Sunday, December 31, 2006
Um voto igualmente sincero, mas em tom mais sério, pode ser achado onde se bebe um espumante excelente: na Taberna dos Inconformados.
Formalidade Fria?
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Espera-se vivamente que quem convidou Linda Vojtova para a Passagem de Ano não tenha feito duas asneiras em vez de uma. A dúvida incide sobre o apetrecho que ela aperta na mão, na foto de cima. Os optimistas dirão que se trata da carteira, outros temerão que seja aquele utensílio empregue na conservação da baixa temperatura das garrafas de Champagne. O que se não quer, aqui.
Já na fotografia de baixo, o convite dizia «preto e branco» e vejam como Ela observou a prescrição!
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Legenda de Ouro
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Saberão os Desportistas que o São Silvestre que hoje se comemora, Papa do tempo de Constantino, dá o nome a muita Maratona de fim d´ano. tempos havia em que eu me punha, transistor colado ao ouvido, à cata dos resultados que os nossos grandes fundistas de antanho obtinham nessas corridas. Mas para além de Patrono de provas de resistência, é-o também de velocidade, no sentido em que trouxe uma rapidez desusada à justiça, no lendário caso em que, ameaçado de tormentos por um funcionário imperial, lhe previu a morte, de facto ocorrida nessa mesma noite, através de um engasganço fatal e antes da ministração da tortura. Como foi Ele que recebeu no seio da Igreja o Imperador tomado de piedade de indefesos bebés votados ao sacrifício, paralelo muito actual nos tempos que correm, em que um Poder descristianizado investe contra aqueles que, concebidos sem terem sido tidos ou achados, não se podem defender. E, claro, com o célebre episódio aludido na imagem, em que amordaçou o Dragão que comia 300 pacatos humanos por dia. Claro que este não era o Nosso, o do DRAGOSCÓPIO, que se espera jamais ter a boca assim cerrada. Embora se faça votos para uma santa intervenção similar, no plano desportivo...
Precursores das Passas
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Consta que as primeiras celebrações do ano novo vinham da Babilónia, em que se pedia ao Deus Marduk boas colheitas para igual período a iniciar-se. No fim de contas nada muito diferente do que fazemos hoje, com os votos de prosperidades a incidirem sobre a conta bancária apenas como consequência da tercearização da Sociedade, tão ajudada pela União Europeia.
Nem sempre foi de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro que se comemorou a passagem e a renovada esperança. Foi Júlio César que colocou o primeiro dia do novo ano onde o conhecemos, sendo certo que com um período anual de 445 dias, o que não alimentava suficientemente a sede de festa das gentes.
Reveillon, aliás, era de natalícia extracção: tinha sido revitalizador nome que se dava ao repasto gordo que em muitas terras de França se seguia à Missa do Galo, antecedida de um manjar mais magricela. Tudo para compensar as horas de sono perdidas. Como Franceses e Italianos celebraram, durante medievos séculos, a mudança do ano no Domingo de Páscoa e no Natal, respectivamente, quando se laicizou a data fez-se acompanhar a transformação da comezaina correspondente, para não se perder tudo. É o processo de materialização que ainda atravessamos.
Um indício de espiritualização vinha do Mundo Celta, onde, na passagem convencionada de um ano ao outro, os druídas davam às Mulheres o visco, não apenas para que lhes não faltasse o alimento de agrícola origem, mas para que elas próprias fossem fecundas. Como se vê, faltam uns Panoramix(es) cá pelas nossas bandas. Daí nasceu também o hábito de pendurar uma grinalda na porta de entrada do lar, para afugentar a má sorte, substituída, ao modo Cristão, pelo Azevinho, graças à sensação de imortalidade que imprimem as suas folhas sempre verdes, coligadas com a semelhança das suas partes mais aguçadas com os Espinhos da Coroa de Jesus.
Um pormenor me deixa perplexo: por que razão se celebraria a transição em Inglaterra a 25 de Março, no Dia das Senhoras? Ao jeito de epigrama por considerar o Feminino incapaz de permanecer uno por muito tempo, ou como homenagem à Sua capacidade de renovação sucessiva?
Boa Ceia, divirtam-se a valer!
Consta que as primeiras celebrações do ano novo vinham da Babilónia, em que se pedia ao Deus Marduk boas colheitas para igual período a iniciar-se. No fim de contas nada muito diferente do que fazemos hoje, com os votos de prosperidades a incidirem sobre a conta bancária apenas como consequência da tercearização da Sociedade, tão ajudada pela União Europeia.
Nem sempre foi de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro que se comemorou a passagem e a renovada esperança. Foi Júlio César que colocou o primeiro dia do novo ano onde o conhecemos, sendo certo que com um período anual de 445 dias, o que não alimentava suficientemente a sede de festa das gentes.
Reveillon, aliás, era de natalícia extracção: tinha sido revitalizador nome que se dava ao repasto gordo que em muitas terras de França se seguia à Missa do Galo, antecedida de um manjar mais magricela. Tudo para compensar as horas de sono perdidas. Como Franceses e Italianos celebraram, durante medievos séculos, a mudança do ano no Domingo de Páscoa e no Natal, respectivamente, quando se laicizou a data fez-se acompanhar a transformação da comezaina correspondente, para não se perder tudo. É o processo de materialização que ainda atravessamos.
Um indício de espiritualização vinha do Mundo Celta, onde, na passagem convencionada de um ano ao outro, os druídas davam às Mulheres o visco, não apenas para que lhes não faltasse o alimento de agrícola origem, mas para que elas próprias fossem fecundas. Como se vê, faltam uns Panoramix(es) cá pelas nossas bandas. Daí nasceu também o hábito de pendurar uma grinalda na porta de entrada do lar, para afugentar a má sorte, substituída, ao modo Cristão, pelo Azevinho, graças à sensação de imortalidade que imprimem as suas folhas sempre verdes, coligadas com a semelhança das suas partes mais aguçadas com os Espinhos da Coroa de Jesus.
Um pormenor me deixa perplexo: por que razão se celebraria a transição em Inglaterra a 25 de Março, no Dia das Senhoras? Ao jeito de epigrama por considerar o Feminino incapaz de permanecer uno por muito tempo, ou como homenagem à Sua capacidade de renovação sucessiva?
Boa Ceia, divirtam-se a valer!
Pena, Muita Pena...
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Dizia, há tempos, José Pacheco Pereira que a inovação tecnológica que mais tinha mudado a nossa vida recente tinha ido o telemóvel. Não no meu caso, como se sabe, mesmo considerando os aparelhos dos outros, para os quais abundantemente ligo. Mas algo que tem execido uma infuência inegável é a câmara de fotografar ou filmar que muitas dessas engenhocas integram. A recente execução de Saddam Hussein é disso um exemplo: a televisão iraquiana, obedecendo ao governo, decidiu não emitir filmagens do momento da abertura do alçapão e do cumprimento da função da corda. Pois um qualquer dos presentes lá sacou da sua portátil central de comunicações para registar um souvenir do momento, furando as declarações de intentos mais púdicas. Assim como no caso dos abusos de Abu Grahib, em que os próprios autores das sevícias não resistiram a imortalizar os seus feitos. Os tempos são tais que o ideal da juventude, mesmo em países não-ocidentalizados, é triunfar como caçador de imagens de actos violentos, única alternativa considerada a par do sonho de se tornar um ídolo da bola.
Que 2007 dê melhor imagem e não melhores imagens.
Dizia, há tempos, José Pacheco Pereira que a inovação tecnológica que mais tinha mudado a nossa vida recente tinha ido o telemóvel. Não no meu caso, como se sabe, mesmo considerando os aparelhos dos outros, para os quais abundantemente ligo. Mas algo que tem execido uma infuência inegável é a câmara de fotografar ou filmar que muitas dessas engenhocas integram. A recente execução de Saddam Hussein é disso um exemplo: a televisão iraquiana, obedecendo ao governo, decidiu não emitir filmagens do momento da abertura do alçapão e do cumprimento da função da corda. Pois um qualquer dos presentes lá sacou da sua portátil central de comunicações para registar um souvenir do momento, furando as declarações de intentos mais púdicas. Assim como no caso dos abusos de Abu Grahib, em que os próprios autores das sevícias não resistiram a imortalizar os seus feitos. Os tempos são tais que o ideal da juventude, mesmo em países não-ocidentalizados, é triunfar como caçador de imagens de actos violentos, única alternativa considerada a par do sonho de se tornar um ídolo da bola.
Que 2007 dê melhor imagem e não melhores imagens.
Saturday, December 30, 2006
Pela Boca Morre o Peixe
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Este indivíduo era num dia um cabaz de esperanças no diálogo com os terroristas e na manutenção da vontade destes em mudar de vida. No seguinte fazia de vítima chocada e suspendia o objecto de esperanças da véspera, agarrando-se ao vácuo para não considerar definitiva a ruptura, mais uma inconsciência criminosa que raia a cumplicidade. Há transigências que, em quem tem a responsabilidade da condução de um País, são verdadeiras cumplicidades com os inimigos Dele. E optimismos desmentidos são uma forma de ter sangue de Compatriotas entre as mãos. Com o atentado da ETA que feriu vários Espanhóis e talvez venha a matar Um, Inocente, o adepto do entendimento com eles deve raspar a língua com escamas e tem uma bota dura de descalçar, apesar do nome.
A Miss
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Este fim de ano é tempo de balanço. Perguntava há dias o Sr. Oliveira da Figueira qual das Misanthropic Girls em todos estes meses aqui dadas era a Favorita do difusor das imagens delas. Bom, obedecendo ao desafio, com a fotografia de um concurso de beleza antigo e sem desprimor para todas as outras, nomeadamente a de hoje, tomo a liberdade de indicar o caminho a quem queira clicar aqui.
Este fim de ano é tempo de balanço. Perguntava há dias o Sr. Oliveira da Figueira qual das Misanthropic Girls em todos estes meses aqui dadas era a Favorita do difusor das imagens delas. Bom, obedecendo ao desafio, com a fotografia de um concurso de beleza antigo e sem desprimor para todas as outras, nomeadamente a de hoje, tomo a liberdade de indicar o caminho a quem queira clicar aqui.
Fada Má?
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Alguém tem coragem, mesmo o Arturiano mais empedernido, de manter que Morgane é uma fada má? Clara Morgane! E como dizia no outro dia a Marta, sim, os fins justificam os meios...
Aproveito a ausência do Caro JM para publicá-la com o adereço umbilical, caso contrário já estaria a caminhar para o pelourinho...
Os Gémeos Siameses
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São o Poder e o Saber mas a História separou-os. Na antiguidade temos, intimamente relacionados com a famosa Bibloteca de Alexandria, aqui numa especulativa imagem moderna facultada por Paul Joachim, dois Homens que personificaram vias inversas na caminhada para a Perfeição. O primeiro foi Demétrio de Falera, cuja efígie se reproduz ao lado, que não hesitou depois de ter governado Atenas a seu bel-prazer, em se tornar o superlativo bibliotecário do maior depósito de escritos da Antiguidade, até que a mordedura de uma serpente, cúmplice, desta feita, em vez de instigadora, da maldade humana, o fez caminhar do exílio para a morte.
Já o Imperador Dioceciano foi o responsável por uma destruição de parte do acervo daquele altar da Sabedoria. É costume falar apenas das outras três grandes destruições de livros, a da tomada da cidade no tempo de Júlo César, a Cristã ordenada por Teófilo e a final, dos Árabes de Omar. Mas este governante de Roma ordenou uma outra, especializada, a de todos os livros de magia e alquimia que lá se encontrassem. Justificou-a por recear que, se conseguissem fabricar ouro, os Egípcios usassem os recursos para levantar exércitos contra si. Mas é mais natural que este filho de um antigo escravo, tão lesto a eliminar enraizamentos quase sagrados, como o do governo do império a partir da Cidade Eterna, quisesse, pura e simplesmente, cortar rente as asas de um poderio concorrente, baseado numa sabedoria de alcance prático que não dominaria. No que viria a encarnar pioneiramente o que tanto se viu repetido mais tarde: o afastamento grosseiro dos políticos de um ideal de aperfeiçoamento espiritual que também vazia parte do fulcro das aspirações alquímicas.
Projectos e Realizações
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Penso nos sucessivos graus de condenação a que a produção feminina de si conduziu. Nem falo já das diatribes que tantos moralistas escreveram contra a maquilhagem, antes dirijo as minhas recordações para aquela lei do parlamento francês de 1770 dirigida em exclusivo ao Belo Sexo: «Qualquer que atrair aos laços do casamento um súbdito masculino de Sua Majestade, servindo-se de vermelhão ou de alvaiade, de perfumes ou de essências, de dentes e cabelos postiços, de algodão em rama, de espartilhos de ferro, de merinaques, sofrerá a pena correspondente à feiticeira, sendo tal casamento considerado nulo e de nenhum efeito». Isto numa época que recorreu aos cosméticos, com prejuízo da água, como nenhuma outra. Muitos pensarão que hoje os implantes mamários labiais, faciais e sei cá que mais ais, justificarão reacções penais semelhantes. Mas que dizer do baton como causa de dissolução do vínculo conjugal?
Era antiga a aspiração à veracidade pura na exposição do físico. Esse Resistente, Político, Sonhador e Santo que foi Thomas Moore já tinha escrito na «UTOPIA» que os corpos dos candidatos ao noivado deveriam, previamente, ser exibidos diante da parte interessada. Assim:
«In choosing their wives they use a method that would appear to us very absurd and ridiculous, but it is constantly observed among them, and is accounted perfectly consistent with wisdom. Before marriage some grave matron presents the bride, naked, whether she is a virgin or a widow, to the bridegroom, and after that some grave man presents the bridegroom, naked, to the bride». E não se pense que era dito de humorismo, numa fantasia que ele pouco levasse a sério. Quando um amigo da sua idade lhe pediu a mão de uma das filhas, levou-o ao quarto das raparigas, onde elas dormiam com as camisas de noite naturalmente puxadas para cima, em função dos movimentos durante o sono, afastou as cobertas e disse: «Escolha».
Para se ver como bem pouca coisa foi inventada na nossa época, que julga ter inventado tudo. E para equilibrar a desproporção do discurso daqueles que fazem depender dos paroxismos da sinceridade a pureza e êxito românticos da atracção...
Penso nos sucessivos graus de condenação a que a produção feminina de si conduziu. Nem falo já das diatribes que tantos moralistas escreveram contra a maquilhagem, antes dirijo as minhas recordações para aquela lei do parlamento francês de 1770 dirigida em exclusivo ao Belo Sexo: «Qualquer que atrair aos laços do casamento um súbdito masculino de Sua Majestade, servindo-se de vermelhão ou de alvaiade, de perfumes ou de essências, de dentes e cabelos postiços, de algodão em rama, de espartilhos de ferro, de merinaques, sofrerá a pena correspondente à feiticeira, sendo tal casamento considerado nulo e de nenhum efeito». Isto numa época que recorreu aos cosméticos, com prejuízo da água, como nenhuma outra. Muitos pensarão que hoje os implantes mamários labiais, faciais e sei cá que mais ais, justificarão reacções penais semelhantes. Mas que dizer do baton como causa de dissolução do vínculo conjugal?
Era antiga a aspiração à veracidade pura na exposição do físico. Esse Resistente, Político, Sonhador e Santo que foi Thomas Moore já tinha escrito na «UTOPIA» que os corpos dos candidatos ao noivado deveriam, previamente, ser exibidos diante da parte interessada. Assim:
«In choosing their wives they use a method that would appear to us very absurd and ridiculous, but it is constantly observed among them, and is accounted perfectly consistent with wisdom. Before marriage some grave matron presents the bride, naked, whether she is a virgin or a widow, to the bridegroom, and after that some grave man presents the bridegroom, naked, to the bride». E não se pense que era dito de humorismo, numa fantasia que ele pouco levasse a sério. Quando um amigo da sua idade lhe pediu a mão de uma das filhas, levou-o ao quarto das raparigas, onde elas dormiam com as camisas de noite naturalmente puxadas para cima, em função dos movimentos durante o sono, afastou as cobertas e disse: «Escolha».
Para se ver como bem pouca coisa foi inventada na nossa época, que julga ter inventado tudo. E para equilibrar a desproporção do discurso daqueles que fazem depender dos paroxismos da sinceridade a pureza e êxito românticos da atracção...
Dignidades
O que acabou acabado está. Já aqui exprimi tudo o que pensava de Saddam, que amplamente mereceu o seu destino. Da encenação judiciária, a qual merece igualmente o seu, o ridículo. Da forma de execução, que sempre disse não dever ter ocorrido como ocorreu, sob pena de o próprio futuro do País unificado ser posto, definitivamente, de lado, no imaginário colectivo em que se tentavam equilibrar comunidade interconfessional e crime. Não sou homem de celebrar mortes. Deixo isso para os primitivos que andam a disparar espingardas automáticas como celebração, esperando que as munições assim gastas correspondam a vidas inocentes poupadas, que outro uso das balas poderia destruir.
Quero apenas dizer uma coisa: se é certo que sempre fui avesso às execuções como espectáculo, a privatização desta, somada à pressa com que foi levada a cabo, foi coisa muito menos digna do que a recusa do capuz do enforcado, o equivalente à venda, neste processo. Lamento que tenha sido o lado com mais razão, apesar dos meios, a portar-se pior.
Friday, December 29, 2006
As Virtudes de um Lema
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Não resisto a reproduzir aqui este extraordinário ex-libris incluído num livro que hoje adquiri. A imagem de uma leitura feminina seria, já de si, susceptível de me cativar. Os livros, como o pormenor da indicação do ano em que foi adquirido, constituiriam, por si só, um decor sedutor. As ligações modernas, fossem telefónicas com o reforço da simbologia da ligação ao Mundo Exterior, fossem as energéticas que sugerissem o carácter electrizante dos textos, contribuiriam para uma imagem inspiradora. Mas o climax está no lema: «Ócio com Dignidade». Para quem, alheio às fantasias da "realização pessoal", vê no Trabalho uma única qualidade - a de viver com honra, sem prejudicar o próximo, o que para a maioria é o único caminho posível -, esta reabilitação de uma situação completamente diversa também é cara: a da utilização dos tempos libertados, não para a omnipresença e omnipotência dos prazeres imediatos que atirassem para a boçalidade, mas para o aperfeiçoamento de si, da parte daquele que lê, é evidente motivo de júbilo.
Crime e Castigos
Para acabar o ano a vociferar e não começar o próximo nessa onda, sempre direi que essa indigna parelha que não merece o nome de «Pais», a mesma que reconhecidamente matou mais recentemente uma criança em Portugal, não obriga à restauração das penas corporais, como seria de justiça. Basta que sejam presos, que os culpados por maus tratos a miúdos costumam ser, convenientemente, justiçados pelos outros encarcerados, perante a vista grossa da guarda prisional que sabe bem o que eles merecem. O que é triste, mais do que a mentirola da queda nas escadas, que, de tanto gasta, já não cola à mais aderente das superfícies, é uma comissão acompanhar durante tantos meses esta espécie de família e não dar por qualquer abuso ou ameaça. Isto é que é desperdiçar o dinheiro dos contribuintes! Por favor, extingam este grupo de trabalho e transfiram os membros para uma qualquer divisão de análises estatísticas, daquelas de cujos relatórios ninguém saia condicionado!
Figura de Urso
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Saúdo vivamente a decisão do antigo governador do Idaho e actual Secretário do Interior da Administração Bush, de querer o urso polar catalogado entre as espécies protegidas, porque os mecanismos de protecção que essa classificação desencadeia fazem, de facto, diferença. Nem sonharia com a possibilidade do reconhecimento da ligação do derretimento dos gelos ao aquecimento global e à emissão de gases que estará por detrás deles, já que a política anterior tinha ido demasiado no sentido contrário. Mas gostaria que esta medida fosse coerente com uma inversão da abertura da zona protegida do Alaska à exploração petrolífera. Apesar de a área atingida por ela ser pequena, a possibilidade de acidentes graves e a intimidação de espécies raras obrigadas a recuar podem trazer péssimos resultados. Mas viva a martelada na ferradura, porque duas no cravo seriam bem pior!
Esta original representação da Maternidade é de Chris Dixon.
Saúdo vivamente a decisão do antigo governador do Idaho e actual Secretário do Interior da Administração Bush, de querer o urso polar catalogado entre as espécies protegidas, porque os mecanismos de protecção que essa classificação desencadeia fazem, de facto, diferença. Nem sonharia com a possibilidade do reconhecimento da ligação do derretimento dos gelos ao aquecimento global e à emissão de gases que estará por detrás deles, já que a política anterior tinha ido demasiado no sentido contrário. Mas gostaria que esta medida fosse coerente com uma inversão da abertura da zona protegida do Alaska à exploração petrolífera. Apesar de a área atingida por ela ser pequena, a possibilidade de acidentes graves e a intimidação de espécies raras obrigadas a recuar podem trazer péssimos resultados. Mas viva a martelada na ferradura, porque duas no cravo seriam bem pior!
Esta original representação da Maternidade é de Chris Dixon.
Não Posso!
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A imagem é «A Vegetariana», de Magda Francot.
Mas tenho pena. Desde miúdo que me sinto mal ao pensar na quantidade de inocentes que mandamos para a degola para saciarmos a brutalidade dos nossos apetites, porém, pese embora gostar imenso de vegetais, não consigo abdicar dos muitos pratos de animais que também prezo, para me tornar vegetariano. Curioso é ser suspeitado de tal, sem nada fazer para tanto: um Livreiro Experiente, meu Conhecido, perguntava-me, no outro dia se não era essa a minha alimentação. E, perante a negativa, justificou-se: «é que todas as pessoas que conheço com ideias esquisitas são vegetarianas». O ideário excêtrico era, calcule-se, o meu Monarquismo Tradicionalista, que, assim assimilado a tudo o que não faz parte dos gostos predominantes, levava à conclusão que a ancestralidade dos hábitos alimentares portugueses pareceria indicar.
Posto isto, deponho a minha admiração aos pés de quem tomou esta iniciativa. Mas lamento que tenham tido de lançar mão do aliciamento para uma saúde melhor dos eventuais convertidos, no fim de contas uma modaldade de interesseirismo, em vez de, simplesmente, sublinhar a injustiça do sacrifício de seres sem culpa.
Posto isto, deponho a minha admiração aos pés de quem tomou esta iniciativa. Mas lamento que tenham tido de lançar mão do aliciamento para uma saúde melhor dos eventuais convertidos, no fim de contas uma modaldade de interesseirismo, em vez de, simplesmente, sublinhar a injustiça do sacrifício de seres sem culpa.
A imagem é «A Vegetariana», de Magda Francot.
Thursday, December 28, 2006
Da Recompensa
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Dia laborioso, com um final em Companhia Invejável e, pouco antes, a descoberta desta pérola póstuma do grande polemista José Agostinho de Macedo, em que são postos a nu os principais traços deste teorizador e contraditor de génio: um carácter desgraçado na vida privada, um talento e força imensos na escrita, ao serviço da Verdade da Tradição. Justo é que dedique a memória desta compra há muito apetecida a Quem tanto faz por manter viva a memória de um vulto extraordinário.
Bravatas
Tendo aqui, repetidamente, falado contra a falsidade dos julgamentos políticos, o de Saddam incluído, bem como opinado pela justeza de lhe concederem a morte honrosa, pelas balas, que ele requereu, estou à vontade para comentar negativamente o depoimento pelo condenado emitido de que está pronto a ser «um mártir entre os mártires e, ainda mais modestaente, um primus inter pares».
Habituado que estou a ler a hagiografia Cristã, em que os martirizados por diferentes inimigos da Fé subvalorizavam o valor do seu sacrifício e salientavam o carácter ínfimo que diziam ocupar entre os seguidores do Senhor, sendo as palmas respectivas homenagens post-mortem alheias ao tom dos respectivos discursos, tenho de reafirmar quão estranha é para mim esta pretensa civilização das auto-proclamações. E o bem que me sinto na pele de um Ocidental, coisa que nem sempre acontece...
Habituado que estou a ler a hagiografia Cristã, em que os martirizados por diferentes inimigos da Fé subvalorizavam o valor do seu sacrifício e salientavam o carácter ínfimo que diziam ocupar entre os seguidores do Senhor, sendo as palmas respectivas homenagens post-mortem alheias ao tom dos respectivos discursos, tenho de reafirmar quão estranha é para mim esta pretensa civilização das auto-proclamações. E o bem que me sinto na pele de um Ocidental, coisa que nem sempre acontece...
Kofi Kofi
Não, não é uma tosse com acento alentejano, trata-se de uma forma de manifestar repulsa pelas declarações do reformado Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan. Ao dizer que o seu pior momento à frente da organização foi a Guerra no Iraque, sendo sabidos os escândalos de desvios de verbas para proveito pessoal que atingiram vários nomeados por si e o próprio filho, está, mais do que evidentemente a tentar branquear um negativíssimo aspecto da sua acção.
E é confrangedora a outra frase, segundo a qual espera que as pessoas percebam que a ONU é mais do que o programa «Petróleo por Alimentos», de infausta memória. Olhem se agora cada político incriminado por corrupção se defendesse com êxito, dizendo "esperar que as pessoas percebam que a Pátria é mais do que o meu roubo"....
Agravante pessoalíssima, no que toca à minha apreciação: não acho que as Nações ditas Unidas sejam muito mais do que isso. E sinto pena que um diplomata que me parecia esperto e hábil não tenha aproveitado as suas qualidades para exercer um mandato impecável, afastando as suspeitas que as ligações familiares da Mulher a um conhecido grupo de influência política mal explicada já de si poderiam inspirar.
A Mulher de César anda pelas esquinas. Quem pode levar a mal que algum incauto lhe pergunte o preço?
Conviver Com a Coroa
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É extraordinário como o convívio com os ocupantes do Trono Britânico tem um efeito calmante sobre a mediocridade humana.
Este tempo morto de entre-Festas parece-me o ideal para contar duas historiecas:
1- No auge da Depuração processaram Sacha Guitry. Não havia coisa muito consistente contra ele, que nunca se metera em política. Mas como deixar as peças serem representadas na Paris ocupada parecia demasiado pouco, lançou o acusador:
- Você jantou com Goering!
Resposta do Dramaturgo, com prodígio de força e neutralidade:
- Sim. E também jantei com o Rei de Inglaterra, coisa que nunca lhe sucederá a si!
2- O Professor Thomaz de Mello Breyner, dedicadíssimo ao Seu Rei, no infortúnio, visitou várias vezes D. Manuel II, em Londres. Numa delas descascava a laranja com o movimento habitual por cá, quando a Rainha Mary, com Jorge V casada,afirmou desconhecer aquele gesto e lhe pediu que lho ensinasse.
Tempos mais tarde, viajando de comboio no mesmo compartimento de um súbdito britânico, foi por este censurado, ao empreender acção similar. Defendeu-se dizendo que era o que por cá era aconselhado e que até uma Senhora Inglesa se mostrara muito interessada em conhecer aquela forma preparatória da degustação do fruto.
Dis o bife impertinentemente:
«Senhora? Que Senhora?»
Resposta do nosso Patrício:
«A Rainha de Inglaterra.
Consta que o resto da viagem decorreu em silêncio. Até porque não estávamos lá nós, para gargalhar em função do figuraço que Este Rapaz da Terra fez lá fora.
É extraordinário como o convívio com os ocupantes do Trono Britânico tem um efeito calmante sobre a mediocridade humana.
Este tempo morto de entre-Festas parece-me o ideal para contar duas historiecas:
1- No auge da Depuração processaram Sacha Guitry. Não havia coisa muito consistente contra ele, que nunca se metera em política. Mas como deixar as peças serem representadas na Paris ocupada parecia demasiado pouco, lançou o acusador:
- Você jantou com Goering!
Resposta do Dramaturgo, com prodígio de força e neutralidade:
- Sim. E também jantei com o Rei de Inglaterra, coisa que nunca lhe sucederá a si!
2- O Professor Thomaz de Mello Breyner, dedicadíssimo ao Seu Rei, no infortúnio, visitou várias vezes D. Manuel II, em Londres. Numa delas descascava a laranja com o movimento habitual por cá, quando a Rainha Mary, com Jorge V casada,afirmou desconhecer aquele gesto e lhe pediu que lho ensinasse.
Tempos mais tarde, viajando de comboio no mesmo compartimento de um súbdito britânico, foi por este censurado, ao empreender acção similar. Defendeu-se dizendo que era o que por cá era aconselhado e que até uma Senhora Inglesa se mostrara muito interessada em conhecer aquela forma preparatória da degustação do fruto.
Dis o bife impertinentemente:
«Senhora? Que Senhora?»
Resposta do nosso Patrício:
«A Rainha de Inglaterra.
Consta que o resto da viagem decorreu em silêncio. Até porque não estávamos lá nós, para gargalhar em função do figuraço que Este Rapaz da Terra fez lá fora.
A Ilusão Que Alimenta
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Tão enganador é procurar obter a receita mágica da constância do deleite e da ditosa imutabilidade, como a esperança que se deposite neste Mundo para melhorar os nossos estados de espírito, ou nas nossas capacidades para melhorar o Mundo. Aplicar as forças da nossa volição, seja na conquista de um estado edénico,
seja na espera de um prémio sonhado, acabará sempre mal, pois quando o desejo se transforma em obsessão, transbordando dos momentos concretos que são o seu campo de eleição para objectivos que, pelo seu gigantismo, não podem deixar de ser abstractos, virá sempre a desmascarar-se como hipérbole de si, construída
sem a solidez ou o mínimo de cálculo. O que levará a desabar todo o projecto arquitectado, essa diferenciação extremada do real face ao sonhado, imposta a cada passo não só pela desilusão, mas também pelo alimento ininterrupto que, até certo ponto, foi o querer, enfardando em vez de nutrir e impedindo a digestão. Porque no seu princípio estava, de facto, o seu fim. Embora não no sentido que se pretendeu.
De Ronald de Carvalho:
DESTINO
Ainda menino, disse-me, um dia,
A voz oculta do coração:
"Terás da terra tôda a alegria
Na tua mão"
Ah! Duro engano, quem o diria!
Louco de espanto, de inquietação,
Só vi tortura, melancolia,
No mundo vão...
Ouve criatura de alma inocente,
Ouve e medita, porque não mente
Quem isto diz:
Na vida cheia de falsidade,
Só quem deseja a felicidade
Não é feliz...
Os Ingredientes plásticos: «Destinos Diferentes»,
de Pascale Bellot;
«Desejo», de Marty D. Ison.
e
«O Jardim da Melancolia», de Mike Worral.
Tão enganador é procurar obter a receita mágica da constância do deleite e da ditosa imutabilidade, como a esperança que se deposite neste Mundo para melhorar os nossos estados de espírito, ou nas nossas capacidades para melhorar o Mundo. Aplicar as forças da nossa volição, seja na conquista de um estado edénico,
seja na espera de um prémio sonhado, acabará sempre mal, pois quando o desejo se transforma em obsessão, transbordando dos momentos concretos que são o seu campo de eleição para objectivos que, pelo seu gigantismo, não podem deixar de ser abstractos, virá sempre a desmascarar-se como hipérbole de si, construída
sem a solidez ou o mínimo de cálculo. O que levará a desabar todo o projecto arquitectado, essa diferenciação extremada do real face ao sonhado, imposta a cada passo não só pela desilusão, mas também pelo alimento ininterrupto que, até certo ponto, foi o querer, enfardando em vez de nutrir e impedindo a digestão. Porque no seu princípio estava, de facto, o seu fim. Embora não no sentido que se pretendeu.
De Ronald de Carvalho:
DESTINO
Ainda menino, disse-me, um dia,
A voz oculta do coração:
"Terás da terra tôda a alegria
Na tua mão"
Ah! Duro engano, quem o diria!
Louco de espanto, de inquietação,
Só vi tortura, melancolia,
No mundo vão...
Ouve criatura de alma inocente,
Ouve e medita, porque não mente
Quem isto diz:
Na vida cheia de falsidade,
Só quem deseja a felicidade
Não é feliz...
Os Ingredientes plásticos: «Destinos Diferentes»,
de Pascale Bellot;
«Desejo», de Marty D. Ison.
e
«O Jardim da Melancolia», de Mike Worral.
Wednesday, December 27, 2006
A Imensidão e a Mente
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«Retrato com Céu Azul», de Marion Wagschal. Deu-me para pensar como a explicação para a cor celeste que considera serem as moléculas do ar mais aptas a espalhar o azul do que o vermelho solares encontraram uma tradução no template deste blogue, sendo o dono benfiquista. E para Os que já se estejam interrogando sobre que ócio pletórico me terá induzido tal fantasia, terei de confessar que foi a única maneira que encontrei de comparar o meu cérebro ao Sol.
Estou perdoado?
Wanted
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Se o Leitor deparar, a cada painel publicitário, com cartazes fotográficos deste teor, mas com a cobertura evaporada, dê o benefício da dúvida, pode não ser uma invasão de pornografia, mas apenas uma precaução policial que tente levar a Justiça a clientes caloteiras de um cirurgião estético de Colónia.
Ora vejam:
«Surgeon Michael Koenig of Cologne, Germany, who said he was cheated out of thousands of dollars in fees by women who failed to pay for their breast enlargements, recently said he had no photos of the women but did have photos of their new chests. He gave them to police, hoping they would somehow help in finding the women».
O que me incomoda nisto tudo é, para além das inspecções mais pormenorizadas a que a Parte Feminina das minhas Leitoras pode ficar sujeita, a inversão de valores que implica, para todos os elementos das forças policiais e do público em geral que, jogando futebol, na escola, foram condicionados pelas contínuas admoestações dos colegas «para não ficarem à mama»...
Se o Leitor deparar, a cada painel publicitário, com cartazes fotográficos deste teor, mas com a cobertura evaporada, dê o benefício da dúvida, pode não ser uma invasão de pornografia, mas apenas uma precaução policial que tente levar a Justiça a clientes caloteiras de um cirurgião estético de Colónia.
Ora vejam:
«Surgeon Michael Koenig of Cologne, Germany, who said he was cheated out of thousands of dollars in fees by women who failed to pay for their breast enlargements, recently said he had no photos of the women but did have photos of their new chests. He gave them to police, hoping they would somehow help in finding the women».
O que me incomoda nisto tudo é, para além das inspecções mais pormenorizadas a que a Parte Feminina das minhas Leitoras pode ficar sujeita, a inversão de valores que implica, para todos os elementos das forças policiais e do público em geral que, jogando futebol, na escola, foram condicionados pelas contínuas admoestações dos colegas «para não ficarem à mama»...
Rosto de Quê?
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Morreu Gerald Ford. É talvez o primeiro Presidente Americano de que me lembro de seguir , com alguma consciência, a acção política, num período do nosso País em que o assalto revolucionário vermelho ameaçava os adultos e me formava, na pré-adolescência. Tinha sido escolhido por Nixon para substituir um Agnew qacusado de corrupção por factos concernentes ao seu desempenho como Governador do Maryland. Oriundo do fundamental e disputado Estado industrializado que é o Michigan, Leader da minoria Republcana na Câmara dos Representantes, ultrapassou uma quantidade de políticos que já lambiam os beiços com a perspectiva do lugar, maxime um cortejo de Senadores. Foi escolhido por ser reconhecidamente honesto, o que, se diz muito da classe política americana dos anos 1970´s, não foi credencial suficiente para o manter num cargo para que não fora eleito. Subiu a dono e senhor da Casa Branca quando a Imprensa liberal viveu o auge do seu poderio e derrubou Nixon, que sempre odiara, por infracções suficientes, mas não maiores que vigilâncias aos adversários levadas a cabo por Johnson, Kennedy e... F. D. Roosewelt! Sendo um Republicano pró-aborto, não gozava das boas graças das bases do GOP que então começavam a emergir. Visto como uma solução de recurso, sem imagem de duro num Mundo em que os Soviéticos iam conquistando influência, veio a provar a própria fraqueza ao preterir Nelson Rockfeller para Vice-Presidente de um hipotético segundo mandato, optando, para agradar à ala Direita dos seus, por um Bob Dole que viria a ser o emblema dos Moderados.
Por isso um Governador da Georgia sem estatura nacional lhe ganhou, vindo a ser o derradeiro passo na rampa da fraqueza.
Mas o Homem Ford, todos o dizem, era muito melhor que o Político. E talvez o ateste a amizade que, sem rancores, desenvolveu com a Família Reagan, de um seu opositor encarniçado de outros tempos, após ambos se retirarem da Vida Pública.
É ao Homem - e não ao Estadista que não terá sabido ser -que dirijo o meu pensamento.
A Novidade da República
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A 27 de Dezembro de 1917 assumia Sidónio Pais a Presidência da República, formalizando a presidencialização revolucionária da Forma de Estado, na práctica já decidida desde a chefia da junta e do governo, datadas de 8 e 12 do mesmo mês, respectivamente. Querem alguns apaixonados pelo comparativismo histórico que se trate de uma experiência portuguesa de "pré-Fascismo". A meu ver, sem razão. Não se tratou de levar um partido a conquistar o Estado. Sidónio vinha de uma das facções partidárias da República, apesar de progressivamente desiludido com as arbitrariedades dela, dominada pela máquina Costista. Nenhuma vontade de modificar o Homem num sentido de afirmação vital da Força. Nenhum expansionismo em política externa. Nenhum belicismo, na acepção capacitária, essencial à vida do Estado, pelo contrário, a vontade expressa de, progressivamente, decrescer o empenho numa guerra que nada dizia de bom ao Povo e apenas servia os Democráticos com um útil António José de Almeida a reboque. A Guerra como elemento de formação, essencial às experiências Fascista, que bradava a frustração da insuficiente recompensa de um vencedor menor, e Nacional-Socialista, que aspirara os inconformismos contra uma derrota decidida não no campo de batalha, mas na turbulência revolucionária interior, não tinha aqui papel do mesmo relevo. Os veteranos da frente ainda por lá andavam, sem rotação, equipamento ou comando que se vissem. E quereriam tudo menos preparação para novas lutas.
Julgo que o paralelo que cega alguns dos observadores residirá no apoio que alguns dos que ficariam na história como Futuristas deram a Sidónio,tal como Marinetti ao primeiro Mussolini. Mas foi completamente diversa a atitude: enquanto em Itália se procurava ua contestação total do modo de ser burguês, prolongado no Mundo criativo pelos academismos, cá a adesão intelectual dos embrionários transformadores estéticos era a ponte mítica para o cumprimento dum «carácter nacional» que viam depender de uma figura Desejada e, porque encoberta, de vulto impreciso e latamente preenchível.
Sidónio reunia todas as condições. Para a esmagadora maioria da População era a promessa de uma tranquilidade consensual, acabando com as perseguições religiosas, querendo chamar os Monárquicos ao seio da colaboração com o regime, em vez de os apontar como criminosos, prometendo não intensificar os recrutamentos. O Homem que a corporizou vinha da Universidade e era militar, as instituições que davam políticos. E, bem apessoado, idolatrado pelas Mulheres como só D. Miguel antes dele fora, nunca seria um erro de casting para D. Sebastião do Século XX e com mais sorte do que o Primeiro. Infelizmente, todo esse capital de esperança não previu o que, no entanto, era previsível - que uma solução não-dinástica, não-descentralizadora e jogando, mais alargadamente embora, o jogo partidário, encontraria, por força, uma Alcácer-Kibir. Foi na Estação do Rossio. O engano não estava no elenco, mas sim no argumento.
Caiu o pano.
A 27 de Dezembro de 1917 assumia Sidónio Pais a Presidência da República, formalizando a presidencialização revolucionária da Forma de Estado, na práctica já decidida desde a chefia da junta e do governo, datadas de 8 e 12 do mesmo mês, respectivamente. Querem alguns apaixonados pelo comparativismo histórico que se trate de uma experiência portuguesa de "pré-Fascismo". A meu ver, sem razão. Não se tratou de levar um partido a conquistar o Estado. Sidónio vinha de uma das facções partidárias da República, apesar de progressivamente desiludido com as arbitrariedades dela, dominada pela máquina Costista. Nenhuma vontade de modificar o Homem num sentido de afirmação vital da Força. Nenhum expansionismo em política externa. Nenhum belicismo, na acepção capacitária, essencial à vida do Estado, pelo contrário, a vontade expressa de, progressivamente, decrescer o empenho numa guerra que nada dizia de bom ao Povo e apenas servia os Democráticos com um útil António José de Almeida a reboque. A Guerra como elemento de formação, essencial às experiências Fascista, que bradava a frustração da insuficiente recompensa de um vencedor menor, e Nacional-Socialista, que aspirara os inconformismos contra uma derrota decidida não no campo de batalha, mas na turbulência revolucionária interior, não tinha aqui papel do mesmo relevo. Os veteranos da frente ainda por lá andavam, sem rotação, equipamento ou comando que se vissem. E quereriam tudo menos preparação para novas lutas.
Julgo que o paralelo que cega alguns dos observadores residirá no apoio que alguns dos que ficariam na história como Futuristas deram a Sidónio,tal como Marinetti ao primeiro Mussolini. Mas foi completamente diversa a atitude: enquanto em Itália se procurava ua contestação total do modo de ser burguês, prolongado no Mundo criativo pelos academismos, cá a adesão intelectual dos embrionários transformadores estéticos era a ponte mítica para o cumprimento dum «carácter nacional» que viam depender de uma figura Desejada e, porque encoberta, de vulto impreciso e latamente preenchível.
Sidónio reunia todas as condições. Para a esmagadora maioria da População era a promessa de uma tranquilidade consensual, acabando com as perseguições religiosas, querendo chamar os Monárquicos ao seio da colaboração com o regime, em vez de os apontar como criminosos, prometendo não intensificar os recrutamentos. O Homem que a corporizou vinha da Universidade e era militar, as instituições que davam políticos. E, bem apessoado, idolatrado pelas Mulheres como só D. Miguel antes dele fora, nunca seria um erro de casting para D. Sebastião do Século XX e com mais sorte do que o Primeiro. Infelizmente, todo esse capital de esperança não previu o que, no entanto, era previsível - que uma solução não-dinástica, não-descentralizadora e jogando, mais alargadamente embora, o jogo partidário, encontraria, por força, uma Alcácer-Kibir. Foi na Estação do Rossio. O engano não estava no elenco, mas sim no argumento.
Caiu o pano.
O Pavor Supremo
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Para um blogueiro mal-amanhado como eu é bem a falha de energia. Por uma vez não me refiro à vital, de cada indivíduo, mas à eléctrica, da companhia, no sentido empresarial/fornecedor, que não do convívio reconfortante que estimula. Aprestava-me eu, ontem à noite, para postar mais qualquer coiseca e um apagão à americana, neste martirizado São João do Estoril, deixou-me com menos luzes ainda do que habitualmente. Resultado: marchei para a cama mais cedo, sem ao menos o analgésico da leitura; e ficou a misantropada reduzida ao que o período diurno produzira. E a Calma Penada a justificar o nome, à espera de melhores dias.
Mas a vida continua.
Para um blogueiro mal-amanhado como eu é bem a falha de energia. Por uma vez não me refiro à vital, de cada indivíduo, mas à eléctrica, da companhia, no sentido empresarial/fornecedor, que não do convívio reconfortante que estimula. Aprestava-me eu, ontem à noite, para postar mais qualquer coiseca e um apagão à americana, neste martirizado São João do Estoril, deixou-me com menos luzes ainda do que habitualmente. Resultado: marchei para a cama mais cedo, sem ao menos o analgésico da leitura; e ficou a misantropada reduzida ao que o período diurno produzira. E a Calma Penada a justificar o nome, à espera de melhores dias.
Mas a vida continua.
Tuesday, December 26, 2006
Para Acabar de Vez com a Postura
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De considerar os correios que entregam a droga que destrói boa parte da juventude do Ocidente como uns desgraçadinhos a quem se dá uns cobres de que precisam para comprar menos do que o elementar. Não consta que as modelos das marcas de proa sejam mal pagas, o que só vem reforçar aquilo que já se sabia: desde que se acene com quantias sedutoras, a criminalidade deste nefando transporte é transversal. E sou de opinião que tão duramente devem ser punidos os mandantes como os transportadores, porque a vida dos primeiros ficaria bem mais dificultada sem os últimos. Ao contrário do que já vi fazer a um conhecido pivot do noticiário da RTP1, o qual se atreveu a defender o contráro, traindo a missão de dar a notícia sem comentá-la, que era a sua, ali.
A obra é «Cocaína», de Taylor.
De considerar os correios que entregam a droga que destrói boa parte da juventude do Ocidente como uns desgraçadinhos a quem se dá uns cobres de que precisam para comprar menos do que o elementar. Não consta que as modelos das marcas de proa sejam mal pagas, o que só vem reforçar aquilo que já se sabia: desde que se acene com quantias sedutoras, a criminalidade deste nefando transporte é transversal. E sou de opinião que tão duramente devem ser punidos os mandantes como os transportadores, porque a vida dos primeiros ficaria bem mais dificultada sem os últimos. Ao contrário do que já vi fazer a um conhecido pivot do noticiário da RTP1, o qual se atreveu a defender o contráro, traindo a missão de dar a notícia sem comentá-la, que era a sua, ali.
A obra é «Cocaína», de Taylor.
Teoria das Probabilidades
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Gostaria muito de acreditar que esta estatística exprimisse uma realidade, até porque num Futuro ainda afastado uma intervenção no sentido de artificial acrescento na composição genética talvez pudesse ajudar no combate a este flagelo, o que sempre é menos repulsivo do que a pré-programação. Mas, a olho, desconfio. Muitos dos casos da doença de Alzheimer que verifiquei ocorrem em pessoas que ou ultrapassaram, ou estão prestes a passar, os noventa. Terão sido todos revéis à predisposição que se pensa ter descoberto e velhos apesar de desprovidos do gene miraculoso, ou renitentes à influência dele?
A imagem é de William Utermohlen, «Auto-retrato com Alzheimer», em que até dos traços do próprio rosto sentia dificuldade em recordar.
Soa a Campaínha
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Quanto pode a inacção! Retido em casa neste clássico dia de ressaca natalícia, em que a tolerância desfila triunfalmente, caso raro no sentido geral, ou frequentíssimo no que à de ponto toca, deu-me para pensar na moral e no escrúpulo. E não arranjei coisa melhor do que a frase atribuída ao Jean-Jacques, culpado de muitos crimes doutrinais, mas não desse, segundo a qual «nenhum de nós deixaria de fazer soar a campaínha que matasse um velho mandarim chinês, do outro jado do Mundo, se isso nos pudesse fazer ricos». Rousseau, está averiguado, nunca escreveu tal, apesar de vários papagaios portugueses o terem repetido por escrito, ao longo do Século XX. Têm uma desculpa, pois Balzac, em «LE PÉRE GORIOT» tinha posto Rastignac e um Amigo a reportarem-se ao Genebrino como fonte, confundindo-o, talvez, com um problema similar, de retirar proveito, sem chinesices, de um crime mitigado(!?) pela distância, enunciado por Chateaubriand no «GÉNIE...». Romântico por romântico, ou pré-romântico, à velocidade a que Balzac escrevia, a precisão enfrentava dificuldades de percurso. Mas eu tenho uma explicação, que ignoro se alguém já deu: o Autor do «Contrato Social» tem uma apreciação sobre a política e economia sínicas em que diz responderem os Mandarins encarregados da governação e tributação com a sua cabeça pelos resultados. O grande Honoré deve, numa noite mal dormida, ter misturado estes dois passos de desprezo pela vida e amalgamado um ao outro.
Ainda bem, digo. Porque nos deu, com Eça, um livrinho bem interessante. Nem o facto de pertencer ao Mandarinato, nem a idade avançada, ou seja, o que para a nossa decadente contemporaneidade são dois traços dispensáveis - a pertença a elite tradicional e a velhice - impedem o sentimento de remorso do protagonista de «O MANDARIM», por ter enriquecido à custa desse assassínio. E quando, fulminado pelo nojo dos interesseiros que o rodeavam, faz testamento ao Diabo, todos sabemos que estava a dar bens que já não eram seus, pois tudo o que tinha, até a alma, já lhe tinha sido cedido, pelo pacto expresso no homicídio com a mira do vil metal.
James Stewart garante ao filho, no final de «DO CÉU CAIU UMA ESTRELA», que «quando se ouve uma campaínha um anjo ganhou as suas asas». É bem verdade, mas, por vezes, são de anjos maus...
Quanto pode a inacção! Retido em casa neste clássico dia de ressaca natalícia, em que a tolerância desfila triunfalmente, caso raro no sentido geral, ou frequentíssimo no que à de ponto toca, deu-me para pensar na moral e no escrúpulo. E não arranjei coisa melhor do que a frase atribuída ao Jean-Jacques, culpado de muitos crimes doutrinais, mas não desse, segundo a qual «nenhum de nós deixaria de fazer soar a campaínha que matasse um velho mandarim chinês, do outro jado do Mundo, se isso nos pudesse fazer ricos». Rousseau, está averiguado, nunca escreveu tal, apesar de vários papagaios portugueses o terem repetido por escrito, ao longo do Século XX. Têm uma desculpa, pois Balzac, em «LE PÉRE GORIOT» tinha posto Rastignac e um Amigo a reportarem-se ao Genebrino como fonte, confundindo-o, talvez, com um problema similar, de retirar proveito, sem chinesices, de um crime mitigado(!?) pela distância, enunciado por Chateaubriand no «GÉNIE...». Romântico por romântico, ou pré-romântico, à velocidade a que Balzac escrevia, a precisão enfrentava dificuldades de percurso. Mas eu tenho uma explicação, que ignoro se alguém já deu: o Autor do «Contrato Social» tem uma apreciação sobre a política e economia sínicas em que diz responderem os Mandarins encarregados da governação e tributação com a sua cabeça pelos resultados. O grande Honoré deve, numa noite mal dormida, ter misturado estes dois passos de desprezo pela vida e amalgamado um ao outro.
Ainda bem, digo. Porque nos deu, com Eça, um livrinho bem interessante. Nem o facto de pertencer ao Mandarinato, nem a idade avançada, ou seja, o que para a nossa decadente contemporaneidade são dois traços dispensáveis - a pertença a elite tradicional e a velhice - impedem o sentimento de remorso do protagonista de «O MANDARIM», por ter enriquecido à custa desse assassínio. E quando, fulminado pelo nojo dos interesseiros que o rodeavam, faz testamento ao Diabo, todos sabemos que estava a dar bens que já não eram seus, pois tudo o que tinha, até a alma, já lhe tinha sido cedido, pelo pacto expresso no homicídio com a mira do vil metal.
James Stewart garante ao filho, no final de «DO CÉU CAIU UMA ESTRELA», que «quando se ouve uma campaínha um anjo ganhou as suas asas». É bem verdade, mas, por vezes, são de anjos maus...
Monday, December 25, 2006
Aliança Procurada Pelo Reino
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Não é o Natal altura para apoiar partes e Guerra? Não, desde que elas nele se não manifestem. Mas quando este Dia - que deveria ser de Paz - vê desencadear-se numa região naturalmente martirizada um conflito com implicações mais vastas, não posso ficar calado. Satisfaz-me que a Etiópia alinhe com o Ocidente contra as franjas somalis do Fundamentalismo Islâmico que nos são hostis. Cresci convivendo com o desgostante facto de o antigo Reino do Prestes João, aqui documentado em ilustração das viagens de Pero da Covilhã, tão cá de casa apesar de contratempos traumatizantes como o da crudelíssima morte de um dos Filhos de Vasco da Gama, alinhar com os adversários do Ocidente contra uma Somália de Siad Barre com ele aliada. Assim, é outra loiça! Se não se pode ter pacificada a zona, ao menos que o nosso imaginário histórico não seja violentado. E que os valores que nos restam saiam triunfantes. Não se esqueça que a Somália é a região do Mundo onde anda mais enquistada a excisão do clitóris, sendo que uma das fontes para tal atentado é uma interpretação extremista do Alcorão.
Não é o Natal altura para apoiar partes e Guerra? Não, desde que elas nele se não manifestem. Mas quando este Dia - que deveria ser de Paz - vê desencadear-se numa região naturalmente martirizada um conflito com implicações mais vastas, não posso ficar calado. Satisfaz-me que a Etiópia alinhe com o Ocidente contra as franjas somalis do Fundamentalismo Islâmico que nos são hostis. Cresci convivendo com o desgostante facto de o antigo Reino do Prestes João, aqui documentado em ilustração das viagens de Pero da Covilhã, tão cá de casa apesar de contratempos traumatizantes como o da crudelíssima morte de um dos Filhos de Vasco da Gama, alinhar com os adversários do Ocidente contra uma Somália de Siad Barre com ele aliada. Assim, é outra loiça! Se não se pode ter pacificada a zona, ao menos que o nosso imaginário histórico não seja violentado. E que os valores que nos restam saiam triunfantes. Não se esqueça que a Somália é a região do Mundo onde anda mais enquistada a excisão do clitóris, sendo que uma das fontes para tal atentado é uma interpretação extremista do Alcorão.
Mulheres & Livros
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Falava o Amigo Jansenista do erotismo da saia reveladora, a propósito da pose de bibliotecária a meia escada, estante acima. Foi tudo o que precisei para deixar aqui uma cena curta e pouco significativa, de «THE BIG SLEEP», de Hawks, que desde muito novo reuniu dois requisitos da perfeição: a vendedora de livros que lê, os conhece e possui beleza invulgar. Se não se lembram da Sonia Darrin, é aquela que não vai na conversa de Bogart/Marlowe, descobre a trapaça do pedido de um livro inexistente e... instada, tira os óculos. Ah, quando ela tira os óculos e solta o cabelo!... É Natal! É Natal, apesar do filme ser para o negro.
Falava o Amigo Jansenista do erotismo da saia reveladora, a propósito da pose de bibliotecária a meia escada, estante acima. Foi tudo o que precisei para deixar aqui uma cena curta e pouco significativa, de «THE BIG SLEEP», de Hawks, que desde muito novo reuniu dois requisitos da perfeição: a vendedora de livros que lê, os conhece e possui beleza invulgar. Se não se lembram da Sonia Darrin, é aquela que não vai na conversa de Bogart/Marlowe, descobre a trapaça do pedido de um livro inexistente e... instada, tira os óculos. Ah, quando ela tira os óculos e solta o cabelo!... É Natal! É Natal, apesar do filme ser para o negro.
East is East, West is West...
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...mas, ao contrário do que julgava Kipling e de acordo com o que já Albuquerque sabia, podem bem encontrar-se, para mais se um dia extraordinário, como o 25 de Dezembro, ajudar a demonstrá-lo. Nascida neste, Reika Hashimoto tem sangue japonês e norte-americano e as suas feições variam, conforme as tomadas fotográficas, da predominância ocidental para a oriental. O que me intriga é esta Beleza evidenciar a faceta asiática justamente quando se empoleira para chegar aos produtos da sabedoria do Ocidente...
...mas, ao contrário do que julgava Kipling e de acordo com o que já Albuquerque sabia, podem bem encontrar-se, para mais se um dia extraordinário, como o 25 de Dezembro, ajudar a demonstrá-lo. Nascida neste, Reika Hashimoto tem sangue japonês e norte-americano e as suas feições variam, conforme as tomadas fotográficas, da predominância ocidental para a oriental. O que me intriga é esta Beleza evidenciar a faceta asiática justamente quando se empoleira para chegar aos produtos da sabedoria do Ocidente...
Em Honra das Vítimas
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Não me creiam melhor do que sou. Ainda há pouco o comi. É a minha má consciência, eternamente desgostado perante o abate dos animais, mas não tendo a coragem ou a inclinação de me tornar vegetariano. Falo-Vos, neste post, do Perú. Do Jesuíta, como é conhecido em certas zonas do nosso País, por se dar por certo ter sido trazido da América para cá pelos Reverendos Seguidores de Santo Inácio, pelo que tomo a liberdade de dedicar esta nota ao Jagoz. Isto, apesar de Brillat Savarin fantasiar que os Romanos já o conheciam e que ele esteve presente na ementa de núpcias de Carlos Magno. Suspeito de que a primeira conjectura faça parte da habitual repugnância em atribuir à Companhia algo de positivo, retroagindo a tempos pré-Cristãos de conveniência. Já a segunda é o sonho de todas as genealogias. Se Napoleão fez a sua remontar a Carlos Magno, por que não permitir o mesmo à ave? O nome português do bicho parece indicar a dependência das possessões hispânicas de onde o teriam directamente importado, o que sempre é mais clemente do que chamá-lo de bobo ou tolo - guajalote - como no México, apesar de menos exacto do que o pavo castelhano, já que do pavão é primo, entrando este parentesco no seu nome científico. Colombo é que o tinha pensado uma galinha, o que demonstra que era tão facilmente enganável quanto a aves como acerca de continentes que descobrira, o que logo se pegou aos Alemães, os quais lhe chamam "Galinha de Calecut", Kalekutish-Hahn, acrescentando à fraude a ideia de que os portugueses o tinham trazido da Índia asiática. É a infelicidade de um povo meticuloso: já não têm como escapar da asneira, ao contrário dos Franceses, que, com a mais genérica designação dinde, versatilmente se safam dizendo que se referiam, desde o princípio, às Índias Ocidentais.
Uma coisa é certa: Não podemos levar a mal que este cavalheiro não goste do Natal.
Não me creiam melhor do que sou. Ainda há pouco o comi. É a minha má consciência, eternamente desgostado perante o abate dos animais, mas não tendo a coragem ou a inclinação de me tornar vegetariano. Falo-Vos, neste post, do Perú. Do Jesuíta, como é conhecido em certas zonas do nosso País, por se dar por certo ter sido trazido da América para cá pelos Reverendos Seguidores de Santo Inácio, pelo que tomo a liberdade de dedicar esta nota ao Jagoz. Isto, apesar de Brillat Savarin fantasiar que os Romanos já o conheciam e que ele esteve presente na ementa de núpcias de Carlos Magno. Suspeito de que a primeira conjectura faça parte da habitual repugnância em atribuir à Companhia algo de positivo, retroagindo a tempos pré-Cristãos de conveniência. Já a segunda é o sonho de todas as genealogias. Se Napoleão fez a sua remontar a Carlos Magno, por que não permitir o mesmo à ave? O nome português do bicho parece indicar a dependência das possessões hispânicas de onde o teriam directamente importado, o que sempre é mais clemente do que chamá-lo de bobo ou tolo - guajalote - como no México, apesar de menos exacto do que o pavo castelhano, já que do pavão é primo, entrando este parentesco no seu nome científico. Colombo é que o tinha pensado uma galinha, o que demonstra que era tão facilmente enganável quanto a aves como acerca de continentes que descobrira, o que logo se pegou aos Alemães, os quais lhe chamam "Galinha de Calecut", Kalekutish-Hahn, acrescentando à fraude a ideia de que os portugueses o tinham trazido da Índia asiática. É a infelicidade de um povo meticuloso: já não têm como escapar da asneira, ao contrário dos Franceses, que, com a mais genérica designação dinde, versatilmente se safam dizendo que se referiam, desde o princípio, às Índias Ocidentais.
Uma coisa é certa: Não podemos levar a mal que este cavalheiro não goste do Natal.
O Tempero do Milagre
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Tracei no ano passado as linhas gerais da História da instituição na Europa do hábito do Presépio. Hoje, menos cauteloso, posso acrescentar-lhe a dimensão sobrenatural que terá estado na catalisação dele: o aparecimento do Menino a São Francisco de Assis na Floresta de Gréccio, por ele se deixando embalar e beijar, bem como a propaganda do facto que o Seu Amigo Giovanni, à revelia da vontade do Poverello, fez.
Que de cada vez que contemplemos uma dessas reconstruções de Belém, tenhamos presente que há atribuição milagrosa não só ao Facto recriado, como ao começo da evocação Dele.
Tracei no ano passado as linhas gerais da História da instituição na Europa do hábito do Presépio. Hoje, menos cauteloso, posso acrescentar-lhe a dimensão sobrenatural que terá estado na catalisação dele: o aparecimento do Menino a São Francisco de Assis na Floresta de Gréccio, por ele se deixando embalar e beijar, bem como a propaganda do facto que o Seu Amigo Giovanni, à revelia da vontade do Poverello, fez.
Que de cada vez que contemplemos uma dessas reconstruções de Belém, tenhamos presente que há atribuição milagrosa não só ao Facto recriado, como ao começo da evocação Dele.
Um Pensamento
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Direccionado para Quem sofre, neste Natal: Ao Miguel, cujo Pai passa por um momento menos bom, da parte de quem vive aflição similar, embora menos concentrada num instante, a Deusa antiga da Saúde, Hygeia, como símbolo da pronta recuperação que desejo a um Vulto da Investigação Histórica Portuguesa.