Um Ano na Net

A 16 ou 17 de Maio de 2005 Alguém que muito prezo, após uma troca de impressões sobre o meu projecto de criar um blogue, teimou que não o conseguiria aguentar durante um ano. Devo dizer que também era dessa opinião. Mas, por necessidade de tempero da conversa, defendi a posição contrária. Ressuscitei a 19 o título de um romance começado e que encalhara numa gaveta, anos atrás, pois me parecia ideal para retratar o bicho que diariamente proporia à exibição, nos Vossos monitores.
Daí para cá tem sido a luta que conheceis. Se blogar é entretenimento notável, propicia, para além das alegrias de uma forma de convívio, o enriquecimento da permuta de vistas e a aquisição de conhecimentos que faz crescer; por duas vezes pensei desistir do ME: uma, frustrado pelas falhas técnicas, outra quando uma nova configuração do quotidiano, devida a um conjunto de razões boas e outras menos, me forçou a alterar o ritmo. Foi, enfim, um braço de ferro permanente com o computador, que acabou por garantir o prolongamento.
Tenho, porém, a viciação na Rede como a derrota num combate de gladiadores, em que eu, pobre mirmilão, fosse caçado pelo reciário e, prisioneiro na malha, aguardasse o golpe final do tridente. Nesta confrangedora situação procurei sempre não perder de vista duas regras básicas: Nos diálogos estabelecidos nunca dizer a outro bloguista o que deveria ou não fazer em sua casa; e, no que me toca, nunca abdicar da soberania do Autor, publicando sempre aquilo que, em cada dia, me impressiona ou estimula.

Pelas Pessoas Interessantes que conheci, posso afirmar que a minha vida se divide em "antes do blogue" e "depois do blogue". Seria Impossível referir Todos. Falando só nos mais assíduos, Ladies First, um Trio Único como a Miss Pearls, que faz da trivialidade da vida coisa pensada com elegância ímpar, a Viajante, com quem gerei cumplicidade intelectual de descobertas, ao ponto de lançarmos mãos a obra comum e a Zazie, extraordinária junção de difusão do saber e espírito lúdico do bloguismo, que tenho por Estrela Polar. Sem esquecer o breve mas gratificante intercâmbio com a Mocho, como a poética tonalidade da Thornlessroseana Maria, a deslumbrante prosa da Margarida e da Júlia, como a recém-chegada Luz Acesa, com a autoria de imagens que tanto agradam.
Amigos anteriores à condição de bloguista tinha já no Duarte Branquinho, a quem se deve grande pate do sucesso do ME; e no RAA, Compadre cujo exemplo me acelerou a entrada neste mundo. Outros, mais ou menos antigos, vieram juntar-se-lhes: o MRA, com belas fotografias, o João Villalobos, nova Estrela Blogosférica que aqui deu os primeiros passos neste Universo, o Mendo Ramires, Caríssimo Tertuliante que tardou mas arrasou, o Eurico de Barros, que tantas vezes tem salvo postagens menos inspiradas com os comentários sempre vivos e sabedores. E o Engenheiro que é tão preguiçoso na blogação como activo na Vida, quase tanto como a Índia.
A Eles tive o gosto de ver juntar-se o debate e a amizade, presencial ou não, com Três Mestres Universalmente Reconhecidos: o Manuel Azinhal, o Pedro Guedes e o BOS. E de descobrir um Outro, que é o Segundo Grande Culpado de alguma relevância misantrópica, o FSantos, com quem confeccionei amizade próxima.
Mas há muito mais: descobri Eruditos de Excepção, cuja profundidade sigo sempre com êxtase, afecto e temor: o Rodrigo Nunes, o Corcunda, o JSarto e o Rafael Castela Santos. O inigualável humor e a arte do JMTeles da Silva. O entusiasmo transbordante e sabedor do JSM. Deliciei-me com o ar fresco que coreligionários mais jovens como o Sandokan, o SA e o desaparecido Viriato vieram trazer aos Valores em que creio. Regozijo brotou do reconhecimento ao Camisa Negra por me dar alguma atenção. Envaideceu-me a chegada de um grande interlocutor, como o L.Rodrigues e ufanei-me da recompensantíssima tertúlia com Três Monstros do Saber e do Gosto, quais Jansenista, Je Maintiendrai e Miguel Castelo-Branco. Nunca perdi de vista a solidez doutrinada e a eficácia blogosférica do Velho da Montanha.
O meu gosto pela poesia viu-se alimentado pela leitura da Helena Monteiro e pela irrupção de um Blogger que era Poeta já por mim admirado - o Ruy Ventura.
Sou ainda reconpensado com a mundividência talentosa do Pedro Santos Cardoso e do David Afonso que me desafiaram para fazer análise política! Pela eterna e fresquíssima escalpelização de mitos do bem-humorado Biollante, a alegria amiga e permanente descoberta do Kamikaze, a oportuna participação do A e do Sapka, ou a meditação acolhedora e reflexiva do Zé Maria. E não esqueço a atenção e outro honroso convite, do Diogo Dantas.
Não posso esquecer o Nelson Buíça, que me tinham dito ser um agente do SIS destacado para detectar os bloguistas perigosos e com quem fomentei uma cúmplice intervenção alicerçada em gostos comuns.
Ganhei uma Amizade meritoríssima para além do Oceano, com o Euro-Ultramarino e recebi palavras de estima de um puro estilista, o vigoroso polemista que é o Dragão. Não olvido a ajuda preciosa do Restaurador em momento difícil, ou a actividade frenética mas sempre pertinente do Rui Paula de Matos. Para não falar já do Saber do Américo de Sousa, que arranjou tempo para tanto me distinguir. Tal o Mendo Castro Henriques, Mestre de Monarquismo.
Graças a este antro, reactivei o convívio com o meu ex-Vizinho e Amigo de infância Francisco Múrias, descobri um eruditíssimo pesquisador do nosso Passado e defensor da língua no Bic Laranja, retomei o contacto interrompido com outra Amizade de há muitos anos, o Anton, como o intensifiquei com o TSantos, que tão bem vem comentando.
Mas se vamos aos comentadores, para além dos menos assíduos que por cá deixaram vestígios do seu brilho, tenho de referir o incansável Amigo de Espanha. A Maria. O Nonas - que papel tão importante teve na continuidade deste formato. O Legionário, de quem cada contributo é uma festa. O Caríssimo Internauta Descerebrado, a quem tanto devo. O Pedro Rodrigues com a original abordagem para além do tangível. O Alce e o Francisco Agostinho, a Margarida Ilharco e o Zé Sendim, o Takitali, o Luís Graça, a Marta Castro, o DFF, o Siarom. E muitos, muitos mais, que seria impossível nomear.
Isto parece a cerimónia dos Oscars. Mas consegui não agradecer aos Pais, que para aqui não são chamados. Desculpem não pôr links, mas estão ao lado e não sairíamos daqui. Tenho de concluir: O homem com muitos amigos não era o Jimmy Stewart do filme do Capra. É o misantropo. Muitos e bons! Bem hajam pela Vossa generosidade.