O Olhar e os Anos
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Estamos habituados a associar a vista de um homem de costas, olhando a paisagem, à atmosfera romântica, na peugada de Friedrich, orientada para um balanço e rememoração do Passado. Mas quando se trata de uma criança não será um roçar da superstição querer ver nos olhos virados para a beleza das grandes extensões, sólidas ou líquidas, uma prospecção do que há-de vir? Um miúdo é tão capaz de recapitulações e avaliações da sua biografia, como um adulto. São menos os factos? Sim, mas, sendo mais fantasiadas as percepções, têm a sua serieade específica, diferenciando-se não pela concentração do olhar, mas por não deixarem os estigmas que estamos habituados a associar aos voluntários contempladores. Não é, propriamente, decorrência directa da menor experiência da idade. É-o de uma diferente aplicação dos egoísmos. E não será mais feroz o que se leva, inalteravelmente, a sério?
A fotografia, muito bela, que me sugeriu esta legenda foi tirada por Peter Britt. Intitula-se «Crater Lake - Emil». Ao usar o Filho como modelo, não estariam a ser fotografadas antes as esperanças do Pai?
4 Comments:
At 1:03 AM, António Viriato said…
Caro Amigo Paulo,
Fecunda reflexão, com tão bela imagem, sem desprimor para com aquelas que o seu bom gosto nos presenteia, com agradável frequência.
Mas esta, em concreto, noutro plano, igualmente belo, oferece-nos instantes de mais apaziguada meditação. E, se foi o Pai que tirou a fotografia ao filho, neste onírico enquadramento, é mesma legítima a sua interpretação.
Um abraço e boa semana de trabalho.
At 9:50 AM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigado, Caro Visconde. Dar-lhe-ei toda a devida atenção.
Obrigado, meu Caro António Viriato, retribuo-Lhe gostosamente o voto. Sim, achei que a escolha do Filho e o tratamento fotográfico podiam implicar um investimento de esperança que muitos Progenitores compreenderão bem.
Abraços aos Dois.
At 6:17 PM, Anonymous said…
Sim. Mas os pais não podem esquecer que as crianças, mais tarde adolescentes e depois adultos têm os eus próprios sonhos.
Beijinho Paulo.
At 7:19 PM, Paulo Cunha Porto said…
E pergunto-me Querida MFBA, se aqui não teremos uma transferência da expectativa da biografia própria para a do sucessor.
Beijinho.
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