O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Monday, October 31, 2005

Corrigenda?

Oiço os pivots dos noticiários televisivos dizendo,
com ar muito circunspecto e sabedor, que a Lei Sálica,
presente historicamente, diga-se, nas monarquias Borbónicas,
consiste na Preferência do Herdeiro Macho à Fémea, como no
caso vertente, independentemente da ordem de nascimento.
E eu que sempre pensei que a dita Lei era a que barrava à
Progenitura Feminina o acesso ao Trono. Não é bem a mesma
coisa, pois não?
Esclareça quem, melhor, souber.

Parabéns ao Rafael

Por a Família Real do Seu País ter um Novo Membro.
Mas, que raio, então 57% dos Seus Compatriotas não
gostam do nome de "Leonor", que, juntamente com
"Isabel", é o meu preferido, no Universo Feminino!

Serviço de Pastelaria

A quem possa interessar, para que se não diga que esta
página não liga ao template que lhe serve de colchão:
O João Villalobos tem um Tio-Avô que foi Presidente
do Clube de Futebol Os Belenenses.
Logo, toca a travar o Leader.

Mais Pacífica?

.


Não creio que esta escolha levante tanta polémica como a anterior. O certo é que a revista «In Touch Weekly» considerou ser Jessica Simpson a detentora do mais belo peito de Hollywood, vencendo na final Hayek, Electra e Jolie. Neste último caso, o nosso Amigo Eurico deve ter tido uma alegria. Devo dizer que a única linha de oposição que consigo vislumbrar é semear a dúvida sobre se as credenciais da Nomeada são naturais, ou se beneficiaram de siliconal auxílio. Houve quem achasse que deveria honrá-la com diamantes à altura, proporcionalmente, claro está, do seu curriculum e lhe tivesse oferecido este anel de noivado. Mas a Administração Porto da Jaula do Misantropo já fez a sua parte. Está agora sujeita ao mais notável dos Senados, composto pelos Leitores deste blogue, de cujas fileiras avultam os membros do comitê competente, que são os autores dos comentários.

A Vingança de Bork?

.

Já está. A pedido não de várias famílias, mas de uma só, a dos ultra-conservadores, George W. Bush nomeou o Juiz do Tribunal Superior sediado em Filadélfia, Samuel Alito, de New Jersey, antigo colaborador da Administração Reagan, para a vaga de Sandra Day O´Connor, confirmando a eficácia do blitzkrieg levado a cabo pela Direita americana nos Media. Conservador mais conservador não há. O Leader Democrata no senado, Harry Reid, do Nevada, já veio queixar-se de que, ao contrário de Miers, o Nomeado não constava da lista que sugerira. O Aspirante ao Supremo é conhecido entre os críticos como "Scalito", por aproximação ao Justice Scalia, o ultra dos ultras, e tem registos de decisões que comprovam ser um lutador pelas restrições judiciais à liberdade de abortar. Subsistirá o acordo que permitiu ultrapassar o bloqueio da votação senatorial? Seja como for, aqui está a batalha que quiseram os rebeldes Republicanos contra a anterior tentativa. E se passasse, teria um certo sabor a compensação pelo que foi feito, anos atrás, ao rejeitado Bork. Um pormenor: o presidente do Comitê Judiciário onde ocorrerá a primeira - e quiçá a única votação - é Arlen Specter o Senador Republicano moderado, da Pennsilvania, que produziu o voto decisivo contra aquele Jurista.

Será de Vez à Terceira?

Espera-se para muito breve, talvez ainda hoje, o
novo ensaio do Presidente Bush em transpor a
fasquia de uma nomeação confirmada para o Supremo
Tribunal de Justiça dos EUA. Os meios mais conservadores
estão empenhados numa campanha triunfalista que dá como
quase certo nomeado o Juiz Alito, de ascendência
italiana, o que tem encontrado a ampliação desejada
nos principais jornais. Acham-se com direito a essa
guerra, já que foram desiludidos duas vezes, por não
terem visto Scalia ascender a Chief Justic e com o
inacreditável episódio da por eles contestada
nomeação de Miers. Pode ser que obtenham o que querem.
A alternativa mais considerada é a de uma Mulher, para
substituir O´Connor. Mas cá para mim, Bush poderá bem
nomear um hispânico, desde que conservador. Os italo-
-americanos já estão representados, por Scalia, justamente.
Há uma Mulher, Ruth B. Ginsburg. Mas não há Justice algum
dessa grande comunidade, em mutação para a Direita do seu
sentido de voto tradicional.

Voto Sincero

O MASP III conta entre os seus apoiantes o ex-assessor
de imprensa do Primeiro-Ministro no governo de Santana
Lopes. Se lhe derem funções do mesmo teor, desejo, do
fundo do coração, que obtenha um sucesso igual ao que
experimentou nessa etapa da sua vida.

Mitos & Sucessores

No «DN» de hoje, João Luís César das Neves tem um
artigo que parte de uma interessante percepção, a de
que os mitos éticos que informavam e, esperava-se,
enformavam as condutas dos nossos Avós eram assentes
em virtudes individuais, como «a Honra, a Castidade, a
Temperança e a Obediência», contrapostos aos ideais
colectivos de hoje, que considera serem a «Liberdade, a
Democracia e o Desenvolvimento», os quais, por não já
traduzirem alicerces pessoais do comportamento, acarretavam
uma erosão do apefeiçoamento, substituída pela severidade
das condenações. Omiti propositadamente a «Justiça»,
presente no segundo grupo elencado pelo Autor, porque
a considero uma referência de sempre, que não de agora;
e uma virtude em que a componente pessoal equilibra
a expectativa da colectividade.
Se considero o ponto de partida emergente de uma sagaz
observação, creio, no entanto, que está rapidamente a ser
ultrapassado pelos acontecimentos. A dicotomia expressa
era bem verdadeira há uns vinte anos, mas hoje está
rapidamente a ceder a primazia a anti-valores como os da
realização profissional e sexual, da forma física, da ultrapassagem
do stress e de outras maleitas mentais contemporâneas, aspirações
não já do todo social, mas, novamente, de cada um. Só que
em vez de terem uma natureza pessoal de essência, respeitando
ao tratamento e à obrigação para com o Outro, vão beber a uma
aspiração da esfera do acessório individual, em que o imperativo
ético se restringe a não estragar a festa alheia, nos minutos de alegria
forçada em que se está acompanhado, ou a depreciar o valor dos
conhecimentos, por dar a entender que na suas companhias eles
integram gente não tão saudável, esbelta ou bem-sucedida como é
norma parecer.
O individualismo deste ambiente mental está ainda presente
quando se exige da colectividade tempo e dinheiro para melhorar
estas facetas. Não será a produtividade a base da nova concorrência.
Já não é, também, a estatuição de uma norma moral de ajuda pública
aos necessitados, mas a arrogância de cada um, que permite
impor ao poder, não só que lhe não estrague a vidinha, mas, por
igual, que o ajude a não a estragar. E, como a segurança e a saúde
são condições indispensáveis, cresce a abdicação da Liberdade,
dissolvida no revistar de pessoas, nas vigilâncias de câmaras e
nas proibições anti-tabagistas.
Mas sempre em prol de um acessório bem-estar, que nunca pelo
Norte duradouro do Dever, fosse para com os herdeiros a quem
se transmitia o nome, ou para com o Deus a quem se esperava
reunir.

O Corpo

.

De John Frederick Peto, «The Letter Rack»,em todos os sentidos possíveis.

Leitura Matinal -165

Quando, no fundo do nosso espírito, por muito escondida
que esteja, reina a intranquilidade, não há realidade alguma
que seja neutral. Inocentes pedaços de matéria inanimada,
sob as mais diversas formas - bem como outros, de culpa
menos virginais - revestem-se de significados e de lembranças
que atormentam. Mas só superficialmente podemos considerá-
-los como agentes da revanche de outrem. A verdadeira vingança
é dupla e reside em nós: quando uma coisa age perturbantemente
sobre uma consciência, tirando desforço de passados adormecidos,
está a transferir para ela o estatuto de objecto, mais que não seja
dessa mesma acção. E porque permanece impassível enquanto vê
o homem desgastar-se, triunfa sobre ele no que, provavelmente,
encararia como superioridade sua. A vingança é própria dos
objectos. Mas é o que afinal são os seres humanos.
De Jaime Salazar Sampaio,

A VINGANÇA É PRÓPRIA DOS OBJECTOS

abro a gaveta procurava um lenço
e a carta dobrada colou-se-me aos dedos

sacudo-a
as suas letras teimam em ser lidas
numa insistência claramente feminina

tento ignorá-la com gestos polidos
mas a carta segue a favor do vento
e desarma o braço

em suor soletro linha a linha o texto
desde a data ao alto corre um rio de sons
e a assinatura tornada granito
pesa-me nos pulsos com um peso exacto

O Espírito

.

«O Vingador», de Ernst Barlach.

Sunday, October 30, 2005

Responsabilidades

Quando, logo após as bombas que semearam o terror em
Nova Delhi, ouvi um jornalista americano levantar a hipótese
de que fosse mais uma acção a inscrever no palmarés da Al-
Qaeda, tive logo algumas dúvidas. A organização de Bin-Laden
parece-me muito mais empenhada em excitar e manter vivo
o ódio do Mundo Islâmico contra o Ocidente, que considera
ateu e apoiante de Israel, do que em concentrar-se na aversão
religiosa contra os outros credos do antigo Império Britânico
da Índia, a qual dá por suficientemente ancorada e oleada,
o que a dispensa de intervir.
A reacção das autoridades parece-me um pouco errática e quase
tão às cegas como a acção das bombas em locais públicos contra
alvos indeterminados. Dizem que só dois grupos, o Lashkar-e-Toiba
e o Jaish-e-Mohammed têm capacidade para cometimentos deste
jaez. Como é a primeira vez que atento em tais nomes não me posso
pronunciar. Mas a prisão de mais de duzentas pessoas, sem pistas
seguras, parece-me um método de massificação das detenções
que espera beneficiar do golpe de sorte que lhe permita dar no vinte.
E fico com a consciência um pouco aliviada, por, tendo publicado
este post, me livrar da contundente, embora amiga, crítica do FG
Santos, paralela à que genericamente dirigiu a todos os que se
preocupavam com as catástrofes naturais no Ocidente e ignoravam
as do Outro Lado do Mundo. Não há bombas e bombas. São todas
más.

Metamorfose

.


A Miss Pearls teve a bondade, no seguimento do que o Eurico e o Luís escreveram, de lembrar as implicações que «LOLITA» podia despertar no que a subentendidos pedófilos concerne. O que me lembrou que seria interessante salientar a transformação de Sue Lyon, Actriz colada para sempre àquele papel, na jovem fixação de um extraordinário James Mason. Ei-la, aqui, na sua própria pele, ouvindo as instruções de Kubrick, bem como o resultado delas.

Em Más Companhias

O Sr. Berlusconi, de quem gosto quase tão pouco como do
ex-presidente do meu clube Vale e Azevedo, para encontrar
uma figura de tendências comparáveis, vem dizer que se
tentou opor à intervenção no Iraque e que realizou um
último esforço para salvaguardar a paz, conjuntamente com
esse veterano pacifista que é o leader líbio Khadaffi. A
companhia diz tudo o que, aliás, já estava dito pela
inconstância do presidente do governo italiano. Lembrem-se,
é o mesmo que disse cobras e lagartos da proporcionalidade
eleitoral que, agora, veio defender e reimplementar. Se ele
acreditasse que tal declaração lhe poderia trazer votos,
garantiria com toda a convicção, que é o Dalai-Lama.

Contrariando tudo o que é lei, do Brasil como do bom senso,
o Presidente Lula terá recebido financiamentos de Fidel
Castro, descoberta que o terá deixado notoriamente vermelho,
se não de vergonha, ao menos pela camaradagem que essa
ligação perigosa revela.

Em ambos os casos: Diz-me com quem andas...

As coisas que me Acontecem

Por esta é que não esperava. Ser obscenamente excluído
do conceito de "pessoa" e de "gente". Então, segundo a
Esposa, o candidato presidencial do Eng.º Sócrates não
tem o desplante de andar por aí a afirmar que «todas as
pessoas votaram nele, uma vez na vida» e que «toda a gente
votou contra ele alguma vez»?

Zero em Chama

.

No fim de contas não consigo resistir a comentar um aspecto lateral da "bola" de ontem, cuja concretização dedico ao Nelson, ao Fernando Carvalho, ao Zé Galvão e a todos os demais - mas não demasiados - Leitores Portistas. Com a chuvada que caiu, como queriam que tivesse ficado o Dragão? Sem possibilidade de acender um fósforo! E não estranhem a cor, pois parece que há um equipamento alternativo que não anda longe...

Porque...

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Porque ontem se falou, cá no blogue, de fronteiras. Porque se mencionou o Tirol. Porque se aludiu a desejos que incidem sobre exemplares juvenis da espécie, no limiar da pedofilia. Porque prolonga o espírito do quadro que tanto agradou ao Nelson Buíça. Porque a fotografia me foi trazida pelo Alce, das férias dele. Porque hoje é Domingo. Arre, apetece dizer como o Outro: porque sim!

Contrapeso

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«A Natureza da Mente», de Alex Grey.

Leitura Matinal -164

Ao chegar a hora do balanço é bom de ver o que
foi o sucesso de uma vida continuadamente prolongada,
por muitos falhanços que possa ter tido. E o segredo,
sendo de polichinelo, continua a ser absolutamente
estanque para alguns: deixar-se guiar, alternadamente
que seja, por esse estranho par, composto pelo grande
responsável do impulso e do sentimento, bem como por
essoutra, analítica e moderadora, que permite a visão
límpida do campo e da acção. Entre a labareda e o gelo
se consegue o ponto de temperatura ideal. Mas que seria
de nós sem um desses guias? Qualquer coisa que não um
ser humano, como corre o risco de ser aquele que tenta
ignorar que esses opostos vivem de se complementar e amar,
não de se fundir, perdendo-se - esse perigo supremo que pode
transformar a salvação à beira do precipício na irrevogável
queda nele.
De C. Day Lewis:

HEART AND MIND

Said Heart to Mind at the close of the day,
I was older than you, yet I led you astray
Fancying I knew each twist and turn of our way,
Said Heart to Mind.
The blind would still have leading the blind
Whichever of us had held the sway,
Answered the pensive Mind.

I was younger than you, the Mind went on,
Yet you carried me through the fire of noon
And the chilling shades: of all I encountered, none
Was stronger than you.
Said Heart, I could feed upon dust or rue,
But you, the daintiest eater, have shown
What a rational diet can do.

So queer a partnership never was sealed -
A sceptic hungry for truth revealed,
A fool to his rule-of-thumb vision unreconciled
From the very start.
No wonder we almost pulled apart,
Envious each of his comrade´s field,
Pursued the plaintive Heart.

No marriage is proof against travail or bliss,
Spoke Mind. How uniting can be the abyss,
How chafing the bond between all earth´s denizens - this
Is what marriages prove.
And this we have learnt from our seasoned love -
When heart and mind agree, they kiss
Over an opening grave.

Queixa

.

«O Coração Dolorido», de Arthur Hughes.

Confissão

.

Ao Leitor Amigo que pense solidarizar-se com este benfiquista espoliado na Figueira da Foz por um escandaloso golo da Naval, num fora-de-jogo não assinalado, devo esclarecer que não comentei ontem a primeira parte da jornada da «Liga Beta...», apenas pelo facto de, em lugar de futebol, se terem disputado partidas do polo aquático, modalidade muito digna que não me sinto habilitado a comentar.

Saturday, October 29, 2005

Verbete

político profissional - beneficiário de uma reforma. ERRADO

político profissional - expressão que designa todo aquele
que, havendo exercido funções governativas ou sido eleito para
cargos nacionais, ou locais, ao indicar ter uma experiência laboral
diferente, durante lapso de tempo significativo, recorre a uma
ficção. CERTO

Assim se fala em bom português.

As Aparências Iludem

Se, internamente, «em política o que parece é», no campo
das Relações Internacionais, deve retirar-se a conclusão
inversa de que «o que parece, muitas vezes, não é». Quem
esteja confiadíssimo em que a angélica disposição do Presidente
sírio, Bashar Assad, colaborar com a ONU no total esclarecimento
da participação do seu País no assassinato dum velho adversário,
Hariri, é uma metamorfose digna de um Coronel Kadhaffi, deve
conter o seu entusiasmo. É que o Líbano é uma nação singular
e, ou muito me engano, ou está ao lume uma redistribuição de
alianças. Saad, o filho do morto, veio opor-se, há três dias, à
imposição de sanções a Damasco, o que pode bem querer dizer
que é a nova aposta do Grande Vizinho. Que os novos amigos
possam ter sido quem lhe deu cabo da família, nada significa,
como provam as biografias dos Jumblat e de Amin Gemayel, o
qual, como presidente, em várias ocasiões, alinhou com os
mandantes da bomba que eliminou o irmão, Bachir.

Uma Ressurreição

.

Lembram-se dela? A Estrela de um dos piores filmes que toda a gente foi ver, o que hoje seria impossível, por quadrar, possivelmente, nos critérios de conteúdos de imagem interditos, ao exibir cenas de nudez e amor juvenis de fazer rejubilar qualquer pedófilo que se preze. Tão bonita como má actriz, acrescentou uns pozinhos à sua celebridade precoce, pela ligação a Agassi e por ter sofrido a bom sofrer de trauma pós-parto. Tudo parece ultrapassado, agora que, com alegria, anunciou uma segunda criança. E pode ser que o Milagre da Vida, lhe proporcione uma nova existência cinematográfica, conferindo-lhe jeito para representar:
BROOKE SHIELDS, a de «Lagoa Azul», justamente.

O Carrasco em Acção

Rolou uma cabeça, mas não a cabeça, no caso que domina
os mundos político e jurídico dos EUA, que, não obstante
as tentativas de mentalização em contrário, são um só. O
Chief of Staff do Vice- Presidente Cheney, Lewis "Scooter"
Libby, foi formalmente acusado por um grand jury dos
crimes de perjúrio, obstrução à justiça e prestação de
falsos testemunhos, no estranho pântano que constitui a
revelação do nome de uma agente da CIA, casada com
um ex-embaixador, crítico da política da Administração Bush
para o Iraque. Não caiu, contudo, aquele que os inimigos do
Presidente mais esperavam, o seu conselheiro predilecto,
Karl Rove, o Arquitecto, que diga-se , não é o Chefe de
Gabinete, ao contrário do que o «Público» de ontem noticiava.
Essa função é desempenhada pelo Sr. Andrew Card e tem, na
pátria do Tio Sam, contornos diferentes dos da nossa capelinha,
pois corresponde a uma verdadeira pasta ministerial, próxima
do que é o nosso Ministro da Presidência.
Embora, curiosamente, o agora demitido não tenha sido acusado
formalmente de ter dado a identidade, os crimes por que está
indiciado, muito semelhantes aos que, noutro campo, ameaçaram
de condenação Clinton, se provados em todas as alegadas infracções,
poderiam trazer-lhe qualquer coisa como 30 anos de prisão. Nada,
evidentemente, que um perdão presidencial não resolva. O que
ninguém diz - e a mim me intriga - é por que razão, tendo o acusador
atribuído ao Sr. Libby a autoria da fuga, ele não foi acusado,
especificamente, dessa falta. É Possível que seja uma porta
entreaberta para acusar Rove, de co-autoria, ou, talvez, de
cumplicidade, dado que o Procurador Especial que tem dirigido o
processo deixou escancarada a janela para posteriores
desenvolvimentos, ao declarar que a investigação está longe de ter
terminado.
E quem é este senhor? Patrick Fitzgerald tem um nome feito no
Illinois, onde pôs a contas com a justiça vários dos políticos mais
importantes, Republicanos e Democratas, indiferentemente, fazendo
aquele Grande Estado, com uma classe política responsável por um
conjunto de ilegalidades reveladas acima da média, rimar com a fama
histórica do seu principal centro urbano: Chicago, a cidade dos
gangsters.
Há quem lhe augure um grande futuro político. Como disse, há pouco,
por aquelas bandas, política e justiça não são coisa diferente.

Mussolini X Hitler

.

Ninguém como o FG Santos para despertar debates interessantes. Ontem publicou um post que, a propósito de mais um aniversário da Marcha sobre Roma, relembrava a relutãncia em enfileirar ao lado de Hitler que, durante muitos anos, tinha caracterizado a política externa de Mussolini. O livrinho cuja capa aqui se reproduz contém 125 páginas de extractos de discursos e entrevistas, recolhidos e prefaciados por Philippe de Zara, em que o Estadista Italiano enfrenta o Fuhrer e as políticas dos alemães. No plano internacional a oposição italo-alemã foi prolongada, pela questão dos limites das fronteiras alemã e austríaca, bem como no respeitante ao tratamento da minoria de expressão germânica no Tirol italiano. Apesar de se ter visto quase como que empurrado para os braços do III Reich, pela indiferença dos aliados da Itália na guerra anterior quanto à segurança das fronteiras Norte italianas e pelas sanções impostas aquando da guerra na Etiópia - que a Alemanha furou -, Mussolini foi persistindo, assinando os acordos de Roma, em 1935, com a França; e só mudou, definitivamente, de campo quando, na iminência do Anshluss austríaco, britânicos e franceses, com cegueira criminosa, se recusaram a aceder ao que ele propunha: a reactivação de Locarno(1924-25),que visava garantir o statu quo fronteiriço emergente dos tratados que puseram fim à I Guerra Mundial.
Na Áustria, entretanto, os adeptos do Nacional-Socialismo, alfim triunfantes, com Seyss-Inquart, tinham-se sangrentamente enfrentado com as forças apoiadas por Mussolini, acabando no assassinato de Dollfuss e no derrube do seu sucessor.
Quanto à posição de Mussolini respeitante ao problema racial, ela estava bem longe das leis discriminatórias e persecutórias que, bastante mais tarde e por influência hitleriana, foram adoptadas. Não só as cúpulas Fascistas dos primeiros tempos integravam judeus em percentagem muito superior à presença deles na nação transalpina, como, em entrevista a Emil Ludwig, por exemplo, o Duce reafirma que «não existe raça pura», classificando esse conceito de ilusão e opinando que a "raça" de um indivíduo é a que ele escolhe defender. Quem tiver dificuldade em consultar a obra que, acima, sugiro, pode encontrar este diálogo reproduzido em «The Penguin Book of Interviews», Londres, 1993.
Para que conste; e que não se continue a repetir ideias erradas.

O Investimento de Si

.

De Dominik Skutzeczki, «A Prenda de Amor».

Leitura Matinal -163

A angústia de querer dar algo com verdadeiro significado, no
relacionamento entre duas pessoas, ocorre frequentemente,
na adolescência, mas não só. É a agrura de quem encara o
que sente como tão alto, que se torna impossível encontrar
uma oferta ao nível do que dela está por detrás.
Quando essa pequena crise é encaixada na ânsia de oferecer
uma coisa que se haja escrito e nada se encontra com dignidade
bastante, torna-se dupla a dor. Em clara retribuição de «Un Taxi
Mauve» que lhe fora dedicado por Michel Déon, Manuel Vinhas,
em epígrafe do seu livro «Profissão - Exilado» diz que «se fosse
um escritor», gostaria de dedicar aquela obra ao Autor Francês.
Se o que está subjacente é o Amor, a coisa complica-se. O
renitente mas entusiasta ofertante pode pensar que exprimir a
sua intenção valerá mais do que qualquer inalcançada
materialização dela. E talvez não esteja errado, dependendo do
outro. Mas esquece o mais cativante de tudo - o grau de conflito
que viveu, o qual, num momento raro, parece reunir o parceiro
no nível de importância que concede a si próprio, ou ainda num
maior.
Ou como uma das melhores concretizações da Beat Generation,
Denise Levertov, viu

OS DIREITOS

Eu quero oferecer-te
qualquer coisa que haja feito

algumas palavras sobre uma página - como
se para dizer: «Eis aqui algumas pérolas azuis»

ou: «Eis aqui uma folha vermelha e brilhante que encontrei

sobre o passeio (porque

achar é escolher, e a escolha
faz-se). Mas é difícil:

até agora nada achei além
do desejo de dar, de oferecer. Ou

reposições de velhas palavras? Vivas
e cruéis; outrossim insensatas.
.......................................................Toma

isto em troca, talvez - uma semi-
promessa: Se

eu alguma vez escrever
um poema de uma certa têmpera
.........................(voluntário, terno, evasivo,
.........................triste & libertino)

Oferecer-to-ei.

Tormento de Imaterialidade

.

«Uma Questão de Intenção», de Haze Diedrich.

Friday, October 28, 2005

Off-Side

Com o devido respeito, a Igreja Reformada da Suécia (luterana)
não entendeu coisa alguma do que se jogava. Decidiu
permitir que os seus Pastores dessem uma benção especial
aos "casais" homossexuais, que «não significa estender-lhes
o casamento». De uma penada desagradou a ambos os lados. Os
pares homo que reivindicam o matrimónio não querem um fraco
sucedâneo, pretendem ter também o que os outros têm. E dos
mais ferozes opositores dessa extensão, muitos haverá que
se irritarão por, de alguma forma, a Instituição Religiosa
reconhecer oficialmente uma equiparação que lhes repugna,
ainda que, no nome, mitigada. Desventuras das vias médias...

O Pormenor

As zoólogas Joan Silk e Sarah Brosnan efectuaram um estudo,
decerto criterioso e fundamentado, que concluiu que os
chimpanzés em cativeiro tinham atitudes egoístas, recusando
compartilhar comida, mesmo com os seus próximos, em
«circunstâncias nas quais os humanos costumam revelar
atitudes altruístas». Apesar do intuito tranquilizador das
conclusões, gostaria de me certifiar de um aspecto: as
circunstâncias similares referidas referem-se ao estudo
do comportamento de homens em cativeiro? É que, pelo
que me chega do interior das prisões, colaboração entre
os detidos, lá, só em projectos de fuga; e mesmo assim...
Do que não resta dúvida é doutra coisa: podem os exemplares
da nossa espécie portar-se com uma aparente generosidade
vedada aos outros primatas, embora em liberdade as posições
se invertam, segundo os estudiosos. Mas fazem, frequentemente,
uma coisa que nunca ocorreria aos chimpanzés - mais tarde, ou
mais cedo, acabam por apresentar a factura!

Por Zazie

.

Tinha prometido uma categoria especial para as repostas à «Mais Bela Mulher da Tela» dadas por Senhoras. Como a Única que se aventurou, identificando-se como Tal, foi a Zazie, aqui fica Audrey Hepburn, dando por Ela graças a Ambas, my Fair Ladies.

O Prémio dos Votantes

.


Quem não votou não pode protestar. Houve que ter em conta um pequeno lapso, o meu Querido Amigo Francisco Agostinho escolheu duas vezes, uma como anónimo, outra assinando, o que facilmente se detectou, pela diferença de dois minutos entre os dois comentários. O meu voto é: a) - melhor actriz de sempre - Barbara Stanwick; b) Mais bela Mulher da tela: como morena - Gene Tierney, como loura - Grace Kelly.
A afluência foi pequena em qualidade, mas alta pelo gosto das escolhas. Verificou-se que a beleza é coisa bem incerta, em 12 votantes nenhuma nomeada recebeu mais do que um voto. Para a categoria a), entretanto, duas terminaram ex aequo, recolhendo duas preferências. Com as felicitações aos Vencedores, aqui Vos deixo duas Senhoras da representação: BETTE DAVIS e LILLIAN GISH. Muito obrigado a todos.

O Lugar da Redenção

Um juiz de Los Angeles assinou a sentença de morte de
um chefe de gang, dado pelo tribunal como culpado de
crimes violentíssimos com ela puníveis. O Sr. Stanley
"Tookie" Wiliams queixa-se de ter sido vítima de «uma
justiça racista» e alega ter, na cadeia, mudado a sua
personalidade, havendo virado um apóstolo da não-violência,
que advogou em livros educativos, o que lhe valeu várias
proposituras para o Prémio Nobel da Paz. Não é para aqui
chamada a concordância ou não com a pena de morte, que é
a aplicável ao caso. O que interessa saber é se a sua
acção posterior é ou não redentora. Para um cristão decerto
que o será, se resultante de um arependimento sincero, mas
no outro Mundo. Neste, as penas não são impostas pelo que se
está fazendo, ou pelo que se poderá vir a realizar, mas
pelo que já se fez. E o tribunal achou que o condenado
praticou, de facto, crimes hediondos.
A Califórnia não é o Alabama. Se algum racismo há na
justiça criminal, é o que protege acusados afro-americanos,
com possibilidades quase ilimitadas de rejeição de jurados
a quem o arguido não seja simpático, como aconteceu com
O. J. Simpson e acontece sempre, embora em menor grau de
visibilidade, por nem todos poderem recorrer àquela equipa
de advogados.
Caíram pela base as duas linhas de argumentação para
inverter o sentido da sentença. Quanto ao Prémio Nobel,
nunca ouvi dizer que uma candidatura, ou mesmo a sua
atribuição, fossem causas de desculpação ou, sequer,
circunstâncias atenuantes. Pelo que não podemos deixar
de notar, sem cinismo, mas não ignorando a realidade, que
o tempo ainda passível de decorrer, entre pedidos de indulto
e de adiamentos, pode bem enformar um favoritismo acrescido,
se vier a ser proposto aquando da próxima deliberação da
comissão competente do Parlamento Norueguês...

Trevo de Quatro Folhas

Vasco Pulido Valente desmonta muito bem, hoje, no «Público»,
a lengalenga do candidato do Eng.º Sócrates a que os incautos
insistem em chamar discurso. Mas termina por atribuir a um
pretenso zeitgeist o infortúnio que se sonda e pressente na
actual reedição do disco.
Não há espírito do tempo novo. O que há é o demérito de
sempre, despido dos acidentes que o foram catapultando.
Em 1974-1976 havia comunistas perigosos, que levaram
os americanos e a classe média a concorrer no apoio ao
primeiro que se apresentasse, num partido, contra eles.
Hoje persistem dúvidas sobre se ainda sobrevivem
comunistas, mas inexistem totalmente quanto à ausência
de periculosidade.
Para opor ao caos intriguista que minou a vaga governação
do Dr. Balsemão, foram outra vez chamar o homem, porque
as outras facções constitucionalmente arqueadas estavam
no governo que se queria escorraçar. Deu no que deu, com
fome e sem pagamento de salários por tudo o que era canto
do País.
Pensava-se que o gume nu do sufrágio ia finalmente fingir
ter alguma qualidade quando, da Marinha Grande, surge
um tabefe reabilitante provindo de um "revolucionário
indignado" que no seu alvo, provavelmente, terá votado na
volta final, a segunda.
Tenhamos pois presente, como queria Cocteau, que «acredito
na sorte como a única maneira de justificar o sucesso das pessoas
de que não gosto»; o que nos faz concluir que o sujeito nasceu
com o dito voltado para a Lua. Mas até a cega deusa do acaso
se haveria de enjoar de tão imerecedor protegido; o que liberta
a Esquerda que nunca gostou dele e das fidelidades que foi
promovendo, nos dois aplicáveis sentidos da expressão, bem
como o Centro, que para ele se virou, sempre que não encontrou
outra parede a que se encostasse.
Eis como fica comprovado que o «espírito deste tempo» não é
mais, afinal, do que a ausência de corpos estranhos. E, sem eles,
surge um farrapo do que foi, mais rejeitado ainda do que o
porteiro desprovido de uniforme de «O Último dos Homens».
Já era tempo.

Fluidez

.

«Alegoria do Tempo. Eros e Cronos», de Johann Heinrich Schoenfeld.

Leitura Matinal -162

Que pedra jogar a seguir? O quotidiano versus as
seduções, com aprofundamentos e correspondências,
ontem tornados imperiosos, hoje longínquos, não é
a melhor via para manter a disponibilidade de flutuar
pelas culminâncias do sublime. E em que medida o
próximo movimento de cada um pode ainda permitir
um conforto pacificador, mas fatal para o voo de que
se alimentou a ilusão de perpetuidade? Longe de um
tempo mítico que reciprocamente se pensava reduzido
à união dos dois, sobressai a cisão omitida que estimula
a ressonância da fluidez de dias incompatíveis com o
regresso à época da fantasia.
Porque quase todos chegamos ao ponto em que voltamos
a sentir o tempo e a ressentirmo-nos de não sermos já o
que fomos, ou de a essa condição não tornarmos.
De José Alberto Oliveira,

EXERCÍCIOS DE CALIGRAFIA

1.
Mate em dois lances: olho fixamente,
ameaçando um desenlace escondido e
nunca encontro a solução. Quando me sinto
mais aflito, cuido que não tem.

2.
Manhã de Novembro e o desatino do sol
que nem corista em noite de estreia, eu decido
ir cortar o cabelo - da última vez disseste-me
que me ficava bem. Preciso de tão pouco para me sentir
histérico, guardar as mãos nos bolsos
e alcançar um sorriso de Madonna com bambino.
pobre de quem sobe as escadas
e tropeça na tua amabilidade como um golpe
de vento nas costas, fica rígido, desejando
que a fantasia não o assalte, que a verdade
não se magoe e de qualquer forma tenha o cabelo cortado.

3.
Que imprudência! - Essas fotografias onde todos
se compõem como se fizessem parte do desenho
do mundo e com traço sigiloso te contemplam,
edificando o futuro num silogismo
sem termo médio, crendo que o tempo é uma
sucessão de surpresas, programado como máquina
de lavar louça, entre duas frases
amarfanhadas, a caminho do caixote do lixo,
e o papel reservado nesse mesmo quadro.

4.
Tanta roupa lavada - e nem um par
de calças em que me sinta à vontade.
Agora tenho de beber para conseguir
dormir e Charlie Haden esforça-se nas curvas
de baixo, turtuosas e a perder de vista,
como se uma única recta
passasse por um único ponto do plano.
Saberás como é difícil conservar a própria
estima e como desprezávamos contratempos
- sentados no chão com o tabuleiro
de permeio, não entendi
as regras. Tenho vivido
de noite, lutado com subterfúgios
que me seria penoso que ouvisses
enumerar - a música encrespa a ilusão
de outro mundo, de um tempo reversível.

Mate?

.

«De Marcel Duchamp, «Retrato dos Jogadores de Xadrez».

Thursday, October 27, 2005

Um Grande Patriota

.

Bernardo Paulo Guedes da Silva
1929-2005
Requiescat in Pace Posted by Picasa

Absurdos

.

Há muito que pretendia homenagear o grande dramaturgo do Absurdo, Samuel Beckett. Esta fotografia é a ideal para o fazer, se combinada com o relatório que nos foi enviado pelo nosso Amigo e Agente Especial Rafael Castela Santos, acerca da censura a que este pobre blogue e Amigos de mais Qualidade fomos sujeitos. Tudo se passou no Aeroporto de Heathrow, o que me deixa a magicar sobre qual das minhas anteriores 1099 postas trazia a espinha que se atravessou na garganta do britânico censor, para que tivesse considerado «inaceitável» o conteúdo desta página. Caríssimo e amordaçante Leitor - que o não deixa de ser, mesmo quando pago para o efeito - se vier para as bandas de Lisboa, mande-me uma mensagem de e-mail, pois está convidado para jantar. Nunca pensei que alguém me ligasse tanta importância que me proibisse. Prometo não interrogar sobre critérios. Mas tenho curiosidade em conhecer a pessoa que me distinguiu dessa forma tão original. Sem ressentimentos.

A Debandada

Harriet Miers pediu ao Presidente Bush para que o seu nome
deixasse de ser considerado para a vaga no Supremo Tribunal
dos EUA e aquele, «relutantemente, aceitou». Porquê? Uma das
maiores virtudes ou dos defeitos de Bush tem sido a teimosia.
É posssível que a última exigência de vários senadores de
acesso a documentos sobre o trabalho da ex-candidata na Casa
Branca, em matérias como a legitimação jurídica da intervenção
no Iraque, ou o período de detenção dos prisioneiros de Guantanamo,
tenha tido o seu peso. Mas a explicação mais óbvia é que se tornou
evidente que a nomeação não tinha pés - leia-se apoios senatoriais
suficientes - para andar.
Não é para mim surpreendente a revolta da ala direita dos
Republicanos contra o seu teórico patrão, pois, como sabe quem
me tem lido, sempre lembrei que W não era um deles. Que a pobre
Senhora tenha sido triturada, apesar de pro life e pro business q. b.,
também não é relevante, apesar de estar por comprovar se os
"insurrectos" ganharão com a substituição. O que me parece crucial
é o timing escolhido. Muita daquela parte da classe política tem
reeleições aprazadas para o ano que vem; e como Bush anda por
impopularidades abissais, pensaram dever demarcar-se dele, com o
objectivo de ganhar uns pontecos. Alguns, como Mike DeWine, do
Ohio, não sendo particularmente conservadores, precisam de lutar
por um ultra-ideólogo daquela área, para não desguarnecerem o
flanco direito, já que essa franja do eleitorado deles desconfia a bom
desconfiar, pelo papel que desempenharam no acordo que evitou
a continuação das obstruções parlamentares Democratas.
Mas pode ser que se tramem. O Presidente, impopular hoje,
pode voltar a ser querido amanhã, apesar de, estando em 2º
mandato, não ter mais eleições próprias para ganhar. Estou,
no entanto, ansioso por ver o comportamento dele, quanto
à recolha de fundos para as campanhas dos que agora o foram
abandonando. Tenho cá um Espírito Santo de Orelha que me
diz já estarem a ser construídos cadafalsos. O inquilino da Casa
Branca não gosta que lhe maltratem os amigos
A seguir, nos próximos episódios.

100 Eleições

Estamos a resvalar para um hábito dos Media que tenta
compensar o ritmo moderado dos acontecimentos com
a publicação de sondagens sucessivas a propósito da
próxima eleição. É o jornalismo mais fácil do mundo.
Em vez de investigação profunda que dê reportagem
de vulto, ou de entrevista que não pode ocorrer sempre,
sob pena de acontecer como nos programas familiares
das manhãs televisivas, onde estão sempre a aparecer
convidados que ainda há pouco lá estiveram, vampiriza-se
uma sondagem. Além de ser uma boa estopa para intercalar
entre o anúncio do programa de uma candidatura e o da
outra, fornece aos leitores uma doce ilusão: a de que todos
os dias, ou todas as semanas, podem exprimir-se, embora,
evidentemente, os titulares dos cargos não mudem e o voto
que conta só tenha lugar em uma das eleições, aquela que não
é simulacro. Mas o valor do desabafo é inestimável para
manter os cidadãos em boa forma, no rebanho.
Chegou-se ao cúmulo de sondagens prospectivas sobre quem
nem anunciou, nem, provavelmente, anunciará intenção de
se candidatar, como o Dr. Portas. A menos que se queira
afastá-lo, publicando resultados desanimadores...
E ainda vamos ter disto mais três meses! Que digo eu, se
lhe tomam o gosto, vamos continuar nesta onda até às
próximas legislativas!

Eu Não Sou Ele!

.

Meus Caros FG Santos e Nelson:
A propósito do tom vivo dos comentários ao meu post «Vitalidade Nacional», por favor, não se zanguem, eu não sou o Detritus. Vá, precisamos do talento dos Dois contra inimigos comuns.

O Quadro Todo

Não percebo por que razão é notícia a declaração do
Presidente iraniano de que «Israel deverá ser apagado
do mapa». Que era essa a vontade de Teerão e de muito
mais gente no mundo islâmico é coisa tão velha que
tresanda a mofo. Só ainda não aconteceu porque não
obtiveram, salvo o Paquistão que precisa para outro
objectivo, mais próximo, premente e permanente, um
apagador. Se os deixarem aceder a ele, garanto-vos
que terão muito mais notícias para dar, além desse
singelo facto. A menos que o não consigam fazer, o que
também se pode verificar, salvo se decidirem prescindir
do vinho e da carne de porco, virando-se para Meca nas
orações prescritas. É que o quadro é grande e não é
só o mapa de Israel que lá está desenhado.

Lembrete

Só para recordar que é hoje o último dia em que se pode votar nas
duas questões colocadas no post de Sábado último, «Jogo na Net».
Não sejam preguiçosos.

Hoje?

.

«Nascer do Sol por Entre o Nevoeiro», de Fritz Hugh Lane. Para quando o Desembarque?

Leitura Matinal -161

.

O que fazer com o Passado? Conhecê-lo? Por certo.Venerá-lo? É o caminho menos longo para sabermos quem somos e esperarmos continuar a sê-lo. Mas nunca cair na recordação lassa que, invadida pela nostalgia, paralisa a reflexão.
Em época que papagueia a torto e, muito pouco, a direito a palavra "sebastianismo", interessa inquirir o que ele possa significar. Não parece que devamos acolher a acepção simplista duma espera que perdura por uma delegação da Providência Divina no fantasma Real, que não, ai(!), real. Também julgo devermos afastar sentidos mais sedutores, como o vagamente soreliano de mito mobilizador, porque apelar ao coração das massas é caminho perigoso, de incerto fim. E outro tanto no que toca à construção intelectualista de um carácter nacional baseado na saudade e na espera que, sem correspondência popular, é elocubração estéril e esterilizante.
O sentido útil só pode ser um: rememorarmo-nos como os herdeiros de um legado que, no que teve de luta pela Cruz e no que conservou de fidelidade ao desaparecido ou ao apagado, possa dar consistência e persistência a uma unidade nacional psicológica, conservadora da energia capaz de libertar, tal como em 1640 aconteceu.
Porque num dia de nevoeiro estamos nós. Será o dia?
De Alfredo Guisado:

O TÚMULO VAZIO

Recordar o Passado é asa morta
De inquieta ave que inda voa além,
É como quem ouviu bater à porta
Abre-a e repara que não está ninguém.

Todo o passado é um bater de aldrava.
E o rei que só viveu numa madalha
Evolou-se ao Sol-posto na batalha
Como o perfume duma rosa brava.

Sol numa ogiva. o túmulo vazio.
Entra um braço da Luz que assenta a mão
Sobre o sepulcro abandonado e frio.

E enquanto ao meu redor Alma esvoaça,
Sinto que Alguém me toca o coração
Com a lança imortal da minha Raça!

Dupla Alusão

.

«O Túmulo Vazio», de Kyle Currie. Serve para O de Jerusalém e para o que adiante se verá.

Wednesday, October 26, 2005

Houve Taça

Aos meus Amigos do Belenenses,
estou mesmo calhado para recorrer a uma frase
querida de Miss Pearls: «não sei o que lhes diga!».

Divina Compreensão!

.

Jacqueline Bisset, aqui no seu apogeu, cuja beleza merecia melhores filmes do que aqueles que teve, posta perante a questão de nunca ter casado, declarou, há quatro dias, que, gostando muito dos homens, talvez os compreendesse demasiado bem. Acrescentou «eu compreendo que eles são predadores por natureza e tenho uma certa tendência a aceitá-lo. É tão simples quanto isto: quando o seu cão urina no tapete
não o põe fora de casa.»
Comentários? Só se for para reafirmar a estima pelo apostolado que, mais do que à compreensão universal, encaminha para a indulgência para com quem dela precisa, ou que a merece...

Vitalidade Nacional

Como está na ordem do dia, convém repetir, em
breve nota, uma ideia que noutro ponto já aflorei.
Independentemente do apuramento de culpas que se
venha a fazer, indiciando ou não o principal
conselheiro de Bush, o chefe de gabinete do Vice-
-Presidente, ou o seu próprio patrão, o simples
facto de a revelação do nome de uma agente-secreta
da CIA ser criminalizada e tão gravemente vista
nos EUA, é sinal seguro da pujança de uma civilização.
Se adicionarmos as iniciativas de estabelecer penas
pesadas para ofensas à bandeira, aqueles que tenham
da Nação uma concepção subsidiária da tese psicologista
de Renan, de confirmação permanente enquanto viva,
terão de dar a mão à palmatória, não é no nosso pobre
continente que se está com mais saúde.

Concretização

.

Também cá achei a lapidar sentença de Auguste Comte: «O parlamentarismo é um regime de intriga e de corrupção onde a tirania está em todo o lado e a responsabilidade em parte nenhuma».

Um Grande "Médico"

Conversar com o FG Santos, ainda que com mediação
internética, é sempre frutuoso. A leitura do nunca
por demais aconselhado post que, há dias, publicou
sobre Maurras trouxe-me à lembrança uma outra Figura,
que vou evocar brevemente.
Charles Benoist foi um politólogo de mérito, muito
moderno para a época em que escreveu, uma espécie de
Carl Schmitt menos jurídico e mais histórico e literário.
Serviu a Terceira República francesa, quer em gabinetes
de ministros, quer como parlamentar e, finalmente, como
diplomata. Para o fim da vida, a observação dos podres
do regime que conheceu por dentro impeliu-o a aproximar
as suas posições das de l´Accion Française, chegando até
a realizar conferências convergentes nos organismos do
movimento maurrasiano.
Da sua vasta obra saliento um livrinho que é dos melhores
diagnósticos que conheço sobre a paranóia partidocrática,
«Les Maladies de la Démocratie» em que, com erudição e
argúcia, identifica quatro maleitas principais de que padece
um país com a desgovernação assente num sistema de listas
eleitorais. São eles a parlamentarite, a eleitoralite, o
indiferentismo de escolha - expressão pela qual traduzo, com
insuficiência manifesta, «n´importequisme» e a «comitardite»,
o poder dos "comitês eleitorais" sobre os eleitos, que, hoje
e por cá, corresponderia ao que constatamos na acção dos
directórios partidários.
No primeiro caso estigmatiza a passagem da representação local
e, sobretudo profissional para a partidária, de uma assembleia
nacional, através da experiência histórica francesa, bem como
o epidémico alargamento dos campos de intervenção da
deliberação parlamentar.
Na segunda doença foca a subversão do papel de escolha a que
uma eleição, quando muito, se deveria cingir, para passar a
ser um cheque em branco preenchido a "representantes" que
nada representam, continuando a convocar a História, chegando a
lamentar que a Restauração de 1814 haja sido somente dinástica
e se tivesse rendido a um expediente cartista; como vê
progressivas explosões numéricas do eleitorado e da legislação,
com um crescimento proporcional do aumento legislativo e da falta
de qualidade dos legisladores. Igualmente realça a demagogia, feita
base de todo o sistema, frisando que, ao contrário do que criam os
Antigos, ela não constitui uma preversão da Democracia, mas é,
antes, base essencial dela, a par das mistificações gangrenantes da
soberania popular e da igualdade.
No terceiro ponto ataca a ausência de critério e de habilitações
dos parlamentares, seja na apresentação ao sufrágio da populaça
que «preferiu Barrabás a Jesus», seja, pior ainda, na arbitrária
distribuição pelas comissões, com consequência directa numa
infecciosa fungibilidade na provisão dos ministérios por
politiqueiros profissionais sem especialização, substituída
pelos favores e cumplicidades da camaradagem parlamentar.
Por fim, disseca o poder que os "comitês eleitorais" tinham naquele
sistema francês, na selecção dos eleitos e na influência sobre
a sua acção posterior, eliminando qualquer veleidade de
independência. Em apêndice deslinda o mecanismo da caça ao voto.
Tudo isto não nos parece estranhamente familiar?

O Verdadeiro Artista

Que o candidato presidencial do Engenheiro Sócrates, o
mesmo que foi responsável pela impiedosa política
financeira para acelerar a entrada na CEE, ignorando
as urgências e as consequências de uma quantidade
inaudita de salários em atraso, venha agora dar lições
sobre a necessidade de a modernização económica ter
em conta a repartição equitativa dos sacrifícios, não
espanta, a desfaçatez do indivíduo é conhecida e as
palavras dele nada custam, ou valem.
Já poderá parecer mais estranho que fale em «messianismos
revanchistas» a propósito dos outros, quando a desforra que
a audiência terá mais presente é a do resultado das Autárquicas
e a espera pelo iluminado que o Primeiro-Ministro impôs às
suas hostes poderia adequar ao orador de ontem o conceito de
Messias. Mas tem razão em ignorar essa possibilidade. Nem o
bolso do Secretário-Geral do PS é o Céu, nem daqueles lados
pode esperar-se qualquer redenção. Muito pelo contrário - é, das
várias formas de o País se perder, a mais rápida e traumatizante.

A Vingança

.

ou uma diferente concepção da Vida, como Paul Delvaux viu, na sua versão de «Pigmalião».

Leitura Matinal -160

.

Eterna ambiguidade do conceito de viver. Para uns, agir sentir, gozar. Para os outros, durar, perdurar. Alfred de Vigny escreveu algures que «os Académicos - os imortais - eram aqueles que morriam duas vezes: a primeira, quando o coração parava; a segunda, quando os esqueciam.».
Assim a Arte e, especialmente a Escultura. Pigmalião achou que à perfeição da sua obra faltava apenas uma qualidade maior, a Vida, a animação. Mas quantos não procuram um prolongamento vital na imortalização de uma representação esculpida? E, ironia ou corroboração do seu labor, não há escultor que, um dia, não pare de respirar. Todavia, a muitos acontece virem, por sua vez, a ser imortalizados na pedra.
Este conflito entre a intensidade e a duração é, evidentemente, simples aproximação à Serenidade Imperecível que coexiste com a Presença Paroxística na Vida Eterna. Mas, cá pela Terra é o que temos.
Da mesma forma, o trabalho do poeta, tornando tangíveis as suas concepções, ao imortalizá-las com a dignidade de uma escultura, usando para tanto o cinzel deslumbrante da poesia e semeando atrás de si as palavras plasticamente endurecidas e prorrogadas, como bem viu Jaime Cortesão em

AS ESTÁTUAS

Meunier ou Rodin... ´Sculpir, que belo!
Roubar o duro mármore às montanhas
E zás... à voz febril do camartelo
Brota-lhe a vida eterna das entranhas!...

Também um verbo escultural anelo;
Quero às ideias dar, as mais estranhas,
Aquele estilo bárbaro e singelo
E transformar em Deuses, brutas penhas.

Poeta, adoro as sóbrias esculturas;
Se encarno o pensamento em forma viva,
Talho as palavras como pedras duras;

Quebro, amacio, alteio, ali rebato-as,
Até lhes dar uma nudez altiva
- Que os grandes versos são como as estátuas.


A obra à direita é «Um Ovo de Palavras», de Kaminski.

Viver

.

«Pigmalião e Galateia», de Louis Gauffier.

Tuesday, October 25, 2005

Entregues à Bicharada

Sim, é o título que me ocorre para descrever a situação
europeia dos últimos oito anos. Não que importe grande
coisa, mas a insistência de Herr Schroeder em participar
no próximo Conselho Europeu, relegando a sua vencedora
e designada substituta para as poltronas em frente da T.V.,
demonstra bem a falta de qualidade da peça. Não foi assim
que com ele procederam, Kohl, apesar da brutalidade de que
era acusado, teve a gentileza de lhe ceder a representação
alemã, em circunstâncias similares, apesar de ele ainda não
haver, então, sido empossado. Mas que esperar de um mau
perdedor que insiste em tratar, deselegantemente, por «aquela
mulher» a sua vencedora? Está bom para o seu Amigo Chirac, o
qual parece, finalmente, ver chegar a hora de ser, também,
arredado da ribalta. Só que com os mil fõlegos que tão mau
político tem revelado, não é de fiar.
Ainda sobre o cessante chanceler: a última esperança que
alimentava de regressar, um desentendimento imediato nos
parceiros da grande coligação, quanto ao programa de governo,
parece não se verificar, chegaram a acordo nos cortes orçamentais.
De que lhe valeu pois o escorropichar do cargo? Somente a duvidosa
paga de se meter num recanto da história como o vencido cujo verniz
acabou por estalar.

Que Não Seja Por isso!

.

À falta de melhor, o gossip de Hollywood não tem parado, nos últimos dias, de se interrogar sobre a identidade do misterioso acompanhante de Meg Ryan, quando foram avistados, de noite, num parque de estacionamento, com dois cães. Nenhuma insinuação de ménage a quatre com pitadas de zoofilia. Apenas bisbilhotice. Pronto, Meg, por mim podes revelar. Não quero que sejas mais incomodada para me não seres desagradável!

Descoberta Temível

Não quereria ser acusado de contribuir para embaciar
o brilho de uma descoberta científica importante. O
certo é que as conclusões reveladas por investigadores
da Universidade de Stanford que identificam uma mutação
de um gene como causa hereditária da esquizofrenia me
deixa muito apreensivo. Não pelo facto em si, mas pelos
comportamentos que poderá originar. Aqueles a quem for
detectada a característica enunciada correm bem o risco
de serem obrigados a lutar contra as desconfianças alheias
que saltem de uma base probabilística para o temor de uma
latente anomalia psíquica. E, não menos grave, podem ver-se
coagidos a vencer o próprio receio de cair na doença e a perpétua
assombração que ele pode causar. Ou seja, um progresso da
ciência pode, pelas falhas de estabilidade humanas, vir
justamente a provocar dois dos sintomas da enfermidade que
visa combater - a dificuldade de percepção da realidade, no
primeiro caso; e as alucinações aterrorizadoras, no último.
E last, but not the least, a tentação de corrigir esse
defeito enraizado é bem capaz de gerar intervenções próximas
da pré-programação que transforme o homem noutra coisa
qualquer. Claro que parecemos estar ainda muito longe dessa
apavorante perspectiva. Mas quem pode garantir que não será o
primeiro passo para um Mundo Novo de autómatos, bem pouco
admirável?

O Homem Mais Poderoso do Mundo

Desprovido de conhecimentos técnicos que me encorajem a
avaliar, com profundidade, o significado da nomeação pelo
Presidente Bush de Ben Bernanke para Presidente da
«Federal Reserve», posso ensaiar algumas observações sobre
o significado político da decisão, nacional e internacionalmente.
Não era fácil substituir Alan Greenspan, que, ainda activo, já
ganhou contornos míticos, sendo-lhe creditada a pujança
económica dos anos Clinton, em que os Secretários do Tesouro
se sucederam sem deixar marca, bem como da recuperação
célere dos fogachos de recessão dos primeiros tempos da
Asministração Bush II, cujo primeiro responsável governamental
na área economica e financeira, exceptuando o comércio, O´Neill,
deixou rasto muito pouco impressivo.
O que há de comum entre a escolha de Miers para o Supremo e
a presente opção para a Fed é serem ambos membros da equipa
de conselheiros da Casa Branca. No que diferem é que a candidata
a Justice era conhecida, sobretudo, por isso, enquanto que Bernanke
é um respeitadíssimo ex-professor de Princeton, com vasta obra
publicada e experiência anterior como um dos governadores do
banco central. Como não há aspectos fracturantes tão evidentes
envolvidos nas atribuições e competências do cargo para que fica
a aguardar confirmação, é bem possível que as aparentemente
inatacáveis credenciais cheguem.
Para a pobre Europa é que o caso parece mais bicudo. O nomeado
é um fervoroso adversário da inflação, que, supõe-se, não hesitará
em, sendo necessário, subir taxas de juro para a combater. O que
só com muita dificuldade o marasmo da economia europeia poderá
aguentar, uma vez que, sendo obrigada a acompanhar esse aumento
eventual, para evitar as transferências de capitais, deixará o arranque
decisivo do crescimento algo ameaçado.
Esta nomeação não diz, excusivamente, respeito aos EUA. É decisiva
para todo o hemisfério ocidental e, talvez, para o Mundo inteiro.

Sem...

.

«E a Falta Daquilo», de John Monteith.

Leitura Matinal -159

Quando a deformação das características próprias deixa
de ter origem numa preocupação altruísta de humildade,
ou num reflexo de defesa prevendo juízos alheios e pessoais
descontentamentos, acontece muita vez que, martelada
repetidamente, produza um obcecado pela desistência, em
patológica contenção lamentosa que entreabre para vindouros
idealizados o preenchimento compensatório da insuficiência
anímica que, artificialmente, se criou.
É um comodismo que se verifica, seja nas vidas menos seguidas,
como fonte do deixar andar que só o laconismo atenua, ou, nos
escritos, em proclamações dum pessimismo de reclame que, por
muito coincidente que possa ser com os sentimentos autênticos,
joga necessariamente com estados de espírito do leitor que se
sinta partícipe desse encolher de ombros prestigiado por uma
infelicidade de base, ou por ele tranquilizado.
Têmo-lo presente nos versos de Silva Tavares:

OUTRO VIRÁ!

Barco sem rumo, bússula sem norte,
desço ao fundo de mim, comigo a sós,
e através do silêncio quase - morte
soa-me estranha a própria voz.

No espelho do que fui, busco entender
o que me tenta mas que não desejo.
Que frio medo é este de me ver
melhor do que me vejo?

Barco sem rumo, bússula sem norte,
navego àquem de mim - não me transponho.
Seja quem for, outro virá que aporte
à ilha do meu sonho!

Outro virá de esperança a alma cheia
refulgente de graças e visões,
dar sentido e clareza à densa teia
das minhas obsessões.

Outro virá, seja quem for, amado!
E, nas brumas do ser límpido e forte,
vingará meu presente sem passado
- barco sem rumo, bússula sem norte.

Visão Alterada

.

«Auto-retrato ao Espelho», de Pierre Bonnard.

Monday, October 24, 2005

O Tempo Errado

.


A formosa Daniella Cicarelli deve pensar que talvez tenha havido melhores tempos para viver. Na Grécia Antiga a cortesã Frineia, acusada de impiedade, foi defendida pelo orador Hipereides, o qual preferiu às arengas que conseguisse produzir um argumento incontestável: desnudou-a diante dos julgadores, que, imediatamente, a absolveram, maravilhados com tanta beleza.
A beldade brasileira, tendo afirmado que estava habituada a roubar ao jogo, pelo que aparentava ter «nascido em Brasília» viu o conjunto dos rancorosos políticos com assento na Câmara Legislativa acusar a directíssima indirecta, aprovando uma moção de repúdio contra a jovem, de nada lhe tendo servido o hábito, amplamente documentado, de tirar a roupa em público.
O quadro reproduzido é «Frineia Perante o Areópago», de Jean-Léon Gerôme.

Muito Traiçoeira

...é a língua portuguesa. Veio hoje a lume que uma associação,
tendo em mente a facilidade de recepção de termos adaptados
do inglês presente na forma da lusa língua falada pelos
nossos Irmãos Brasileiros, apresentou um projecto de disciplina
no campo da terminologia da informação. E nos exemplos dados
um há que me angustia: o verbo "scanear", querendo dizer "copiar
digitalmente um documento". Já viram a semelhança fonética com
um vocábulo de calão e as confusões que ela pode levantar? O
director que ordena ao subordinado «trate-me de scanear esse
relatório a tempo da reunião de amanhã»? Bem sei que qualquer
lapso de pronúncia ou auditivo levaria muito boa gente a cumprir
a determinação superior com um prazer inusitado...

De Sempre

.

Para ilustrar o post anterior, nada melhor do que esta gravura de Hogarth, (1747).

A Excepção

Sendo firmemente contra legalizar à campeão imigrantes
ilegais, abro uma excepção no caso das prostitutas, por
um argumento que, parecendo formal, é substancial: elas
não poderiam ter tentado obter um visto de trabalho para
uma profissão que não era reconhecida. Acresce que a solução
se repercutiria numa medida que, há muito, advogo: oficializar
o reconhecimento da prostituição, como já ocorria, contra
pressões dos sectores mais púdicos, durante grande parte do
consulado de Salazar. Não que nutra a ilusão de que, à
semelhança do que acontece na Holanda ou na Alemanha, o
Estado vá arrecadar milhões em impostos. Isso é desconhecer
que a mentalidade latina de fuga - que certamente contaminará
as imigradas - é diferente da germânica, de observância. Os
entrevistados que hoje o defendem, no «Correio da Manhã»,
correm o risco de desilusão paralela à do Imperador romano que,
havendo sonhado armar legiões e reunir armadas com as receitas
fiscais provindas das meretrizes, se viu obrigado a cingir-se
à construção de latrinas públicas, disfarçando com «o nojo
que a origem do dinheiro lhe despertava»... Sou favorável
à alteração legal, em virtude de um problema seríssimo, que
é o do controle sanitário.
E o que me faz espécie é o conjunto das declarações do João
Luís César das Neves sobre o tema. Faz equivaler a legalização
dessa subterrânea actividade a uma promoção da mesma e diz
temer que, com ela, Portugal se torne um prostíbulo da Europa.
E logo a seguir sai-se com um tremendo desabafo, dizendo que
não consegue exergar «ganhos para o País». Um economista de
mérito a contradizer-se dessa forma, ignorando o balúrdio
que representa a expansão desse ramo da indústria turística!
Se tivesse aduzido argumentos puramente morais, vá lá, não
concordando, poderia a posição merecer respeito. Agora, com
a economia não vai lá.

Sondagem de uma Vitória

...e não vitória de uma sondagem. Na Polónia
o candidato dado como perdedor na maioria dos
inquéritos de opinião, Lech Kaczynski ganhou; e
por uma margem mais dilatada do que se previa,
para qualquer dos lados. Já tinha falado, no Sábado,
da possibilidade de se repetir a discrepância entre
previsões e votação, o que, tendo já acontecido nas
"legislativas", ganhou agora expressividade maior.
Penso é que se não deve dar demasiada atenção à
tentativa de atribuir o facto às acusações que, na
campanha, foram feitas ao vencido, Tusk, de ter a
sua Família colaborado com o ocupante alemão, durante
a Segunda Guerra Mundial. Esses "argumentos" foram
certamente contrabalançados pelas exagerações que
se fizeram em redor da dimensão da "limpeza" dos
colaboradores do anterior regime ora em preparação.
Nem colhe a explicação de um certo estatismo tranquilizador,
da filosofia do novo Presidente. O sentimento de manutenção
das regalias é tão forte como o da modernização da economia,
que, à partida, poderia favorecer o seu adversário.
A explicação, quanto a mim, é outra: há uma franja de eleitores
que prefere o estilo e os valores agora em alta, mas tem medo
de o assumir, por desagradarem à imprensa e aos bem-pensantes.
Desta maneira, diz que vota num e, no segredo da cabine, bota
no outro.
Uma condolência final ao FG Santos: contrariamente ao que os
seus adversários insinuaram, o Eleito já veio dizer que não
alterará um palmo à relação preferencial com o Amigo Americano.

Caminho Sem Meta

.

«Em Direcção a um Nada Sem Nome».

Leitura Matinal -158

Tem a desilusão dois irmãos menos conhecidos, porém
igualmente eficientes: o cansaço e a saturação. Os três,
operando articuladamente, ou a solo, criam para si a
prerrogativa de eliminar a vitalidade humana. Mas só
conseguem levar a água ao seu moinho quando a mudança
destruiu uma aplicação pouco recomendável de um todo
humano: a crença, alimentada sem crítica, na sublimidade
de lutas vãs, ou a viciação apartada das exigências espirituais
numa contraditória concepção, a dos prazeres automáticos.
Optar e fruir podem contribuir para o completo curso da vida,
desde que se não inferiorize o desempenho do interesse
reflexivo e inquiridor. Quando se dá essa morte, está prometida
a hipnótica atracção pelo nada que, impossível de pensar, é
facílimo de desejar.
Sempre experimentei a tentação de dar um conteúdo mais
complexo a este poema, substituindo, no segundo verso, "espora"
por "espera". Embora a perda seguinte mantivesse o tom da
obra, ter-se-ia aberto a passagem a um raio de luz salvador
para muitos que, dele precisando sem o notarem, quisessem agir
de acordo com a Sugestão incorporada.
De Charles Baudelaire, via Fernando Pinto do
Amaral,

O GOSTO DO NADA

Espírito inerte, a quem as lutas agradavam,
A Esperança, cuja espora te atiçava o ardor,
Já não te quer montar! Deita-te sem pudor,
Velho corcel, já trôpego a cada obstáculo.

Desiste, coração; dorme em paz como um bruto.

Para ti, velho malandro, ó espírito vencido!
Já não tem gosto o amor, assim como a batalha;
Adeus, tinir do cobre e suspiros da flauta!
Prazeres, não tenteis mais este peito sombrio!

Perdeu já o perfume a bela Primavera!

E engole-me o Tempo, minuto a minuto,
Tal como a neve imensa a um corpo enregelado;
Contemplo cá de cima o globo arredondado
Sem já nele procurar uma choça, um reduto.

Avalanche, não queres arrastar-me na queda?

Um Desfecho

.

«Void - The Gates of Nothingness».

Sunday, October 23, 2005

A Vida dos Vizinhos

.


A diferença de posturas: estava o brigão de Barcelos a cantar de galo, enquanto o leonino amigo erguia as mãos ao Céu e, com o seu fervor, conseguia um golito impensável, à beira do fim. Pobre Pessoal de Alvalade, com aqueles centrais. Foi posto a andar o único que via alguma coisa e, em troca, além de um "Tonel", a embriaguez levou a contratar centrocampistas, alas e pontas de lança, mas quanto ao meio da defesa, nicles. Enfim, eu também vi os dirigentes do meu clube acharem que com o Yannick ficavam guarda-redes em excesso na equipa...

O Valor de uma Morte

A possibilidade de que o suicídio do Ministro sírio
Kannan, ex-responsável máximo pela acção dos serviços
secretos de Damasco no Líbano se tenha ficado a
dever a alguma acção israelo-americana não foi, até
à data, defendida pelo governo de Assad ou pelo nosso
Fraternal Amigo FG Santos, pelo que constitui carta fora
do baralho.
E assim sendo, duas alternativas ganham credibilidade: ou
o seu governo lhe disse, após o interrogatório acerca da
eventual participação no assassinato de Rafic Hariri, que
o deixaria cair, ou exerceu, no caso, acção directa, para o
impedir de falar demais.
No vespeiro libanês é certo e sabido que não há anjos. Mas
a pressa com que o habilíssimo George W. Bush pegou na questão
diversifica o seu leque de escolha dos elementos do «Eixo do
Mal» contra os quais pode desencadear um ataque. Não venha
o Nelson dizer que, de momento, não há capacidade para tanto.
Para um bom e coerente bombardeamento chega e sobra,
além de que as tropas terrestres estão mesmo ao lado. E é
curioso que a questão seja despoletada quando fugas de
relatórios classificados confirmam o que há muito era dado
como adquirido: o facto de o território sírio estar a servir
de base a alguns - embora não a todos - os que se opõem á
desordem instituída no Iraque.

Exercícios Injustificados

O conhecimento da História não justifica, não pode
justificar tudo. Com certeza que legitima a investigação
sobre os factos e pode fundamentar o inquérito que incida
sobre as motivações dos agentes. O que está fora de causa
é dar cobertura a especulações recaindo sobre concepções
íntimas impossíveis de determinar.
A conveniência de relembrar este preceito é detonada por
uma controvérsia que, pela sua imaterialidade, não deveria
ter sido alvo do debate público. Pacheco Pereira e Miguel Urbano
Rodrigues envolveram-se numa polémica estéril acerca do para
eles magno tema da concepção que Cunhal faria de si. O Autor
do «Abrupto» defendeu ter o antigo leader comunista uma ideia
hagiográfica da sua própria pessoa, a qual traspareceria,
inclusivamente, na sua produção ficcional. Contrapôs o
ex-director de «O Diário» haver o ex-secretário-geral do seu
partido «sido um herói, mas nunca se ter visto como um santo».
A questão é duplamente deslocada. Primeiro, observamos dois
homens sem religião discorrendo sobre a Santidade, removedo-A
do seu contexto específico, ao ponto de a separarem da essencial
virtude da humildade.
Em segundo lugar, é evidente que qualquer caudilho político que
haja devotado uma vida à luta pelo triunfo de uma revolução, a
menos que seja desonesto, tem forçosamente de acreditar que a sua
experiência é um modelo para os seus seguidores, na justa
proporção do que penou. E se esse lutador escreve romances e
novelas, é perfeitamente natural que fale do que conhece, da dura
realidade que atravessou. É uma visão do mundo que pode até ter
sido reforçada, no caso concreto, pela consciência de que os
opositores internos funcionaram como Caetanos do Comunismo,
dirigindo-o sem detenças para a derrocada. O que nunca vi foi
Cunhal cair em jactâncias risíveis, como é apanágio das vaidades
de outros, mais fracos, falo mesmo de um dos seus biógrafos. Ao
ser interrogado sobre a tortura que teria sofrido, ouvi-o sempre
dizer «é verdade que fui submetido à tortura do sono e à
imobilidade forçada. Mas muitos camaradas houve que tiveram de
suportar tratos ainda piores».
Claro que, perante isto, não se pode querer que "um militante
com responsabilidades", para usar liguagem cara ao PCP, não
pense que este não é o caminho a seguir. No entanto, quando
reafirma a experiência de um grupo vasto, como base do retrato
que pinta, também por coerência estética e literária, por muito
que perpasse a certeza de traços identitários pessoais, faz tudo
menos recriar-se.
Os dois intelectuais que perderam o seu tempo e o dos outros
a discutir questão tão fútil, desvaneceram-se na vaidade das
suas posições sobre o tema. Um, na acossada mitificação de um
homem. O outro, na tentativa de lhe colar pequenas fraquezas
entendíveis e desejáveis pelos inferiores e de explicar a
Realidade por estados de alma pessoais e reflexos.
Maus caminhos para a historiografia.!

A Viagem Assassina

.

«Gloria Victis», de Marius-Jean-Antonin Mercié.

Leitura Matinal -157

Um contínuo fio condutor fundamentou a acção e a celebração
dela em civilizações diversas mas igualmente importantes para
a formação do Homem Ocidental, como são a Antiguidade Greco-
-Latina e o Cristianismo Guerreiro Medieval - a busca da glória.
Ao contrário de orientalidades várias, tendentes a encontrar a
felicidade e o estado vital superior na abstenção, mesmo quando
se valorizou uma aparente forma de passividade, na sujeição ao
martírio, era ainda outra Glória que coroava a energia fiel posta
no caminho para a Bem-Aventurança.
A negação da apoteose gloriosa veio, posteriormente, a ter duas
fontes: uma, desenganada, que entendia a sua perseguição como
embuste e ilusão, incapazes de melhorar o valor verdadeiro de cada
um; a outra, mais profunda e legítima, porque normalmente
pregada por quem a tinha realmente experimentado, que,
constatando a modificação introduzida na profundidade do
ser, bebe na mesma fonte que dessedenta o ávido de geral
reconhecimento, já que ambos os estados de espírito partem da
insatisfação com o actual estado do "eu", seja por aspirar a um
desabrochar aclamado do que se julga ser o merecimento verdadeiro,
seja pela constatação tardia da corrupção gerada na sua própria
autenticidade. O preço a pagar pela boleia alada que os braços da
Glória facultam é o do fatal adormecimento que preclude a
subsistência pessoal coerente.
O Poema de Malcolm Lowry, mudado em português por
Herberto Hélder

GLÓRIA

A glória é como uma terrível catástrofe
pior que a casa incendiada; enquanto
se abate a trave-mestra, o fragor
da destruição repercute-se cada vez mais depressa;
e tu contemplas tudo aquilo, inane
testemunha da danação.

Como uma bebedeira a glória devora
a casa da alma, revela que trabalhaste
para coisa pouca: para ela -
ah, queria que esse beijo traiçoeiro nunca tivesse
molhado a minha face: queria
fundir-me, só, para sempre, na obscuridade da noite.

Com Pompa

.

«Glória», de Thomas William Dewing.

Saturday, October 22, 2005

A Verdade Prevalece

.

Começou por não ser o jogo mais fácil do Mundo, mas este gentleman acabou por demonstrar quem era o boss. E o nosso lateral direito é miraculoso: com aqueles centros, até faz o Nuno Gomes passar por um bom ponta de lança!

Transportes

.

Sem título, de Dora Maar. Estranho mais estranho não há.

A Águia Esquecida

Não vos falo da Russa ou da Alemã, nem da Americana,
como da Benfiquista. Todas essas desejadas encarnações
da grandeza estão bem vivas, de boa saúde e bem presentes
na memória do mais distraído. Falo-vos da Águia Polaca. Na
pugna elaeitoral deste fim de semana os dois mais conhecidos
candidatos da Direita, Donald Tusk, um liberal e Lech
Kaczynski, o católico popular que preside à Câmara de
Varsóvia, disputam uma segunda volta estranha num País
pouco comum. Na Polónia, contrariamente ao restante Leste
Europeu, a colectivização nunca operou, uma vez que não
excedeu os 13%. Formalmente comunista, com fronteiras que
em nada ajudavam, manteve, por exemplo, a saudação militar
tradicional, com os três dedos corespondentes às Pessoas
da Santíssima trindade. E, após a queda do muro, a economia
foi reagindo bem, não forçando os seus naturais, como se deu
com os ucranianos e os romenos, a vagas de emigração. Os
ex-comunistas no poder até às últimas legislativas e ainda
detentores da presidência, portaram-se mais como alunos da
terceira via blairschroederesca, do que como adeptos de uma
social-democracia ortodoxa. E estão a ser corridos mais por
tristes compadrios e episódios de corrupção, do que por maus
resultados económicos.
A parte folclórica da questão reside em o leader do Partido
católico ser gémeo do candidato que ora apresenta. E tenho
quase a certeza de que o facto de ter apontado um economista
desconhecido para Primeiro-Ministro, abdicando de se propor
para o efeito, contra o que expressamente pretendiam as demais
formações, se terá ficado a dever à preocupação de tirar aos
opositores o argumento de correr o Poder o risco de se tornar
um negócio de família.
A questão importa sobretudo pelas posições nos aspectos sociais.
Kaczynski é um feroz adversário da extensão do casamento aos
homossexuais e há quem o suponha tentado a colocar restrições
ao aborto, embora ele negue ter programa de acção definido neste
último campo e a atmosfera não seja a tal favorável. Onde o seu
irmão Jaroslaw é o cérebro, ele é a voz, o tribuno arrebatador.
As sondagens têm, constantemente, dado o liberal com uma ligeira
vantagem. Mas faziam predições comparáveis nas legislativas e,
nas urnas, os resultados inverteram-se. Hoje há uma, porém, que
dá meio ponto percentual de avanço ao impetuoso herdeiro da
filosofia política de Walesa. Não se sabe para que lado pode a
propagandeada depuração dos restos de comunistas do funcionalismo
fazer cair o fiel da balança. Pelos valores, mais do que pelo
protagonista, já viram para onde cai o da minha simpatia.

O Lugar da Análise

...ou a análise do lugar dos políticos. Acabadinho de ouvir, no
«Com Sal e Pimenta», da «Rádio Renascença», o entendimento
expresso por Francisco Sarsfield Cabral, João Bénard da Costa
e, sobretudo, João Luís César das Neves, de que a condescendência
de Manuel Alegre, Louçã e Jerónimo, bem como, em tons algo
diversos, do porta-voz da candidatura inventada pelo Eng.º
Sócrates, em comentarem o iluminado anúncio do prof. Cavaco,
nos moldes televisivos em que o fizeram, equivalia a uma degradação
do papel dos políticos, rebaixados à função de analistas. Trata-se
de um problema real, apesar de eu crer que a ilação a tirar deve ser
outra. A motivação, quanto a mim, prende-se com a promoção
do comentador a uma posição de actor de pleno direito na cena
pública, a um interventor já não meramente marginal, dependente
das opções dos decisores. Este estatuto privilegiado, até porque
isento de pagar o pato que as medidas governativas implicam, teve
como precursores Marcelo, no «Exame» daTSF, tal como os iniciais
protagonistas do «Flashback». Mas se Rebelo de Sousa, Pacheco
Pereira e J. Magalhães eram vistos como políticos que ali faziam uma
perninha, o grande revolucionário, no que toca a essa mudança de
posição e de prestígio, foi Vasco Pulido Valente, pese embora haver
sido governante e, brevemente, deputado. Tudo o que é rádio e T.V.
delira com a possibilidade de encontrar um novo produto, tão vendável
como V.P.V.. Os competidores eleitorais não se importam de lhe fazer
as vezes, esperando que isso os faça ganhar uns pontitos. Salvo o Prof.
Cavaco e o seu rival apoiado pela direcção do P.S., que, vindos de outro
tempo, não precisam de se aggiornar.
Querem prova mais provada da verdade do que acabo de defender?
Estou para aqui a gastar-vos a paciência e o espaço do blogue a comentar
o que disseram... comentadores.

Exibicionismo Confesso

.

Não resisto a dar aos meus Queridos Leitores que mais se interessem pela arte e ciência da Heráldica, ou por raridades livrescas, bem como a Todos os Demais, a notícia da aquisição de uma peça fora do vulgar que fiz, ontem, num espantoso Alfarrabista de Lisboa. Falo de «L´Héraldique», de Emile Gevaert. Deus é Grande!

Devorante Incerteza

Terá o Caríssimo FG Santos sido um dos 800(!) Heróis que
desafiaram a intempéride, com o obectivo de verem o seu
Belenenses jogar com o Rio Ave, tendo sido despudoradamente
espoliados? Ainda por cima o maior martirizado foi Sousa, um
jogador cuja imprescindibilidade, o nosso Amigo já defendeu,
nesta casa. Vão visitá-lo de olhos bem abertos, pois, além de
um excelente post sobre Maurras e L´Avenir de l´Intelligence,
há novidades nas Referências de topo de página.

Inescapável

.

«A Inalienável Condição Humana», de Domen Lombergar.

Leitura Matinal -156

Bastas vezes se encara a condição humana como explicativa
dos limites e, até, das falhas correntes, das transigências
que, na generalidade da Espécie, prendem o Homem, sem
fuga possível, a este mundo que louvamos tanto quanto nos
insatisfaz.
Mas é igualmente próprio do ser pensante que somos prospectar
o que está para cima das fronteiras terrenas que julga conhecer.
Incapaz de conceber um Além sem as dimensões em que se move,
projecta-as como recurso que permite facilitar-lhe o alcance e com
elas se procura haver na fusão com o Divino. O que não deixa de ser
um entendimento mais fiel e profundo do que, por nascer de uma
aspiração transcendente e empregar os meios psíquicos e volitivos
mais a jeito, é, afinal a humana condição.
Ou como retratou Afonso Duarte:

HUMANA CONDIÇÃO

Um sonhar-me distante, um longe incrível
É agora o meu estado: Eu sonho o Espaço
Que se fixa no mundo ao invisível
Como se o mundo andasse por meu braço.

Existo além: Sou o animal terrível
De Jesus com o mundo-Deus na mão.
Sou para além do mundo concebível
onde morre e começa a criação.

Eu, homem, sondo e meço o Infinito;
Sou corpo e espírito, esse corpo oculto,
E é só na mão de Deus que ressuscito.

E chamam a isto humana condição...
Um nada, e tudo: - Vivo e me sepulto
Dentro e fora do próprio coração.

Omnipresente

.

«A Condição Humana», de Marian Dunn.
 
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