Com Olhos No Céu
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A despromoção de Plutão - que, coitado, nunca se imaginou tão querido - teve a virtude de semear a revolta na blogosfera, mesmo em páginas que, ao contrário do sempre atento «Abrupto», nunca tinham manifestado interesse pelas convulsões do Espaço. ou, melhor dizendo, por aquelas que ele despertou no nosso planeta.
É interessante verificar que as palavras mais procuradas na net passaram a ser Pluto e Neptune, ultrapassando largamente os precedentes Lebanon, Olmert, Israel e Hezbollah, não falando já nos subsidiários e constantes naked women e Al-Qaeda.
Tanto interesse fez-me percorrer o espaço diminuto até à estante, que, no entanto, representou uma viagem de mais de dois séculos. Saquei de um dos escassos tesouros deste amontoado a que ouso chamar biblioteca, a obra de Emmanuel Swedemborg, místico ou mitógrafo sueco do Século XVIII, conforme as perspectivas. Para além de se dizer conhecedor dos meandros de Céu e Inferno, como íntimo dos Anjos, garantiu ser tu cá tu lá com espíritos que habitariam Mercúrio, da Lua, de Marte, de Júpiter e de Saturno, a que chamava também «terras», bem como conhecedor dos homens dos satélites dos dois maiores desses planetas. Penso em como o desconhecimento dos dois planetas humilhados o terá poupado ao sofrimento de ver espíritos e homens por si dados a conhecer impossibilitados de desenvolver as respectivas existências, por o habitat de cada um deles ter deixado de constituir paralelo com o nosso Mundo.
Mas se aqui estivesse Jorge Luís Borges, um leitor desse grande criador setecentista, talvez defendesse, com as mudanças de velocidade inigualáveis do seu estilo, que as descidas de divisão dos corpos celestes talvez fossem, isso sim, motivadas pelo desconhecimento que a pena swedemborguiana deles tinha, privando-os do enchimento de espiritualidade que lhes outorgasse a condição superior.
E a ordem planetária é como a FIFA, não permite recursos para tribunais comuns...
4 Comments:
At 9:03 PM, Francisco Múrias said…
Tenho tambem na minha biblioteca um livro que é uma delicia:
«La pluralité des Mondes Habités»
Paris 1885 de Camille Flamarion
At 9:41 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Francisco:
Ah o grande Astrónomo do Passado que tanto e tantos ensinou!
Parabéns, Caro Amigo.
At 2:52 PM, Jansenista said…
Falta referir que I. Kant «esmagou» Swedenborg, dando-o por exemplo da mistificação obscurantista...
At 5:29 PM, Paulo Cunha Porto said…
Olha, olha, Quem chegou! As férias foram boas? Vou já organixar o comitê de recepção!
Eram dois mundos psíquicos completamente diferentes, tanto que o de Kant releva da esfera intelectual, enquanto que o do sueco não se contentaria com menos (ou mais) do que a espiritual.
Grande abraço, veio mesmo a tempo, num dia dubitativo quanto a continuidades blogosféricas.
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