As Virtudes de um Lema
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Não resisto a reproduzir aqui este extraordinário ex-libris incluído num livro que hoje adquiri. A imagem de uma leitura feminina seria, já de si, susceptível de me cativar. Os livros, como o pormenor da indicação do ano em que foi adquirido, constituiriam, por si só, um decor sedutor. As ligações modernas, fossem telefónicas com o reforço da simbologia da ligação ao Mundo Exterior, fossem as energéticas que sugerissem o carácter electrizante dos textos, contribuiriam para uma imagem inspiradora. Mas o climax está no lema: «Ócio com Dignidade». Para quem, alheio às fantasias da "realização pessoal", vê no Trabalho uma única qualidade - a de viver com honra, sem prejudicar o próximo, o que para a maioria é o único caminho posível -, esta reabilitação de uma situação completamente diversa também é cara: a da utilização dos tempos libertados, não para a omnipresença e omnipotência dos prazeres imediatos que atirassem para a boçalidade, mas para o aperfeiçoamento de si, da parte daquele que lê, é evidente motivo de júbilo.
10 Comments:
At 8:50 PM, Anonymous said…
Ulpiano, José Hermano Saraiva, Paulo Cunha Porto.....alterum non laedere......
At 8:56 PM, António Viriato said…
Meu Caro Amigo Paulo Cunha Porto,
Muito me agrada esse lema latino : «Otium cum dignitate», que nos incita a viver os nossos momentos de lazer com dignidade, i.e., fora de ocupações alienantes, que nos desviem da nossa verdadeira natureza de seres racionais, pensantes, responsáveis perante nós mesmos e perante os demais, com objectivos na vida, com ideais que nos elevem e não com ocupações que nos degradem e nos alienem da nossa condição.
É uma exortação simples, mas prouvera a Deus que a realizássemos sempre, na prática quotidiana das nossas vidas. Boa proposta de meditação para este tempo de consumismo desbragado.
Retribuo-lhe também os votos de Boas Festas. Que tenha passado um Natal Feliz, com o espírito presente no fundador desta quadra, mais do que no ícone tipicamente consumista do Pai Natal, e que o Ano de 2007 lhe seja pródigo em saúde, alegria, com muitas realizações no plano profissional e pessoal. Que nos tornemos todos melhores em 2007 !
At 9:22 PM, Anonymous said…
bom ano!
At 10:14 PM, T said…
Olha o Çamorano:) ! O mundo é pequeno.
Mas gosto muito dessa máxima: ócio com dignidade.
Gosto tanto de a exercer.
sobretudo quando deslizo o ócio pelas minhas coisas predilectas. Por exemplo, vir aqui comentar.
Dedilhar alfarrábios e outros poeirentos.
Direito à preguiça como escreveu Lagargue: mas preguiça com muita qualidade.
At 11:15 PM, Anonymous said…
Amigo Paulo:
Impressão minha ou você é conhecido em todos os alfarrabistas de Lisboa e arredores! :)
Por aqui também tenho uns "sebos" bastante interessantes. Normalmente procuro tudo o que diz respeito à colonização do Rio Grande do Norte. Recolha de informação para um romance que nunca irei escrever. Eh,eh.eh!
At 12:21 AM, Jansenista said…
"Cum dignitate otium": M.T. Cicero, Pro Sestio, XLV-98: "id quod est praestantissimum maximeque optabile omnibus sanis et bonis et beatis, cum dignitate otium. hoc qui volunt, omnes optimates, qui efficiunt, summi viri et conservatores civitatis putantur; neque enim rerum gerendarum dignitate homines ecferri ita convenit ut otio non prospiciant, neque ullum amplexari otium quod abhorreat a dignitate."
+++
O ex-libris não será de um flaviense?
At 9:51 AM, Paulo Cunha Porto said…
Ui, Caríssimo Çamorano, Em que Altas Companhias me colocas! Mas penso que é, realmente, o princípio dos princípios.
Meu Caro António Viriato:
Tentemos pois ser sempre coerentes com essa preocupação de nos aperfeiçoarmos. E com o 2007 em vista Lhe desejo tudo de elhor e muito intercâmbio bloguista, como vindas a esta casa que é Sua.
Caro Anónimo:
Igualmente.
Querida T:
Pôr o misantropo no mesmo plano que os deliciosos calhamaços cujas páginas nos tornam felizes?!!! Foi o melhor elogio que me fizeram, mesmo tendo presente as muitas e bondosas amabilidades com que me têm distinguido neste ano e picos de blogação.
Da «Preguiça com Qualidade» sou o supremo beneficiário: ver o blogue a melhorar, com os magníficos comentários da T, sem que eu me tenha de esforçar para isso...
Meu Caro Capitão-Mor:
É bem verdade que já vou sendo conhecido no meio, hihihihi. Ai que saudades dos sebos brasileiros! Os do Rio, que foram os que conheci, embora numa idade sem autonomia aquisitiva! E Amigos meus dizem-me maravilhas da actualidade deles.
Meu Caro Jansenista:
Obrigadíssimo pela localização exacta da citação, que eu era incapaz de fazer. Ignoro os dados biográficos do anterior proprietário, apesar de ter comprado vários livros interessantes da biblioteca dele. O que Lhe levantou suspeitas?
Os apelidos?
A ligação do texto que reproduziu a qualidades dos Naturais de Chaves?
Algum elemento da imagem?
Beijinhos e abraços.
At 2:31 PM, Jansenista said…
Olhando melhor para a iconografia do ex-libris julgo estar enganado; mas o nome evocou-me o do sogro (flaviense) de um célebre, ainda que jovem, causídico dos direitos dos animais. Era o único indício.
Reparou que no ex libris a ordem das palavas é a mais natural, e Cícero não resistiu a um justamente atribuído «ciceronismo», a inversão enfática da ordam na frase.
At 2:43 PM, Paulo Cunha Porto said…
O meu latim não dá para uma apreciação rigorosa, caro Jans, mas já li em qualquer lado que a troca da ordem habitual das palavras era um dos expedientes oratórios de que Cícero se servia para gerar os efeitos únicos que provocava.
Abraço.
At 7:09 PM, T said…
Até me fez perder o pio!
E isso é tarefa complicada, risos.
Obrigada querido Paulo, pela sua simpatia.
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