O Cortejo Fúnebre
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Não consigo ver esta magnífica imagem do transporte de um instrumento musical como coisa diferente do que a de um enterro da harmonia que ele simbolizasse, muito pela postura dos acompanhantes. O que nos faz encerrar um dia muito em tom Da Vita Et Moribus com uma sombria reflexão acerca do eco diferido que ainda possa encontrar aquele que terá servido para encher com a sonoridade vibrante das suas cordas a espiritualidade de tantos que se traduzisse na expectativa do ouvinte. Porque nisto é como cada homem que se interroga sobre o que de si permanecerá, após os paroxismos dolorosos expressos no seu funeral.
De Marc Riboud, discretamente crismada, «Karlovy Vary, 1962».
2 Comments:
At 11:52 AM, Anonymous said…
O que fica «após os paroxismos dolorosos expressos no seu funeral» é uma dúvida que, para encontrar a paz e a serenidade, deve ser esclarecida por cada um de nós. É um velho caminho. A antropologia demonstra que não existe um povo sem religião e, também até onde foi possível comprovar, não se encontra no passado (500.000 a.C.) qualquer povo sem crenças. A filosofia e a teologia demonstram a imortalidade da alma a partir da sua natureza espiritual, enquanto Kant a admite como um postulado da razão. Para outros, como Platão e Orígenes, a imortalidade da alma implica a sua preexistência em relação ao corpo.
É um caminho que devemos percorrer, na certeza de que, quem procura, encontra. A harmonia não pode ser interrompida: um interlúdeo, de quando em vez, só a sublima. Um abraço.
Zé
At 12:00 PM, Paulo Cunha Porto said…
Sem dúvida, Amigo Zé, cada qual tem de se responsabilizar pela resposta à questão fundamental que se lhe coloca sobre a significação do Momento da Verdade e a que estará para além dele. E, sim, é na persistência da musicalidade interior que um mero hiato não deve remover que o segredo pode ser encontrado.
Obrigado por essa bela meditação.
Abraço.
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