O Lugar do Eu
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Conforme os dias, André Masson afirmava-se «surrealista» ou, apenas «simpatizante do Surrealismo», até que a célebre polémica de 1929 sobre o alinhamento político o fez afastar-se da rigidez de um movimento. Para mim, foi "menos surrealista" do que Dali, por se explicar racionalisticamente mais do que este e "mais" do que Breton, na medida em que recusava muitas das precisões e inserções que este facultava. Ao oferecer-se como voluntário para a carnificina que foi a Grande Guerra, pareceria incorrer em crime de lesa-magestade no que toca à realeza do surreal, pese a Apollinaire, não fosse o facto de se resgatar com a justificação da experiência estética, perigosamente próxima do que defenderam os que, de entre os Expressionistas, acabaram por aderir ao Nacional-Socialismo. A luta que sempre travou entre universo psíquico interior e circunstâncias externas encontra-se tanto na conclusão que tirou de um ligeiríssimo ferimento de combate, acerca do termo da convicção de imortalidade quando o perigo permite perspectivar esse abismo a que, à falta de melhor, chamou «Destino», como em tão prosaica circunstância como a insónia de que padecia, incapacitante condicionamento exógeno para o integrante de uma corrente que tirava muito do seu apelo do onirismo. No fim de contas a única e verdadeira chave é o «Labirinto» aqui reproduzido, nada inocentemente pintado em 1930: após a rejeição expressa dos sistemas, o reconhecimento de que os percursos difíceis de terminar estão limitados pelos contornos de si. Mas quanto às certezas demasiadas, não nos tolhamos, afinal é dele a orientação mais aproveitável - «O artista deve trabalhar com a ideia de que o Espectador consegue entender coisas meio-ditas, não completamente descritas».
Conforme os dias, André Masson afirmava-se «surrealista» ou, apenas «simpatizante do Surrealismo», até que a célebre polémica de 1929 sobre o alinhamento político o fez afastar-se da rigidez de um movimento. Para mim, foi "menos surrealista" do que Dali, por se explicar racionalisticamente mais do que este e "mais" do que Breton, na medida em que recusava muitas das precisões e inserções que este facultava. Ao oferecer-se como voluntário para a carnificina que foi a Grande Guerra, pareceria incorrer em crime de lesa-magestade no que toca à realeza do surreal, pese a Apollinaire, não fosse o facto de se resgatar com a justificação da experiência estética, perigosamente próxima do que defenderam os que, de entre os Expressionistas, acabaram por aderir ao Nacional-Socialismo. A luta que sempre travou entre universo psíquico interior e circunstâncias externas encontra-se tanto na conclusão que tirou de um ligeiríssimo ferimento de combate, acerca do termo da convicção de imortalidade quando o perigo permite perspectivar esse abismo a que, à falta de melhor, chamou «Destino», como em tão prosaica circunstância como a insónia de que padecia, incapacitante condicionamento exógeno para o integrante de uma corrente que tirava muito do seu apelo do onirismo. No fim de contas a única e verdadeira chave é o «Labirinto» aqui reproduzido, nada inocentemente pintado em 1930: após a rejeição expressa dos sistemas, o reconhecimento de que os percursos difíceis de terminar estão limitados pelos contornos de si. Mas quanto às certezas demasiadas, não nos tolhamos, afinal é dele a orientação mais aproveitável - «O artista deve trabalhar com a ideia de que o Espectador consegue entender coisas meio-ditas, não completamente descritas».
Nasceu a 4 de Janeiro.
5 Comments:
At 10:27 PM, Mariposa Roja said…
Interessante essa nota biográfica sobre o Masson. Vistas à distância a maior parte das obras surrealistas parecem-me agora uma grande seca (por favor não leves mal), é só uma constatação. Gosto da postura surreal de libertação do estado onírico, o entusiasmo pela vida, mas julgo que o problema de muitos adeptos foi não terem conseguido descondicionar-se sem o uso de material droguístico. Tenho um sentimento contraditório em relação ao Breton, então ele não deu um soco no Tzara, assim no meio de um espectáculo! Não é de cavalheiro, não senhor. Esclarece-me tu, afinal o governo francês ficou ou não com o espólio da casa do Breton?
Pois é o labirinto é um tema apaixonante, cada um tem lá o seu minotauro para aniquilar ou não. Pessoalmente, simpatizo muito com o meu.
At 11:44 PM, T said…
O problema da maior parte dos criadores é esse mesmo: descrevem demais, mesmo quando pensam que encriptam. Quem me dera que omitissem mesmo, quando mentissem. Ou sobretudo quando o fizessem. Essas mentiras são sempre a menos. Beijos querido Paulo.
At 9:58 AM, Paulo Cunha Porto said…
Querida Mareante Linguística:
Nunca sobrevalorizei o Surrealismo, porém agrada-me o escapismo à tirania das formas que permite, aumentando a elasticidade artística das realizações. Breton tinha um problema: Pretendeu inventar uma escola com um credo que negava as vantagens de uma e de outro, pelo que só singraria sem contratempos se fosse o único membro, o que, no fim, quase acabou por acontecer. Mas Masson tinha umas asas um bocadinho maiores.
Querida T:
A arte que se explica muito é quase como a ironia que tem de dizer que o é: um fracasso, irreconhecível na consecução dos seus propósitos.
Beijinhos.
At 12:06 AM, Mariposa Roja said…
O problema é quando o escapismo se torna numa tirania.
At 9:02 AM, Paulo Cunha Porto said…
Ora bem, uma bela explicitção de Breton.
Bj.
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