Rosto de Quê?
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Morreu Gerald Ford. É talvez o primeiro Presidente Americano de que me lembro de seguir , com alguma consciência, a acção política, num período do nosso País em que o assalto revolucionário vermelho ameaçava os adultos e me formava, na pré-adolescência. Tinha sido escolhido por Nixon para substituir um Agnew qacusado de corrupção por factos concernentes ao seu desempenho como Governador do Maryland. Oriundo do fundamental e disputado Estado industrializado que é o Michigan, Leader da minoria Republcana na Câmara dos Representantes, ultrapassou uma quantidade de políticos que já lambiam os beiços com a perspectiva do lugar, maxime um cortejo de Senadores. Foi escolhido por ser reconhecidamente honesto, o que, se diz muito da classe política americana dos anos 1970´s, não foi credencial suficiente para o manter num cargo para que não fora eleito. Subiu a dono e senhor da Casa Branca quando a Imprensa liberal viveu o auge do seu poderio e derrubou Nixon, que sempre odiara, por infracções suficientes, mas não maiores que vigilâncias aos adversários levadas a cabo por Johnson, Kennedy e... F. D. Roosewelt! Sendo um Republicano pró-aborto, não gozava das boas graças das bases do GOP que então começavam a emergir. Visto como uma solução de recurso, sem imagem de duro num Mundo em que os Soviéticos iam conquistando influência, veio a provar a própria fraqueza ao preterir Nelson Rockfeller para Vice-Presidente de um hipotético segundo mandato, optando, para agradar à ala Direita dos seus, por um Bob Dole que viria a ser o emblema dos Moderados.
Por isso um Governador da Georgia sem estatura nacional lhe ganhou, vindo a ser o derradeiro passo na rampa da fraqueza.
Mas o Homem Ford, todos o dizem, era muito melhor que o Político. E talvez o ateste a amizade que, sem rancores, desenvolveu com a Família Reagan, de um seu opositor encarniçado de outros tempos, após ambos se retirarem da Vida Pública.
É ao Homem - e não ao Estadista que não terá sabido ser -que dirijo o meu pensamento.
9 Comments:
At 12:16 PM, Anonymous said…
Magistral post de Paulo. Unicamente una duda: Nelson Rockefeller....¿Liberal o Duro? Durante la Presidencia Ford, considero que el verdadero Presidente continuaba siendo el "alemán Henry". Para los dos Países de la Península Ibérica, no puede haber buen recuerdo de aquella época, con las crisis del año 1975 (Timor Este y La Marcha Verde en el Sahara Occidental)....En el lado positivo, únicamente el nombramiento de Rumsfeld en la Secretaría de Defensa (el entonces joven Rumsfeld) y el cese del "liberal" director de la CIA William E. Colby, partidario de "exterminar" a los vietcongs como si de insectos se tratara.......Ab.
At 12:43 PM, Paulo Cunha Porto said…
É verdade, Caro Çamorano, que foi Ford quem redescobriu o antigo e breve congressista do Illinois Rumsfeld, para "Chief of Staff" onde foi substituído por um então desconhecido que é hoje Vice-Presidente; e logo, para Secretário da Defesa.
Claro que, no plano externo, Kissinger era dono e senhor.
Quanto a Rockefeller era tido por chefe de fila da ala liberal dos Republicanos.
Abraço.
At 3:22 PM, Anonymous said…
Um dos rostos do auge da Guerra Fria. È curioso verificar que neste período, a CIA não passava de um grupusculo de amadores da espionagem que eram completamente esmagados pelos mestres da KGB.
At 5:15 PM, Anonymous said…
Formidável capacidade de síntese. Um bom Homem, mas um Presidente falhado.
E foi, como diz, o último estertor, em eleições presidenciais, dos "liberal republicans", arrasados desde aí pela homogeneização ideológica do GOP (homogeneização dentro dos limites do possível num partido americano).
Com o Sul ainda traumatizado pelos activismos judiciais e pela "great society" de LBJ, depois de nunca ter conseguido romper com a herança "liberal" (no sentido yankee) de Nixon na política económica, enfrentando uma legislatura esmagadoramente democrata devido à ressaca de Watergate, não dispondo do vigor e do carisma do antecessor, e confrontado com um adversário que se dava ares de good ol'boy, estava condenado à derrota; nem o paliativo de descartar o Rockfeller o poderia salvar. Mas terá sido essa derrota que tornou definitiva e inexorável a viragem conservadora dos republicanos, o sucesso da "southern strategy" e 5 vitórias nas 7 eleições presidenciais seguintes e o controlo do congresso depois de mais de 4 décadas em minoria.
Isto é particularmente curioso num ano em que um sucessor dos rockefellers republicans (e a última figura política de dimensão nacional que assim pode ser qualificada) parece estar muito bem colocado na luta pela nomeação republicana, e, tal como Ford, sem pinga experiência senatorial ou de governador; para mais, falta-lhe a aura de incubente (que salvou o Ford de perder as primárias). A seu favor, o McCain não ser exactamente um novo Reagan e um indíce de likeability muito maior. O que, em aparente paradoxo com a anterior digressão sobre o realinhamento ideológico, parece indicar que o sucesso eleitoral de um político deve muito à circunstância e ao vaporoso e quase nada ao conteúdo.
At 7:26 PM, Anonymous said…
Naquele tempo aprendia eu trautear os números em inglês - one, two, three, four, five - e ouvia dizer o nome do presidente da América nas notícias e ficava intrigado: a América tem umpresidente chamado Geraldo 4!?...
Cumpts.
At 8:23 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Capitão-Mor:
É facto que a CIA sempre foi acusada de eficácia menor do que a que o seu orçamento sugeriria. Mas mesmo assim... já tinha décadas de tirocínio próprio e havia sucedido à OSS, que tinha funcionado bem contra os Alemães...
Meu Caro Espadachim:
Ou não tivesse nascido no Nebraska, célebre pelas figuras que deu à modalidade, a desportiva, claro.
Meu Caro Hugo Oliveira:
Tem toda a razão em considerar que, uma vez derrotado o falecido, o terreno estava arado para direitizar os Republicanos, o que começou com Reagan e o Senado que também ganhou, embora efemeramente, lembra-se. Já a Câmara, com o «Contrato Com a América», de Gingrich, precisaria ainda da falência Hilaryclintoniana na reforma dos cuidados de Saúde e Segurança Social para virar. Como de escândalos financeiros sucessivos, como o famoso de Dean Rostokowski, muito semelhantes aos que retiraram essa maioria, há dois meses.
A herança dos liberais do GOP julgo-a depositada nas mãos de Giuliani, mas não creio que consiga a nomeação. McCain vejo-o um pouco diferente, desde logo por ser convictamente prolife e pelas ligações aos militares. A valta de passado executivo que refere é um obstáculo real. Os Aericanos só elegeram um presidente, directamente, do Senado para a Casa Branca, Harding. E outro da "House", Garfield, creio. Gostam é de eleger governadores. Mas se a rival Democrata for Hillary, estarão nas mesmas circunstâncias e aí... um deles será o segundo da primeira reduzida categoria...
Meu Caro Bic Laranja:
Hihihihihihi. Tempos em que não olhava para os carros, está visto, onde, para além da marca homónima a proveniência do Estado de Residência do Michigan também mereceria nota...
Abraços a Todos.
At 9:52 AM, Paulo Cunha Porto said…
Adenda à resposta a Hugo Oliveira:
Do Senado para a Casa Branca, directamente, além de Harding, Kennedy, claro. Tanto olhei para trás da Segunda Guerra que me ia esquecendo do que está à frente dela, hihihihihi.
Ab.
At 11:13 AM, Anonymous said…
Caro Paulo Cunha Porto,
Só para explicitar um ponto: o herdeiro dos "rockefeller republicans" a que me referia é, naturalmente, Giulliani. McCain é, mais coisa, menos coisa, um conservador - apesar da desconfiança de muitos, receio bem que por motivos tão pueris como ser bem-amado pela imprensa libera, pelo instinto de "maverick" no trabalho legislativo e por ter sempre mantido a distância em relação à actual administração. E por ser homem de poucas certezas na ordem do Perene, um pecado mortal em certos círculos.
Só o referi porque acho curioso que, tendo Ford tido tantas dificuldades em conquistar a nomeação em 1976 por, já nessa altura, estar deslocado ideologicamente em relação às bases republicanas, e tendo estas vindo a ser, ao longo destes trintas anos, cada vez mais conservadoras - e com bons resultados eleitorais -, Giulliani surja com algumas hipóteses de a conseguir vencer (também não creio que o consiga, mas estou muito longe de excluir a hipótese). E isto, pese nem sequer contar com a aura de incubente. Por isso a referência a McCain não ser um Reagan (se fosse, trucidaria o pobre Rudy) e à importância do likeability.
"Do Senado para a Casa Branca, directamente, além de Harding, Kennedy, claro."
E olhando ainda mais para trás, apenas Harrison e Jackson, julgo eu. E, voltando ao senhor de Brooklyn, creio que caso seja eleito, será a primeira vez que um POTUS não foi, previamente, membro da Casa Branca (vp ou secretário), general, governador ou legislador nacional (congressitas, para lá de Garfield, houve Lincoln).
At 11:14 AM, Anonymous said…
Um abraço.
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