Conto de Duas Idades
Enquanto a Austrália prende, deixa fugir e, pela voz de um seu brigadeiro, diz saber onde está um evadido que lhe serviu os interesses em Timor, não posso deixar de lembrar os tempos de 1914, em que Soberania Portuguesa, coragem e cavalheirismo ditavam leis no Teritório. Penso naquele Sargento Baptista que, tendo avistado, do alto da montanha o famoso corsário alemão Emden, cruzador comandado por Karl von Muller, ancorado numa baía, se apressou a descer à praia, embarcar num beiro, uma casca de noz quase do tamanho da Bandeira Nacional que arvorou, indo a bordo do grande navio.
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E de aí ter dito, pelo meio das honras e continências regulamentares, que, estando a Alemanha em guerra e sendo Portugal um País neutro, mas aliado britânico, o vaso de guerra teria de retirar de águas timorenses, lamentando não poder convidar os graduados para um almoço, como noutras circunstâncias faria. Tamanha era a desproporção de forças, que consta terem vários oficiais alemães esboçado um sorriso. Mas tal era a honra e o reconhecimento da bravura desse Grande Chefe Militar Germânico, que terá aproveitado para dar uma lição de integridade aos seus subordinados - pedindo desculpas pela infracção, mandou içar o pavilhão português e retirar para águas internacionais. O que comprova que no Mar ainda era possível manter a dignidade que se evaporava dos campos de batalha em Terra. Aconteceu em Agosto, não a 31, mas a 24. E a parcela de injustiça que tenho de confessar é ter apenas para Vos oferecer o retrato de um dos protagonistas.
8 Comments:
At 1:42 PM, Anonymous said…
La anglofilia le "costó cara" a Portugal en 1914- 1918; también tuvo sus consecuencias en la vida de don José María Aznar (la foto de las Azores)......Dicho español: ¡Para que te vayas con los soldados (¿de la Pérfida Albión?)!
At 5:42 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Çamorano:
Nem creio que tivesse sido a anglofilia, que os políticos que ocuparam o poder em 1914-1918 fartaram-se de dizer cobras e lagartos da Inglaterra, depois do Ultimato, apesar de, após 1910, vendo que o prestígio de Soveral fazia o pobre Teixeira-Gomes, Representante Diplomático em Londres, ficar trancado em casa, tentarem pelos meios mais humilhantes um reconhecimentozito, com a vinda de um barco britânico ao Tejo.
E a entrada na Guerra foi sempre contra os conselhos de Londres, que nada mais queria do que controles portuários sobre navios alemães, no que, traiçoeiramente, foi mais do que atendida; e, quando muito, algum reforço de artilharia. O governo republicano, em 1917, conseguiu o que queria: um Corpo de Exército na flandres. Para desgraça dos que lá foram sepultados e vergonha ou tristeza da Nação.
At 5:46 PM, Anonymous said…
Todas as guerras são horríveis, já chegamos a essa conclusão, mas o cavalheirismo (na guerra) acabou quase completamente com a guerra de 14/18. Depois dessa, poucas histórias há para contar desse tipo.
Beijinho.
At 5:57 PM, Paulo Cunha Porto said…
Mesmo nessa, Querida MFBA, em terra andou um bocado pelas ruas da amargura. Salvaram-se o Ar e o Mar, até um certo ponto.
Outro, muito grato.
At 10:40 PM, Anonymous said…
Gosto deste episódio. Uma dignidade louvável. Cumpts.
At 10:11 AM, Paulo Cunha Porto said…
De parte a parte, Caro Bic Laranja. Pensa-a possível nos dias de hoje? Huuuumpf, é melhor irmos tomar um copo.
Abraço.
At 1:11 PM, Anonymous said…
Um belo episódio que eu desconhecia totalmente. Parabéns.
(Já agora, um pequeno post sobre os ataques alemãs às colónias portuguesas, antes de 1916...)
At 7:28 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Miguel:
Muito obrigado, penso que é uma história edificante e real, para variar. Pena que o nosso militar tenha acabado pobremente, num hospital, sem reconhecimento.
O tema que sugere é-me muito caro, já que o meu Avô, além da Flandres fez campanha de África. Vou pensar no que poderei dizer sobre o tema.
Abraço.
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