A Tragédia Serena
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Penso que será impossível não sentir alguma simpatia, mesmo os imunes à comoção, por este Monarca que tanto tempo reinou, vendo o Seu País ir sucessivamente perdendo as guerras em que entrava - o que não era novo -, como a influência que detivera, coisa muito mais dolorosa, em tempos a que não bastava casar Arquiduquesas para baralhar e tornar a dar na batota diplomática em que a Europa se jogava. A infelicidade familiar, todavia, sobressai ainda mais, com uma Mulher minada por uma sobreexcitação nervosa que degradou o matrimónio, alfim assassinada por um anarquista, um Filho que pôs termo à vida num pacto suicidário com uma sedutora duvidosa, num acto de explicações ainda hoje alvo de cotrovérsia, um Irmão que abstraiu do nome sagrado dos Habsburgos para ser agente pequenonapoleónico no distante México, lá morrendo fuzilado e abandonado, um sobrinho herdeiro assassinado por ódios eslavos que precipitariam o fim daquele Mundo...
Perante isto, temos de considerar misericordiosa a obra do Anjo da Morte que O levou a 21 de Novembro de 1916, não permitindo que visse esquartejado um País em que os ódios étnicos e as convulsões sociais eram domados com bonomia, últimos tempos de uma tranquilidade quotidiana que a obra nefasta das lutas partidárias e da contaminação das Nações pelos programas depressa viria a provocar.
Francisco José da Áustria desapareceu duma Europa agonizante a dois anos de completar setenta de reinado.
4 Comments:
At 11:33 AM, Anonymous said…
Querido Paulo
Quem sou eu para criticar Francisco José da Austria.
Penso que governar, reinar, administrar (empresas) durante muito tempo é sempre asneira. Perde-se a noção do presente, a modernidade e fica-se agarrado a lógicas do passado.
Beijinhos
At 4:02 PM, Anonymous said…
Francisco Jose administrava um Imperio onde se cantava o Hino em 11 liinguas, onde o Burgermeister Lueger metia cartazes a impedirem a entrada de caaes e judeus em jardins mas onde o dirigente social/democrata Adler, tambeem judeu, era leal, como poucos, ao Imperador. Francisco Jose naao odiava ningueem, morreu devagar, carregando o peso de tudo sem gemer e reinou tanto tempo porque um Imperio feito em homoneinia ee coisa difiicil de destruir.
Uma nota simpaatica a Maximiliano, que um dia disse, quando decidiu nomear um Indio para Chefe do Estado Maior, sem saber que os de ascendeencia espanhola proibiam uma coisa assim. Foi o prooprio Indio a dizer que naao podia, que era indio. Maximiliano levantou a voz e disse que naao via ningueem naquela sala de nobreza mais antiga do que ele,o Indio, que era azteca comprovado.
Andre Bandeira
At 4:19 PM, Marcos Pinho de Escobar said…
Grande evocação, Caríssimo. Tenho rande admiração por Franz Josef - a imagem do Pai de tantos povos - e da incomparável destreza habsburgueana em preservar por tanto tempo o equilíbrio em vasto Império multi-étnico.
Forte abraço.
At 7:23 PM, Paulo Cunha Porto said…
Querida MFBA:
Nem eu pretendia que O criticasse, mas que com os Altos Valores humanos de Que dá mostras sentisse alguma empatia com Quem tão galharda e inalteradamente aguentou tantos desgostos. A noção do presente costuma ser é ilusão. Enquanto que o Passado é como um livro, ele próprio pretérito por consagrar imorredouramente um momento anterior: nele se encontram os paralelos, quer em matéria de perigos, quer de remédios, como de erros. O supremo ilogismo é não querer aprender com eles em nome de uma pretensa e pretensiosa actualidade que se não exerga na sua repetitiva pequenez.
Meu Caro André Bandeira:
Era esse milagre denegrido por uns como burocrático e lamentado mais tarde por todos, quando experimentaram os horrores que se seguiram, que Joseph Roth, outro Judeu e Monárquico, tanto como Social-Democrata, celebrou. E o anti-semitismo de fachada de Lueger, muito restrito, emergiu da eleição para Burgomestre numa lista partidária, o contrapeso democrático à Instituição Habsburguiana aglutinadora.
Não conhecia a história de Maximiliano. Só por essa já merece estar empoleirado no Rossio, em vez do que tem o nome na placa.
Meu Caro Euro-Ultramarino:
Um espírito Monárquico tão ilustre como o do Meu Queridíssimo Amigo não poderia ficar insensível ao altíssimo exemplo e à benevolente protecção que Um Homem infeliz mas Monarca cumpridor dispensou. Por isso a Áustria de hoje suspira por ele.
Beijinho e abraços.
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