Bravatas
Tendo aqui, repetidamente, falado contra a falsidade dos julgamentos políticos, o de Saddam incluído, bem como opinado pela justeza de lhe concederem a morte honrosa, pelas balas, que ele requereu, estou à vontade para comentar negativamente o depoimento pelo condenado emitido de que está pronto a ser «um mártir entre os mártires e, ainda mais modestaente, um primus inter pares».
Habituado que estou a ler a hagiografia Cristã, em que os martirizados por diferentes inimigos da Fé subvalorizavam o valor do seu sacrifício e salientavam o carácter ínfimo que diziam ocupar entre os seguidores do Senhor, sendo as palmas respectivas homenagens post-mortem alheias ao tom dos respectivos discursos, tenho de reafirmar quão estranha é para mim esta pretensa civilização das auto-proclamações. E o bem que me sinto na pele de um Ocidental, coisa que nem sempre acontece...
Habituado que estou a ler a hagiografia Cristã, em que os martirizados por diferentes inimigos da Fé subvalorizavam o valor do seu sacrifício e salientavam o carácter ínfimo que diziam ocupar entre os seguidores do Senhor, sendo as palmas respectivas homenagens post-mortem alheias ao tom dos respectivos discursos, tenho de reafirmar quão estranha é para mim esta pretensa civilização das auto-proclamações. E o bem que me sinto na pele de um Ocidental, coisa que nem sempre acontece...
4 Comments:
At 5:59 PM, T said…
Previa-se isto...Enfiem-no numa prisão bolorenta, a fazer trabalhos com utilidade prática e que não se ouça falar mais dele.
Eu não gosto nada desta sentença da forca. É bárbaro.
At 7:58 PM, Anonymous said…
Falar de sentença condenatória, no caso de Saddam é apenas um eufemismo.
Três advogados de defesa mortos; pelo menos, um juiz substituído por, na condução do processo, dar demasiada importância ao Réu e as mil e uma trapalhadas processuais provam que o julgamento de Saddam não passou de um inumano acto de vingança, uma fantochada destinada a fantasiar uma capa legal para uma decisão pré-traçada.
Preferível teria sido liquidá-lo no acto de captura.
Que Georges W. Bush se regozije com uma tal fantochada, torna-o igual a Saddam. Pior, porque nasceu e cresceu numa nação que se afirmou como terra da liberdade e do respeito pela dignidade humana.
A superioridade moral dos julgaram Saddam só se afirmaria se o não tivessem julgado com os mesmos critérios com que Saddam os julgaria a eles. Afinal, não se distinguiram, nem pelo sentido de Justiça, nem pelo sentido de piedade. São iguais a Saddam.
At 9:02 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Espadachim:
Esse comentário podia começar por "Baas". Não tinha pensado nisso, mas será que a reconversão religiosa de um regime que respirou, até certo ponto, laicidade, virá a tempo?
Querida T:
Eu não sou contra matarem o homem, tantas foram as monstruosidades que cometeu sobre civis indefesos que não eram opositores políticos. E isto porque não excluo a pena de morte para os casos mais graves de homicídio, aqueles que repugnaem mais. Mas claro que o julgamento foi uma fantochada.
Meu Memorioso Amigo:
Concordo inteiramente que teria sido mais digno acabar com ele sem o teatro com que nos bombardearam. Ele teria tido o que merecia, sem mentirolas, que são sempre os julgamentos políticos. Era o que Churchill defendia para os responsáveis alemães e o preço que os vencidos brutais devem pagar, mas sem os disfarces da armadura jurídica.
E acho mal que o matem pelo processo aplicdo aos criminosos comuns, porque, afinal, ele foi chefe daquele coxo Estado. Com esta humilhação adicional é a própria credibilidade da unidade iraquiana que se esvai. Daí que o condenado tenha falado em «vingança dos persas», designação propagandista que visa assimilar os xiitas ora dominantes ao estrangeiro iraniano e inimigo de ontem.
Os americanos fazem o papel deles: fingem acreditar na autonomia das criaturas que colocaram em Bagdad, quando todos vêem o contrário.
Beijinhos e abraços.
At 8:53 PM, Anonymous said…
querido paulo,
não sou a favor da pena de morte. neste caso estou de acordo com a "t" e com a prisão prepétua acompanhada de trabalhos adequados à pessoa em questão.
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