A Castração Linguística
Leio o artigo de José Morgado Fernandes sobre um atentado mais que se projecta cometer contra a língua, com o aval dos programas educativos, sentindo simpatia com o sentido do texto. Não posso, todavia, deixar passar um parágrafo de cautelosa reserva, que me surge como concessão total, na sua infelicidade, à abstracção mais prejudicial:
«É verdade que sobre a matéria grassa por aí algum conservadorismo extremo. A algumas pessoas, tirar-se-lhes o substantivo é o mesmo que ficarem sem as colónias».
Ficar sem as colónias foi mau e não deve ser alvo de relativização. Mas tirar o substantivo a um idioma é tirar-lhe a substância, a primeira razão dele, a que originou o imperativo de comunicar. Só veria um aspecto positivo para os que, segundo esta comparação, quisessem levar a cabo tão estranho desiderato: sendo pimenta um substantivo, evitar que fossem castigados cou o derrame dela na língua...
5 Comments:
At 1:12 PM, Anonymous said…
Querido Paulo
Por aquilo que tenho lido, penso que o problema não é só tirar o substantivo, é a complicação de termos e conceitos tão abstractos.
A gramática é difícil e chata e não percebo a vantagem de a tornar mais complicada. A não ser que venham dizer que os estudantes percebem melhor os conceitos mais abstractos.
At 1:36 PM, JSM said…
Caro Paulo Cunha Porto
Reajo a quente, porque ainda há coisas que me fazem saltar a tampa: Fujo ao assunto central do texto para explicar a esse morgado, incapaz de receber a herança, que nós não perdemos as colónias, basta ver a fuga em massa dos naturais em direcção à metrópole! O que nós perdemos foram o petróleo e os diamantes! Mas não para os indígenas, mas sim para os nossos parceiros europeus e americanos!
Se o morgado já deu por isso ou não, é outro assunto. Terá de ser o Caro Misantropo a indicar-lhe uma clínica de desintoxicação, a mudança de lentes não chega.
Não vale a pena dizer-lhe que também perdemos a dignidade, ele, isso não percebe.
Um abraço e que me desculpe a reacção frontal.
Um abraço.
P.S.:Se o morgado acerta na língua, paciência.
At 1:40 PM, JSM said…
Vírgula no 'isso' e não no 'ele'.
Que diabo, o texto versava sobre gramática. Coisa que vou esquecendo ou actualizando sem querer.
At 7:12 PM, Paulo Cunha Porto said…
Uuuum, Querida MFBA, com os dados do aproveitamento medíocre em matemática e metafísica, essa seria a novidade do Século!
Meu Caro JSM.
Nada a desculpar, tenho é de me solidarizar Consigo, na medida em que se sabe sobejamente que os mais poderosos dos que pressionaram a nossa retirada do Ultramar ambicionavam proventos muito mais materiais do que a felicidade autóctone.
Em matéria de mestria linguística o Caríssimo JSM tem um crédito que não está minimamente ameaçado por vírgulas insignificantes.
Beijinho e abraço.
At 11:33 PM, Anonymous said…
O desnorte é total. Podem por os substantivos nas implementações e conjugar os verbos da gestão para mudança. Que diferença faz? Assim como assim passam todos. E os que fogem basta-lhes alguma experiência na lavagem automática ou um curso de formação de fiel de armazém em Vouzela para ter o 9º ano.
Cumpts.
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