O Viciado
Em nove meses de bloguismo tenho tentado conter-me para não contar uma história que, embora passada num anfiteatro repleto, dizia, em primeira linha, respeito a mim, sem justificação que a fizesse publicar, ainda que numa página diarística. O actual ocupante da pasta dos Negócios Estrangeiros, então na sua encarnação de Professor Universitário de Ciência Política, comentava a «Oração Fúnebre», de Péricles. Como se sabe, o tom dela é de dizer que os Atenienses, não dedicando a vida tão inteiramente ao treino militar como os Espartanos, eram capazes de combater igualmente bem. E, com legitimidade mais do que discutível, o mestre ia comparando, nesse longínquo ano de 1983, os Lacedemónios à URSS e Atenas aos EUA. Sim, não me enganei, era mesmo o Prof. Freitas que dizia tais coisas. Um tanto indignado pela descarada propaganda e a abusiva moldagem histórica, este Vosso servo peguntou-lhe quem tinha ganho a guerra do Peloponeso. O homem da cátedra deu por terminada a aula com um seco «Isso não interessa para a questão em apreço».
Também ontem, interpelado no Parlamento, SEX.ª achou por bem decidir que a condenação da violência posterior à publicação das caricaturas não era «a questão essencial». Talvez não para ele, que tem esperanças de que lhe não ponham uma bomba no quintal. Para os parentes dos milhares de vítimas que o radicalismo islâmico fez antes e depois das caricaturas, a história será bem outra. Ao dizer que a violência era «apenas uma reacção, condenável, mas compreensível», mostra continuar a não querer compreender o que mais importa: que a atitude de "compreensão" para com o inimigo é a melhor forma de entregar o ouro ao bandido, de ser derrotado. Mas trata-se de uma mente viciada em omitir os elementos principais de cada conflito. Em vinte e três anos nada aprendeu.
Quanto ao disparate, por ele na hora inventado, de que a alternativa a propor pelo PP seria a de resolver o problema à chapada, se eu fosse eleito por esse partido, o que Graças aos Céus não acontece, teria dito: "esse só poderia ser um meio idóneo para resolver o problema com a pessoa de V. Ex.ª. O meu grupo parlamentar está certo de que consideraria essa via como «uma reacção condenável, mas compreensível...»"
9 Comments:
At 12:51 PM, Jansenista said…
Saúda-se esta nova rubrica pecuária com que resolveu enriquecer o seu blogue: de facto, fascinante a etologia dos Grandes Recos, sempre tão erráticos e fugidios, em especial quando são surpreendidos de borco no chafurdo. Queremos mais, por amor à ciência e por curiosidade com a conduta desses mamíferos.
At 1:05 PM, Anonymous said…
¿Excelentisimo Señor Freitas o Ilustrisimo Señor Freitas?
At 4:30 PM, Je maintiendrai said…
Anedotisimo Señor Freitas
At 4:30 PM, Je maintiendrai said…
...E continuamos dentro da Vara
At 4:41 PM, Mendo Ramires said…
Ilustríssimos Paulo, Jansenista e Je Maintiendrai: Eh, eh, eh! Por quem sois?... Rebento de tanto rir!...
At 5:06 PM, Anonymous said…
Tenía mas gracia Mario Moreno "Cantinflas".....Por cierto, ¿Tenían éxito los filmes del cómico mejicano en Portugal?
At 7:08 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Jansenista:
Achei que a actuação política do animal em questão se aproximava demasiado da académica. É importantíssimo, como sabe, estudar a influência do ambiente no comportamento das espécies...
Caro Amigo de Espanha:
Se isso o pudesse pôr à distância, não tnha dúvida: ia «Exm.º e Ill.º Senhor», que era o tratamento cerimonioso uns cem anos atrás...
Decerto que o Dr. Moreno teve grande sucesso em Portugal. Bem miúdo fui um dos que engrossaram as filas para adquirir os bilhetes. E ainda hoje o adoro ver no Passepartout de «A Volta ao Mundo em 80 Dias»...
Caro Je Maintiendrai:
Verdadeiramente anedótico, embora levante um riso... amarelo, quando pensamos que a nossa Diplomacia tem de andar a tal mando...
Caro Mendo:
Dislates destes só dão para rir. Mas tanta inconsciência na condução dos negócios públicos pode bem fazer-nos vir às lágrimas, por outros motivos...
Abraço-Vos Todos.
At 11:23 PM, Eurico de Barros said…
Lembra-me um título do filme do Pasolini: «Porcile».
At 8:30 AM, Paulo Cunha Porto said…
Hihihihi!
Boa sugestão, para uma auto-biografia do político referido, Caro Eurico.
Ab.
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