Um Sobrevivente
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Parece impossível intitular assim uma homenagem aos Caídos. Mas a razão é simples, encontrei ontem, num Alfarrabista, um exemplar que escapou à sanha persecutória da I República. Trata-se do poema em homenagem ao Soldado Desconhecido (Morto em França) que, publicado por Afonso Lopes Vieira em 1921, valeu ao seu Autor a prisão, tendo, concomitantemente, sido apreendidas as plaquetes. Foi triste episódio da consciência pesada de políticos traiçoeiros, que, durante o governo da União dita Sagrada entre Democráticos e Evolucionistas, atiraram para as trincheiras da Flandres uma pobre juventude mal preparada e equipada, para morrer em guerra que não era nossa. Estudos recentes comprovam o que há muito se sabia, ser a legitimação própria que esse regime hediondo buscava. Em 1921 não suportaram a crítica: além do que fizeram ao poema e ao Autor, desencadearam uma campanha vergonhosa contra ele, acusando-o de falta de Patriotismo e de respeito para com os Desaparecidos no Cumprimento do Dever. Valeu Gomes da Costa, um dos Comandantes do C.E.P., que corroborou tudo o que a indignação do Poeta tinha posto a nu.
Esta imagem é dedicada a todos os que tiveram Familiares Combatentes da Grande Guerra, como o meu Avô Materno que, contudo, retornou.
14 Comments:
At 2:30 PM, JSM said…
Caro Paulo Cunha Porto
Curiosamente ou não, aqui está um dos temas que também foi 'abafado' durante o Estado Novo! Porque seria, melhor, porque será?!
Quando ainda jovem, percorria as catacumbas do Convento de Mafra, obrigaçãões de instruendo para atirador de infantaria, e lembro-me de associar o 'corredor La Lys' a feitos de bravura! Parte, seria ignorância da minha parte, a outra parte, seria decerto encobrimento de qualquer parte. E parto para outra.
Um abraço com recordações da juventude.
At 4:42 PM, João Villalobos said…
Obrigado, pela parte que toca ao meu bisavô paterno, que também levou com gás mostarda na carola.
At 6:56 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro JSM:
Claro que o Estado Novo não gostaria de dar versões da "fraqueza da raça". Mas atenção, há testemunhos, até de um general alemão que nos combateu em África e na Europa, na mesma Guerra, que dizem ser a bravura individual do soldado português uum facto. No que todos parecem concordar é na falta de equipamento e preparação técnica e psicológica para a guerra das trincheiras, para além da desrazão do envio do CEP. Um célebre general inglês até disse que «os portugueses roubavam as botas dos britânicos, para fugirem mais depressa».
Meu Caro João:
o meu Avô, que fazia ligações, lá perdeu o cavalo e ficou a respirar mal toda a vida.
Abraços a Ambos.
At 8:12 PM, Je maintiendrai said…
Acrescentem o meu, também desmontado e gazeado.
Essa geração, que não renunciou ao seu dever, bem sabia quem os mandara...
At 8:24 PM, Paulo Cunha Porto said…
E tanto, que ao nível dos Soldados, Caríssimo Je Maintiendrai, fixeram a quadra popular:
Oh Grande Sidónio Pais,
Director da Revolução:
Não nos deixes sofrer mais,
Rende a nossa guarnição.
A Revolução sidonista, claro está, acolhida como a Esperança das vítimas dos algozes republicanos.
Abraço.
At 9:40 PM, Je maintiendrai said…
E quem se lembra do livrinho de André Brun, tão humanamente e divertidamente comovedor, "A Malta da Trincheiras"? Lá vem a dedicatória ao Avô que até ao fim atribuíu as desditas do enfisema ao "estupor do Kaiser"...
At 9:57 PM, Anonymous said…
Estupor e Estafermo ?
At 9:58 PM, Je maintiendrai said…
Não é o mesmo, embora no caso vertente fique "au bon vouloir" do julgador...
At 10:08 PM, Anonymous said…
Gongora y Paulo Cunha Porto, Paulo Cunha Porto y Gongora, enciclopedias vivientes
At 10:18 PM, Paulo Cunha Porto said…
Gongora, sim, Caro Amigo. O pobre misantropo é um aprendiz. E Brun, claro, é Autor que ainda leio, apesar de alguns o quererem datado.
Abraços.
At 1:07 PM, Anonymous said…
Estão todos convidados-desafiados a (re)visitar as salas do Museu Militar de Lisboa onde se recolheu a memória dessa trágica Guerra onde nos quiseram meter à força...
os "democráticos". Os "democráticos" de ontem e de hoje têm a mania de nos querer meter nas guerras que não são nossas e tirar das que o são.
As supracitadas salas são, certamente, das mais conseguidas do Museu.
Aguardamos todos a reportagem, pelo nosso enviado especial, Misantropo (por algumas horas) Des-Enjaulado.
O Internauta Descerebrado.
At 3:38 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Internauta (Des)Cerebrado:
Grande sugestão, que me dá ideia de publicar um pequeno "dossier" Grande Guerra, em data que o propicie.
Abraço.
At 7:13 PM, Anonymous said…
Amigo Paulo: ¿El Dr. Oliveira Salazar no estuvo tentado por la idea de restaurar la Monarquía en Portugal, al estilo del General Franco, tras su fallecimiento, en España ?
At 7:36 PM, Paulo Cunha Porto said…
Caro Amigo:
essa é questão disputada. O problema era o Exército, de quem dependia e que tinha muitos Republicanos. Agruras de não ser um militar, como o Caudilho...
Ainda convocou, ao falecer o Presidente Carmona, um Conselho de Estado, para decidir se se restaurava, se se candidatava outro militar, ou se avançava ele. No fim tudo ficou (quase) como dantes. Para não levantar ondas, creio.
Abraço.
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