A Ilusão Que Alimenta
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Tão enganador é procurar obter a receita mágica da constância do deleite e da ditosa imutabilidade, como a esperança que se deposite neste Mundo para melhorar os nossos estados de espírito, ou nas nossas capacidades para melhorar o Mundo. Aplicar as forças da nossa volição, seja na conquista de um estado edénico,
seja na espera de um prémio sonhado, acabará sempre mal, pois quando o desejo se transforma em obsessão, transbordando dos momentos concretos que são o seu campo de eleição para objectivos que, pelo seu gigantismo, não podem deixar de ser abstractos, virá sempre a desmascarar-se como hipérbole de si, construída
sem a solidez ou o mínimo de cálculo. O que levará a desabar todo o projecto arquitectado, essa diferenciação extremada do real face ao sonhado, imposta a cada passo não só pela desilusão, mas também pelo alimento ininterrupto que, até certo ponto, foi o querer, enfardando em vez de nutrir e impedindo a digestão. Porque no seu princípio estava, de facto, o seu fim. Embora não no sentido que se pretendeu.
De Ronald de Carvalho:
DESTINO
Ainda menino, disse-me, um dia,
A voz oculta do coração:
"Terás da terra tôda a alegria
Na tua mão"
Ah! Duro engano, quem o diria!
Louco de espanto, de inquietação,
Só vi tortura, melancolia,
No mundo vão...
Ouve criatura de alma inocente,
Ouve e medita, porque não mente
Quem isto diz:
Na vida cheia de falsidade,
Só quem deseja a felicidade
Não é feliz...
Os Ingredientes plásticos: «Destinos Diferentes»,
de Pascale Bellot;
«Desejo», de Marty D. Ison.
e
«O Jardim da Melancolia», de Mike Worral.
Tão enganador é procurar obter a receita mágica da constância do deleite e da ditosa imutabilidade, como a esperança que se deposite neste Mundo para melhorar os nossos estados de espírito, ou nas nossas capacidades para melhorar o Mundo. Aplicar as forças da nossa volição, seja na conquista de um estado edénico,
seja na espera de um prémio sonhado, acabará sempre mal, pois quando o desejo se transforma em obsessão, transbordando dos momentos concretos que são o seu campo de eleição para objectivos que, pelo seu gigantismo, não podem deixar de ser abstractos, virá sempre a desmascarar-se como hipérbole de si, construída
sem a solidez ou o mínimo de cálculo. O que levará a desabar todo o projecto arquitectado, essa diferenciação extremada do real face ao sonhado, imposta a cada passo não só pela desilusão, mas também pelo alimento ininterrupto que, até certo ponto, foi o querer, enfardando em vez de nutrir e impedindo a digestão. Porque no seu princípio estava, de facto, o seu fim. Embora não no sentido que se pretendeu.
De Ronald de Carvalho:
DESTINO
Ainda menino, disse-me, um dia,
A voz oculta do coração:
"Terás da terra tôda a alegria
Na tua mão"
Ah! Duro engano, quem o diria!
Louco de espanto, de inquietação,
Só vi tortura, melancolia,
No mundo vão...
Ouve criatura de alma inocente,
Ouve e medita, porque não mente
Quem isto diz:
Na vida cheia de falsidade,
Só quem deseja a felicidade
Não é feliz...
Os Ingredientes plásticos: «Destinos Diferentes»,
de Pascale Bellot;
«Desejo», de Marty D. Ison.
e
«O Jardim da Melancolia», de Mike Worral.
5 Comments:
At 3:34 PM, Anonymous said…
A cortina teatral no Jardim da Melancolia faz de nós os espectadores do homem que espreita interiores por descobrir, a função da poesia, para muita gente.
At 5:54 PM, Anonymous said…
Querido Paulo
Mas quem diz que se está à espera de um prémio?
A felicidade sou eu que a faço, pelo menos a minha. Se eu estiver feliz, farei tudo para que os que estão à minha volta também o sejam, e assim sucessivamente.
Pois claro que se melhora o Mundo.
Isto não é um salve-se quem puder! porque se fôr o Mundo piora.
Digo eu, Penso eu.
Beijinho
At 9:12 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Mancha:
Uma definição... poética. Se essa melancolia estava já, em semente no íntimo do que buscou, ou se foi introduzida do exterior, eis a questão.
Querida Marta:
Não sei é se jogar-se todo nessa hipótese de ausência de dor não obrigará a uma derrota, à derrota, em suma.
Beijinho e abraço.
At 11:59 PM, Viajante said…
Ah... quantas vezes «no seu princípio estava, de facto, o seu fim»! Todavia, discordaria da aplicação «a esperança que se deposite... nas nossas capacidades para melhorar o Mundo» - :)
Qual Mundo? Ou melhor, que Mundo? E mesmo que a Maiscúla seja indicativa, que dimensão do Mundo?... e se nada pudermos em nenhum dos mundos, o que supre o sentido da finalidade?
só interrogações, vejo! mas é delas que se parte, pois é? ou a elas se chega, certo?
Boas Festas, Misantropo, cheias de calor e de alegria...
b & r
At 10:59 AM, Paulo Cunha Porto said…
É sem dúvida de interrogações que se trata, Oh Excelsa Viajante! E a mais indagante delas não será - cá vem outra - a da condenação apriorística ao infortúnio daquele que sente a necessidade de procurar uma totalidade que julgue contentar?
Beijo, por uma vez também uma interrogação.
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