O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Friday, June 16, 2006

«Como Defendi a França»

No dia de hoje comemora-se o dia da cobardia, em que uma III Republica Francesa, incapaz, em 1940, de ganhar uma guerra, não teve igualmente, inteireza suficiente para pedir um armistício, fazendo com que a Nação assim se salvasse através de um Homem que lhe tinha feito vencer um conflito anterior. Todo aquele parlamento, com as Esquerdas e Direitas irmanadas na vergonha, se demitiu dos seus poderes para se livrar de boa.
O resto é conhecido: durante poucos anos Philippe Pétain, o Marechal porr antonomásia, presidiu a um regime que era a maior salada russa que já encontrei. Desde políticos do sistema anterior, reconvertidos, como Laval, militares favoráveis a uma institucionalização da duplicidade que subrepticiamente singrava, como Darlan, a fascistas confessos, como Déat, para não falar em maurrasianos, conservadores e sabe Deus que mais. O moral que soube impor na Zona Livre e o factor de Esperança que encarnou na ocupada, começaram a empalidecer com a atitude semelhante à de Leopoldo III da Bélgica, de se considerar "prisioneiro", após a invasão alemã do espaço governado por Vichy. Nessa altura já os valentões das dúzias que se tinham demitido em 1940 clamavam por «resistência a todo o custo». O resto é o que se sabe, com a Libertação alegremente julgando e depurando, a ignorar os testemunhos dos enviados de Churchill, filho incluído, e de homens que dominavam o secretismo da ambivalência do jogo, como Rémy, no sentido da acção concertada com os ingleses, apesar de alguns percalços navais. Os resistentes da última hora chegavam a bradar por uma exautoração do «traidor» por um soldado de segunda classe. De De Gaulle nada se podia esperar, quer por rancores profissionais antigos, quer por querer cavalgar a onda. Num ambiente em que se condenava à morte como quem bebe um copo de água, o "tribunal" condenou-O, realmente, mas, num acesso de pudor que noutros casos não teve, exprimiu o voto de que a sentença não fosse executada. O título deste post é a resposta que altivamente aceitou dar, em vez da parte final da que o seu Defensor, Maitre Isorni, pretendia: "a minha acção visou servir, como outrora defendi Verdun". Na recusa de convocar o seu título de glória se resume a Grandeza de um Homem. Mas, para mim, ampliada pelas lágrimas que assomavam aos olhos do meu Avô, combatente da Grande Guerra, quando lembrava o tratamento que tinham dado, no fim da vida, a uim Chefe que se tinha habituado a admirar.

26 Comments:

  • At 9:29 PM, Anonymous Anonymous said…

    El Mariscal Petain, elogiado en la Enciclopedia Luso- Brasileira Verbo, por "poupar vidas".....Recientemente criticado por José Bono Martínez, primer Ministro de Defensa de Zp, en la actualidad en el ostracismo......

     
  • At 9:33 PM, Anonymous Anonymous said…

    Julio de 1940, bombarderos de Vichy atacaron la colonia inglesa de Gibraltar

     
  • At 9:44 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Se não me engano, Caro Amigo, era o presidente dac Comunidade a que pertenceria D. Quixote...
    Como poderá ser um observador realista?
    Abraço.

     
  • At 9:48 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Em retaliação pelo ataque da "Royal Navy" à frota francesa de Mers-el Kébir, não foi?
    Ab.

     
  • At 7:21 AM, Anonymous Anonymous said…

    Sí, fue presidente de la Región de Castilla- La Mancha; aunque mejor que El Quijote, el titulo apropiado sería "La saga/fuga de J.B." del gallego/salmantino Gonzalo Torrente Ballester......Respecto a la retaliación, creo que es así como tú indicas....Saludos.

     
  • At 8:57 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caro Amigo:
    Hihihihi, quanto à identificação da personagem.
    No resto, uma ferida nas relações franco-britânicas que nunca sarou. Mas já se sabe que Londres, quando vê riscos para si...
    Abraço.

     
  • At 12:10 PM, Blogger Flávio Santos said…

    Não chamaria "percalços navais" à vergonhosa acção inglesa em Mers-el-Kébir, que vitimou salvo erro 2 mil marinheiros franceses e afundou a frota lá estanciada. Essa afronta é por muitos apontada como a principal razão para o "aperto de mão de Montoire" entre Pétain e Hitler, em Outubro de 1940.
    Também me parece incorrecto descrever Laval como "político do sistema anterior, reconvertido"; logo ele que, apesar de elemento de destaque da III República, sempre criticou as golpadas políticas da mesma e foi ostracizado pelos altos princípios que norteavam a sua acção. Recorde-se que a sua popularidade era tão grande que foi reeleito sucessivamente "maire" do subúrbio operário de Aubervilliers até ao fim da Ocupação.
    Déat efectivamente teve uma função oficial em Vichy mas foi já no fim da Ocupação e o seu perfil fascista é a excepção que confirma a regra de uma Vichy muito pouco germanófila.
    Abraço e parabéns pelo postal.

     
  • At 12:10 PM, Anonymous Anonymous said…

    Amigo Paulo: creo que no hubo víctimas mortales en el ataque aéreo a Gibraltar. Y los daños materiales, fueron muy escasos.

     
  • At 12:15 PM, Anonymous Anonymous said…

    El "zorro de la estepa manchega" Bono ¿Quizá admire más la duplicidad de Darlan?

     
  • At 12:31 PM, Anonymous Anonymous said…

    El abuelo de Paulo, hombre cabal (como dice el dicho castellano: De tal palo, tal astilla....)

     
  • At 2:08 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro FSantos:
    um percalço dramático e tenebroso, tens razão. Mas é preciso que compreender que os ingleses, no período em que a Royal Navy ainda não estava certa da supremacia, andavam aflitíssimos com a perspectiva de que a bela frota francesa caísse em mãos inimigas. Confesso que não tenho de Laval uma opinião tão boa. Homem inteligente e astuto argumentador, tendo até uma noção do interesse europeu, como prova a sua diplomacia anterior à guerra, sempre me pareceu muito oportunista, quer no plano interno, quer no externo. O que claro, não absolve ninguém das vergonhas do fim que lhe deram, com medidas adicionais visando a pura humilhação. E concordo Contigo quanto à escassez da germanofilia, até pela influência maurrasiana que, até um certo momento se fez sentir. Mesmo um campeão do "colaboracionismo" como Darnand, era militar condecoradíssimo da anterior Guerra e os princípios que o determinavam eram bem outros.
    Abraço, é grande alegria ver-Te de volta.


    Caríssimo Amigo:
    obrigado pelas palavras que respeitam ao meu Falecido Avô. Gostaria de ser digno delas.

    Quanto a Darlan, é uma figura enigmática. Ninguém, pró ou contra, consegue um juízo definitivo. Penso que ele amava tanto a Marinha Francesa que reconstruíra, que chegava a identificar a Pátria com ela...

    Sim, creio que o bombardeamento gibraltino foi mais simbólico edo que outra coisa.

     
  • At 3:52 PM, Anonymous Anonymous said…

    Ah, Paulo, estes posts sobre Mers-el-Kibir, a "desonra" da RN e as "relações difíceis" entre a França e a GB, não te fazem lembrar nada?!

     
  • At 4:11 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro TSantos:
    Atão na fazem?
    Ai que saudades, desse tempo em que nos fazíamos especialistas destes jogos estratégicos internacionais!
    Abraço.

     
  • At 4:16 PM, Blogger Marcos Pinho de Escobar said…

    Meu caro Paulo,

    Parabéns pela lembrança do Marechal, "vainqueur de Verdun", a quem foi confiada a Nação Francesa derrotada em '40. Demonizado, humilhado e condenado por ter ousado poupar à França e aos franceses tragédias ainda maiores; por ter-se recusado a alinhar com o "tio" Zé Estaline e o demo-liberalismo hipócrita; por ter sido contra-revolucionário e tudo que isso comporta; por ter recebido o poder como sacrifício e missão (e não como resultado de o ter cobiçado); por ter assumido as gravíssimas responsabilidades da sobrevivência nacional a pedido da chefia do Estado, do governo e do legislativo. É o preço que geralmente pagam aqueles que defendem a tradição, a hierarquia, a religião, a família, a Pátria, etc. Já sabemos...

    Um abraço amigo.

     
  • At 4:40 PM, Blogger Flávio Santos said…

    Estou a ver, meu caro Paulo, que tenho que te oferecer os livros do genro de Laval, René de Chambrun, para te fazer mudar de opinião. E a biografia de Fred Kupferman (filho de um deportado judeu) constitui um retrato honesto e em grande medida elogiador do papel do grande homem de Estado.
    Abraço.

     
  • At 5:01 PM, Anonymous Anonymous said…

    Laval gastaba tanto dinero en corbatas como Evo Morales....

     
  • At 5:17 PM, Blogger Flávio Santos said…

    Foi graças a um ministro franquista que Laval foi ignominiosamente entregue às "autoridades" francesas.

     
  • At 7:10 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro Euro-Ultramarino:
    Neste caso, o vergonhoso processo foi verdadeiramente «matar o Pai».

    Meu Caro Santos: estou, evidentemente, aberto a conhecer mais sobre a biografia lavaliana, apesar de os testemunhos,mesmo entre os Homens de Vichy, lhe serem desfavoráveis. E o Marechal não gostava dele, recorrendo aos seus serviços apenas por acreditar ser o que mais facilmente conseguiria pôr tanta cabeça divergente a pensar para o mesmo lado.
    Abraço.

     
  • At 7:49 PM, Anonymous Anonymous said…

    "Ai que saudades, desse tempo em que nos fazíamos especialistas destes jogos estratégicos internacionais!"

    E éramos muito mais competentes que os protagonistas de hoje (e que os originais,
    já agora...) ;-)

    Abrço
    T

     
  • At 7:56 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caríssimo TSantos:
    Totalmente de acordo, que Diabo, bem podemos tomar a dose que desejamos de presunção e água benta...
    Abraço.

     
  • At 8:19 PM, Blogger Flávio Santos said…

    Uma modesta introdução ao "tema Laval":
    http://santosdacasa.weblog.com.pt/arquivo/2005/03/colaboracoes_1.html
    http://santosdacasa.weblog.com.pt/arquivo/2005/10/pierre_laval_15.html

     
  • At 2:00 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro FSantos:
    Obrigado pelas indicações. Também tenho o «Laval Fala». Os dois "posts" são excelentes, ainda que continue a achar na atitude lavaliana a postura de apego ao poder derivada dos hábitos republicanos. Plenamente de acordo quanto à palhaçada da "Justiça libertadora". E quanto ao De Gaulle da França Livre, idem, conforme comprova a síntese que hoje publico no «Calma Penada», a propósito do 18 de Junho.
    Abração.

     
  • At 2:10 PM, Blogger Flávio Santos said…

    Também tenho o comovente testemunho de um dos seus advogados, que morreu bastante jovem.

     
  • At 6:56 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Esse não conheço.Deve ser interessante. Tenho um de que haverias de gostar, traduzido em português «EM NOME DA LIBERDADE... Uma Nova Revolução Francesa?», de Philippe Le Roy, um ex-prisoneiro de Fresnes.
    Ab.

     
  • At 7:55 PM, Blogger Flávio Santos said…

    Aqui vai a referência: "Dans la Celule de Pierre Laval" por Jacques Baraduc (tenho a edição original de 1948, que me custou apenas 80 francos, num bouquiniste da rive gauche...).
    Abraço.

     
  • At 10:28 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    G´anda Safado! Isso é que foi compra!
    Abraço apertado.

     

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