Wednesday, January 24, 2007
Friday, January 12, 2007
O Vespeiro
Um Cravo Espetado
A Verdade dos Dias
Ralph Waldo Emerson
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Esperando que hoje não seja dia não na alternância dos tons das notícias do que me vem afligindo, atirei-me a reflectir sobre a relação entre exposição dos acontecimentos que tenho vivido e sentido e um blogue. Se puder ser um escape, como Alguns já sugeriram, melhor. Mas nem penso que isso seja o principal. Para quem teve como propósito fazer da página um diário com as possibilidades que o tempo dá, como escamotear, por pudor ou orgulho, o mais importante que o vem tomando? Seria transigir com a falsidade.
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Penso que não são más escolhas «Diário», de Kappy Trigg
e
«Reunião de Amigos», de Eustache Le Sueur.
Thursday, January 11, 2007
Recomposição
Sei perfeitamente que perdi o equilíbrio hoje, muito por culpa de ter visto na véspera contrariadas as esperanças que me tinham dado. O certo é que, ao chegar ao hospital achei-O melhor, o que me foi confirmado, tendo o rim começado finalmente a corresponder e a alimentação a ser absorvida capazmente. Apesar de muita dificuldade no falar, até tentou fazer piadas.
E é com alguma recuperação de confiança que sinto o profundo embaraço por ter incomodado Visitas que nada tinham a ver com isso, chegando, no caso de Alguns, a fazê-Los rememorar as experiências de dor das perdas que sofreram. Tentarei, prometo, que se não repita. Mas, em última análise, é o Eurico que tem razão, no segundo comentário que colocou nesta coluna: sinto-me como o Jimmy Stewart de «DO CÉU CAIU UMA ESTRELA», «o homem mais rico da cidade», porque a maior riqueza está nos Amigos. Com uma diferença: mesmo reconhecendo não nos defrontarmos numa competição, os Meus são muito superiores.
O outro «Equilíbrio», o da imagem, é de Lumme.
Incapacidade de Produzir
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Tentei achar um poema que desse conta do que sinto e não deixasse a seco Os Que cá vêm. Passei mais horas a fazer o que costumo em dez minutos. Vi este, que fala da incapacidade de gerar poesia, por força do tempo que correu. É pálida figura de estilo e pretensão demasiada comparar um blogue ao Poético. Assim como não se trata da evaporação da vontade criativa pelo fluir do tempo, mas da concentração esmagadora das apreensões de um momento que condenam à estagnação. Que me perdoem por não conseguir dar algo mais, neste estado em que o entusiasmo pela actividade de que tanto gosto parece uma recordação ténue.
De Mihail Eminescu:
FORAM-SE OS ANOS
Foram-se os anos, como longas nuvens
Sobre plainos, e nunca voltarão:
Já hoje não me encantam, como outrora,
Lendas e doinas, crenças, adivinhas,
Que a minha mente ingénua serenaram,
Mal entendidas, cheias de sentido. -
Com tuas sombras já em vão me cercas,
Misteriosa hora do crepúsculo.
Para arrancar um som do meu passado
E fazer que a minh´alma ainda vibre,
Em vão deslizo a minha mão na lira;
Tudo se foi no céu da juventude,
Emudeceu a boca de outras eras
E o tempo gera a sombra em que me abismo.
Com «Entusiasmo», de Jenó Medveczky
e
«A Letargia da Memória», de Alessandr Kanchik.
Wednesday, January 10, 2007
Ambiguidade
Pensando em tudo o que se disse, aquando da construção do túnel do Canal da Mancha, a propósito da união das Ilhas Britânicas com o Continente Europeu, não resisto a dar-Vos esta curiosa gravura setecentista, em que se prevê uma invasão da Europa a partir da Grã-Bretanha, por ar (balões), mar e por uma obra de sapa sob as águas, precursora dá ligação existente. Para além da antecipação de meios, dirão as más línguas que as intenções permanecem as mesmas...
Tuesday, January 09, 2007
Abençoada Técnica!
As primeiras notícias, após T.A.C. & C.ª revelaram que o acidente não produziu tantos estragos como se temeu, tendo encontrado o meu Pai muito fraquinho mas lúcido. Espera-se que possa ser dada alta daqui a uns quatro dias. Ainda bem que da minha aversão às tecnologias exceptuei sempre os progressos da Medicina!
Claro que agora vai ser preciso muito cuidado com as desidratações. Mas vê-se luz!
Amanhã conto retomar, tanto quanto possível, a frequência de blogação. Não há suficientes palavras no Mundo para agradecer o cuidado de Todos Os que se manifestaram!
Angústia Duplicada
Duas fontes da Angústia, aqui vista por Anne Karin Glass. A da coincidência, de uma trombose no preciso dia em que se juntava mais uma unidade anual a uma Vida já longa. E a da espera, condenados à paralisia de não termos informações detalhadas, nos intervalos das horas de visita. Sei bem que o mundo é mais gente que eu e que os Meus, como também compreendo que é necessário um padrão que garanta a funcionalidade e que as emoções familiares podem empaná-lo. Mas não consigo deixar de pensar que talvez fosse possível alguma maleabilidade.
Valem os votos e a disponibilidade dos Amigos, aqui postos ou de outra forma comunicados. Relembrarei cada um no resto dos meus dias.
Monday, January 08, 2007
Explicação
Sunday, January 07, 2007
Retrato Duma Alcantarense
A «Matadora de Dragões», de James W. Johnson, dedicado atleticamente ao Nonas, ao Nelson Buíça e a Todos os que gostam de Femininos Retratos e simpatizam com o personagem em fundo.
Embriaguez do Poder
Com «O Brinde», de André Cambi, convido todos os Meus Amáveis Leitores que tenham curiosidades sobre o Condicional que conforma o Poder a dirigirem-se à Taberna dos Inconformados. não é preciso parar no tempo desta Senhora: a época medieval serve perfeitamente para pesar a reciprocidade equilibrada de obrigações entre a Coroa e os Súbditos. À vossa Saúde!
3D
Duas Razões
A resignação do Cardeal Wielgus, Arcebispo designado de Warsóvia, na sequência da reacção popular contra si levantada, no presuposto de que fez fretes aos serviços de informação do tempo do Comunismo não é apenas, ao contrário do que se quer fazer cer, uma simples reacção afectiva por colaboracionismo com o opressor, contra o qual Figuras Grandes da Igreja, quais Padre Popieluzco e o Enorme Papa que foi João Paulo II foram símbolos mobilizadores. Há duas questões adicionais: na Polónia, país formalmente alinhado com Moscovo, mas em que a colectivização pouco operou e o Exército permaneceu mais nacional e... Cristão do que marxista, com Jaruselwski ainda hoje a ser louvado pelo jogo duplo que fez para evitar destinos semelhantes aos de Praga e Budapeste, a Igreja sempre foi efectivo contrapoder, contrariamente aos países Ortodoxos, onde, tal como no tempo dos Soberanos mais ou menos absolutos, se portou como sustentáculo adicional do Estado. O segundo aspecto prende-se com o facto de vozes autorizadas como a do Cardeal Glemp terem dado cobertura às suspeitas de haver na Igreja espiões Desse Sumo Pontífice, trabalhando directa ou indirectamente para os Soviéticos, para lhes revelar a parte não-visível da estratégia do Vaticano e até sabotá-la, a confirmarem-se os indícios de responsabilidade na tentativa de assassinato. O Padre Konrad Hemjo foi expressamente acusado de informador pela Eminência Citada.
Perante isto não admira a pressão das gentes. Tendo admitido contactos com os serviços secretos do regime anterior, o ex-futuro Arcebispo sentenciou-se. Mesmo que diga que espiar é «uma visão parcial», com este pano de fundo, os Polacos não se contentam com menos do que a resistência franca. E qualquer diálogo surge como traição.
Resposta ao Je Maintiendrai
Caríssimo JM: eis a prova acabada de como o real camelo do Baltasar tinha apenas uma bossa e não pode ser confundido com a Jovem a quem Vossa Senhoria o assemelhou.
Resposta à T
Lembrou a T que os que morrem cedo são sempre mito em potência. E Marilyn à cabeça. De acordo, mas a sombra que podia infirmar a regra seria esta imagem dela, morta, tão difundida que foi e tão longe do mito que faz ficar, Apesar de as pessoas quererem lembrar sempre os seus ídolos no melhor, faz impressão como a foto não estagnou um pouco o culto. Já as tomadas da Lady Di no acidente não foram tão exaustivamente exibidas...
Saturday, January 06, 2007
Presente
Dia de Reis era aquele em que se dava, outrora, os presentes natalícios. Ainda hoje em Espanha, ao que creio, a importância dada à Data é muito maior do que a conferida pelos despachados em que nos tornámos. Pensando em especial nos meus Amigos Espanhóis, mas em Todos os que se aprestam para desarmar a Árvore de Natal, sinto-me incapaz de devolver um Caudillo, mas apraz-me facultar Caudill: Christie Caudill.
Banalizar o Vínculo
Já em casa não posso deixar de me insurgir contra a triste opção de emitir uma farsa que poria "pais falsos" a tomar conta de filhos, para gáudio de quem vê e se possa entreter com as asneiras que os pares inexperientes que concorrem venham a fazer. A despromoção do que de mais sublime pode haver, o nexo que une Pais e Filhos, para além de todas as contraindicações que os especialistas oportunamente lembram para o própro desenvolvimento dos bebés, que não foram consultados quanto à sua participação, parece um paroxismo da indústria de entretenimento paralelo à coqueluche de há uns anos - o Tamagochi, lembram-se? Que também era susceptível de morrer, mas virtualmente, apenas.
Tarde e a Boas Horas
Estranharão Muitos e agradecerão outros tantos que o volume da blogação do dia tenha sido diminuto. Mas foi-o por boas razões. Numa conversa parafamiliar deliciosa descobri numa Amiga Querida o que muito se aproxima de um certo parentesco, a culminar conversação interessantíssima. Não cessa de me espantar a pequenez do Mundo, onde encontramos ramos de nós onde menos esperamos. E quando essas linhas de contacto são com as mais Estimáveis das Pessoas só temos de dar por bem entregue o tempo que subtraímos à actividade bloguística, ainda que a Revelação imprevista possa ter sido consequência dela.
Ainda pedrado com o Inesperado desta tarde, não posso deixar de postar «Surpresa», de Sergey Logachyov. No mais, estas coincidências da Vida, quase tentações de concordar com Aqueles dos Meus Amigos que defendem a inexistência do Acaso, deixa-me, como à Floribela, um pouco confuso. Mas deliciado.
O Absurdo Tem Passado
Passo os olhos pelos Diários de Ionesco e - depois de ver o Pan-Arabismo condenado, no que concordo, pois sei da História que as Nações são construídas e alargadas, paulatinamente, por Reis e Povos e, se deixadas a movimentos de intelectualidade transnacional, quais Pan-Germanismo e Pan-Eslavismo, acarretam sempre maus resultados -, leio as seguintes linhas, plenas de justiça,mas capazes de estragar o fim de semana aos meus Leitores anti-judaicos:
«De momento, Julho de 67, já não há quase guerra em Israel. Aqui e ali algumas escaramuças. Todo o mundo se preparava, alegremente, para chorar a matança de dois milhões e seiscentas mil pessos. As vítimas no se deixaram manejar. Os que queriam matar foram desarmados. Perante este facto, claro está, produziu-se um deslizamento da opinião dos que são chamados intelectuais a favor dos árabes, sobretudo desde que se pôde perceber até que ponto a Rússia anti-semita toma partido a favor dos árabes, quer dizer, a favor dos seus chefes. Alguns árabes quiseram não tomar parte no golpe de todos os árabes e parece, segundo me dizem os que chegam de Tunes, que os Tunesinos vivem no receio de ser atacados pelos argelinos.
(...)Sartre condena os israelitas por terem atacado primeiro. Diz que são eles os agressores.
(...)
Na realidade, ideologicamente e estrategicamente, os egípcios atacaram. Quando os coreanos do Norte atacaram, em 1950, a Coreia do Sul e os coreanos do Sul, com os americanos, não fizeram mais do que responder à agressão, os comunistas diziam que os coreanos do Norte tinham atacado primeiro, mas materialmente, tendo ideológica e estrategicamente sido os coreanos do Sul e os americanos a atacar. Aquele «ideologicamente» e aquele »estrategicamente» não é válido hoje para os israelitas nem para os egípcios: sem embargo, desde há meses os egípcios preparavam ideologicamente, estrategicamente, propagandisticamente, a guerra santa. Ademais, os seus exércitos dirigia-se para a fronteira israelita e instalavam-se nela. Torna-se difícil compreender. Com efeito, umas vezes é a ideologia que se declara objectiva, como no caso da Coreia do Norte, outras ela não é mais do que pura subjectividade, como no caso da recente guerra no Médio Oriente.
Nunca me pareceu tão estendida a confusão como hoje. Admite-se, contudo, geralmente, o direito à existência do Estado de Israel. Nem sempre. Entre os que pedem o aniquilamento deste Estado estão, em primeiro lugar, certos judeus. Representam o estado de ânimo e o desejo de muitos, claro está. Mas como se mataram tantos judeus, como se destruiu na Rússia toda uma cultura judia, os judeus não se atrevem já docemente a expressar e expressar-se a si mesmos um anti-semitismo que se esconde debaixo do nome de anti-sionismo. Mas os próprios judeus podem muito bem pedir para ser assassinados. É o que fazem alguns. Em nome do Comunismo, dizem, porque, segundo o tópico, Israel é o criado do Imperialismo».
Como se vê, em quase quarenta anos nada se aprendeu. E descontando o comunismo, que já conheceu melhores dias, as mesmas pulsões estão lá, iguaizinhas. Até a oscilação entre considerar o País do Sr. Olmert ora Satanás, ora um Demónio menor, serventuário de outro, como também a participação de sectários ultra-ortodoxos do judaísmo nas iniciativas culturais do presidente iraniano...
A Respeito do Respeito
Devo confessar que nunca fui grande admirador da Norma Jean metamorfoseada em Monroe. Irritava-me o cabelo, a eterna caução de todas as burrices que um casamento com um intelectual parecia exibir, a persistência em representar na vida o papel da personagem que se tirava das suas interpretações cinematográficas, com artificialidade da voz e outros truques baratos. Pois ontem os meus olhos patinaram pelas «CONVERSAÇÕES COM MARILYN», de W. J. Weatherby e o conceito em que a tinha não melhorou um niquito. Falando de «Sir Olivier», no que cai na pecha de muitos que ignoram ser este tratamento ligado ao nome próprio, contrariamente a Lord, adequado a apelidos ou títulos exógenos, diz: «Ao princípio portei-me mal com ele, fi-lo eperar, coisa que odeia. Mas é que se não se respeita os artistas, eles não trabalham bem. Há que lutar por conseguir o respeito».
Ou seja, não é exclusivo das insuficiências dos portugas a ilusão de que fazer os restantes secar é sinónimo de importância e que desrespeitando o Outro se alcança para si o desiderato correspondente ao oposto. Nunca ensinaram a este Mito do Século XX que o respeito é o que é preciso ter para se merecer.
Friday, January 05, 2007
Vidas Empedernidas
No dia em que se vence mais um aniversário de Anne-Louis Girodet-Trioson, dou o seu «Pigmalião», para mim o mais feliz de todos quanto foram pintados, porquanto o ar aparolado desse lendário e Real escultor exprime bem a paixão que o assaltaria, perante a sua obra. Pretexto ainda para demonstrar que este episódio mítico, que deu o nome por que é mais conhecdo o desvio sexual agalmatofilia, era precisamente o seu contrário. Enquanto que a tara denominada também como pigmalionismo assenta no instinto sexual dirigido às estátuas, o pobre protagonista bem andou a esmolar à Afrodite que transformasse a perfeição esculpida numa Mulher de carne e osso, prenunciando o sentido inverso deste prémio, o castigo infligido pela Deusa às infiéis filhas de Propeto, que aos seus cônjuges Cerastas viriam a acarretar os cornos, seja qual for o ponto de vista de que se mire: a transformação em rochedos. Ou seja, qualquer das vias uma rejeição da pedra, contrariamente ao que faz as delícias dos estatófilos.
A História pode ser muito injusta! E não me venham falar do beijo que terá dado vida a Galateia, esse é mera variação das histórias do sapo e do Príncipe. Bom Fim de Semana.
Recrutamento Indiferenciado
Quando a política deixa de ser feita por ideal, dá nisto. É duvidoso que os partidos maiores, depois de institucionalizados, consigam deixar de ser agências de emprego. Mas quando abdicam sequer da aparência de convicção na defesa de ideários, há que reagir com a naturalidade do Presidente da Concelhia.
Tudo isto existe, tudo isto é triste, embora nem tudo isto tivesse, à partida, sido fado.
A Injustiça
No dia em que muitos lamentarão a exautoração de Dreyfus com base numa prova falsa, quero deixar bem claro que as injustiças continuam, nesta Europa em que vivemos: Quem, com bom fundo, não se insurgirá contra a destituição de Danielle LLoyd do título de Miss Inglaterra, depois de ela deixar marcado o patriotismo que trás no seio?
Repetição Como Tragédia
Brincar Com o Fogo
E não posso deixar de pensar que as mesmas autoridades de Washington que censuraram as que fingem - qual satélite - governar Bagdad pelas invectivas que erradicaram a dignidade da eliminação do ex-leader, devem sentir-se muito desconfortáveis com a colocação no mercado do novel brinquedo: a liberdade de expressão não pode servir para isto. O fogo com que brincam os seus criadores é o que os espera no Inferno, claro. Onde, julgo, se encontrarão com o retratado.
Sentir a Pátria
É claro que não passava de bravata inaplicável o desafio do falecido Saddam Hussein de resolver a questão Iraquiana em combate singular com o Presidente dos EUA. Mesmo em tempos em que esse mecanismo pareceria mais possível, pela pessoalização de um Povo num Soberano ou num Campeão, a regra, de esmagadora reiteração, foi a decisão caber aos exércitos e não a representantes deles. O Combate dos Chefes pouco passa de um título das aventuras de Astérix. Mas gostaria de ver, no que toca ao nosso País, uma outra disponibilidade: a de, apenas pelo nexo da Herança, cada Português, sem as responsabilidades da chefia do Estado, sentir a nacionalidade à flor da pele, ao ponto de oferecer-se para desagravo da Pátria, sentindo esta insultada ou menosprezada por um estrangeiro.
Como o civilizadíssimo Marquês de Soveral, quando, na roda íntima do futuro Eduardo VII, sem achar piada ao gracejo de um dos próximos do Príncipe, o qual, para entrar com o nosso Diplomata, se lembrara de perguntar «quantos minutos gastaria a esquadra inglesa em bombardear Lisboa», respondeu:
«Bombardear Lisboa, que é um porto indefeso, por meio de uma esquadra, que consta ser a primeira do mundo, nem chega a ser valentia quanto mais heroicidade. Outra coisa seria colocar-se cada inglês em frente de cada português podendo começar-se a experiência pelo que fez a pergunta e pelo que dá a resposta».
Assim como gostaria de ver mais sentido de justiça e apreciação do espírito, como no Real Herdeiro, que mandou aplaudir a saída incómoda para o Seu compatriota e, mais vagamente, para o Seu País.
Thursday, January 04, 2007
O Lugar do Eu
Conforme os dias, André Masson afirmava-se «surrealista» ou, apenas «simpatizante do Surrealismo», até que a célebre polémica de 1929 sobre o alinhamento político o fez afastar-se da rigidez de um movimento. Para mim, foi "menos surrealista" do que Dali, por se explicar racionalisticamente mais do que este e "mais" do que Breton, na medida em que recusava muitas das precisões e inserções que este facultava. Ao oferecer-se como voluntário para a carnificina que foi a Grande Guerra, pareceria incorrer em crime de lesa-magestade no que toca à realeza do surreal, pese a Apollinaire, não fosse o facto de se resgatar com a justificação da experiência estética, perigosamente próxima do que defenderam os que, de entre os Expressionistas, acabaram por aderir ao Nacional-Socialismo. A luta que sempre travou entre universo psíquico interior e circunstâncias externas encontra-se tanto na conclusão que tirou de um ligeiríssimo ferimento de combate, acerca do termo da convicção de imortalidade quando o perigo permite perspectivar esse abismo a que, à falta de melhor, chamou «Destino», como em tão prosaica circunstância como a insónia de que padecia, incapacitante condicionamento exógeno para o integrante de uma corrente que tirava muito do seu apelo do onirismo. No fim de contas a única e verdadeira chave é o «Labirinto» aqui reproduzido, nada inocentemente pintado em 1930: após a rejeição expressa dos sistemas, o reconhecimento de que os percursos difíceis de terminar estão limitados pelos contornos de si. Mas quanto às certezas demasiadas, não nos tolhamos, afinal é dele a orientação mais aproveitável - «O artista deve trabalhar com a ideia de que o Espectador consegue entender coisas meio-ditas, não completamente descritas».
Nasceu a 4 de Janeiro.
Keeping the Flame
Deu-me hoje para pensar em como na genialidade dos Gregos se pode sempre achar sempre o caminho para maior felicidade neste Mundo em que nos movemos. Assim, para todas as relações fatigadas, já nos diziam os Helenos que o segredo estava em manter em acesa a chama, se não quiséssemos perecer afogados entre lágrimas de dor. É o caso de Hero e Leandro, ela no seu sacerdócio de Afrodite, profissão reveladora entre todas, segurando um facho aceso, para que ele consigo fosse ter, atravessando a nado o Helesponto, até ao dia em que, não o fazendo, provocou um engano na rota do amado e o seu fim, entre vagas desconhecidas, motivando a imensidão das lágrimas de desespero da que se descuidara na manutenção do Fogo. Romanticamente desafiado, Byron fez igual travessia a nado, para provar que o mito era alcançável pelo Homem do seu tempo. Mas se triunfou na proeza atlética, fracassou na força sentimental, sabendo-se dos fins pouco pacíficos de várias das suas relações. O que também é muito grego - algo de sibilino na significação de cada oráculo, ao menos para os que têm uma específica dificuldade em decifrá-lo.
Turner e Evelyn de Morgan ajudaram-me, com as respectivas representações desta história exemplar.
Cor e Bagunça
A Lei do Coração
Coração de Mãe? Pois sim! Como é diferente a Maternidade no Texas! Veja-se a desta, que denunciou a filha à polícia por ela, com 17 anos, ter, há um, uma relação legalmente proibida com um rapaz de 13. Sabe-se do absurdo das leis norte-americanas que estabelecem penas maiores que as nossas para certos assassínios em casos destes, de relações independentes de qualquer rede pedófila, como o da célebre professora de um aluno de idade semelhante ao interdito do presente caso. Mas a segunda parte do relato explica outras coisas: a delatora não era uma obcecada pelo respeito da Lei, antes mostrou um vingativo escape por o seu rebento lhe andar a namoriscar o ex. Ora, como este cavalheiro tem 28 anos e não é natural que a protagonista da queixa tenha sido mãe aos 11, quase que se poderia considerar geneticamente herdado o pendor para os homens mais novos...
Uma família equilibrada, em suma. Chego a ter pena da polícia americana. Com casos destes para atender como hão-de ter tempo para perseguir criminosos?
O quadro, «Ciúme», de Zhenya Men, explica como tudo se pode confundir nas cores quentes da intensidade.
Uma Questão de Consistência
Com a «Ponte de Gelatina», do Designer Scott Christensen quero contrariar as concepções que vêem na jubilosa descoberta de um gel vaginalmente aplicável contra a SIDA um fenómeno de poder, presumivelmente num episódio mais da Guerra dos Sexos onde o parceiro masculino faça o papel de vilão, em vez de a saudarem como uma ligação das margens do Amor e da Saúde. Passando por cima da verdadeira receita pantagruélica em que descambará a dosagem do novo ingrediente, junto aos que por já lá se encontram, devo deixar aqui a previsão de que, a curto prazo, a indústria do ramo confeccionará variantes com sabores vários, como fez com os preservativos comestíveis. E, por falar nestes, não fora andar a morte envolvida, bem se poderia suspeitar de que o surgimento deste transportador microbicida, logo após a triste saga do enforcamento de Saddam, bem quereria cavalgar um momentum de rejeição do capuz! Tal como os mais desconfiados dirão para com os seus botões que a alcunha «político de gelatina», aposta a um espreitador da Presidência à distância de uma década poderá, de um momento para o outro, transformar-se de estigma em trunfo.
Está tudo ligado.
Wednesday, January 03, 2007
A Venda
No momento em que os cientistas descobrem que as partes do cérebro activadas quando se pensa no Futuro são diversas das que ganham a primazia no instante em que alguém se debruça sobre outros tempos da Existência, surprender-se-ão os mais confiantes com a revelação estatística de que é entre os fumadores que triunfa a hipótese de o Destino ser a razão do cancro. Ao riscar do mapa mental das probabilidades causais o comportamento de risco devido à opção própria, não estão a eliminar o Passado da equação, pois o Fado não é mais do que a inscrição no Antes do que sucederá Depois. É sim a venda ao Presente, sob a forma de prazer inabdicável. «Venda» no sentido de alienação da capacidade de identificar a verdade, mas "venda", igualmente, na acepção de não querer fitar o que assusta, entregando-se nos braços da mais fácil das esperanças - a que se dirige ao exterior de si. Tenho mais do que fundada suspeita, pois, de que as zonas cerebrais que entram em acção quando assim se abdica de pensar não sejam as que agora foram encontradas.
A pintura é «Passado, Presente ou Futuro», de Joop Frohwein.
Motivo de Apreensão
Assunto a Mais
Entretanto, quem não é político é o velho Misa, que, por conseguinte, tem muito que dizer. E sempre o fez à mesa de um café, o local mais indicado para resolver todos os problemas do mundo, desde que não o deixem só, a pensar neles, como os (des)humanos fazem nesta foto a Jacques Prévert. Em amena cavaqueira com o João Ferreira Dias, que com mão de Mestre, vem animando o «KONTRASTES», falo de Vós Todos, Blogadores e Leitores, com uma chávena pelo meio. Se estão curiosos, como devem, é só clicar aqui.
Falta de Assunto
Para que se veja bem ao que chegou a ausência de substância da discussão política em Portugal,um discurso absolutamente vago, genérico e anódino do Presidente, daqueles que, teoricamente, poderiam ter sido subscritos por qualquer outro, em qualquer lugar, conseguiu despertar reacções diferentes do bocejo! Que queriam que o Homem dissesse? Pediu resultados? Olha a admiração! Esperavam que ele dissesse que não eram necesários? Disse que era essencial aproximar-nos dos Parceiros da UE? Mas alguém julgava que ele poderia achar que era conveniente estagnação ou afastamento? Falou em melhorar a Justiça a Economia e a Educação? Que coisa! Até parece que todos tinham por certo que poderia opinar que tudo corre às mil maravilhas nesses sectores, ou que os considerava zonas menores da governação. Virem dizer que se trata de uma «missão impossível» é que trai o conceito em que os observadores têm o Eng. Sócrates. Se eu estivesse no lugar dele afinava. E só o Dr. Louçã, envergando a pele do Detritus de «A ZARAGATA», para vir dizer que se tratava de dar um rebuçado à Direita do Sistema, mostrando que não estava tão colado como isso ao Governo. Ninguém mais percebeu as palavras de circunstância assim. Pelo contrário, é mais um balão de oxigénio, ao passar um vale de expectativa para mais um ano, contribuindo para que as Pessoas ainda alimentem alguma esperança de que será possível a este regime fazer algo significativo por elas. E não exigirem mudanças radicais, como na imagem.
Tuesday, January 02, 2007
Fotografia e Profecia
David Bailey, nascido a 2 de Janeiro, distinguiu-se de tal forma como retratista, nos anos 1960´s que o seu nome virou sinónimo de fotógrafo em Inglaterra. Entre as muitas celebridades fotografadas, Deneuve, de que já aqui coloquei a foto com o flamingo, J. Moreau, J. Christie, Dali e tomada que prefiro, de Francis Bacon. Uma lenda alimentada pelo próprio realizador quer que Antonioni se tenha inspirado na biografia dele para a personagem interpretada por David Hemmings em «BLOW UP». Mas onde se vê que era um verdadeiro génio é na capacidade de a sua câmara fazer homenagens que só ganhariam toda a verdadeiraa dimensão no Futuro, como este «Pleated Turban and Pearls», um tributo a Quem de Direito.
Crescer e Aparecer
Lança a Teresa o desafio de dizer aos Meus Leitores e Confrades o que queria ser quando era pequeno, passando depois a pasta a Outros Três Que queiram jogar. Bem, como é uma cadeia diversa da corrente das manias, para cujo peditório já dei duas vezes, respondo com prazer:
A bem dizer, era omnívoro; e de cada profissão cujo conteúdo os meus Pais explicavam, o entusiasmo localizava-se nela. Com uma excepção, de que já dei o relatório. Mas, pelos dez anos, o meu sonho, na ressaca da leitura de Dumas, era ser mosqueteiro. Um Mosqueteiro no Século XX/XI. Estava traçado o meu destino quanto a capacidade de inserção e realização diluída no todo social!
Já então, já então...
E confesso que estou muito curioso de descobrir as ambições profissionais de infância
do Bic Laranja
da T
e do Pedro Guedes,
implorando-lhes que dêem continuidade à coisa e nomeiem cada um outros tantos Sonhadores.
Redondo Romantismo
Neste dia que era o último das férias, uma espécie de Quarta-Feira de Cinzas do descanso natalício, gostaria de cair em pleno revivalismo da Idade Média e fazer o voto de que os mais próximos Amigos da Blogosfera se orientassem pelo juramento dos Cavaleiros da Távola Redonda, tendo em mente que quando as divisões levaram a melhor Camelot ruiu:
1- Jamais depor as armas.
2- Procurar os perigos e aventuras mais audaciosos.
3-Defender os fracos de todas as maneiras
4-Jamais praticar violência inútil contra qualquer pessoa.
5-Nunca lutar entre si.
6-Combater pela felicidade dos seus Amigos.
7-Expor a vida pelo seu País, defendendo-o com todas as suas forças.
8- Não ter na vida outro objectivo senão a Honra.
9- Nunca faltar à palavra empenhada.
10- Cumprir todos os deveres para com a Religião.
11- Exercer todos os deveres de hospitalidade.
12- Comunicar todas as suas acções às pessoas encarregadas de escrever a história da instituição (Blogosfera Nacional).
Viagens Com a Minha Tia
Para Aqueles que pensam que hawaiana é coisa a dar com pés, deve-se relembrar a existência de Tia Carrere, para preencher as aspirações exóticas dos imaginários mais cosmopolitas. Faz hoje anos. E reparem como não esqueceu a observância de uma tradição que ontem me relembraram: ter qualquer coisa azul vestida na passagem do ano.
Voracidade
Prestes a deixar o cargo de Governador do Arkansas que exerceu por dez anos, Mike Huckabee, confesso candidato às próximas presidenciais, não hesitou em dar-se como noivo da Mulher com quem tem estado ininterruptamente casado há mais de três décadas, tudo para tornear uma lei que impede os titulares de cargos públicos de ficar com presentes valiosos, salvo em circunstâncias restritas, como a celebração de um Matrimónio:
In November, Arkansas’ outgoing Gov. Mike Huckabee and his wife, who have been happily married for 32 years, nonetheless set up a wedding registry at two department stores because it was apparently the easiest way for them to receive going-away gifts. Arkansas law prohibits gifts to public officials of more than $100, with a few exceptions, such as wedding gifts.
Sabendo-se como este político tem um background de pastor protestante, pode-se especular sobre se não será mais uma manifestação dessa ética no espírito do Capitalismo, com a elevação do Lucro decorrente de uma prestação laboral considerada ao lugar que deveria ser preenchido exclusivamente pelo temor do Pecado. Mas dirão os mais desconfiados que as ambições do Casal à Casa Branca constituirão um degrau mais na escada e escalada da Ganância.
A imagem é «Ganância», de Dov Lederberg.
Pontos da Loucura Normal
Quando surge a nova da invenção de vacas à prova de loucura, fruto, como se sabe, do contágio originado na humana que as transformou em carnívoras, urge perguntar por que razão, em países deste Ocidente onde o Hinduísmo não predomina, se continua a insistir nos políticos como vacas sagradas, em vez de se lhes introduzir as modificações genéticas que impedissem as governações dos Países europeus de andar às arrecuas...
...E a dos Terroristas
A última da ETA, como se sabe uma organização que se tem notabilizado por demonstrações pacíficas, foi emitir um comunicado em que declara não ter tido a intenção de matar, mas apenas de «chamar a atenção» para o andamento do processo negocial em má hora iniciado. Esta é que é a verdadeira atoarda. Mesmo que os etarras não se saibam expressar sem ser por explosões, o meio idóneo para sensibilizar as massas seria realizar um espectáculo de fogos de artifício diferentes dos que usam explosivo real e letal. Claro que isto é uma miseranda tentativa de emendar a mão, perante as manifestações de repúdio que ocorreram por toda a Espanha. As mesmas que levaram o Sr. Zapatero, por interposto ministro, a expressar a sua terceira opinião em quatro dias, graças ao feriado que nos poupou mais alguma, sobre o futuro das negociações com os assassinos. É que, em coerência, tocando a perder votos, está quieto!
Monday, January 01, 2007
Paladinos das Elites
A Um de Janeiro nasceram dois espíritos algo paralelos, o Almirante Canaris e o barão de Coubertin. Em quê? Ambos se esforçaram por combater as tensões económico-sociais da Sociedade, os Dois se nortearam por anglofilia, teórica ou prática que fosse, cada um deles se empenhou na defesa das elites, para além das suas próprias fronteiras; e ambos foram alvo de controvérsia. O militar alemão não se livrou dela, quer por, no final da I Guerra Mundial, após uma evasão gloriosa de um internamento chileno, ter comandado um submarino que afundou navios civis neutrais, quer por alguma duplicidade, enquanto chefe da Abwehr, o serviço de informações militares do III Reich. Nunca foi um agente inimigo, mas conscientemente colocou como seu número 2 o general Oster, que como tal era considerado pelos anglo-saxónicos; foi, em pessoa, pressionar Franco, valendo-se do seu excelente espanhol, para que não permitisse o trânsito de tropas do seu próprio País com o objectivo da conquista de Gibraltar, quando os Ingleses dificilmente poderiam defender a praça. E a sua participação ns golpes dontra Hitler só atingiu verdadeira porfia depois de demitido do posto-chave que ocupava, ou seja, quando menos útil seria. Mas tentou, com prejuízo da própria carreira, salvar os aristocratas, militares e religiosos polacos que a Alemanha se preparava para mandar para o matadouro próprio ou para o de Estaline. E procurou salvar os oficiais Patriotas que resistiram à bolchevização da Alemanha, como atalhar o cúmplice derrotismo de Weimar, participando no golpe de Kapp.
Já o recriador das Olimpíadas e de um espírito quase unanimemente reconhecido como de fomento do que há de melhor no Homem, é frequentemente criticado por não querer ver as Mulheres nos Estados e afirmar a sua crença na desigualdade das raças. Mas acima de tudo, por ter afirmado que «o Olimpismo era para o Desporto o que o Fascismo fora para a Democracia», bem como a conveniência em substituir a Religião pelo Culto da Bandeira e da competição delimitada entre as Nações que considerava civilizadas. A frase que citei foi mal interpretada: o que ele queria dizer não era uma opção por um regime de Partido Único, mas deixar expressa a sua preocupação fundamental - que, por via do acesso das classes trabalhadoras aos cumes do elitismo competitivo, se teria conseguido eliminar a Luta de Classes que afligia a Democracia e que Mussolini se propusera, corporativamente, erradicar. Tal como Canaris quisera neutralizar um sistema que assentava na oposição de Proletariado e Finança, quer na fase dominada pelos revolucionáros Marxistas, quer na da Governação dos senhores da Finança. Duas Figuras que muito amaram um ideal de Homem melhor, que não fosse dominado pelos confrontos do materialismo.