O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Saturday, September 30, 2006

Alla Turca

A Turquia vem confessando repetidamente a sua atracção pela Europa, ao ponto de nela querer penetrar. Mas, conhecendo-se a fama de brutalidade da concepção turca do amor, será lícito que é esta que à pobre mítica figura feminina apetece, só porque outrora se rendeu aos encantos do touro que a raptou?
.


Uma série de opinadores com púlpitos relevantes, de Pacheco Pereira a Daniel Oliveira quer convencer-nos da bondade de admitir os turcos na União Europeia, para isso convocando o Passado e o Futuro. Quer dizer, repetindo que a Turquia faz, há séculos, parte da Europa e emitindo temores de que a interdição da entrada a empurre para o Mundo Muçulmano radical. Duas ficções: a presença europeia do Império Otomano foi sempre vista por todos como a prioridade a erradicar, o que se foi gradualmente conseguindo, salvo o caso espectacular mas isolado de Constantinopla. Os súbditos do Sultão viraram tão sinónimo de barbárie como o termo "turco" de infiel. E a necessidade de os expulsar do Continente em cujas zonas dominadas tinham imposto disciplina severíssima deu até origem ao termo tête de turc, como o alvo em que era natural bater. A grande ideia de que a Turquia foi membro leal da OTAN também não colhe. Foi-o pela ameaça soviética ao lado, que hoje inexiste. O que se constata actualmente é o governo de um partido islâmico, que contém muitos dirigentes radicais por detrás da pele de cordeiro do moderado Primeiro-Ministro, ao ponto de já ter invadido o alto funcionalismo, com destacadas figuras de um mnistério a reclamarem a prisão do Papa, aquando da sua próxima visita oficial, na ressaca da (ai, ironia!) bisantinice académica. Só sobrevivem fiéis à memória de Kamal Ataturk os militares e, um pouco, a magistratura, sendo que, mesmo nestes casos o religiosismo extremo começa a colocar peões.
Por isso as dúvidas do Cardeal Cormac Murphy O´Connor, Arcebispo de Westminster, revelam a verdadeira sagacidade. Não só por - como aduz - haver o perigo de não se suportar a integração de uma cultura estranha, mas por nada ser tão de recear como ter intra-muros uma cultura hostil. A que não se poderá travar, se for aplicada aos seus impregnados a livre circulação de pessoas. Por estas mesmíssimas razões seria contra a entrada na UE da Bósnia, por exemplo. Mas quando a dimensão é a do País de que Ankara é a capital pior, muito pior. Quem quererá ter um Estado-Membro islâmico que no prazo de uma geralção terá pesos demográfico e institucional superiores ao da própria Alemanha? Com a diferença de que não é uma locomotiva integracionista disposta a sacrifícios. Nem tem dinheiro para se resgatar, à Alemã, nem desistiu de eleger um executivo de cariz religioso maometano, que seria o mínimo a esperar de quem quer agradar ao dono de uma casa cuja entrada visa. E uma coisa há em que islamistas e militares laicos concordam plenamente: em criminalizar as afirmações do genocídio arménio. Amor à turca...

15 Comments:

  • At 12:43 PM, Anonymous Anonymous said…

    Concordo consigo no essencial. gostaria no entanto de lhe perguntar se aceitaria a entrada na UE, por exemplo, de Marrocos, se este estivesse em situação semelhante. Abraço

     
  • At 1:32 PM, Blogger Unknown said…

    Hoje estava a precisar de discordar com alguém com quem o respeito seja mútuo. Agradecido!

     
  • At 1:49 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro Miguel:
    Marrocos está excluído, face ao próprio critério da UE, «por não ser europeu». Nem, acrescento, ter aquela pontinha de europa por onde pegar, pelo que escusamos de nos desgastar com tal problema. Se quiséssemos especular ainda se poderia falar de a concepção islâmica marroquina ser multissecularmente tida como das mais doces e moderadas, por um lado; e, por outro, de a população ter níveis médios de vida inferiores aos turcos, o que poderia trazer problemas de diversos tipos, mais próximos dos de imigração de outras proveniências.

    Meu Caro Nils:
    Sempre às ordens.
    Mas estou certo de que ambos temos em vista o bem do Continente, apenas não o vislumbrando da mesma precisa forma.
    Abraço.

     
  • At 3:13 PM, Anonymous Anonymous said…

    Justamente: está na hora de fechar portas ao fanatismo maometano e não de abri-las! O radicalismo exarcebado é a maior ameaça que o mundo enfrenta.

     
  • At 3:22 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Mas tem político que é cego, Caro Anónimo!
    Abraço.

     
  • At 4:41 PM, Anonymous Anonymous said…

    Bem, Caríssimo, sempre tive os turcos como «destruidores de civilizações»... O Império Austro-Húngaro que o diga. Até foram libertar o sanguinário Vlad Tepes - o provável conde Drácula - para os combater.

    E, numa aproximação ao caso de Marrocos, recordemos que em Alcácer-Quibir, D. Sebastião estava a combater Mulei Maluk, aliado do Grão-Turco Selim II, e tinha do seu lado o anterior emir de Marrocos, Mulei Muhamed, assim como boa parte da cavalaria marroquina... Isto depois de D. João de Áustria ter derrotado a frota turca em Lepanto (1571).

    E recordemos que foi o contacto com os turcos, como inimigos, que fez vacilar os princípios de cavalheirismo do célebre Lawrence da Arábia, nas primeiras décadas do século XX.

    Assim, se Marrocos tem o sabor amargo do desastre de 1578 (há quem lhe chame armadilha, mas traição houve, de certeza), a Turquia vem envolta numa tal névoa de barbárie e de ameaça que só a ideia de lhe abrir fronteiras me causa arrepios e parece apelar à indignação dos fantasmas de Alcácer e de Lepanto...

    O que não quer dizer que não haja turcos honestos e civilizados, boas pessoas, no fundo, como em todas as raças e civilizações. Mas são indivíduos, e não nações ou povos.

    Um abraço.

     
  • At 7:28 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    E com tudo isso, Meu Muito Caro Carlos Portugal, ainda há publicistas que invocam, para meter a TYurquia na Europa... a História!!!
    Abraço.

     
  • At 8:15 PM, Anonymous Anonymous said…

    Amigo Paulo: ejemplo del "islamismo moderado" de Marruecos : en todas las escuelas de Marruecos se le enseña a los niños que la Peninsula Iberica (Al Andalus) les pertenece.......

     
  • At 8:16 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Bem poderiam candidatar o Forte, realmente. Pelo menos o historial não é de conflitos.
    Ab.

     
  • At 8:19 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro Çamorano:
    Céus! Pegando no que diz o Carlos Portugal, deve ser a influência turca. Hihihihihi! Mas dava um jeitaço, se a Cristandade passasse a ensinar outro tanto sobre as praças norte-africanas de que retirou.
    Abraço.

     
  • At 9:57 PM, Anonymous Anonymous said…

    De las que se retiró (por ejemplo, Mazagán), de las que se retirará en breve (Ceuta, Melilla, Chafarinas, Peñon Velez de la Gomera y Perejil).....

     
  • At 10:36 PM, Anonymous Anonymous said…

    Dato inquietante: la entrevista del Dr. Kissinger con el Papa, antes de la visita de éste a Turquia......

     
  • At 12:27 AM, Anonymous Anonymous said…

    Hipotesis favorable: ¿Posible conversión del Dr. Kissinger como fruto de su entrevista con el Santo Padre?

     
  • At 8:36 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Huuuuuuuuuuuum, Caro Çamorano, quanto a conversões, tenho seríssimas dúvidas. Acredito mais numa lição de política externa, que a soberba kissingeriana é bastante conhecida, considerandp-se o dono da matéria.
    Ah, esperemos que o actual Presidente do Governo seja apeado antes de liquidar a presença Cristã norte-africana.
    Abraço.

     
  • At 5:35 PM, Anonymous Anonymous said…

    Heroes castellanos: Miguel de Cervantes, Cristobal de Castillejo

     

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