A Profundidade do Culto
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Dia de lembrar Ingres e o mítico tributo que prestava à Natureza e ao Belo que nela sempre procurava, ao ponto de deixar sentenciado que qualquer fealdade que nela se encontrasse não passaria de um acidente. Era pura modéstia e não optimismo, por não querer para si a glória de melhorar, mas apenas de ser fiel à beleza que distinguia, como atesta a sua reacção quando Granger, um seu amigo lhe disse ter emblezado muito um modelo.
Percorro-lhe os escritos e, a par do «Não estudem o Belo senão de joelhos», observamos a intensidade aplicada com «Não se chega na arte a a um resultado honroso a não ser pelo sofriimento.Quem não sofre não crê». E ostensivamente bania o psicologismo da laboração artistica: «Para chegar à bela forma não é preciso optar por um modelo quadrado ou anguloso; é preciso modelar redondo e sem detalhes interiores aparentes». E levava a falta de soberba à assunção da cópia dos Antigos: «Não há que ter escrúpulo em copiar os antigos. As suas produções são um tesouro comum e cada um pode tomar o que queira. Elas tornam-se as nossas próprias quando nos sabemos delas servir. Rafael, imitando-as sem cessar, foi sempre ele próprio».
Tudo isso está nesta «Venus Anadyomene».
9 Comments:
At 9:29 PM, Anonymous said…
E é de Virgo a constelação :)
At 9:42 PM, Paulo Cunha Porto said…
Inclino-me perante a Erudição.
At 1:45 AM, Anonymous said…
Engraçado, pensava o mesmo ao escrever o cometário anterior.
E assim, tornando -se elas próprias a nosso bem servir, vamos tacteando.
At 8:41 AM, Anonymous said…
Bueno, ya fue Sócrates quien habló de la Mayéutica, de un conocimiento que precisa un sufrimiento no sólo para alcanzar la verdad, sino también la belleza. Verdad y belleza que van inextricablemente unidas, cosa que los griegos tenían mucho más claro.
Rafael Castela Santos
At 8:48 AM, Paulo Cunha Porto said…
É bem isso, as apalpadelas do exemplo, como via para o Ideal Superior.
E, Caríssimo Rafael, Ingres era admirador fervoroso da Arte Grega. Que, como não podia deixar de ser, constituía uma concretização do espírito filosófico dominante, num povo que dava à reflexão um papel tão primordial, bem como à observância comportamental harmonizável com os resultados dela.
Abraços.
At 4:13 PM, Anonymous said…
Mal posso esperar uma visão sua dos babilónicos!
At 8:19 PM, Paulo Cunha Porto said…
É um desafio. Quem dera crer-me à altura.
At 8:59 PM, Anonymous said…
Ora, meu caro, acredite -me, está bem á altura. Mais até. Não que este seu comentador ser muito entendido na matéria em causa, mas pelo seu espirito critico. E com uma ajudinha de Rafael Castela Santos o céu não é o limite.
Quanto á beleza (e de como defini -la) depois de muito pensar só uma frase me ocorre: Why do you like it? "Because it agrees with me"
At 9:28 PM, Paulo Cunha Porto said…
Caro Anónimo:
Grato pela confiança. Ei-lo com S. Tomás de Aquino: «O Belo é a apreensão daquilo que agrada».
Ab.
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