Sempre achei que as pessoas que se recusam a
acreditar na existência do Diabo enfermam de
uma crónica e fatal doença que dá pelo nome de
optimismo repugnante.
Vem esta cogitação a talho de foice face às
notícias da Florida que dão um adolescente de 17
anos como suspeito de abusar sexualmente de uma
criança de 4 ou 5 e de se preparar para a enterrar
viva.
Não quer a consciência da actuação do Maligno
desculpabilizar ninguém. O mal estará dentro do
indivíduo sempre que ele ceda à tentação da Maldade.
Agora, pensar que Satan inexiste resulta em levantar
a guarda e, quando menos se espera, ele, um sujeito
competente, ataca e regala-se com o desfecho. Foi o
que levou o velho Baudelaire a escrever «a mais bela
astúcia do Diabo é fazer-nos crer que não existe».
Noutros tempos sabia-se bem que ele andava por aí -sem
conotações conhecidas com ex-governantes portugueses -
e por onde era mais provável que atacasse. Hoje não.
Quando frequentava o seu tirocínio para a Infalibilidade
o então Cardeal Ratzinger declarou a Vittorio Messori
que, nos nossos dias, «a condição preferida do Demónio
é o anonimato».
É bem verdade. No Ocidente urbano
stressado uma
série de doutrinas orientais, absorvidas apressadamente e
filtradas como convém, a par de psicanálises de vários
matizes, tentam fazer crer que o autoconhecimento de cada
um redundará na rejeição do mal, visto como uma patologia
ou um acidente. Está a cama feita para, confiante no seu
"eu" verdadeiro até aí desconhecido
, cada qual passar, com
a miopia costumeira, a achar que qualquer arroto do "eu",
reformulado pela "descoberta" tranquilizadora é o caminho certo.
Pois se nem sequer há o Príncipe deste Mundo a (a)tentar-nos...
A satisfação consigo leva directamente à autocomplacência.
Se o Leitor quer ver este assunto tratado com génio leia, de
C. S. Lewis «Vorazmente Teu» e, de James Hogg, «Memórias e
Confissões Íntimas de um Pecador Justificado». Santa Teresa
de Ávila dizia que o melhor remédio para afugentar o Mafarrico
era a água benta; é porque, doutrinando no Século XVI, não teve
hipótese de ler estes livros.