Arte e Felicidade

Contra todos os lugares comuns que rejeitam como aproveitáveis os finais felizes e o triunfo da verticalidade simples sobre as agruras da vida, dando-os como incompatíveis com a Arte, existe o labor cinematográfico de Frank Capra. Pode ser dito que foi quem, até hoje, mais me fez chorar, muito por culpa de um filme que já aqui evoquei, o natalício «DO CÉU CAIU UMA ESTRELA». Acusado ora de simpatias pelo fascismo italiano, ora de filobolchevismo, em função do apoio que deu ao New Deal rooseveltiano, nos aspectos em que contendiam com o ultraconcorrencialismo calvinista entranhado em certa América, esteve longe de ser um cineasta político, apesar de ter feito dois dos melhores filmes políticos de sempre: «MEET JOHN DOE» e «MR. SMITH GOES TO WASHINGTON», com aqueles Actores de que todos gostam, Gary Cooper e Jimmy Stewart, brilhando sobre as trevas das conspirações e traições.
Muitos mais haveria a citar. Outro com Jean Arthur, Actriz que aprecio, em «YOU WON´T TAKE IT WITH YOU»; a aplicação parautopista do grande e esquecido Ronald Colman em «LOST HORIZON»; as duas versões de «LADY FOR A DAY»; Não gosto do muito oscarizado filme com Gable e Colbert e nem sempre tenho paciência para as tiazinhas surpreendentes de Cary Grant. Prefiro recordá-lo por um filme menos visto, «THE BITTER TEA OF GENERAL YEN», em que um actor sueco travestido em imaginadíssimo Senhor da Guerra Chinês, toma o chá anunciador da morte, numa cena final, depois de ter mudado todos os planos em função das insistências de Barbara Stanwick, para lhe chegar ao coração, mas sendo, em contrapartida, derrotado na guerra que protagonizava. Ainda hoje, tantos anos depois de ter visto o filme, recordo a tranquilidade com que ele explicava que conquistar uma Mulher não é tão diferente de conquistar um País.
Frank Capra faria hoje anos, se tivesse vivido muito para além da idade avançada que contou. Provou-me que se a vida é um vale de lágrimas, elas podem vir de outras emoções que não a tristeza. Aqui deixo pálida noção do que lhe devo.