Leitura Matinal -163
A angústia de querer dar algo com verdadeiro significado, no
relacionamento entre duas pessoas, ocorre frequentemente,
na adolescência, mas não só. É a agrura de quem encara o
que sente como tão alto, que se torna impossível encontrar
uma oferta ao nível do que dela está por detrás.
Quando essa pequena crise é encaixada na ânsia de oferecer
uma coisa que se haja escrito e nada se encontra com dignidade
bastante, torna-se dupla a dor. Em clara retribuição de «Un Taxi
Mauve» que lhe fora dedicado por Michel Déon, Manuel Vinhas,
em epígrafe do seu livro «Profissão - Exilado» diz que «se fosse
um escritor», gostaria de dedicar aquela obra ao Autor Francês.
Se o que está subjacente é o Amor, a coisa complica-se. O
renitente mas entusiasta ofertante pode pensar que exprimir a
sua intenção valerá mais do que qualquer inalcançada
materialização dela. E talvez não esteja errado, dependendo do
outro. Mas esquece o mais cativante de tudo - o grau de conflito
que viveu, o qual, num momento raro, parece reunir o parceiro
no nível de importância que concede a si próprio, ou ainda num
maior.
Ou como uma das melhores concretizações da Beat Generation,
Denise Levertov, viu
OS DIREITOS
Eu quero oferecer-te
qualquer coisa que haja feito
algumas palavras sobre uma página - como
se para dizer: «Eis aqui algumas pérolas azuis»
ou: «Eis aqui uma folha vermelha e brilhante que encontrei
sobre o passeio (porque
achar é escolher, e a escolha
faz-se). Mas é difícil:
até agora nada achei além
do desejo de dar, de oferecer. Ou
reposições de velhas palavras? Vivas
e cruéis; outrossim insensatas.
.......................................................Toma
isto em troca, talvez - uma semi-
promessa: Se
eu alguma vez escrever
um poema de uma certa têmpera
.........................(voluntário, terno, evasivo,
.........................triste & libertino)
Oferecer-to-ei.
relacionamento entre duas pessoas, ocorre frequentemente,
na adolescência, mas não só. É a agrura de quem encara o
que sente como tão alto, que se torna impossível encontrar
uma oferta ao nível do que dela está por detrás.
Quando essa pequena crise é encaixada na ânsia de oferecer
uma coisa que se haja escrito e nada se encontra com dignidade
bastante, torna-se dupla a dor. Em clara retribuição de «Un Taxi
Mauve» que lhe fora dedicado por Michel Déon, Manuel Vinhas,
em epígrafe do seu livro «Profissão - Exilado» diz que «se fosse
um escritor», gostaria de dedicar aquela obra ao Autor Francês.
Se o que está subjacente é o Amor, a coisa complica-se. O
renitente mas entusiasta ofertante pode pensar que exprimir a
sua intenção valerá mais do que qualquer inalcançada
materialização dela. E talvez não esteja errado, dependendo do
outro. Mas esquece o mais cativante de tudo - o grau de conflito
que viveu, o qual, num momento raro, parece reunir o parceiro
no nível de importância que concede a si próprio, ou ainda num
maior.
Ou como uma das melhores concretizações da Beat Generation,
Denise Levertov, viu
OS DIREITOS
Eu quero oferecer-te
qualquer coisa que haja feito
algumas palavras sobre uma página - como
se para dizer: «Eis aqui algumas pérolas azuis»
ou: «Eis aqui uma folha vermelha e brilhante que encontrei
sobre o passeio (porque
achar é escolher, e a escolha
faz-se). Mas é difícil:
até agora nada achei além
do desejo de dar, de oferecer. Ou
reposições de velhas palavras? Vivas
e cruéis; outrossim insensatas.
.......................................................Toma
isto em troca, talvez - uma semi-
promessa: Se
eu alguma vez escrever
um poema de uma certa têmpera
.........................(voluntário, terno, evasivo,
.........................triste & libertino)
Oferecer-to-ei.
2 Comments:
At 10:38 AM, Anonymous said…
"A única coisa que me separa da árvore ou mesmo de um monte de terra, é a Angústia"
HÉRBERT, Anne
I
At 4:16 PM, Anonymous said…
"Encontrarmo-nos diante das coisas liberta o espírito. Encontrarmo-nos diante dos homens, de dependermos deles, avilta, e tal acontece, quer esta dependência tenha a forma da submissão, quer a da autoridade.
Porquê estes homens entre mim e a natureza?
Nunca ter de contar com um pensamento desconhecido... (porque, nesse caso, somos abandonados ao acaso).
Remédio: fora dos laços fraternos, tratar os homens como um espectáculo e nunca procurar a Amizade. Viver no meio dos homens como no vagão de Saint-Etienne a Puy...Sobretudo nunca permitir-se desejar a Amizade. Tudo se paga.Conta só contigo."
Simone Weil, in "A Gravidade e a Graça"
Innie
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