A Minha Justiça
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Madame Bomba lançou o mote e eu, trovador fiel, cá venho pegar nele. Os sapatos são assunto muito perigoso, pois os inquéritos publicados por uma revista inglesa revelam serem as compras que lhes concernem o assunto sobre o qual, confessadamente, as Mulheres mais mentem aos Maridos. E mais elucida, que na nossa sociedade euro-americana da abundãncia para alguns a média de pares possuído por cada Senhora é de 19 e que apenas cinco por cento são proprietárias de mais de cem. Podem as Leitoras aquilatar da respectiva situação no ranking, sempre tendo presente que médias são divisões cegas e que alguma gente descalça terá entrado no cômputo.
Que o Belo Sexo tem uma inclinação natural para a sapatomania é indiscutível. Revolvendo os sotãos da minha memória, uns vinte e tal anos atrás, de cada vez que eu elogiava a blusa, ou a saia, ou o casaco de alguma Rapariga das minhas relações, um modesto sorriso da ordem correspondia. Mas quando o piropo era dirigido ao calçado era ver a expresão iluminar-se, o sorriso rasgado de orelha a orelha e uma inequívoca sinalética de que a jornada ia correr bem. Comparável só a aprovação de um novo penteado, o que revela ser a Mulher um Animal, se não de extremos, ao menos de extremidades.
Porquê? Não sei. Mas tenho reparado que os sentimentos femininos para com o que lhes guarda os pés é semelhante ao dos homens para com os automóveis. Talvez porque ambos sejam aptos a conceder bom andar e conforto, não sei bem. Hoje em dia, guiar é acto unissexo, mas falar a um macho do seu carro é conversa séria, precisamente o que se passa com o ex-Sexo Fraco no que às chancas toca.
E há outra coisa, o calçado, como o veiculo, serve, segundo as esperanças dos seus donos, para elevar a estatura. Penso na pobre Pompadour, que teria sido, embora não indiscutidamente, a inventora do salto alto moderno para o seu Género, por ser pequena. Não aproveitou grande coisa, porque, ditadora da moda que era, viu as Damas seguirem-Lhe, literalmente, as pisadas, restabelecendo as proporções que quisera iludir. E parece que nem uma favorita que, de facto, em certa altura, governou a França, conseguiria reservar para si a elevação do tacão, prescrevendo às outras o salto raso. Até porque a vaidade de ser seguida levaria naturalmente a melhor sobre a de elevar-se. Pode no entanto ser o sinal contrário o procurado: a voga das sabrinas serviu para equilibrar a altura da personagem inequecível protagonizada por Hepburn, dado o deficit de centímetros de Bogart e a sua renitência em regressar aos sapatorros de plataforma que usara com Bergman em «CASABLANCA».
Há ainda uma proposição que gostaria de colocar, susceptível de indicação de uma leve tendência para o lesbianismo, ainda que não concretizada, em todas as Mulheres, por muito que gostem de homens. É costume dar como indicador seguro de tal a diferença de contacto com que os dois sexos convivem,muito mais terna e tocada na parte de lá. Mas eu adiantaria, depois de termos estabelecido a fascinação que o equivalente humano das ferraduras desperta nas Evas de hoje, que o termo de gíria brasileiro para a mulher homossexual é, precisamente,... "sapatão".
E termino com as provas que dão cabo de qualquer estatística numérica ou aferição de predilecções: Imelda Marcos que tinha mais de 3000 pares de sapatos, apesar de apenas 1060 usados, ao pé da qual a nossa Catarina Furtado não passa os 10%. E Lucrécia Bórgia, segundo F. Cowper, que gostava de ver os franciscanos beijarem-lhe os ditos, para o que mantinha dois nobres ao serviço, em vista a levantarem o suficiente as vestes para que a homenagem tivesse lugar.
Disse!
Madame Bomba lançou o mote e eu, trovador fiel, cá venho pegar nele. Os sapatos são assunto muito perigoso, pois os inquéritos publicados por uma revista inglesa revelam serem as compras que lhes concernem o assunto sobre o qual, confessadamente, as Mulheres mais mentem aos Maridos. E mais elucida, que na nossa sociedade euro-americana da abundãncia para alguns a média de pares possuído por cada Senhora é de 19 e que apenas cinco por cento são proprietárias de mais de cem. Podem as Leitoras aquilatar da respectiva situação no ranking, sempre tendo presente que médias são divisões cegas e que alguma gente descalça terá entrado no cômputo.
Que o Belo Sexo tem uma inclinação natural para a sapatomania é indiscutível. Revolvendo os sotãos da minha memória, uns vinte e tal anos atrás, de cada vez que eu elogiava a blusa, ou a saia, ou o casaco de alguma Rapariga das minhas relações, um modesto sorriso da ordem correspondia. Mas quando o piropo era dirigido ao calçado era ver a expresão iluminar-se, o sorriso rasgado de orelha a orelha e uma inequívoca sinalética de que a jornada ia correr bem. Comparável só a aprovação de um novo penteado, o que revela ser a Mulher um Animal, se não de extremos, ao menos de extremidades.
Porquê? Não sei. Mas tenho reparado que os sentimentos femininos para com o que lhes guarda os pés é semelhante ao dos homens para com os automóveis. Talvez porque ambos sejam aptos a conceder bom andar e conforto, não sei bem. Hoje em dia, guiar é acto unissexo, mas falar a um macho do seu carro é conversa séria, precisamente o que se passa com o ex-Sexo Fraco no que às chancas toca.
E há outra coisa, o calçado, como o veiculo, serve, segundo as esperanças dos seus donos, para elevar a estatura. Penso na pobre Pompadour, que teria sido, embora não indiscutidamente, a inventora do salto alto moderno para o seu Género, por ser pequena. Não aproveitou grande coisa, porque, ditadora da moda que era, viu as Damas seguirem-Lhe, literalmente, as pisadas, restabelecendo as proporções que quisera iludir. E parece que nem uma favorita que, de facto, em certa altura, governou a França, conseguiria reservar para si a elevação do tacão, prescrevendo às outras o salto raso. Até porque a vaidade de ser seguida levaria naturalmente a melhor sobre a de elevar-se. Pode no entanto ser o sinal contrário o procurado: a voga das sabrinas serviu para equilibrar a altura da personagem inequecível protagonizada por Hepburn, dado o deficit de centímetros de Bogart e a sua renitência em regressar aos sapatorros de plataforma que usara com Bergman em «CASABLANCA».
Há ainda uma proposição que gostaria de colocar, susceptível de indicação de uma leve tendência para o lesbianismo, ainda que não concretizada, em todas as Mulheres, por muito que gostem de homens. É costume dar como indicador seguro de tal a diferença de contacto com que os dois sexos convivem,muito mais terna e tocada na parte de lá. Mas eu adiantaria, depois de termos estabelecido a fascinação que o equivalente humano das ferraduras desperta nas Evas de hoje, que o termo de gíria brasileiro para a mulher homossexual é, precisamente,... "sapatão".
E termino com as provas que dão cabo de qualquer estatística numérica ou aferição de predilecções: Imelda Marcos que tinha mais de 3000 pares de sapatos, apesar de apenas 1060 usados, ao pé da qual a nossa Catarina Furtado não passa os 10%. E Lucrécia Bórgia, segundo F. Cowper, que gostava de ver os franciscanos beijarem-lhe os ditos, para o que mantinha dois nobres ao serviço, em vista a levantarem o suficiente as vestes para que a homenagem tivesse lugar.
Disse!
4 Comments:
At 12:30 PM, Jansenista said…
Eu sabia, eu sabia...
At 3:42 PM, Anonymous said…
adorei as diferentes abordagens! incluindo a do "sapatão". mais logo seguirei o repto da bomba. beijinhos.
At 4:26 PM, Anonymous said…
Querido Paulo
Desculpe mas sinto-me insultada. Chancas? Chancas? Mas quem é que tem chancas? Acho que a Charlotte também não lhe vai perdoar ter chamado chancas aqueles eróticos, lindérrimos sapatos de salto.
:)
Beijinhos
At 7:32 PM, Paulo Cunha Porto said…
O Meu Caro Jans estraga-me com mimos. Mas tenho de reconhecer que, para além da extraordinária focagem da Charlotte, a sua esporeadela também foi importante no sentido de decidir-me ao "post".
Tenho notícia disso, Caro Espadachim, até a grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira fala no assunto, mas ainda não consegui precisar que épocas foram essas. Haverá algum Egiptólogo misantropiano ou de passagem que nos tire das trevas?
Obrigadíssimo, Teresa, Fico suspenso. Com as tuas unhas sanguineamente pintadas a comporem o ramalhete?
Querida MFBA:
Não me passava pela cabeça (des)considerar com tal termo os "stilettos" das Elites. Mas na massa vê-se cada coisa...
Beijinhos e Abraços.
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