Gabarolice de um Pescador

Se não de Homens, como Jesus mandava, de livros, certamente. Ontem, antes das alegrias do estômago, as do espírito também tiveram do que se ufanar. Já aqui tinha dito que considero o «MAURIAC SOUS DE GAULLE», de Jacques Laurent, como o panfleto literariamente mais conseguido que conheço, num género difícil de conciliar com a boa escrita. Mas Mauriac, embora presente, aparece sempre como um pretexto para pôr a nu os aspectos mais antipáticos do General, que são bastantes. Nada disso se passa com este «LA POLITIQUE LITTÉRAIRE DE FRANÇOIS MAURIAC», do notabilíssimo Pol Vandromme, que ontem encontrei a pedir encarecidamente um dono e leitor, o que é estranho num livro que já nem em França é muito fácil descobrir. Aqui é malhar puro e duro em Mauriac. Olhai para pérolas como; «Mauriac não tem mais do que a sua ideia de baptizar a revolução, malgrée elle, sem dúvida, com o concurso de um demiurgo de voz intemporal» e «o mundo da sua política, como o seu mundo romanesco é um universo de pesadelo. O mal, o pecado aí reina soberanamente». Como, a cada momento, em passagens meritórias, a estigmatização da ausência de ligação do escritor à comunidade, obliterada pela rendição ao homem providencial que, para consumo próprio, inventasse, como explicação da adesividade a De Gaulle.
Recomendadíssimo.

3 Comments:
At 10:26 PM,
Jansenista said…
Não é por causa das minhas simpatias proustianas, mas Mauriac é um dos grandes vultos de mais nobre tradição literária (e mais ainda da francesa), um homem que não fugiu a assumir as suas convicções congruência, primeiro contra a maré-alta da extrema direita, depois contra os ventos da esquerda. Como não havia ele de ter centenas de inimigos?
At 8:31 AM,
Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Jansenista:
Não gosto nem um bocadinho do que Mauriac escreve, mas é questão de gosto. Nas posições que tomou só conheço um episódio digno de louvor, o da petição contra a morte de Brasillach. Não era razão para ter muitos inimigos, outros tomaram posições muito à revelia das ondas e ninguém os detestava, Paulham, ou Bearl, por exemplo. É o modo como ele o fez que é lamentável, sempre escolhendo os momentos para se pronunciar em segurança, como, o que Lhe devia repugmar a Si, fazendo-se ele próprio estatuidor do Pecado.
Abraço.
At 8:38 AM,
Paulo Cunha Porto said…
PS: E não creio, meu Caro Jans, que ele haja sido tão "perseguido" como isso. Veja o caso de uma editora com perspectivas políticas diversas, a de La Table Ronde, que lhe foi fidelíssima. O próprio FM costumava dizer, com certo humor, concede-se, que «à parte ele próprio, o mais à Esquerda que se poderia encontrar nos publicados por aquela casa editorial era... Thierry Maulnier»!
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