O Ideal Potenciado
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Leitura do ensaio «A ARISTOCRACIA», de Emerson. Interessante pelo que demonstra de apego à ideia de Excelência da primeira parte do termo, porém insuficiente quanto à identificação da origem e justificação do Poder que também integra o conceito. Aliás, na sua parte final, ao quase reduzir este, muito americanamente, à detenção de riqueza, à influência da materialidade pecuniária, quase esteriliza a acepção mais apelativa do termo. Começa por partir de um optimismo sem correspondência fáctica, quando sonha que «o mais endurecido dos utilitaristas, se se preza, não porá em dúvida o valor da aristocracia. Pois todo o homem reconhece que o bem maior que o universo lhe oferece é a sociedade mais alta.». Não é assim, porque os utilitaristas raras vezes estimam o que os seres superiores lhes poderiam trazer mais do que o rank que julgariam seu por direito e de nenhum que com eles concorresse. É que para esterilizar um pouco a parcela de inveja e cobiça que triunfa entre o vulgo maioritário, tem de se sair da concepção aristocrática emersoniana que encontra a origem da ascensão nos seus membros e a razão do respectivo exercício no proveito, embora não grosseiro, deles. Só se conseguirá isto num sistema em que a outorga da condição superior provenha de um Soberano não-substituível de ordinário; e em que a permanência nesse estrato encontre justificação no serviço Dele, quer dizer da Nação, independentemente das ambições de políticos removíveis.
Caso contrário, ficaremos limitados ao ideal perfeccionista, que também é o deste grande escritor, mas sem relevância na Coisa Pública - a maneira de burilar o comportamento. Como acrescenta: «A vida é uma prova contínua entre o homem e as circunstâncias. O homem ordinário é vítima dos acontecimentos. Qualquer coisa que aconteça, ela é demasiado forte para si, ele é arrastado por aqui e por ali, toda a sua vida nada mais é do que um turbilhão. O homem superior está em sua casa no seu próprio espírito. Nós amamos as pessoas senhoras de si próprias, que não esperam nem temem nunca demasiado, mas parecem ter várias cordas no seu arco, e que, se os fundos públicos descem ou baixam, se as determinações são frustradas, sabem sobreviver ao golpe.». É o fundamental? É, na enformação pessoal. Mas de grande incompletude que só pode ser iludida pela dádiva dos talentos, enquadrada num referencial de Fidelidade que neutralize as ambições puramente individuais. O que o Nosso Autor não viu.
Leitura do ensaio «A ARISTOCRACIA», de Emerson. Interessante pelo que demonstra de apego à ideia de Excelência da primeira parte do termo, porém insuficiente quanto à identificação da origem e justificação do Poder que também integra o conceito. Aliás, na sua parte final, ao quase reduzir este, muito americanamente, à detenção de riqueza, à influência da materialidade pecuniária, quase esteriliza a acepção mais apelativa do termo. Começa por partir de um optimismo sem correspondência fáctica, quando sonha que «o mais endurecido dos utilitaristas, se se preza, não porá em dúvida o valor da aristocracia. Pois todo o homem reconhece que o bem maior que o universo lhe oferece é a sociedade mais alta.». Não é assim, porque os utilitaristas raras vezes estimam o que os seres superiores lhes poderiam trazer mais do que o rank que julgariam seu por direito e de nenhum que com eles concorresse. É que para esterilizar um pouco a parcela de inveja e cobiça que triunfa entre o vulgo maioritário, tem de se sair da concepção aristocrática emersoniana que encontra a origem da ascensão nos seus membros e a razão do respectivo exercício no proveito, embora não grosseiro, deles. Só se conseguirá isto num sistema em que a outorga da condição superior provenha de um Soberano não-substituível de ordinário; e em que a permanência nesse estrato encontre justificação no serviço Dele, quer dizer da Nação, independentemente das ambições de políticos removíveis.
Caso contrário, ficaremos limitados ao ideal perfeccionista, que também é o deste grande escritor, mas sem relevância na Coisa Pública - a maneira de burilar o comportamento. Como acrescenta: «A vida é uma prova contínua entre o homem e as circunstâncias. O homem ordinário é vítima dos acontecimentos. Qualquer coisa que aconteça, ela é demasiado forte para si, ele é arrastado por aqui e por ali, toda a sua vida nada mais é do que um turbilhão. O homem superior está em sua casa no seu próprio espírito. Nós amamos as pessoas senhoras de si próprias, que não esperam nem temem nunca demasiado, mas parecem ter várias cordas no seu arco, e que, se os fundos públicos descem ou baixam, se as determinações são frustradas, sabem sobreviver ao golpe.». É o fundamental? É, na enformação pessoal. Mas de grande incompletude que só pode ser iludida pela dádiva dos talentos, enquadrada num referencial de Fidelidade que neutralize as ambições puramente individuais. O que o Nosso Autor não viu.
4 Comments:
At 4:00 PM, Anonymous said…
"que o nosso Autor não viu" ...talvez por estar demasiado impregnado numa sociedade individualista por excelência?
Deste bom post destaco o ensinamento transmitido aos que procuram atingir uma "aristocracia" de forma pessoal («A vida é uma prova contínua...") e que, por terem nascido entre o vulgo maioritário, não a podem aprender em casa.
At 7:37 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Miguel:
Penso que foi justamente essa a razão, que entronca nas tais lentes cor-de-rosa com que, aqui, RWE vê o utilitarismo.
Não menosprezando as heranças familiares, não há, todavia um carácter decisivo delas. Ernst Jünger era reconhecido por todos como o supra-sumo literário de um certo aristocratismo prussiano, apesar de alguns críticos sublinharem que não era, de origem, uma ou outra dessas coisas. Puro snobismo. O mais importante é, como bem diz, o crescimento pessoal rumo à independência não egoísta e concorrencial. À individualidade, que não ao Individualismo.
Abraço.
At 1:48 PM, Anonymous said…
(proponho mais posts dentro do género. Existe uma miríade de ideias feitas e conceitos a circular em Portugal, quer sobre a noção de aristocracia quer sobre o papel das próprias elites na sociedade portuguesa. Talvez o Paulo me possa abrir os olhos a ideias novas...)
At 7:48 PM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigadíssimo, Meu Caro Miguel. Vou ver o que posso fazer, embora não saiba se conseguirei estar à altura do tema.
Abraço.
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