O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Sunday, October 22, 2006

Como é Diferente o Cromo em Portugal!

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Estou sempre a aprender. Imaginava, na minha santa inocência que o termo «cromo» significasse "excêntrico", "meio maluco", "digno de nota", mas sem carga pejorativa por aí além. Vêm agora duas instâncias judiciais, os tribunais de Comarca de Ourém e da Relação de Coimbra, garantir que o seu uso equivale a "palhaços", "idiotas" e "ridículos", constituindo suficiente matéria para condenação penal por injúrias. Está explicada a razã pela qual demorou a Academia tanto tempo a produzir um dicionário, estava à espera de que ele fosse formado por acordãos dos colectivos que julgam, os quais até se entretêm a pesar o contributo das telenovelas na formação da língua!
E noutros países não é bem assim. As imagens memoráveis deram pretexto suficiente na Colômbia a que assim se titulasse uma revista e no México a uma exposição de que resultaram CD e catálogo das cenas outrora tidas por dignas de preencher calendários. O que nos leva a um sentido muito mais próximo daquele que, fiado nas recordações da infância, me achava disposto a atribuir - algo digno de ser colado a uma caderneta, para perdurar.
No entanto, ficamos todos notificados de que é crime. Tenho de passar a ler até às vírgulas, a jurisprudência, que não só faz o Direito, como a língua.

8 Comments:

  • At 3:31 PM, Anonymous Anonymous said…

    Bom Domingo Paulo
    Os mais novos usam "cromo" com o significado que dá a Jurisprudência, mas daí a poder ser considerado um insulto...
    É frequente dizerem: "É pá ca ganda cromo tu me saíste". Isto entre eles, claro.
    Beijinho

     
  • At 4:41 PM, Anonymous Anonymous said…

    O termo remete claramente para a ideia de cor (gr. khrôma). O sentido original será 'figura colorida' e daí é admissível que possa tomar qualquer dos dois caminhos semânticos aqui apontados. Mas estabelecer a norma da língua por jurisprudência é mais que absurdo; é um perigo. Se consagramos no tribunal o que o uso costumeiro da linguagem ainda não firmou corremos o risco de por exemplo amnhã não poder editar uma caderneta de bonecos da bola. No limite (e na América acredito que fosse possível) os 'cromos' da caderneta do ano passado podiam processar o editor, já viu?!
    Mas todos percebemos que o que se passa é a degradação do domínio do Português. O rigor da fala reflecte o paupérrimo vocabulário e a pouca clareza de ideias. O uso dum linguajar mais ou menos atingiu,como vemos aqui, níveis e estratos inimagináveis.

     
  • At 4:42 PM, Anonymous Anonymous said…

    [Ena! Ficou extenso.]
    Cumpts. Paulo!

     
  • At 6:04 PM, Anonymous Anonymous said…

    Me recuerda una anécdota (puede ser que sea apocrifa) de dos portugueses que estaban discutiendo y se insultaban: "estupor", "estafermo"......Al final, uno de ellos, el más "zangado" dijo: E voçé é MÚSICO.......!

     
  • At 6:05 PM, Anonymous Anonymous said…

    ¿La Relaçao forma jurisprudencia?

     
  • At 6:49 PM, Blogger Je maintiendrai said…

    ...E eu que me preparava para sublinhar a riqueza cromática do Parlamento. Há-os de todas as cores, não é?

     
  • At 7:06 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Querida MFBA:
    Também para Si, Ma Chère. Pois, pelo que oiço no comboio parece-me que a carga negativa é muito menor. Talvez aqui a susceptibilidade dos guardas influa na variação lexical, em função do especial respeito às forças da ordem e em desconformidade com a única igualdade que se pode reivindicar -a semântica.

    Tem inteira razão, Amigo Bic Laranja, é a falta de certeza e critério da língua que está na base de tudo. E nem uma palavra Sua está a mais, como sempre. À cautela, vou desfazer-me de umas cadernetas da minha meninice que ainda guardo, alguns dos que a integram, sobretudo futebolistas, ainda vivem e não estou com paciência pdara ser alvo de uma queixa-crime.

    Meu Caro Çamorano:
    Ah, sim, «músico». E, noutro plano, "bailarino" também tem o seu quê.

    Não sei se fará. Espero que os Colendos Conselheiros do STJ não sejam chamados a apreciar tão caricata questão, como o foram os Venerandos Desembargadores.

    Meu Caro Je Maintiendrai:
    Com «riqueza» talvez ainda passe por lisonja, porque apesar das variações partidárias, o tom preponderante é a cor de burro quando foge... de ser cromo.
    Beijinhos e abraços.

     
  • At 6:32 AM, Anonymous Anonymous said…

    O Francisco Teixeira da Mota parece não se ter amedrontado e acaba o seu artigo chamando cromos aos magistrados.
    Realmente, ao que isto chegou. Já tinha havido o caso do "energúmeno" com o Rui Rio, agora foi o do cromo.
    Havia um jogador nos juniores do Sporting, de hóquei em patins, que tinha a alcunha de "Cromo". Tinha vindo do Académico de Bragança e o seu estilo pujante e a violenta stickada colaram-lhe a alcunha.
    Já lá vão uns 16 ou 17 anos...
    Já me chamaram cromo várias vezes e nunca me ofendi. Foi sempre com ternura.

     

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