O Ódio às Dinastias
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Num 19 de Novembro morreu o famoso prisioneiro de várias masmorras francesas conhecido como Máscara de Ferro, que, ao menos em ocasiões mais visíveis era obrigado a cobrir o rosto com um veludo guarnecido e aferrolhado de metal. Há sobre a identidade um mar de teses, embora menos do que sobre a localização da Atlântida, pelo que não me pronunciarei. Da muita literatura sobre o caso só li Funk-Brentano e Pagnol, para além do par que referirei em seguida, os quais me não convenceram, pese a erudição.
Tudo começou com Voltaire, que ao historiar à sua estilisticamente notável mas parcialíssima maneira o Reinado de Luís XIV, inventou um irmão gémeo do Rei, nascido primeiro, fazendo assim do ocupante do Trono um usurpador, estando ferido de ilegitimidade. Desta atitude mental temos por cá um paralelo, com a hostilidade de vários quadrantes aos Braganças. Entre nós agitou-se o espantalho da «decadência» e da «degenerescência familiar». Como era difícil imputar aos Bourbons a primeira dessas características, ao menos para uma sensibilidade não-tradicionalista, dado o zénite e fulgor atingidos sob o Rei-Sol, havia que inventar outra atoarda. Mas a grande fortuna da tese, modificada, veio de «O VISCONDE DE BRAGELONE», de Dumas, ficção que, com os antecedentes da série, fez as delícias da minha infância. Aqui o gémeo passou a ser nascido depois do Soberano, sendo o objectivo principal não já arguir ilegitimidade, mas comover almas românticas com a injustiça sofrida por um prisioneiro que, parece ter sido verdade, gozou sempre de uma consideração e urbanidade especiais. Quem me dera que se conseguisse localizar os restos mortais do encarcerado, pois com os testes de ADN acabar-se-ia de vez com cogitações que não têm base em qualquer facto histórico.
Num 19 de Novembro morreu o famoso prisioneiro de várias masmorras francesas conhecido como Máscara de Ferro, que, ao menos em ocasiões mais visíveis era obrigado a cobrir o rosto com um veludo guarnecido e aferrolhado de metal. Há sobre a identidade um mar de teses, embora menos do que sobre a localização da Atlântida, pelo que não me pronunciarei. Da muita literatura sobre o caso só li Funk-Brentano e Pagnol, para além do par que referirei em seguida, os quais me não convenceram, pese a erudição.
Tudo começou com Voltaire, que ao historiar à sua estilisticamente notável mas parcialíssima maneira o Reinado de Luís XIV, inventou um irmão gémeo do Rei, nascido primeiro, fazendo assim do ocupante do Trono um usurpador, estando ferido de ilegitimidade. Desta atitude mental temos por cá um paralelo, com a hostilidade de vários quadrantes aos Braganças. Entre nós agitou-se o espantalho da «decadência» e da «degenerescência familiar». Como era difícil imputar aos Bourbons a primeira dessas características, ao menos para uma sensibilidade não-tradicionalista, dado o zénite e fulgor atingidos sob o Rei-Sol, havia que inventar outra atoarda. Mas a grande fortuna da tese, modificada, veio de «O VISCONDE DE BRAGELONE», de Dumas, ficção que, com os antecedentes da série, fez as delícias da minha infância. Aqui o gémeo passou a ser nascido depois do Soberano, sendo o objectivo principal não já arguir ilegitimidade, mas comover almas românticas com a injustiça sofrida por um prisioneiro que, parece ter sido verdade, gozou sempre de uma consideração e urbanidade especiais. Quem me dera que se conseguisse localizar os restos mortais do encarcerado, pois com os testes de ADN acabar-se-ia de vez com cogitações que não têm base em qualquer facto histórico.
6 Comments:
At 1:23 PM, Anonymous said…
Mais um dos incontáveis casos em que um bom romance se vai impondo, pela força da natureza, à verdade histórica.
Eu diria, já, hostilidade não só aos Braganças mas também hostilidade ao ramo de descendentes de D. Miguel, verberada por vários sectores do PPM (não só o fadista, mas também os militantes de base - conheci um pessoalmente.)
Abraço
At 2:01 PM, Paulo Cunha Porto said…
É grande verdade, Meu Caro Miguel, imagino até que Dumas tenha convertido muito mais gente do que o escrito "historiográfico" de Voltaire.
Quanto a D. Miguel, faz-me lembrar o gosto de que alguns republicanos fazem gala, teimando em parecer ultra-legitimistas, tentando impugnar a paternidade do Rei por D. João VI, ao mesmo tempo que fazem tábua-rasa do elemento democrático, embora saudavelmente, esse, da prerrogativa electiva das Cortes em caso de vacatura do Trono.
E também sei que há uns quantos auto-proclamados monárquicos que se entretêm com essas tricas, não só aqueles a que alude expressamente.
Abraço.
At 4:02 PM, Anonymous said…
Olá Paulo
Como sabe esta história do nascimento dos gémeos é complicada. Diz-se que o mais velho é o último a nascer.
Não sei se os avanços da medicina no tempo de Dumas já dava para se discutir estes pormenores.
Beijinho
At 6:56 PM, Paulo Cunha Porto said…
É possível que fisiologicamente seja essa a indicação, Querida MFBA, mas a Lei do Reino dizia expressamente que o primeiro a vir cá para fora é que agarrava o ceptro. Claro que a história de Dumas é rocambolesca e baseia-se numa conspiração sem correspondente histórico que quereria usar a cópia perfeita de Luís XIV como se do Rei se tratasse.
Beijinho.
At 1:37 AM, Anonymous said…
Caro Paulo Cunha Porto,
Há um personagem que - sem ter o brilho abissal do Máscara de Ferro, que talvez tivesse simplesmente lepra no rosto como o infinito Califa Velado do conto, os Assassinos, do inefável J.L. Borges - é português, e viveu na ilha da Madeira no séc. XV.
Chamava~se Gonçalo Fernandes da Serra de Água, instituiu morgadio na Serra de Água, daí o apelido porque ficou conhecido.
Diziam-no filho de Afonso V e da "Beltraneja", que teria sido expedido para a madeira para não introduzir perturbações dinásticas na já complicada situação política de então. Já foi comparado ao Máscara de ferro francês, e como a ele atribuíam~lhe uma clara ascendência real.
Tratado com muitop respeito pelo caitão donatário, filho ou neto do pirimeiro Zarco, o certo é que um navio da Coroa, durante anos seguidos, regularmente aportava â Madeira trazendo provisões para o dito Gonçalo Fernandes.
Depois de assinar o testamento apôs nele as armas reais - as mesmas que ostentava a sua casa de pedra e uma coluna que ele mandara erguer.
Como sabe temos bons quantos destes mistérios, nos quais, a meu ver, felizmente o cinema ainda não tocou.
Cumprimentos,
J.A.
At 1:48 AM, Anonymous said…
Peço desculpa pelas gralhas, mas inadvertidamente devido â minha já avançada idade, accionei a tecla errada antes de fazer o preview.
Queria ainda acrescentar que o Gonçalo Fernandes teve bastante descendência que se ramificou praticamente por quase todos os madeirenses, e um dia, que pode ser bastante próximo com as novas técnicas altamente precisas de análise ao genoma, poder-se-á descobrir que quase todos os madeirenses, pelo menos todos aqueles com uma ascendência âs famílias mais antigas (e são muitos) ,tem sangue real.
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