O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Tuesday, August 15, 2006

A Woman for All Seasons

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Dame Wendy Hiller estaria hoje a comemorar mais um aniversário, se não se desse o caso de ter ido ter com o Criador em 2003. Puseram-lhe a alcunha - que para outras também chegou -, de A Feia Mais Bonita do Cinema. Por muito que os seus traços pudessem não corresponder aos ideais dos estúdios e das revistas especializadas, poucas actrizes conseguiram tirar mais proveito daquilo que tinham. Talvez o filme mais conhecido em que entrou seja «A MAN FOR ALL SEASONS», sobre a vida de Thomas More, o qual não seria o melhor para a deixar como marco do Cinema, na estrita medida em que coadjuvar a Santidade não deixa grande margem no concurso para o protagonismo. Fez também um «PIGMALIÃO» célebre, com Leslie Howard, um filme que resulta, para mim, estranho, na medida em que, considerando
os actores dele infinitamente superiores aos da versão musicada de Cukor, «MY FAIR LADY», gosto muito mais deste último. Talvez porque a fragilidade de Hepburn e o leve cabotinismo de Harrison sejam essenciais à transplantada Elisa e ao incorrigível snob cultural e escondedor de sentimentos com o rabo de fora que é Henry Higgins. Mas há dois belos filmes com a festejada que prezo grandemente. Um, o prodígio de sensibilidade que é «SEPARATE TABLES», onde o seu magnífico desempenho vê, contudo, roubada a primazia por um David Niven raro, no papel de um inofensivo embusteiro que, uma vez desmascarado, se vê afinal aceite com a mais adorável e comovente contenção de atitudes que conheço. E há outro. Ah! Se há outro! Aquele
que não sendo a criação de Powell e Pressburger que considero melhor, é, sem dúvida, o que mais amo: «I KNOW WHERE I´M GOING», com um extraordinário Roger Livesey. Por ser um libelo contra o materialismo, decerto, mas muito mais. Por ser a frustração de planos comezinhos de vidinha satisfeita, na medida da descoberta de um mundo que é o verdadeiro irrigador da Alma ao desvendar o extremo não-programado do Amor, para além das facilidades aquisitivas. É aqui que a menor regularidade das suas feições ganha plena força, pois uma beleza universalmente aceite tornaria para muitos menos credível a decisão e ambição intranquilas que eram a base de partida com que abordava a Vida. Aos sete anos, essa «rapariga que sabia para onde ia» escreveu numa carta ao Pai Natal que queria «umas meias de seda, mas que fosse natural». Obteve-as, porém em tecido artificial. Na idade adulta decidiu ir para a Escócia casar, numa ilha, com um milionário, cruzando-se com o membro de uma família tradicional da região, o que de todo lhe transtornou os planos, ao apreender que para aqueles proprietários rurais uma vida modesta era opção que exerciam, contra a hipotética facilidade alienadora do que era o seu património familiar, muito para além dos registos de propriedade. Mas, concomitantemente, aprendeu que, afinal o motivo que erguera como finalidade não era o que levaria a melhor. E na cena mais bela de sempre, a da travessia, sob a tempestade - que prefiro inclusivé às da «AURORA» de Murnau -, o turbilhão das águas dá a precisa conta do dos sentimentos, transformando-a na Mulher outra vez segura que desempenharia a sua parte na muito british e humorística "maldição" que precede o fim: a do eterno mistério da ligação que se não quebra. Gostaria de beijar hoje a mão dessa Dama do Império Britânico, impulso que, tudo somado, é o que este post é.

2 Comments:

  • At 11:17 AM, Anonymous Anonymous said…

    :)
    Que fonte de sabedoria e bom gosto.

     
  • At 6:54 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Dos Realizadores que A empregaram nos seus filmes, sem dúvida!

     

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