Tuesday, February 28, 2006
Barómetro
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Critérios de aptidão artística, em Hollywood, sabe-se como são condicionados pela tradução em dinheiro. Nomeadamente, o do cachet que as vedetas auferem. Reese Witherspoon é agora, mais do que nunca, a favorita ao boneco dourado, pela interpretação em Jonnhy Cash, esse nome premonitório, pois ultrapassou Julia Roberts como a actriz mais bem paga da indústria cinematográfica norte-americana. Saber qual é o ovo e qual a galinha é questão ociosa que deixo a quem tenha vagares para a dilucidar.
Mas por falar em cotação, a Meca do Cinema deveria preocupar-se com a sua própria. A Juliette Lewis de «NASCIDOS PARA MATAR» e «O CABO DO MEDO» - lembram-se? - decidiu que vai secundarizar a actividade de representação, privilegiando a de cantora Rock. Seria bom que, antes de ditar o rank das intérpretes, a capital dos filmes porfiasse para manter a sua reputação cimeira.
Critérios de aptidão artística, em Hollywood, sabe-se como são condicionados pela tradução em dinheiro. Nomeadamente, o do cachet que as vedetas auferem. Reese Witherspoon é agora, mais do que nunca, a favorita ao boneco dourado, pela interpretação em Jonnhy Cash, esse nome premonitório, pois ultrapassou Julia Roberts como a actriz mais bem paga da indústria cinematográfica norte-americana. Saber qual é o ovo e qual a galinha é questão ociosa que deixo a quem tenha vagares para a dilucidar.
Mas por falar em cotação, a Meca do Cinema deveria preocupar-se com a sua própria. A Juliette Lewis de «NASCIDOS PARA MATAR» e «O CABO DO MEDO» - lembram-se? - decidiu que vai secundarizar a actividade de representação, privilegiando a de cantora Rock. Seria bom que, antes de ditar o rank das intérpretes, a capital dos filmes porfiasse para manter a sua reputação cimeira.
Gémeos Heterozigóticos
Nesta Terça-Feira Gorda, período morto para os que não sentem atracção pelos desfiles da época, altura para referir as duas grandes
práticas que informam o pluripartidismo português, nos dois últimos séculos. A proximidade das opções sociais remete as discussões políticas para duas grandes viciações: a intriga e o rumor. A primeira é protagonizada normalmente por membros da classe política, que simulam dela afastar-se, para, convenientemente, animarem o comentarismo que lhes serve de tribuna. Baseia-se em informações obtidas "do interior" dos orgãos de poder e partidários, quando não da cabeça dos seus membros, para elaborar cenários e aumentar a relevância de divergências pessoais. Foi a escola que celebrizou o «EXPRESSO» e que vem sendo seguida pelos outros jornais e pelas televisões.
Seu irmão gémeo é o boato, o intriguismo dos pobres. Posto a circular a partir de origens muito diversas, por vezes sem conteúdo pré-determinado, visa apenas criar a atmosfera que prejudique certo adversário, no sistema. Todos nos lembramos de casos recentes, em casapianas listas subreptícias, vidas pessoais de candidatos a P-M e novas de reportagens de aludidas revistas estrangeiras. É coisa antiga e nunca se sabe onde acabará. Já no Constitucionalismo Monárquico, Barbosa Collen, director do «NOVIDADES» e deputado Progressista, para mais vender e, possivelmente, a imagem dos seus insinuar, gabava-se de chegar perto de um grupo escolhido, dizendo que corria «estar o Ministro da Justiça prestes a demitir-se» por uma obscura, indeterminada e acabada de inventar turra com o Ministro do Reino; e, à tarde, virem contar-lhe a notícia pormenorizada do caso, envolvendo a nomeação de um Governador Civil de Braga, nomeado por um dos governantes, o qual reprovara o filho do outro, estando em iminência um duelo à séria, que permitia ao jornal titular «Grande Crise Governamental». E vender.
Vícios antigos, como se vê.
práticas que informam o pluripartidismo português, nos dois últimos séculos. A proximidade das opções sociais remete as discussões políticas para duas grandes viciações: a intriga e o rumor. A primeira é protagonizada normalmente por membros da classe política, que simulam dela afastar-se, para, convenientemente, animarem o comentarismo que lhes serve de tribuna. Baseia-se em informações obtidas "do interior" dos orgãos de poder e partidários, quando não da cabeça dos seus membros, para elaborar cenários e aumentar a relevância de divergências pessoais. Foi a escola que celebrizou o «EXPRESSO» e que vem sendo seguida pelos outros jornais e pelas televisões.
Seu irmão gémeo é o boato, o intriguismo dos pobres. Posto a circular a partir de origens muito diversas, por vezes sem conteúdo pré-determinado, visa apenas criar a atmosfera que prejudique certo adversário, no sistema. Todos nos lembramos de casos recentes, em casapianas listas subreptícias, vidas pessoais de candidatos a P-M e novas de reportagens de aludidas revistas estrangeiras. É coisa antiga e nunca se sabe onde acabará. Já no Constitucionalismo Monárquico, Barbosa Collen, director do «NOVIDADES» e deputado Progressista, para mais vender e, possivelmente, a imagem dos seus insinuar, gabava-se de chegar perto de um grupo escolhido, dizendo que corria «estar o Ministro da Justiça prestes a demitir-se» por uma obscura, indeterminada e acabada de inventar turra com o Ministro do Reino; e, à tarde, virem contar-lhe a notícia pormenorizada do caso, envolvendo a nomeação de um Governador Civil de Braga, nomeado por um dos governantes, o qual reprovara o filho do outro, estando em iminência um duelo à séria, que permitia ao jornal titular «Grande Crise Governamental». E vender.
Vícios antigos, como se vê.
Refundações
A história do comunismo instituído na Europa foi uma contínua marginalização dos homossexuais, mesmo os de discreta conduta no campo, como de rejeição das bandeiras da denominada Cultura Gay. No caso Português, para além da expulsão de militantes, como Lopes Graça, com a explicação sumariamente puritana de não terem sido excluídos por «mau conportamento político», o que queria dizer não terem "bufado", a questão despertou mesmo uma substituição de lideranças. Ninguém vê, por enquanto, o PCP a arvorar os estandartes remetidos para as campanhas do Bloco de Esquerda, cujo eleitorado, até ver, se tem por menos fixo. Na base de apoio comunista, aliás, uma inflexão nesse sentido poderia desencadear a derrocada.
Mas a coisa inverte-se na actual campanha eleitoral italiana. Fausto Bertinotti, um político dotado de algum génio mediático, não encontrou melhor forma de penetração no eleitorado alheio pela sua Rifondazione Comunista do que pôr em destaque, na respectiva propaganda, o candidato Vladimir Luxuria, um travesti defensor da prioridade do matrimónio homo e adjacentes alterações legislativas, sacrificando, em contrapartida, alguns dos dogmas económicos da teorização marxista, substituídos por uma retórica social libertária levada ao extremo. Podemos perguntar é em que passará o partido a distinguir-se de uma DS convertida a Social-Democracia, ou dos temas protestatários que fizeram a fortuna pretérita do partido Radical?
Leitura Matinal -281
Há um remorso maior que todos: o de atempadamente se não ter
proferido as palavras que se impunham, deixando falar somente a Outra boca, no doentio temor da escravização pelo que se pudesse dizer. Só quando irremediavelmente passado todo o fogo, se recorre à poesia para, mais alto do que teria sido necessário, se a tempo e horas, e impotentemente na retribuição, deixar a marca indelével
da fala e do sentir que corresponde à mais doce e ansiada das servidões. É o contraste doloroso entre um sentimento que se manifesta algo postumamente e a possibilidade vital da dádiva recíproca em termos equiparáveis, que deixa bem claro para todos a aparência de um aproveitamento pouco digno, cujo arrependimento assalta
na precisa medida em que a ocasião perdida de uma vida já nem resgatada pode ser pela memória, cuja falibilidade, real ou fingida, substitui, como obstáculo, a citada falta. Resta então o poema, deposição de coroa junto do Destinatário Desconhecido, construção e homenagem que obrigam à participação de todos e substituem o íntimo pela proclamação.
De Alphonsus de Guimaraens Filho:
Aqui venho depor uma palavra
que alguém me segredou, mas onde e quando?
Eu sei apenas que alguém falava.
E eu ficava escutando.
Aqui venho depor um sentimento
que é silêncio, talvez.
Eu nada sei senão que vibra ao vento
distante e tormentosa lucidez.
Deixo latejar uma palavra
que não foi minha, mas vivi.
A vida quase que se revelava...
Onde e quando, esqueci.
Com «Escutando», David George, «Sentimento»,
de Mara McWilliams e «Na Aurora silenciosa»,
de Nancy Schieman.
proferido as palavras que se impunham, deixando falar somente a Outra boca, no doentio temor da escravização pelo que se pudesse dizer. Só quando irremediavelmente passado todo o fogo, se recorre à poesia para, mais alto do que teria sido necessário, se a tempo e horas, e impotentemente na retribuição, deixar a marca indelével
da fala e do sentir que corresponde à mais doce e ansiada das servidões. É o contraste doloroso entre um sentimento que se manifesta algo postumamente e a possibilidade vital da dádiva recíproca em termos equiparáveis, que deixa bem claro para todos a aparência de um aproveitamento pouco digno, cujo arrependimento assalta
na precisa medida em que a ocasião perdida de uma vida já nem resgatada pode ser pela memória, cuja falibilidade, real ou fingida, substitui, como obstáculo, a citada falta. Resta então o poema, deposição de coroa junto do Destinatário Desconhecido, construção e homenagem que obrigam à participação de todos e substituem o íntimo pela proclamação.
De Alphonsus de Guimaraens Filho:
Aqui venho depor uma palavra
que alguém me segredou, mas onde e quando?
Eu sei apenas que alguém falava.
E eu ficava escutando.
Aqui venho depor um sentimento
que é silêncio, talvez.
Eu nada sei senão que vibra ao vento
distante e tormentosa lucidez.
Deixo latejar uma palavra
que não foi minha, mas vivi.
A vida quase que se revelava...
Onde e quando, esqueci.
Com «Escutando», David George, «Sentimento»,
de Mara McWilliams e «Na Aurora silenciosa»,
de Nancy Schieman.
Homenagem a Je Maintiendrai
Monday, February 27, 2006
Incógnita
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Como há já uma quase vintena de anos que abandonei as lides universitárias, não me importo de procurar esta beldade. Alguém sabe dizer qual é o blogue desta Colega? Esperteza não lhe falta, para se esconder dos cães de caça que lhe andam no encalço. Não podia faltar, no dia em que os livros e a feminilidade estiveram na berra...
Como há já uma quase vintena de anos que abandonei as lides universitárias, não me importo de procurar esta beldade. Alguém sabe dizer qual é o blogue desta Colega? Esperteza não lhe falta, para se esconder dos cães de caça que lhe andam no encalço. Não podia faltar, no dia em que os livros e a feminilidade estiveram na berra...
As Páginas do Êxtase
O Caríssimo Mendo Ramires lançou, do alto da sua Torre, a seta que é mote para a comparação entre os Mais Belos dos Temas: o Livro e a Mulher.
Tentarei, pois, dar-Vos algumas linhas sobre a Matéria - e o espírito, já agora -, para aproveitar tão Ilustre Deixa e porque há longo tempo prometidas. Sempre disse que uma Mulher é como um Livro, no sentido em que é possível a um homem aprender muito com Ambos, Uma e Outro podem proporcionar imenso prazer e, sendo caso disso, escolha criteriosa em Qualquer Deles pode ser companhia para a vida. João da Silva Correia comparava as Mulheres aos Livros por, contando histórias aos filhos, protagonizarem uma forma de transmissão similar à dos volumes.
Os Antigos diziam para ter cuidado com o homem de um livro só, reconhecendo assim toda a felicidade e consistência de um leitor que tivesse dedicado a vida
inteira a digerir um único texto. Da mesma forma, a coesão de um indivíduo deverá aumentar pela dedicação a uma Mulher. Mas, claro isto é pura especulação e, sobre o assunto, muito melhor escreveu o Nosso Amigo. Direi apenas uma coisa: para muitos homens, criar um livro e uma Mulher será maneira bem compreensível de seguir o Exemplo de Deus, que é o Redactor Primeiro da Bíblia e inventou Eva, com o auxílio de uma costela nossa. Pelo que, em jeito de hino a Essas Duas Maravilhas, junto a estátua que imortaliza os Objectos deste "post" e um par de serra-livros de femininas figuras, ao melhor estilo Art Nouveau.
Tentarei, pois, dar-Vos algumas linhas sobre a Matéria - e o espírito, já agora -, para aproveitar tão Ilustre Deixa e porque há longo tempo prometidas. Sempre disse que uma Mulher é como um Livro, no sentido em que é possível a um homem aprender muito com Ambos, Uma e Outro podem proporcionar imenso prazer e, sendo caso disso, escolha criteriosa em Qualquer Deles pode ser companhia para a vida. João da Silva Correia comparava as Mulheres aos Livros por, contando histórias aos filhos, protagonizarem uma forma de transmissão similar à dos volumes.
Os Antigos diziam para ter cuidado com o homem de um livro só, reconhecendo assim toda a felicidade e consistência de um leitor que tivesse dedicado a vida
inteira a digerir um único texto. Da mesma forma, a coesão de um indivíduo deverá aumentar pela dedicação a uma Mulher. Mas, claro isto é pura especulação e, sobre o assunto, muito melhor escreveu o Nosso Amigo. Direi apenas uma coisa: para muitos homens, criar um livro e uma Mulher será maneira bem compreensível de seguir o Exemplo de Deus, que é o Redactor Primeiro da Bíblia e inventou Eva, com o auxílio de uma costela nossa. Pelo que, em jeito de hino a Essas Duas Maravilhas, junto a estátua que imortaliza os Objectos deste "post" e um par de serra-livros de femininas figuras, ao melhor estilo Art Nouveau.
Devo acrescentar, para o Nosso Amigo Cinéfilo de Espanha, que a frase «Amamos os livros velhos e as raparigas novas», a qual, em certa altura, me foi por Si atribuída, foi trazida a este blogue pelo mesmíssimo Mendo que, agora, volta, notavelmente, à carga.
Escrito nas Estrelas
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Venham cá defender a coerência das predisposições astrológicas! Bem sei que o ano e o local de nascimento também são tidos como influentes. Mas que dizer quando a 27 de Fevereiro se comemoram os anos de Elizabeth Taylor, celebrizada por uma continuada actividade de casa-descasa, vertida garrafalmente para a imprensa, e os de Joanne Woodward, cujo casamento com Newman se revelou discreto e de uma rara durabilidade no Mundo de Hollywood? Ora, que importa isso, perante duas extraordinárias actrizes? De Liz, já Vos tenho falado, é muito cá de casa, mas da Woodward tem de ser referido o inevitável, multifacetado e oscarizado desempenho de «THE THREE FACES OF EVE». É interpretação que merece, todinha, a fama que tem.
Venham cá defender a coerência das predisposições astrológicas! Bem sei que o ano e o local de nascimento também são tidos como influentes. Mas que dizer quando a 27 de Fevereiro se comemoram os anos de Elizabeth Taylor, celebrizada por uma continuada actividade de casa-descasa, vertida garrafalmente para a imprensa, e os de Joanne Woodward, cujo casamento com Newman se revelou discreto e de uma rara durabilidade no Mundo de Hollywood? Ora, que importa isso, perante duas extraordinárias actrizes? De Liz, já Vos tenho falado, é muito cá de casa, mas da Woodward tem de ser referido o inevitável, multifacetado e oscarizado desempenho de «THE THREE FACES OF EVE». É interpretação que merece, todinha, a fama que tem.
Marilyn contra Russell
Só pode ser partida de Carnaval a notícia de que dentro de duzentos anos não haverá mais louros na Humanidade. Não, não virei optimista, se a afirmação se referisse ao carácter simbólico das coroas feitas a partir do conhecido vegetal, eu fá-la-ia minha, pois suspeito de que o Futuro não nos reserva grande acervo de prespectivas estimulantes do nosso orgulho. O problema está em que a "espécie em vias de extinção" é a dos portadores de cabelo claro. Um contrasenso! O próprio artigo do «DN» explica como essa mutação minoritária fez as Mulheres que por ela se caracterizavam serem mais desejadas pelos homens, desde o Tempo das Cavernas; e diz-nos que foi identificado o gene respectivo, o MC1R. Ora alguém acredita que no Novo Mundo Admirável a que os nossos filhos estão votados, podendo-se manipular geneticamente a bel-prazer, um traço desejado não venha a ser objecto de pré-programação? A conclusão, de que o cabelo naturalmente louro está prestes a acabar é inatacável, não pela fulva parte, sim pelo carácter natural.
A menos que... a propaganda anedótica contra pretensa «burrice» das louras leve as Mães do Porvir a tentarem assegurar a imagem intelectual das filhas, a partir da opção contrária!
Meninos Precoces
Infelizmente, mais nos vícios do que no resto. Muito instrutivas, as declaraçoes do Secretário-Geral da JS Pedro Nuno Santos, sobre as razões pelas quais a sua direcção pretende propagandear o «espaço civilizacional»(!) com aborto legalizado, casamento homo, drogas, prostituição e eutanásia», esses consabidos requisitos civilizacionais sine qua non...
A motivação profunda, ficámos a sabê-lo, para serem alçados estes controversos estandartes, não se prendem com a melhoria da comunidade que deveria ser o propósito de qualquer político, mesmo enquanto jovem. É-nos confessado que se trata, segundo a visão do entrevistado, da melhor forma de «marcar a agenda» e de «ganhar visibilidade». Ou seja, obsessão com a imagem, como os partidocratas menos verdes. Uma imagem diferente, mas uma imagem, quand même.
Instado a pronunciar-se sobre temas que preocupam muito mais gente do que as franjas marginais, o juvenil cabo político diz não se tratar, na Juventude Socialista, de «fazer política para os jovens», mas de «jovens a fazer política». Haja alguém que lhe diga que, embora isso explique muita coisa, não justifica tudo. E que a pouca idade não deve ocupar, num homem público, o lugar pertencente ao bem da Colectividade.
Leitura Matinal -280
A Nossa esfera interior é como o ciclo da vida. A cada fim corresponde
um começo e vice-versa, sendo que o termo de um é o princípio de outro, numa sucessão que constitui, ela própria, a mola vital. A perda do equilíbrio reside muitas vezes em apegar-se exclusivamente ao luto por uma ilusão, ou ao aborto de uma expectativa natural. A atrofia do futuro, ou a recusa de assunção do passado, podem ser vistas como a eliminação
do gosto de viver, privado da resposta à necessidade de entrega a nova ordem de perspectivas. A recolha das asas de um objecto do nosso desejo encerra, por si só, a imagem ideal para descrever a retoma do voo, após o descanso. Por isso é recolhimento e não corte. Ao renunciar a aplicar-se está perdida a corda que mantém em movimento cada humana individualidade.
Ou seja, dentro de nós devemos assegurar o processamento normal do ciclo entre o dia e a noite, para que a alternância entre as géneses e as extinções se refiram à naturalidade dos nossos estados de alma, obviando, dessa eficaz maneira, a que se transfira, mais depressa do que o impõe a inevitabilidade física, para a substituição do nosso ser por outro, na vastidão do Universo, ou, ao menos, na parcela que conhecemos.
De Aguinaldo Brito Fonseca:
CÍRCULO
Nascemos, morremos, tornamos a nascer
Em cada sonho, cada ideia, cada gesto.
Cada dia que chega é flor que se abre ao sol
Com novo cheiro, nova cor, nova beleza.
Nossos desejos são asas que se elevam
Cruzando o céu da vida em voo largo...
Mas nunca chegam, nunca param
Enquanto corre o sangue e a vida cresce e rola.
O fim dum sonho é o começo doutro,
cada horionte outro horizonte aponta
E uma esperança morta outra esperança aquece.
Há mágoas, alegrias, desesperos...
E a gente, insatisfeita,
Enquanto ri ou chora ou canta ou fica triste,
Vai nascendo, morrendo e renascendo
Cada dia, cada hora, cada instante
Noutra vida, noutro sonho, noutra esperança.
Apoiando-se em: «O Fim do Princípio», de Craig La Rotonda,
«Apoclipse de Angers: A Mulher Recolhe as Suas Asas», de
Nicolas Bataille e «Renascimento», de Iv Toshain.
um começo e vice-versa, sendo que o termo de um é o princípio de outro, numa sucessão que constitui, ela própria, a mola vital. A perda do equilíbrio reside muitas vezes em apegar-se exclusivamente ao luto por uma ilusão, ou ao aborto de uma expectativa natural. A atrofia do futuro, ou a recusa de assunção do passado, podem ser vistas como a eliminação
do gosto de viver, privado da resposta à necessidade de entrega a nova ordem de perspectivas. A recolha das asas de um objecto do nosso desejo encerra, por si só, a imagem ideal para descrever a retoma do voo, após o descanso. Por isso é recolhimento e não corte. Ao renunciar a aplicar-se está perdida a corda que mantém em movimento cada humana individualidade.
Ou seja, dentro de nós devemos assegurar o processamento normal do ciclo entre o dia e a noite, para que a alternância entre as géneses e as extinções se refiram à naturalidade dos nossos estados de alma, obviando, dessa eficaz maneira, a que se transfira, mais depressa do que o impõe a inevitabilidade física, para a substituição do nosso ser por outro, na vastidão do Universo, ou, ao menos, na parcela que conhecemos.
De Aguinaldo Brito Fonseca:
CÍRCULO
Nascemos, morremos, tornamos a nascer
Em cada sonho, cada ideia, cada gesto.
Cada dia que chega é flor que se abre ao sol
Com novo cheiro, nova cor, nova beleza.
Nossos desejos são asas que se elevam
Cruzando o céu da vida em voo largo...
Mas nunca chegam, nunca param
Enquanto corre o sangue e a vida cresce e rola.
O fim dum sonho é o começo doutro,
cada horionte outro horizonte aponta
E uma esperança morta outra esperança aquece.
Há mágoas, alegrias, desesperos...
E a gente, insatisfeita,
Enquanto ri ou chora ou canta ou fica triste,
Vai nascendo, morrendo e renascendo
Cada dia, cada hora, cada instante
Noutra vida, noutro sonho, noutra esperança.
Apoiando-se em: «O Fim do Princípio», de Craig La Rotonda,
«Apoclipse de Angers: A Mulher Recolhe as Suas Asas», de
Nicolas Bataille e «Renascimento», de Iv Toshain.
Sunday, February 26, 2006
Águia de Ouro
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Uma Flor de Lis que fez resplandecer este belo Animal, bem longe da ameaça que sofrem as aves do seu País. Está justificada a contratação. E a de Léo sobre todas. Não me canso de dizer que a dupla Petit-M. Fernandes está a regressar à carburação. Aqui fica a imagem do brilho. E o jogo foi muito melhor do que o do Liverpool.
Não falo do Nuno Gomes, para não estragar a festa.
Uma Flor de Lis que fez resplandecer este belo Animal, bem longe da ameaça que sofrem as aves do seu País. Está justificada a contratação. E a de Léo sobre todas. Não me canso de dizer que a dupla Petit-M. Fernandes está a regressar à carburação. Aqui fica a imagem do brilho. E o jogo foi muito melhor do que o do Liverpool.
Não falo do Nuno Gomes, para não estragar a festa.
Condenado No Pedido
Fustigado por manifestações de protesto, o Presidente do Governo Espanhol, Zapatero, pediu que a liderança do PP colaborasse com a sua política face à ETA, recordando que tinha feito o mesmo, quando na oposição, durante a governação Aznar, com a intenção de servir o País, antes de beneficiar o partido. Com o devido respeito, há que lembrar não ser exactamente a mesma coisa uma colaboração com a política de um governo contra a ETA e uma colaboração política com a ETA, contra o bom governo.
A Mulher em Chamas
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Lembram-se do título de um filme pouco atractivo de Robert van Ackeren? Nem o Carnaval, nem a protagonista fazem, minimamente, o tipo do misantropo. No entanto, o Jansenista tinha pedido e há que dar honra ao Mérito. Faz parte do meu imaginário a cena da maratonista suíça que, numa final Olímpica, se arrastou, esgotada e desidratada, até à meta. Imagino que a equivalência possível, no desfile das escolas de Samba do Rio de Janeiro, se haja dado hoje, quando a Rainha da «Mocidade Alegre», Nani Moreira viu a parte da fantasia que lhe cobria a cabeça pegar fogo, tendo, depois de extinto este, com queimaduras na testa e na mão, prosseguido, até ao termo do programa. Eis uma fotografia dela, quando vencedora, em 2004.
Lembram-se do título de um filme pouco atractivo de Robert van Ackeren? Nem o Carnaval, nem a protagonista fazem, minimamente, o tipo do misantropo. No entanto, o Jansenista tinha pedido e há que dar honra ao Mérito. Faz parte do meu imaginário a cena da maratonista suíça que, numa final Olímpica, se arrastou, esgotada e desidratada, até à meta. Imagino que a equivalência possível, no desfile das escolas de Samba do Rio de Janeiro, se haja dado hoje, quando a Rainha da «Mocidade Alegre», Nani Moreira viu a parte da fantasia que lhe cobria a cabeça pegar fogo, tendo, depois de extinto este, com queimaduras na testa e na mão, prosseguido, até ao termo do programa. Eis uma fotografia dela, quando vencedora, em 2004.
Para alimentar fogos de Leitores que apreciem.
A Razão Verdadeira
O artigo da página internacional do «DIÁRIO DE NOTÍCIAS» de hoje que aborda a generalização dos confrontos no País que foi de Saddam admite, em conclusão, que talvez haja um «nacionalismo iraquiano» unificador, dando como exemplo uma atitude que pensa poder tomar como tal, a que informou o belicismo anti-iraniano da guerra entre dois países. Há um problemático erro de análise: é que o que sobressaía nesse conflito não era a animosidade entre xiitas e sunitas, caso em que a maioria iraquiana se teria colocado ao lado do inimigo, ou com ele colaborado. O que passou para a frente das preocupações foi o velho antagonismo entre Árabes e Persas, com toda a facilidade que concede à identificação do adversário uma etnia diversa.
Não sou, devo dizê-lo, contra a ideia de se retalhar o País em três estados, correspondentes às zonas das cisões religiosas citadas, e à curda. Não acredito muito é que isso traga a paz, pois me parece que o mais provável seria a substituição da guerra civil por permanentes conflitos internacionais entre os três. Apesar de o petróleo chegar para todos, sabe-se como a insaciabilidade humana grita sempre por mais. Por que é que defendo, então, essa ideia? Pelo perigo menor que representaria cada um deles para os vizinhos, pois se a riqueza lhes permitiria comprar armas, a redução do substrato populacional tornaria qualquer um deles menos ameaçador. Mas não adianta sonhar. A Turquia nunca aceitará um estado curdo. A menos que lhe ofereçam, em troca e em simultâneo, a entrada na UE e mão livre na sua zona do "Curdistão". O que não parece, apesar de tudo, crível, para bem de todos nós. Já viram a beleza que era ter o ambiente de paz à iraquiana nas nossas fronteiras?
Trela Curta
Leio, finalmente, no «DN» de hoje, a proposta do Dr. Mendes, de que sejam expulsos do PSD, a cujos destinos preside, todos os militantes que se candidatem contra listas oficiais do partido. É mais uma de muitas reiteradas medidas partidárias no sentido de restringir a liberdade individual e de controlar o remanescente de critério próprio que subsistisse em algumas cabeças, entre os dotados do cartão-coleira. Não lamentarei ninguém que venha a ser corrido, pois qualquer abandono de vida sectária parece-me uma dignificação do Homem. O que lastimo profundamente é que, para se ascender a esse patamar de respeitabilidade, se tenha de passar por uma ordália tão repulsiva como é uma candidatura eleitoral cuja independência não seja coisa mais verdadeira do que a fachada.
Leitura Matinal -279
Assim como o passageiro à janela de um comboio que passa por outro se
pode enganar acerca de qual está em movimento, também o Autor de uma obra muitas vezes cai na superstição de atrbuir à sua realização passada a responsabilidade do desconforto que sente ao voltar a ela, fazendo por ignorar que lhe cabe a si a responsabilidade da modificação geradora de estranheza entre criador e criatura artísticos.
É o desgosto de relembrar uma fase vital que se ultrapassou, ou até um procedimento a que se deixou de aderir, que provoca o pendor acusativo das releituras, imputando-lhes o papel da assombração que intranquiliza, quando o certo é que a paz interior em que fingia avançar era, na generalidade, tão fictícia, como incapaz de resistir a recordaçoes do que se originou.
Sendo conduzido à insuportabilidade do degredo decretado pelas suas produções, está o pobre imaginativo artífice que, a cada passo, pensa ter atingido um degrau mais próximo da Perfeição, a ver-se impedido de singrar nessa ficção pelas amarras que o prendem a outras fantasias, já como tal reconhecidas, porque, entretanto, ultrapassadas. A emancipação das concretizações anteriores do seu espírito é a fórmula imaginativa a que se agarra, para se sentir estranho ao que se foi, e obter espaço para levantar a vela da esperança no que se vai sendo. Se Lady MacBeth dizia que «o que está feito, está feito», cada agente das Artes deseja não ser atormentado pela persistência da sua acção, em face da qual se sente objecto impossível de identificar e de harmonizar
De Ángel Crespo
TEMA DE ORFEU
Sinto receio
de reler o que já escrevi.
Como vou regressar
sobre as pegadas do tempo,
destecer a tapeçaria tramada
com tanto medo às figuras
que os fios iam revelando?
Agora, quando já vivem
sua existência a meus olhos alheia,
nesse país ou deserto
sobre que se deteve o sol,
- como imiscuir-me em seus ritos
insuspeitos, que talvez
apenas pretendem desterrar-me?
Sinto receio
de achar o que tinha perdido
de encontrá-lo entre as gretas
- visíveis só para mim -
que forma o avesso dos versos.
Quem me assegura que mais tarde
poderei esquecer os gestos hostis
- ou talvez demasiado leves -
que deixei convertidos em chuva
que não acaba nunca de cair,
em raízes famintas
que bem poderiam devorar-me?
Com a colaboração de «Homem Criativo», de
Dane Rudhyar, «Fantasmas do Passado», de
Jean Nind e «Exílio», de Bruno Cavellec.
pode enganar acerca de qual está em movimento, também o Autor de uma obra muitas vezes cai na superstição de atrbuir à sua realização passada a responsabilidade do desconforto que sente ao voltar a ela, fazendo por ignorar que lhe cabe a si a responsabilidade da modificação geradora de estranheza entre criador e criatura artísticos.
É o desgosto de relembrar uma fase vital que se ultrapassou, ou até um procedimento a que se deixou de aderir, que provoca o pendor acusativo das releituras, imputando-lhes o papel da assombração que intranquiliza, quando o certo é que a paz interior em que fingia avançar era, na generalidade, tão fictícia, como incapaz de resistir a recordaçoes do que se originou.
Sendo conduzido à insuportabilidade do degredo decretado pelas suas produções, está o pobre imaginativo artífice que, a cada passo, pensa ter atingido um degrau mais próximo da Perfeição, a ver-se impedido de singrar nessa ficção pelas amarras que o prendem a outras fantasias, já como tal reconhecidas, porque, entretanto, ultrapassadas. A emancipação das concretizações anteriores do seu espírito é a fórmula imaginativa a que se agarra, para se sentir estranho ao que se foi, e obter espaço para levantar a vela da esperança no que se vai sendo. Se Lady MacBeth dizia que «o que está feito, está feito», cada agente das Artes deseja não ser atormentado pela persistência da sua acção, em face da qual se sente objecto impossível de identificar e de harmonizar
De Ángel Crespo
TEMA DE ORFEU
Sinto receio
de reler o que já escrevi.
Como vou regressar
sobre as pegadas do tempo,
destecer a tapeçaria tramada
com tanto medo às figuras
que os fios iam revelando?
Agora, quando já vivem
sua existência a meus olhos alheia,
nesse país ou deserto
sobre que se deteve o sol,
- como imiscuir-me em seus ritos
insuspeitos, que talvez
apenas pretendem desterrar-me?
Sinto receio
de achar o que tinha perdido
de encontrá-lo entre as gretas
- visíveis só para mim -
que forma o avesso dos versos.
Quem me assegura que mais tarde
poderei esquecer os gestos hostis
- ou talvez demasiado leves -
que deixei convertidos em chuva
que não acaba nunca de cair,
em raízes famintas
que bem poderiam devorar-me?
Com a colaboração de «Homem Criativo», de
Dane Rudhyar, «Fantasmas do Passado», de
Jean Nind e «Exílio», de Bruno Cavellec.
Saturday, February 25, 2006
A Vitória é Difícil, Mas é Nossa!
Este pobre mas incomodativo blogue pugnou, em Setembro, dias a fio, pelo cumprimento de uma promessa que, ao contrário das eleitorais, pode, na verdade, contribuir para o bem do País. Agora, finalmente, demasiado tarde, considerando os nossos desejos, muito a tempo, pensando no que tem para dar, Mendo Ramires, Amigo de sempre, prova ao Mundo que a sua Torre não é a de Marfim. Exulta, Blogosfera! Das arcas encouradas daquele altaneiro baluarte surgirão agora as preciosidades irradiantes essenciais à defesa da Nação. Afinal ainda há esperança. Hoje tornei-me um pouco menos misantropo.
A Salvaguarda da Independência
.
Quem diria, quem diria! Dos meus lábios sair um vigoroso ataque contra uma Aliança Inglesa! Calma, não é dessa que estou a falar, mas da anunciada por Mischa Barton, a Mulher que os Súbditos masculinos de Sua Majestade mais gostariam de conhecer intimamente, sobre quem surgiu a irritante notícia de, em breve, ir dar o nó com o seu ainda namorado. É caso para, com todo o despeito e mais algum, dizer que o sujeito não vale mais do que um Cisco... Adler, que é o seu nome.
Quem diria, quem diria! Dos meus lábios sair um vigoroso ataque contra uma Aliança Inglesa! Calma, não é dessa que estou a falar, mas da anunciada por Mischa Barton, a Mulher que os Súbditos masculinos de Sua Majestade mais gostariam de conhecer intimamente, sobre quem surgiu a irritante notícia de, em breve, ir dar o nó com o seu ainda namorado. É caso para, com todo o despeito e mais algum, dizer que o sujeito não vale mais do que um Cisco... Adler, que é o seu nome.
Estudo Para um Nu
Uma Artista plástica inglesa lembrou-se de cozinhar um modelo em tamanho real do seu corpo, inteiramente desnudado, em pão, para que se lhe tornasse possível ver o público comê-lo, durante uma exposição a realizar em Londres. Este evento de primeira grandeza desperta-me três reflexões:
1- Como a Autora em questão se chama Sharon Baker, não poderia arranjar-se apelido mais adequado a esta opção criativa. Resta saber se o público estará à altura e precisará do corpo dela como de pão para a boca...
2- No Passado, por razões religiosas, mas igualmente pelas mais civis motivações, foram muitos condenados enforcados, queimados e de outra forma penalizados em efígie. O contributo do Século XXI consiste pois em juntar-lhe o acto devorador.
3- Considerando uma significação pretensamente figurada do verbo "comer", adoptada com unhas e dentes pela gíria, pode-se dizer que a projectada vernissage promete preencher ambos os sentidos da actuação do voyeur: o de espreitar os outros em pleno acto, como costumamos usar, assim como o prazer de ser visto nele, conforme a significação original.
Resuminndo e concluindo, face a tão inovadora iniciativa, há que desejar uma magnífica orgia... gastronómica.
Momento Intimista do Dia
.
Como o Sábado é dia predisposto para estas coisas, gostaria de partilhar Convosco um facto da minha infância. Quando a maternal destreza didáctica me dava a conhecer as diversas profissões, o universalismo pré-misantrópico deste Vosso pobre amigo fê-lo mostrar receptividade, tenção mesmo, de abraçar quase todos os ofícios cujo conteúdo lhe ia sendo explicado. Uma solitária excepção quebrou a coerência desta abertura. o Limpa-Chaminés. Ficou, na memória da família, como único item rejeitado. E, um tanto por remorso, quero aqui prestar a minha homenagem a uma profissão quase extinta. Numa época que polui mais do que as precedentes, apesar de o uso do carvão ter diminuído, a função, pessoalizada, já não se encontra pelas ruas. Suponho-a hoje desempenhada por empresas bem geridas e sem chama, o que pode fazer concluir que já nem as chaminés são tratadas como antigamente...
Nunca Digas Mal...
Andei eu a urrar contra o Carnaval, pensando que, encerrado em casa, nada de bom me viria dele, quando a Zazie nos dá uma memorável lição sobre outras mascaradas. Façam o favor de correr para lá, que corso como este é maravilha nunca vista.
Origens Reptílicas da Incompreensão
Leio, com curiosidade, uma nota publicada em 1943 na «PORTVCALE» por Luís Chaves, segundo a qual, na tradição popular portuguesa, «o lagarto anda mais ou menos associado ao galo, ambos animais simbólicos da virilidade.(...) Como o lagarto representa o protector do homem, a cobra é a protectora da mulher: ele e ela, masculino e feminino, como cravo e rosa, opostos pelo género, e distintos pela imaginação.».
E não consigo impedir-me de especular, tendo presente que algumas espécies de lagartos, embora não todas, são inimigas figadais dos sinuosos cobris, se não corresponderá este imaginário a uma intuição pelo Povo da mesma realidade que despertou teorizações mais elaboradas, sob a conhecida designação de "Guerra dos Sexos".
Aliás, o destino que, de acordo com o Autor, teve essa rudimentar concepção pode reforçar a ideia de coincidência com o que podemos observar: diz ele que a maior parte destas representações, hoje, «perderam a feição mágica, e são enfeites tradicionais ou brincos de criança»; e que o simbolismo erótico subsiste em meios mais confinados, ou até marginais, como «batentes de porta e bonecos de louça», por um lado e «tatuagens», pelo outro. O que faz concluir que, por muitas predisposições que se encontrem para a confrontação, há sempre meio de dar a volta, remetendo o antagonismo para bolsas relativamente contidas. Não será por acaso que a repugnância pelas cobras faz, praticamente, o pleno entre as Senhoras que conheço...
A Quebra Humana
O triste mundo partidário tem destas ironias. Tidos - e bem - como coarctando a liberdade individual, acabam, por vezes, por ser um inesperado espaço de ultrapassagem das linhas oficiais, pelas pessoas, tal é a vontade destas de mostrar-se alinhadas com as chefias das tendências, acabando por causar embaraços, ao revelarem-se mais papistas do que o papa. Veja-se o caso do Partido Socialista: Era de todo o interesse do Eng.º Sócrates dar a "imagem de tolerância", patente na convivência entre maioritários internos e eleitorais, dentro da organização do Largo do Rato. Os seus pressurosos deputados, todavia, desejosos de mostrar serviço e fidelidade ao chefe, desataram a ostentar frieza na recepção a Manuel Alegre, obrigando, perante a constatação do facto pelo Interessado, a que a voz do dono, o Dr. Canas, viesse tentar vender a ideia de que o quase-finalista das Presidenciais «anda à procura do seu reposicionamento no PS».
Por outro lado, Manuel Alegre bem tenta convencer os seus apoiantes a que não transponham a relativa solidariedade compacta do Movimento Intervenção e Cidadania para as lutas internas da área rosa, porque o que lhe interessa é, mais tarde, o partido todo. Os adeptos, porém, não estão pelos ajustes, seja por exergarem a pouca distância, ou pelo formigueiro do intervencionismo e do desforço. Vai daí, toca a disputar lideranças das concelhias, tanto em Lisboa, como em Cascais. Não há dúvida, o voluntarismo faccioso dos partidários dá cabo de qualquer estratégia ou sentido mais altos. Mas os dirigentes não se podem queixar: colhem do que semearam.
Leitura Matinal -278
A chave de toda a vida humana encontra-se no Objecto em que concentramos a nossa atenção. É ele que acaba
por influenciar o nosso comportamento da forma mais decisiva, com a concomitante contrapartida de ignorar outras potenciais alternativas, oferecidas em leque à escolha da nossa jogada. Cada carta que decidimos lançar implica a preterição de muitas mais. É o que acontece com todas as investidas e todas as idealizações de Passados míticos, com todos os aprisionamentos do coração, todas as cegueiras motivadas pela fascinação do que se não distingue bem,
como pela irradiação das luminosidades remotas. A umas e outras tendemos a fazer coincidir os anelos do nosso sentir, perdendo de vista a substância que a nossa própria valia possa representar para os outros. Cegos que estamos pelas construções imaginativas do nosso universo mental, condicionado em demasia pelo desgosto que demasiada realidade desperta, tentamos a caminhada para diante
que nos livre do terrível peso ameaçador e simule a aproximação às imagens e criações, imperceptíveis enquanto tais, em que nos fixámos. Abrimos, assim, espaço para outros perigos, as quedas provocadas por qualquer afrouxamento da atenção. São as contra-indicações de nos concentrarmos em demasia, que acabam por nos transformar em fantoches sem consciência de que somos instrumentalizados pelos devaneios, ao contrário dos que assim catalogamos, reais fios e não menos constatáveis manipuladores. Resumindo: nossos rivais em irrealidade, por muito diferente que esta aparente ser, até ao ponto de ruptura de esquecer-se.
De Edmond Jabés, três dos segmentos - II, III e IV - de
«ERIGIDAS SOBRE AS NOSSAS FÁBULAS Uma Sumptuosa Morada»,
na tradução de Pedro Tamen:
II
Os passos são telhados esperados. Ao andar, privo de calor
o chão que os meus pés abandonam.
III
Avancei mais do que me permitiam as pupilas. (Lá onde a obscuridade
se torna em degraus gratuitos, vertigem roubada à vigilância.)
A idade da transparência habita a memória dos homens.
As guerras contribuem para o seu prestígio.
O teu cabelo é o halo alongado do meu desespero. (Será o
teu rosto o astro de que a manhã nasceu?)
As mãos trepavam, selvagens, até à boca do abismo de que
ninguém suspeita ao passar, distraído pelas dobras ondulantes
das horas iluminadas que estriam o céu.
IV
(Há que admitir a nossa ausência do mundo, a nossa confortável
segurança perante as marionetas inspiradas com que as crianças
sonham. Há que admitir a nossa irrealidade que respeita
as deambulações dessas criaturas incómodas.)
Aproximados de «Vigilância - o Preço da Liberdade», de
Howard Hughes, «Vertigem», de Annie Retivat e «Abismo»,
de John DiNero.
por influenciar o nosso comportamento da forma mais decisiva, com a concomitante contrapartida de ignorar outras potenciais alternativas, oferecidas em leque à escolha da nossa jogada. Cada carta que decidimos lançar implica a preterição de muitas mais. É o que acontece com todas as investidas e todas as idealizações de Passados míticos, com todos os aprisionamentos do coração, todas as cegueiras motivadas pela fascinação do que se não distingue bem,
como pela irradiação das luminosidades remotas. A umas e outras tendemos a fazer coincidir os anelos do nosso sentir, perdendo de vista a substância que a nossa própria valia possa representar para os outros. Cegos que estamos pelas construções imaginativas do nosso universo mental, condicionado em demasia pelo desgosto que demasiada realidade desperta, tentamos a caminhada para diante
que nos livre do terrível peso ameaçador e simule a aproximação às imagens e criações, imperceptíveis enquanto tais, em que nos fixámos. Abrimos, assim, espaço para outros perigos, as quedas provocadas por qualquer afrouxamento da atenção. São as contra-indicações de nos concentrarmos em demasia, que acabam por nos transformar em fantoches sem consciência de que somos instrumentalizados pelos devaneios, ao contrário dos que assim catalogamos, reais fios e não menos constatáveis manipuladores. Resumindo: nossos rivais em irrealidade, por muito diferente que esta aparente ser, até ao ponto de ruptura de esquecer-se.
De Edmond Jabés, três dos segmentos - II, III e IV - de
«ERIGIDAS SOBRE AS NOSSAS FÁBULAS Uma Sumptuosa Morada»,
na tradução de Pedro Tamen:
II
Os passos são telhados esperados. Ao andar, privo de calor
o chão que os meus pés abandonam.
III
Avancei mais do que me permitiam as pupilas. (Lá onde a obscuridade
se torna em degraus gratuitos, vertigem roubada à vigilância.)
A idade da transparência habita a memória dos homens.
As guerras contribuem para o seu prestígio.
O teu cabelo é o halo alongado do meu desespero. (Será o
teu rosto o astro de que a manhã nasceu?)
As mãos trepavam, selvagens, até à boca do abismo de que
ninguém suspeita ao passar, distraído pelas dobras ondulantes
das horas iluminadas que estriam o céu.
IV
(Há que admitir a nossa ausência do mundo, a nossa confortável
segurança perante as marionetas inspiradas com que as crianças
sonham. Há que admitir a nossa irrealidade que respeita
as deambulações dessas criaturas incómodas.)
Aproximados de «Vigilância - o Preço da Liberdade», de
Howard Hughes, «Vertigem», de Annie Retivat e «Abismo»,
de John DiNero.
Friday, February 24, 2006
Insulto Sem Arte
O Mayor de Londres, Ken Livingston vê-se condenado a quatro semanas de suspensão do cargo e ao pagamento de umas custas processuais astronómicas por ter chamado «nazi» a um reporter judeu, reafirmando-o, ao dizer que o comportamento daquele não diferia do de um guarda dum campo de concentração. Em primeiro lugar, vê-se como as palavras não significam mais coisa alguma. O heterodoxo autarca usou o termo, como, por cá, se usa "fascista", tido por qualquer coisa má, sem sentido preciso. Mas há que desmascarar a reacção excessiva, no espírito do sistema politicamente correcto, que acorreu, servilmente, a dar inteiro ganho de causa ao objecto do dito, simplesmente aceitando que, pela sua condição étnico-religiosa, tinha todo o direito a sentir-se ofendido. Sem qualquer intuito de desvalorizar o estigma que muitos rebentos do Povo Eleito poderão, legitimamente, sentir com tal invectiva, impor-se-ia, no mínimo, uma investigação às convicções do queixoso, como se faria no caso duma outra pertença. Afinal houve judeus nacionais-socialistas, como o General Milch, ou o poeta Bronnen. Não que tal fosse provável, no caso vertente. Mas gostaria de sublinhar as diferenças de velocidade, de tratamento, no fundo.
Uma Questão de Fé
.
O «CORREIO DA MANHû de hoje noticia o videoclip em que Deeyah, a apelidada Madonna muçulmana, troca uma burkha por um bikini, bem como das ameaças que ela garante ter sofrido por islâmicos que se terão sentido insultados. Do que não dá conta é de que, apesar de a biografia oficial a apresentar como filha de pais do Irão e do Paquistão, a cantora, nascida na Noruega e residente em Londres, é suspeitada pelo Concelho Muçulmano Britânico de ser uma hindu encapotada, a partir do nome atribuído - Deepika Thathaal; bem como de o parcelar strip estar sendo considerado uma manobra publicitária. Ora bem, aqui está uma tese que, muito mais do que salomonicamente, satisfaria todos: os maometanos não têm jurisdição sobre não-crentes, pelo facto de despirem a armadura que esconde algumas das Mulheres da sua religião. A rapariga faria mais uns cobres. O bikini não é, correntemente, proibido no hinduísmo, apesar de um sari ser talvez mais adequado do que a tanga. Nós poderíamos todos deliciar-nos. Só ficariam de fora as feministas radicais, divididas entre "o aplauso a um acto pelo qual uma Mulher se exime às opressões religiosas, dispondo livremente da sua nudez" e a "condenação de uma cedência à exibição do corpo que alimenta os machismos abjectos". Mas Como é que essas teriam uma hipótese de ficar satisfeitas?
O «CORREIO DA MANHû de hoje noticia o videoclip em que Deeyah, a apelidada Madonna muçulmana, troca uma burkha por um bikini, bem como das ameaças que ela garante ter sofrido por islâmicos que se terão sentido insultados. Do que não dá conta é de que, apesar de a biografia oficial a apresentar como filha de pais do Irão e do Paquistão, a cantora, nascida na Noruega e residente em Londres, é suspeitada pelo Concelho Muçulmano Britânico de ser uma hindu encapotada, a partir do nome atribuído - Deepika Thathaal; bem como de o parcelar strip estar sendo considerado uma manobra publicitária. Ora bem, aqui está uma tese que, muito mais do que salomonicamente, satisfaria todos: os maometanos não têm jurisdição sobre não-crentes, pelo facto de despirem a armadura que esconde algumas das Mulheres da sua religião. A rapariga faria mais uns cobres. O bikini não é, correntemente, proibido no hinduísmo, apesar de um sari ser talvez mais adequado do que a tanga. Nós poderíamos todos deliciar-nos. Só ficariam de fora as feministas radicais, divididas entre "o aplauso a um acto pelo qual uma Mulher se exime às opressões religiosas, dispondo livremente da sua nudez" e a "condenação de uma cedência à exibição do corpo que alimenta os machismos abjectos". Mas Como é que essas teriam uma hipótese de ficar satisfeitas?
Meio do Império, Império do Meio
Queriam os Profs. Chesneaux e M. Bastid que todo o relacionamento da China com o exterior estivesse condicionado pela concepção de tianxia, "a zona debaixo do Céu," correspondente à base de incidência da projecção de uma celestialidade redonda sobre um mundo quadrado, cujos limites seriam os do território chinês, com a desnecessidade e inconveniência de prestar demasiada atenção ao resto do mundo, mas com intolerância feroz à influência dele dentro dessas "fronteiras de eleição". Resquício disto, mais até que do comunismo, já só de fachada, é o que se pode ainda observar no posicionamento governamental sínico face à Igreja Católica. Tolera-se uma pálida religiosidade intra-muros, com bispos controlados pelas autoridades de Pequim, que nem autorização têm para participar nas reuniões universais dos seus congéneres. E volta a ser constatável nos avisos dirigidos ao Cardeal Zen, da zona especial de Hong Kong, para que não interfira na política. O Pavor de uma correia de transmissão privilegiada da Doutrina emanada do Vaticano é fobia amplificadíssima.
Taxas & Taxados
Uma das perversões maiores da falta de notícias da vida política nacional é a tentativa de os jornalistas trazerem para os grandes hiatos entre as eleições o "facto político" que seria o resultado de uma sondagem. Para além da que verse as intenções de voto, disparatada, porque a uns presumíveis três anos de distância, ainda vão, semana sim, semana não, dando conta da pretensa popularidade comparada dos Ministros, como se da mecânica de um concurso de beleza se tratasse. Mas jogando o jogo, o revelado no «DN» de hoje, acerca do camisola amarela da aprovação, que seria o Ministro Freitas, duvido muito que mesmo os modestos 20% de que se arroga correspondam à realidade. Temo que as pessoas confundam "notoriedade", "conhecimento", com "aplauso da acção". Mas é por demais evidente que é a publicação de um resultado destes que é o verdadeiro facto político.
Leitura Matinal -277
Se construir castelos no ar é sina de muitos homens, o deslumbramento
consigo leva a edificar, muitas vezes, construções ainda menos fundadas. A embriaguez que a aceitação da palavra desperta gera a pobre ilusão de que, verdadeiramente, se atingiu a absoluta permanência do saber, não permitindo identificar a causa da populariedade com factores muito mais transitórios e razoavelmente mais impressivos, como o aspecto agradável, ou o poder de uma voz vigorosa.
O desengano chega com a deserção dos "discípulos", com a infidelidade e o abandono do público. A utilização de migalhas de saber estava, afinal, bem longe da sabedoria, até pela vertente mundana em que triunfava. Para os outros, o que antes davam como energia e erudição reduz-se hoje a caturrice e mania. O desgosto maior assenta em que, olhando para o espelho, a consciência de pequena fraude presente no passado de cada orador leva a concordar com eles...
E o assalto da tristeza do declínio, multiplicado pela enormidade do vazio que substitui os aplausos calorosos doutros tempos, pode, contudo, suscitar uma meditação que permite inteligir muito mais duradouramente: a certeza de que o pior dos fundamentos para uma relação intelectual e, sobretudo, para um pensamento, é o entusiasmo.
Como escreveu Gottfried Keller, segundo A. Herculano de
Carvalho:
«Todo o saber que eu tinha, andava em minha trança,
Tôda a minha ciência, em meus lábios vermelhos,
E todo o meu poder, nessa água que descansa
Dos meus olhos no fundo, azul, de claro espelho.
Cem discípulos vi desta bôca suspensos,
Presos de meu cabelo em tão sábios anéis;
Cem súbditos possuí, de meus olhos imensos
Desejando um clarão, como escravos fiéis.
Pende agora, mortal, meu cabelo, coitado!
Como vela no mar quando a brisa não vem,
E sinto o coração no corpo abandonado
Qual pêndula a bater num quarto sem ninguém.
Sublinhado por «Audiência», de Diana Ong, «Envelhecido»,
de Andrew Jones e «Vazio», de Joseph Marek.
consigo leva a edificar, muitas vezes, construções ainda menos fundadas. A embriaguez que a aceitação da palavra desperta gera a pobre ilusão de que, verdadeiramente, se atingiu a absoluta permanência do saber, não permitindo identificar a causa da populariedade com factores muito mais transitórios e razoavelmente mais impressivos, como o aspecto agradável, ou o poder de uma voz vigorosa.
O desengano chega com a deserção dos "discípulos", com a infidelidade e o abandono do público. A utilização de migalhas de saber estava, afinal, bem longe da sabedoria, até pela vertente mundana em que triunfava. Para os outros, o que antes davam como energia e erudição reduz-se hoje a caturrice e mania. O desgosto maior assenta em que, olhando para o espelho, a consciência de pequena fraude presente no passado de cada orador leva a concordar com eles...
E o assalto da tristeza do declínio, multiplicado pela enormidade do vazio que substitui os aplausos calorosos doutros tempos, pode, contudo, suscitar uma meditação que permite inteligir muito mais duradouramente: a certeza de que o pior dos fundamentos para uma relação intelectual e, sobretudo, para um pensamento, é o entusiasmo.
Como escreveu Gottfried Keller, segundo A. Herculano de
Carvalho:
«Todo o saber que eu tinha, andava em minha trança,
Tôda a minha ciência, em meus lábios vermelhos,
E todo o meu poder, nessa água que descansa
Dos meus olhos no fundo, azul, de claro espelho.
Cem discípulos vi desta bôca suspensos,
Presos de meu cabelo em tão sábios anéis;
Cem súbditos possuí, de meus olhos imensos
Desejando um clarão, como escravos fiéis.
Pende agora, mortal, meu cabelo, coitado!
Como vela no mar quando a brisa não vem,
E sinto o coração no corpo abandonado
Qual pêndula a bater num quarto sem ninguém.
Sublinhado por «Audiência», de Diana Ong, «Envelhecido»,
de Andrew Jones e «Vazio», de Joseph Marek.
Thursday, February 23, 2006
Fins
O caminho para um embarque ou para um suicídio é, na sua maior parte, o mesmo. A diferença está no que espera, para lá da borda. E situações há em que a dúvida se sobrepõe: quando falta o barco, não se pode navegar, como não é comum ir ao encontro da morte com um guarda-chuva. Está explicada a envolvência que faz com que muitos dos que pensaram partir voltem para trás. Enquanto o cais também não cede.