A Traça e a Chama
Michel Servet nasceu neste dia do mês. Era figura trágica e confusa. Opunha ao conceito da Trindade um de Potência Una que cria ser o real sentido da Bíblia. Mandou cartas a Calvino, que este deu à Inquisição. Fugido, virou-se para um panteísmo extremado que via Deus em Tudo, Demónios incluídos. Castrado que era, tomou-se de brios proféticos, virando-se para o Apocalipse e assumindo a difusão da sua mensagem, filtrada pelos seus olhos, reivindicando-se, pelo nome e pelo dia do nascimento, o Arcanjo Miguel.
Com tanto sítio para onde ir foi parar a Genebra, tentando desajeitadamente passar despercebido, onde o fanático fundador do calvinismo reinava como Presidente do Consistório e havia muito vinha reivindicando a necessidade de o assar. Acabou por ser este o destino de tão estranho homem, o qual, contudo, tivera momentos de iluminação, ao intuir a circulação do sangue que Harvey comprovaria, mais tarde. Em que medida a amputação que sofrera terá contribuído para uma doutrinação tão pouco racional e obcecada com a identificação do Todo, é coisa que nem um psicólogo poderá determinar. No panorama das lutas religiosas não era indivíduo dominado apenas pelo exclusivismo da sua Fé. Era o algo tresloucado ambicioso que queria deter Deus sozinho e contê-Lo, mas que tinha o simpático traço de denunciar a incompatibilidade da crueldade calvinista com o Serviço Divino. O que contrariava, evidentemente, a sua concepção da Presença Divina atrás exposta.
2 Comments:
At 4:21 PM, Anonymous said…
Saudações. No convencimento de profeta lembra um pouco o infeliz Malagrida, não?
At 7:32 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Rudolfo Moreira:
Bem, realmente, um asimilava-se a São Miguel Arcanjo, o outro dizia-se um novo São João, mas... mais claro. No entanto, Servet era mais combativo e, prestando mais atenção a este Mundo, mais perigoso para os que contradizia.
Abraço.
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