Leitura Matinal -283
Falou-se, há dias, da suspensão do tempo por um bejo. Encarando-o
como sinédoque da felicidade, podemos dizer que a brevidade dos instantes desta são, não já a suspensão do fluir temporal, mas apenas da carga dele que nos provoca a exasperação em face do contínuo caminhar para o vazio, espicaçados por um sofrimento continuado de que não descortinamos o sentido. É essa breve interrupção
a que nos comprazemos em atribuir o estatuto da esmola que alivia,capaz de alimentar o freio da crescente decadência, fruto do desgaste causado pelo maquinismo da falta de preenchimento, ou de ilusão. É a mitificação que vê um grão de areia como semente de vitalidade e alegria. Aquela que ocupa a tempo inteiro o nosso anelo de imortalidade pela fusão que concretiza o sentir.
De Gunter Kunert, traduzido por João Barrento:
MOMENTO
Por momentos
suspende-se a dor
por que se mede o tempo
como se na engrenagem
que nos abriga
se alojasse um estilhaço de piedade:
é o erro da nossa vida
que com ela pagamos
A paragem por um momento
apenas cria
antes dos dentes engrenarem de novo
um vazio
para que sempre fomos e seremos
os eleitos
Por um momento
o sonho: que seja
o último da quotidiana
morte lenta
o primeiro da minha ressurreição
e da tua também
obviamente.
Sportado por «A Medida do Tempo», de Sean Bewes
e «Piedade», de William Blake.
como sinédoque da felicidade, podemos dizer que a brevidade dos instantes desta são, não já a suspensão do fluir temporal, mas apenas da carga dele que nos provoca a exasperação em face do contínuo caminhar para o vazio, espicaçados por um sofrimento continuado de que não descortinamos o sentido. É essa breve interrupção
a que nos comprazemos em atribuir o estatuto da esmola que alivia,capaz de alimentar o freio da crescente decadência, fruto do desgaste causado pelo maquinismo da falta de preenchimento, ou de ilusão. É a mitificação que vê um grão de areia como semente de vitalidade e alegria. Aquela que ocupa a tempo inteiro o nosso anelo de imortalidade pela fusão que concretiza o sentir.
De Gunter Kunert, traduzido por João Barrento:
MOMENTO
Por momentos
suspende-se a dor
por que se mede o tempo
como se na engrenagem
que nos abriga
se alojasse um estilhaço de piedade:
é o erro da nossa vida
que com ela pagamos
A paragem por um momento
apenas cria
antes dos dentes engrenarem de novo
um vazio
para que sempre fomos e seremos
os eleitos
Por um momento
o sonho: que seja
o último da quotidiana
morte lenta
o primeiro da minha ressurreição
e da tua também
obviamente.
Sportado por «A Medida do Tempo», de Sean Bewes
e «Piedade», de William Blake.
1 Comments:
At 11:25 PM, Anonymous said…
breve momento
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