Lincoln e eu
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Pode o Leitor entender que nada tem com isso. E eu respeito. Mas se for daqueles que acreditam que percorer uma página pessoal implica alguma paciência para as confidências que o autor entenda fazer, então devo revelar-Lhe que num momento-charneira da minha vida decidi o futuro depois de ler uma frase de Abraham Lincoln. Ao dirigir-se a um grupo de jovens advogados, disse «Procurem sempre ser honestos em qualquer circustância; e se notarem pelo vosso juízo pessoal que não podem ser advogados honestos, optem por ser honestos sem ser advogados». É essa a via que vou tentando forçar.
Isto fez-me ler mais sobre o Homem. E descobri alguém que, não acreditando na igualdade das raças, era, contudo, profundamente hostil à escravatura, que combateu com equilíbrio e sucesso. Não em nome da vingança dos agrilhoados contra os que, sem escrúpulo, os detinham e utilizavam como qualquer outra propriedade. Sim, por acreditar que era impossível com essa estrutura social manter a Comunidade unida. O seu discurso famosíssimo, «House-Divided» é dos mais nobres manifestos que conheço:
«Uma casa dividida contra si mesma não pode ficar de pé. Não acredito que este governo possa perdurar, permanecendo meio escravo e meio livre. Não espero que a União seja dissolvida; não espero que a casa venha a desabar; mas espero que deixe de ficar dividida. Será uma coisa ou outra. Ou os adversários da escravatura deterão a sua propagação, colocando-a nos limites em que a opinião pública acreditará que esteja a caminho da sua extinção, ou os defensores a levarão para a frente até que se torne igualmente legal em todos os Estados, nos novos como nos velhos, no Norte como no Sul».
Pode o Leitor entender que nada tem com isso. E eu respeito. Mas se for daqueles que acreditam que percorer uma página pessoal implica alguma paciência para as confidências que o autor entenda fazer, então devo revelar-Lhe que num momento-charneira da minha vida decidi o futuro depois de ler uma frase de Abraham Lincoln. Ao dirigir-se a um grupo de jovens advogados, disse «Procurem sempre ser honestos em qualquer circustância; e se notarem pelo vosso juízo pessoal que não podem ser advogados honestos, optem por ser honestos sem ser advogados». É essa a via que vou tentando forçar.
Isto fez-me ler mais sobre o Homem. E descobri alguém que, não acreditando na igualdade das raças, era, contudo, profundamente hostil à escravatura, que combateu com equilíbrio e sucesso. Não em nome da vingança dos agrilhoados contra os que, sem escrúpulo, os detinham e utilizavam como qualquer outra propriedade. Sim, por acreditar que era impossível com essa estrutura social manter a Comunidade unida. O seu discurso famosíssimo, «House-Divided» é dos mais nobres manifestos que conheço:
«Uma casa dividida contra si mesma não pode ficar de pé. Não acredito que este governo possa perdurar, permanecendo meio escravo e meio livre. Não espero que a União seja dissolvida; não espero que a casa venha a desabar; mas espero que deixe de ficar dividida. Será uma coisa ou outra. Ou os adversários da escravatura deterão a sua propagação, colocando-a nos limites em que a opinião pública acreditará que esteja a caminho da sua extinção, ou os defensores a levarão para a frente até que se torne igualmente legal em todos os Estados, nos novos como nos velhos, no Norte como no Sul».
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Por isso foi eleito apenas com uma plataforma contra a expansão dessa coisificação do Homem para os Estados do Oeste. E por isso discordou dos abolicionistas de Greeley que queriam a "cruzada humanitária" com imediatas imposições. Mas depois da Secessão se ter iniciado, não hesitou em publicar a emancipação dos escravos nos Estados Rebeldes, cuja versão provisória foi assinada em 22 de Setembro de 1862 e levada ao conhecimento universal no dia imediato, que hoje se comemora.
Nem os aspectos da personalidade menos atraentes para mim fizeram esmorecer a admiração por Tão Excelso Vulto. Sou avesso à sua leitura da Bíblia, orgulhosamente independente da partilha comunitária ou da solenidade sacerdotal, para mim indispensável à celebração do Mistério e do Sacrifício. Mas de cada vez que lhe faço o balanço da Obra, cresce a convicção de que a visão fordiana dele, num filme de génio inspirado na sua juventude, não tem correspondência real. Escrevi em tempos para uma coluna de João Bénard da Costa que a sobredita visão me fazia lembrar a ideia que os Gregos Antigos faziam de Ulisses, em que o fim justificava a prudência e os ardis. No entanto, confrontando com a biografia, torna-se progressivamente mais óbvio que foi um Estadista do molde do idealismo, no credo e nos meios, como provam as suas nem sempre obedecidas instruções para travar a rudeza yank e evitar represálias contra os vencidos.
Continuarei a tê-lo como Exemplo.
6 Comments:
At 9:22 PM, Anonymous said…
Advocato et non Latro.....? Res Miranda Populo.....!
At 9:31 PM, Paulo Cunha Porto said…
Hihihihihi, Caro Çamorano.
Mas essa improvável maravilha emergiu deste Homem e do seu voto.
Abraço.
At 12:03 PM, Anonymous said…
Um pequeno detalhe da vida pessoal pode ilustrar um pensamento sem incomodar os receptores.
Em total acordo.
At 12:22 PM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigado, Caro Jordão.
É com grande gosto que O vejo a comentar neste antro.
Ab.
At 8:28 AM, Anonymous said…
¿"Gran hombre" este maestro del oportunismo político, el derogador del Habeas Corpus, el que sentenciaba la libertad de los esclavos en el territorio que no controlaba y que permitía que Grant mantuviese a sus esclavos incluso después de terminada la guerra, el mismo que dijo que no le importaba seguir con la esclavitud si eso permitiera que los Estados Unidos no se fragmentaran ...?
Ejem ...
Rafael Castela Santos
At 9:41 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Rafael:
Não o vejo nada como um oportunista. Se o fosse teria, no seu breve mandato no congresso, procurado actuar para agradar aos eleitores. Pelo contrário, defendeu tão afincadamente princípios pouco populares que nem pensou recandidatar-se, tão mal visto andava. Se fosse oportunista, teria cavalgado o abolicionismo, que lhe daria de barato os Estados do Norte Industrial e da Nova Inglaterra. Não o fez. Tudo porque a Unidade da Nação era o que o preocupava. Hostil à escravatura, aboliu-a justamente, apenas nos Estados que se tinham separado, o que vejo como coerência. Note-se que alguns escravos esclavagistas não aderiram à Confederação: Missouri Kentucky, Maryland, Delaware... A estes, a emancipação não foi estendida, precisamente porque não tinham posto em perigo a integridade nacional. E a Declaração de Emancipação só a promulgou depois da separação dos sulistas: a da Caro9lina do Sul foi proclamada logo após a sua eleição. Isto não é oportunismo, é preocupação em manter o todo do país intacto, é anti-revolucionarismo, substituído por prática gradualista num sentido Cristão.
E não foram só os escravos de Grant. Também foram excepcionados escravos do Estado, na Louisiana por exemplo. Porque, lá está, aí o perigo para a coesão viria de libertá-los logo.
Abraço.
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