bem perto de mim, no Forte de Santo António, neste São João do Estoril em que vivo. A 26 de Setembro de 1968 o Chefe de Estado exonerara Salazar, por incapacidade provocada pelo célebre acidente. No dia 27, de que hoje passa mais um aniversário, estava pela primeira vez a sua cadeira à espera de outro. Não a culpada do desastre, a outra, a do Poder. Não era agora a de um Indivíduo, mas a queda de todo um País que começava. A deste Portugal que só existe já com recurso a alguma imaginação.

A Libertação

.


Num Glorioso 27 de Setembro o Homem que viu dois filhos fuzilados pela sanha vermelha devolveu o espaço da mais bela resistência da História Contemporânea aos seus superiores. Como lho tinham confiado? Não. Com muitas pedras destruídas, mas com o engrandecimento espiritual que o cumprimento do dever na preservação da Espanha Tradicional contra os ódios revolucionários acarretava. Moscardó acompanha o General Varela, libertador da cidade e o Caudilho, na visita das ruínas que não entregara. «Nada de Novo no Alcazar!», disse. Sim, porque novo seria encontrar naqueles Heróis uma sombra, pequena que fosse, de baixeza.

Aperitivo de um Combate

.

No momento em que a blogosfera começa a dar sinais de agitação quanto à luta em prol de inocentes que não podem protestar e por isso são desprezados por muita mas não boa gente, não quero cair em elaborações precoces, mas também não hesito em deixar, desde já, a marca do lado de quem estou.

Tuesday, September 26, 2006

Uma Questão Conceptual

.

Pois é, pois é. O actual treinador do Benfica até tem ideias, mas não consegue melhorar toda a equipa, de uma vez só. Hoje apostou na solidificação do meio campo e conseguiu-o, com muita troca de bola e até iniciativas pelos flancos. O problema é que se o esférico chegava às alas tinha uma dificuldade tremenda em sair de lá para a área adversária. Resultado: muita posse, oportunidades raras. E que solidificação imtermédia não significa solidez defensiva prova a continuação do estado gelatinoso do sector recuado. Já sei, o Manchester não é uma equipa qualquer, mas que dizer de outros Paços de Ferrreira? O actual padrão de jogo cristalizou na inoperância atacante e está sempre a jeito para se estilhaçar quando o aversário ataca.
Não gosto de lenços brancos a treinadores. A culpa é de quem os contrata, quando, como é o caso, as performances deles não trazem surpresas.

Uma Questão de Pronúncia

.


Considerando todo o equilíbrio presente quer na instabilidade do parapeito acima, quer na cuidada e pensada escolha de um equipamento benfiquista, em baixo, interrogo-me se quem articula o segundo nome desta Rapariga, Holly Valance, não estará condenado a trocar os "vv" pelos "bb". Pronunciai-Vos.
.

O Desperdício

Sou, por princípio, contra a criação de comissões de avaliação pelos governos. Quando um político assume uma pasta ministerial, se não tem já estudos e conclusões próprios sobre o tema, deve ter o cuidado de, ao escolher os seus assessores e adjuntos, seleccionar pessoas com domínio das matérias que lhe permitam decidir, sem arrastamentos burocráticos. Para não falar já do contributo que os próprios técnicos que herdou no ministério possam dar. A coisa, porém, agrava-se quando o Governo que fingimos ter vem prescindir dos serviços da Comissão que avaliava o estado e o remédio relativos à Função Pública, a um terço do precurso previsto. Como vem esta extinção logo após a recomendação de reduzir efectivos que deixou a clientela socialista em polvorosa, sabendo-se do peso daquele sector de actividade entre os militantes e simpatizantes do PS, ao ponto de o Secretário de Estado Figueiredo ter vindo acalmar as hostes com a garantia de que não haveria despedimentos, a decisão fede a um vetusto vício: acaba-se com os orgãos e organismos públicos que não dizem o que queremos ouvir. E quem paga, Senhores? No sentido da responsabilidade, ninguém. No dos custos, não tem dúvida.

Acrescentos Malignos

.


Uma equipa universitária de Laval chegou à conclusão de que os implantes mamários não aumentavam a mortalidade, mas sim o suicídio!!!! Não será bem assim, mesmo admitindo a perfeição dos objectos, ocasionalmente desmentida por acidentes: é que pelo menos o controle da existência de tumores fica prejudicado pela inclusão daquele corpo estranho, segundo se queixam vários médicos. O que me fez recordar esta obra de Nicolas Manuel Deutsch, com a Morte acariciando uma Mulher. Ou, digo eu, como o que se faz para ser amada pode apressar o fim.

O Golpe Baixo

Era só uma questão de tempo e ele aí está. vindo de quem eu esperava, justamente. O Sr. Fabius acusou o Secretário-Geral do PSF de favorecer, com a parcialidade instalada no aparelho, a escolha pelos militantes de Ségolène Royal como candidata presidencial do partido. Algum facto concreto? Nem por isso, salvo o da relação que ambos mantêm. Perguntar-se-á o Leitor se ele, sentindo iminente a derrota, estará já a forjar desculpas. Até pode ser esse o desfecho, mas, nesta altura do campeonato, creio que é mais outra coisa - o truquezito, velho como o Mundo, de acusar um "árbitro" de preferência por um dos lados, para que este, querendo provar o contrário, tome decisões favoráveis ao denunciante adversário.
Devo dizer que não tenho má opinião de Hollande e até simpatizo com a forma como se apagou perante o avanço de Quem estima, quando o natural seria avançar ele, o que parecia ser confirmado pelas suas declarações de expectativa, no princípio do processo. Fabius, já se sabe, sempre baseou as suas ascensões em intrigas e jogadas pouco limpas.

Monday, September 25, 2006

A Caducidade do Cinismo

.
.

A Henrietta bem tentou passar despercebida, mas, mesmo englobada numa multidão de galináceos, uma franga de quatro patas acaba por chamar a atenção. Proscritas que se acham as supersticiosas concepções das anomalias físicas como marcas do Demónio, veja-se os seis dedos da mão de Ana Bolena, prova acessória da feitiçaria sugadora da virilidade Real e conjugal de que a acusaram, interessa-me sobretudo soltar um Hurrah por ver extintas as peneiras de um cínico. A esta não poderia Diógenes usar para a dupla maldade de apresentar um galo depenado como sendo «o Homem, segundo Platão», que fizera sua a definição saída da boca de Sócrates (o outro): «Um bípede sem penas». É sempre de nos alegrarmos quando são deitados por terra, de uma só vez, a troça do esforço intelectual delimitador e a crueldade para com os animais.

Felicidade de um Reino

.


Uma Segunda-Feira diabólica, suavizada ao fim do dia pela notícia de que os Príncipes das Astúrias esperam um segundo Filho. A Todos os Meus Leitores Espanhóis, com os Amigos Rafael e Çamorano à cabeça, um abraço de felicitações.

 Posted by Picasa

Um Efeito Estimável

.

Qualquer pessoa esperaria que tanta e tão pouco acidental fúria de corrupção associada ao Governo Brasileiro de Lula da Silva lhe travasse as hipótese de reeleição. A confirmarem-se porém as sondagens, a descida é demasiado ligeira para concluir por essa via, ambicionando-se, para já, apenas tirar-lhe o triunfo à primeira volta. Caso para dizer que o Povo Brasileiro está cego? Nesta figura, os adultos e adolescentes vêem um casal abraçado, enquanto que as crianças de idade mais tenra tendem apenas a ver uns golfinhos, alegadamente por «não terem memória anterior de imagens dessas». Nesse sentido poderá dizer-se que o Povão não distingue o crime por não ter recordação de quem se proclame «um dos seus» na presidência. Enquanto que os militares, a dar crédito a este texto, vêem o filme todo, habituadíssimos que estão à imagem do crime nos meios populares em que têm de intervir. Se o perigo referenciado se confirmar, verificar-se-á uma situação que nunca imaginei possível: ter eu algo a agradecer a este presidente brasileiro.

Batalha do Futuro

.


É ou não este corpo doutrinal razão bastante para todos nos confessarmos salazaristas?

Chamada à Pedra

Com esta tomada de posição dos assassinos etarras, que parecem apostados em não arrepiar camino e persistir nessa dupla condição, deve o Sr. Zapatero assumir as suas responsabilidades. Já lhe era indisputavelmente imputável a transigência no princípio de não dialogar com os terroristas. Em homenagem ao entendimento que o levou ao Poder, o de que ceder à pressão dos apentados compensa, quebrou esse consenso nacional. Quando nem com essa humilhação e desistência de lutar os outros criminosos desistem da marginalidade, deve ter bem presente que só uma das partes prescindiu da posição respectiva: a que encabeça, renunciando a governar.
Espanha não merece tão pouco e tão mau, ao mesmo tempo.

O Homem e os Tempos

.


Foi em Setembro de 1960 que Henri Massis visitou Salazar pela terceira vez. Não quereria eu que passasse igual mês de 2006 sem dar breve nota do relato sumário que o Escritor Francês dez desse memorável trio:
A primeira, de 1938, às portas da Guerra, a que chamarei de demarcação, em que o Governante rejeita as «mentiras e as hipérboles» entre as quais oscila o Mundo, quer dizer, traduzo eu, os materialismos demo-liberal e marxista, por um lado, como os totalitarismos de polarização contrária, pelo outro, propondo-se fazer uma «política sem política», a que chamarei simplesmente a Política, desprovida que ficava das politiquices. Ter-se-á dado aí a génese da celebrada expressão de fazer o País «viver habitualmente».
No meio, em 1952, a preocupação com a emergência do Comunismo, a que chamarei de desilusão com a pequenez dos homens políticos do pós-guerra, em que o Grande Beirão desabafa parecerem-lhe «por todo o lado os homens políticos inferiores aos eventos», contestando o fado ou marcha da História da teorização de Marx, reafirmando «não ser ao tempo que o novo deve ser imputado, mas às causas activas que estão em jogo», o que não poderia deixar de agradar a um intelectual que escrevera «Não é a História que faz os Homens, mas sim os Homens que fazem a História». Como deverá ter sensibilizado o Autor de «DÉFENSE DE L´OCCIDENT» que o seu entrevistado haja considerado ser o progresso medido pelo grau de ocidentalização que cada região do Mundo atingiu.
Ao derradeiro encontro chamarei de apreensão. Imediatamente anterior ao assalto ao St.ª Maria e ao outro, maior, à África Portuguesa, Salazar mostra-se bem consciente da permeabilidade dela à influência das superpotências, caso não se defendesse com unhas e dentes a presença europeia respectiva. Aproveita para sublinhar que em muitas zonas com os olhos em independências o único factor de unificação foi a presença do Velho Continente, contrariando tendências atomizantes de conteúdos proto-nacionais opostos. Lembrando os massacres do Ruanda, do Burundi, do Sudão, do Congo, do Biafra, de Angola, também, com a cristalização tribal dos movimentos, quem poderá deixar de Lhe dar razão?
Numa das entrevistas reafirma-se que a Europa é o cérebro e coração do Mundo. Pena que hoje por hoje não saiba ser digna dessa vocação.

Eterna Insatisfação

.
Tanto dá «mesurável» como "mensurável", no fim de contas, pois tanto limita a forçada e arrastada submissão, desprovida da alegria da participação do Mais Alto, como a sua sinonímica finitude. São duas perspectivas da mesma face que é a queda num regime de coerção em que finalmente se distingue a negação da Liberdade com que se entreteve a justificá-lo.

Daí que só a ausência da Luz alivie a opressão que brota da intensidade que deveria absorver, não fosse este sobranceiro animal impermeável à satisfação, mesmo em Edénico Estado e rebelde à regra que lhe permitia a despreocupação. Sem essa conformação, que era o Entendimento do Amor Supremo do Acto Criador está predisposto a cerrar os olhos às sequentes Manifestações que o poderiam novamente elevar. E quando assim é, não resta senão cavar túneis que levem ao centro da Terra, onde dizem que fica afastanmento ainda mais tormentoso, consagração da falsidade do fecho do olhar como analgésico.
De Fernanda Botelho:

LUZ

A mesurável condição humana,
quanto me exige! Quanto proclama
o seu poder em mim!

Tal submissão nem me redime
nem me liquida.
Não é renúncia sublime
nem carícia retribuída.

Não tenho eira nem beira,
vivo nas dobras da terra
e aceito quanto me dão.

Eis o meu nome: toupeira.
- E o meu olhar se descerra
apenas na escuridão.

Aclarei(?) com «Condição Humana», nada
inocente pintura de José Roosewelt e «Luz»,
de Marie-Jeanne Falguier

Sunday, September 24, 2006

O Olhar e os Anos

.


Estamos habituados a associar a vista de um homem de costas, olhando a paisagem, à atmosfera romântica, na peugada de Friedrich, orientada para um balanço e rememoração do Passado. Mas quando se trata de uma criança não será um roçar da superstição querer ver nos olhos virados para a beleza das grandes extensões, sólidas ou líquidas, uma prospecção do que há-de vir? Um miúdo é tão capaz de recapitulações e avaliações da sua biografia, como um adulto. São menos os factos? Sim, mas, sendo mais fantasiadas as percepções, têm a sua serieade específica, diferenciando-se não pela concentração do olhar, mas por não deixarem os estigmas que estamos habituados a associar aos voluntários contempladores. Não é, propriamente, decorrência directa da menor experiência da idade. É-o de uma diferente aplicação dos egoísmos. E não será mais feroz o que se leva, inalteravelmente, a sério?
A fotografia, muito bela, que me sugeriu esta legenda foi tirada por Peter Britt. Intitula-se «Crater Lake - Emil». Ao usar o Filho como modelo, não estariam a ser fotografadas antes as esperanças do Pai?

Dança e Contradança

.
Para que se não diga que embirro com o Homem, o que, contudo, seria tudo menos faltar à verdade, aqui vão duas posições do Presidente da CE José Barroso com que estou plenissimamente de acordo. Uma, de «desânimo», por a Turquia não estar a cumprir as suas obrigações internacionalmente assumidas com a UE, ao não abrir os seus portos a um Estado-Membro. Considero que deve ter havido gralha no texto, pois é Desse Ânimo que nós precisamos. A segunda é o desgosto por mais leaders europeus não haverem defendido o Papa, aproveitando para contrariar a Queridíssima Zazie sobre a localização do Politicamente Correcto na questão. Magnífico e mais ligado do que parece: Deixem entrar a Turquia, deixem, e verão que convulsões tendentes ao silenciamento do Sumo Pontífice não terão de aguentar dentro de casa...
Ilustro com a «Dançarina Turca», de Svetlana Boukhanova.

Páginas Abertas

.


Para que seja compreendido quando digo que «considero Faulkner uma leitura facilmente devorável». Lisa Faulkner ou o triunfo da luz natural sobre a artificial.
.

Quantidade de Vida

.
Uma enorme parte dos britânicos está pronta a um zero redondo no que a sexo, bem como gostos no comer e beber respeita, se, em troca, obtiver uma vida até aos cem anos. Pode o Leitor pensar que raio de vida será essa. Fosse por um alto ideal tão dura renúncia e seria digno de louvor. Agora só para espremer mais uns anitos miseráveis leva-me sempre à revisitação de «A MORTE CANSADA» de Fritz Lang, em que a protagonista julga ter achado alguém poronto a morrer pelo seu amado num grupo de velhos que lamenta as mazelas e o facto de estar preso a este mundo, até que, abordando-os, ouve de todos a resposta de que não dariam «nem um minuto, nem um segundo» das miseráveis existências que eram as suas. E, no entanto, há coisas de que os degenerados súbditos de Sua Majestade não abdicariam: o dinheirinho, em primeiro lugar. Não que servisse para lhes dar grandes prazeres, como se vê, mas há que ceder à ficção do tempo com a invenção de realizações profissionais assentes nos salários. O único factor de esperança reside em as respostas assegurarem que Família e Amigos não seriam postos de lado. Apesar de o Advogado do Diabo poder inquirir que qualidade de afecto poderá concretizar este tipo de gente...
Vai com «Bacanal», de Ticiano, que é para aprenderem.

O Último Foi o Primeiro

.

Ainda no rescaldo do extraordinário texto que o Je Maintiendrai nos deu sobre os destinos de Vidas Cristãs negativamente discriminadas na Indonésia, com meditação sobre as nossas retiradas históricas à mistura, quero hoje homenageá-Lo com a evocação breve do Último dos Samurais, Takamori Saigô, um amigo do Ocidente e fiel servidor do seu Soberano, por quem lutou contra a detenção do Poder fora do Trono Imperial. Mas que não hesitou em rebelar-se quando sentiu perigar a Tradição e programar-se o fim do espírito do Escol a que pertencia. A 24 de Setembro comemora-se a morte heróica deste grande Guerreiro que defendia o imperativo estratégico da intervenção militar na Coreia. Ainda actual, como se vê.

O Fado do Embuçado


«E perante o espanto geral
descobriu-se o Embuçado...»
Não, não é a sequência que esperam, trata-se sim da notícia da passagem da posse de acções à Assinatura da acção. Ou de como as iniciais SA caem para nos trazerem o completo Simão dos Reis Agostinho. Não se decidiu o Nosso Amigo a reactivar o «É a Hora», como Lhe foi rogado. Mas surge com o novíssimo O Estado do Tempo, aproveitando a mudança de estação. Não, Ele não mudou de ramo, este «tempo» é muito a época que atravessamos, mostrada no triste estado a que chegou. Mas algo de meteorologista tem o Confrade em boa hora regressado: Não teme as tempestades e afronta-as para nos mostrar o despontar da luz. Linkem e visitem.

Saturday, September 23, 2006

Recepção

.


És Tu, Outono, que me permites voltar a pensar sem o calor que paralisa, ou a ver sem a luz que cega, esses asfixiantes atentados à clarividência. Menos hábitos de praia, mais Amigos por perto! Menos locais encerrados para férias, mais oferta de bens de primeira necessidade, quer dizer, livros. Sê Bem-Vindo.
A pintura, com o nome do Dito, é de Alexander Karagyaur.
Que se execute o canto de Keats:

TO AUTUMN

Season of mists and mellow fruitfulness,
Close bosom-friend of the maturing sun;
Conspiring with him how to load and bless
With fruit the vines that round the thatch-eves run;
To bend with apples the moss'd cottage-trees,
And fill all fruit with ripeness to the core;
To swell the gourd, and plump the hazel shells
With a sweet kernel; to set budding more,
And still more, later flowers for the bees,
Until they think warm days will never cease,
For summer has o'er-brimm'd their clammy cells.
Who hath not seen thee oft amid thy store?
Sometimes whoever seeks abroad may find
Thee sitting careless on a granary floor,
Thy hair soft-lifted by the winnowing wind;
Or on a half-reap'd furrow sound asleep,
Drows'd with the fume of poppies, while thy hook
Spares the next swath and all its twined flowers:
And sometimes like a gleaner thou dost keep
Steady thy laden head across a brook;
Or by a cyder-press, with patient look,
Thou watchest the last oozings hours by hours.

Where are the songs of spring? Ay, where are they?
Think not of them, thou hast thy music too, -
While barred clouds bloom the soft-dying day,
And touch the stubble-plains with rosy hue;
Then in a wailful choir the small gnats mourn
Among the river sallows, borne aloft
Or sinking as the light wind lives or dies;
And full-grown lambs loud bleat from hilly bourn;
Hedge-crickets sing; and now with treble soft
The red-breat whistles from a garden-croft;
And gathering swallows twitter in the skies.



Posted by Picasa

Lincoln e eu

.
Pode o Leitor entender que nada tem com isso. E eu respeito. Mas se for daqueles que acreditam que percorer uma página pessoal implica alguma paciência para as confidências que o autor entenda fazer, então devo revelar-Lhe que num momento-charneira da minha vida decidi o futuro depois de ler uma frase de Abraham Lincoln. Ao dirigir-se a um grupo de jovens advogados, disse «Procurem sempre ser honestos em qualquer circustância; e se notarem pelo vosso juízo pessoal que não podem ser advogados honestos, optem por ser honestos sem ser advogados». É essa a via que vou tentando forçar.
Isto fez-me ler mais sobre o Homem. E descobri alguém que, não acreditando na igualdade das raças, era, contudo, profundamente hostil à escravatura, que combateu com equilíbrio e sucesso. Não em nome da vingança dos agrilhoados contra os que, sem escrúpulo, os detinham e utilizavam como qualquer outra propriedade. Sim, por acreditar que era impossível com essa estrutura social manter a Comunidade unida. O seu discurso famosíssimo, «House-Divided» é dos mais nobres manifestos que conheço:
«Uma casa dividida contra si mesma não pode ficar de pé. Não acredito que este governo possa perdurar, permanecendo meio escravo e meio livre. Não espero que a União seja dissolvida; não espero que a casa venha a desabar; mas espero que deixe de ficar dividida. Será uma coisa ou outra. Ou os adversários da escravatura deterão a sua propagação, colocando-a nos limites em que a opinião pública acreditará que esteja a caminho da sua extinção, ou os defensores a levarão para a frente até que se torne igualmente legal em todos os Estados, nos novos como nos velhos, no Norte como no Sul».
.


Por isso foi eleito apenas com uma plataforma contra a expansão dessa coisificação do Homem para os Estados do Oeste. E por isso discordou dos abolicionistas de Greeley que queriam a "cruzada humanitária" com imediatas imposições. Mas depois da Secessão se ter iniciado, não hesitou em publicar a emancipação dos escravos nos Estados Rebeldes, cuja versão provisória foi assinada em 22 de Setembro de 1862 e levada ao conhecimento universal no dia imediato, que hoje se comemora.
Nem os aspectos da personalidade menos atraentes para mim fizeram esmorecer a admiração por Tão Excelso Vulto. Sou avesso à sua leitura da Bíblia, orgulhosamente independente da partilha comunitária ou da solenidade sacerdotal, para mim indispensável à celebração do Mistério e do Sacrifício. Mas de cada vez que lhe faço o balanço da Obra, cresce a convicção de que a visão fordiana dele, num filme de génio inspirado na sua juventude, não tem correspondência real. Escrevi em tempos para uma coluna de João Bénard da Costa que a sobredita visão me fazia lembrar a ideia que os Gregos Antigos faziam de Ulisses, em que o fim justificava a prudência e os ardis. No entanto, confrontando com a biografia, torna-se progressivamente mais óbvio que foi um Estadista do molde do idealismo, no credo e nos meios, como provam as suas nem sempre obedecidas instruções para travar a rudeza yank e evitar represálias contra os vencidos.
Continuarei a tê-lo como Exemplo.

Leitura Essencial

A deste belo post do sempre Notável Je Maintiendrai, sobre um tema que eu quisera abordar, se tivesse cabedal de conhecimentos e de estilo para o fazer. Sobre os Mártires que as nossas responsabilidades do Passado e do Presente ajudaram a criar.

Metro de Estimas

.
Nessa publicação tão influente que é o «METRO» vêm ontem referidas as conclusões de uma sondagem segundo a qual muitos Portugueses pensam que o País «perdeu mais do que ganhou com a entrada na Europa, há duas décadas». E mais adiante dá-se conta de como os mesmos inquiridos apreciam como positivo o desempenho do actual Presidente da Comissão, tendo dele muito melhor opinião do que do exercício como Primeiro-Mnistro de Portugal pelo mesmo Político.
Não percebo com ninguém se lembrou de relacionar ambas as coisas: a População Portuguesa espera dum organismo que vê como prejudicial aos seus interesses que aja o menos possível, enquanto que de um governo e do seu chefe espera activo empenhamento em melhorar-lhe a vida. Daí a diferença de avaliações da actuação minimalista de um Homem sempre igual a si próprio: José Barroso, evoluído de Dr. Durão.

Genealogia da Intrusão

.
Chamava ontem o Carlos Portugal a atenção para as escutas ilegais feitas por organismos públicos em Portugal a magistrados, de que tinha conhecimento familiar e directo. Este facto fez-me recordar dois preceitos da Constitução da Veneza histórica: o de que nenhum membro do Senado, o Conselho dos Pregadi aqui retratado por Gabriel Bella, poderia receber cartas que não fossem abertas e lidas pelo Doge. E que este nunca poderia fazê-lo sem ser acompanhado por um Conselheiro. Quer isto dizer que nada mudou da república adriática então para o Portugal de hoje? Nada disso, é que a intromissão que resultava da Lei é hoje e aqui sucedida por aquela que viola a lei. Mas também não deixa de ser significativo que onde os venezianos viam garantias na máxima publicidade ds mensagens dos seus decisores, as vejamos nós na preservação da privacidade deles. Sinal inequívoco do quanto caiu o Poder Público no conceito dos que a ele estão sujeitos...
 
">
BuyCheap
      Viagra Online From An Online pharmacy
Viagra